Parabéns à Associação Muralhas de Vilar Maior e a todos que se empenharam na divulgação da nossa terra e da nossa gente.
E para que conste memória futura,
https://www.facebook.com/beirao.vitoralmeida/videos/1467858307491311
Se tivesse de escolher uma fotografia da família, em que tive a boa ventura de nascer, seria esta. Apesar de lá não estar. Quer dizer, eu estava lá mas dentro do ventre da minha mãe. A fotografia foi tirada no primeiro domingo de setembro de 1950 e eu chegaria na noite do último dia desse ano. Além do pai e da mãe, do mais velho para o mais novo: o Manel, a Natália, a Beta, o Carlos e o João e o Júlio que está e não está. Haveriam de chegar mais dois, a Belita e o Zé Albino. Oito irmãos, constituindo agora a maior irmandade da Vila, todos na terceira idade. Todos Marques de nome de pai já que de nome de mãe, sendo a mesma, uns são Silva, outros Leonardo como lhe era dado. Mas porque o povo na sua soberania linguística, usava dizer Linardo, meu pai decidiu que fossem Silva.
Era a este bairro que muitos emigrantes portugueses, depois de terem percorrido 'a salto' a distância que os separava de Portugal, chegavam com um saco na mão, à procura de um conterrâneo que lhes desse guarida e os encaminhasse para um patrão. O Zé Duarte, dos primeiros que chegou ao bairro, conhecido por Zé Pequeno, foi sem dúvida, o Zé Maior no acolhimento a tantos vilarmaiorenses. É de toda a justiça, lembrá-lo aqui através desta excelente foto dos seus três filhos: O Manel, a Isabel e o Tó.
Antes da emigração para França muitos vilarmaiorenses procuraram tratar de suas vidas em Lisboa e, de acordo com a notícia, estiveram presentes nesta confraternização mais de centena e meia. Em (quase) 52 anos muita coisa mudou. De Vilar Maior foram dois carros o do Padre Luís e o do Sr Carlos Freire e já não recordo quem eram os companheiros de viagem, para além do Sr José Franco que, na viagem de regresso, não se cansava de dizer: "Não há terrinha como a nossa!"
Faleceu Isabel Cunha Lavajo, viúva de António Lavajo (Adrião) com, 91 anos de idade. Filha de João Lavajo e irmã do António e do Francisco, uma família que morava no Cimo da Vila, lugar das Lajes, quando a vila contava com mais de dez vezes dos atuais habitantes. A cada ano que passa somos menos e mais velhos. Parece que a boa notícia é que por cá os velhos são mais velhos durante mais tempo. É com saudade que recordo a ti Isabel que, moradora à saída da Vila, nas palavras de saudação (ou da salva) punha a entoação da autenticidade de quem nos deseja um bom dia.
À família apresentamos sinceras condolências, especialmente à Isabel, ao Carlos e à Matilde.
Faleceu o ti Zé da Cruz. Tínhamos na vila esta forma, direi carinhosa, de tratar as pessoas da geração mais velha por "ti", abreviatura de tio/tia, ainda que não existisse qualquer parentesco. Fora deste tratamento ficavam as "donas" e os "senhores/senhoras".
Gostava de ouvir o ti Zé. Do trabalho "a jornal" para este e para aquele; da forma como não se deixava vergar à arbitrariedade de quem o contratava para trabalhar ao dia, que por cá designávamos como "andar ao jornal". No fim de um dia de trabalho no Verão - que longos eram os dias! - para os lados das Retortas, trazia o burro do dono, carregado de feixes de feijão seco. Ao longo do caminho, o feijão ressequido pelo calor, com o burro a encostar a carga aqui e ali, no acanhamento da via, abria uma ou outra vagem e caíam ao chão esparsos feijões que o ti Zé não desperdiçava e metia nos bolsos que também serviam para isso. Chegados a casa, ao anoitecer, descarrega o burro e, ao dizer até amanhã, o patrão, a quem alguém bufara ao ouvido, ordena: - Ó Zé, antes de ires, despeja aqui o que tens nos bolsos! Sem palavras, encavacado, despejou os bolsos sobre a mesa, e disse-lhe: - Amanhã, não conte comigo para trabalhar! Nem amanhã, nem nunca! Desandou, sem olhar para trás. No dia seguinte, não apareceu ao trabalho. À noite, o patrão, arrependido, pela atitude que tivera, bate-lhe à porta a chamar - Ó Zé! Ó Zé!
Aberta a porta, perguntou: - Boa note, o que quer você?
- Ó Zé, não precisavas de ficar assim tão arreliado, eu também não precisava de ter dito o que disse. Esquece lá isso e amanhã é mais um dia. Eu preciso de ti e a ti tamém te dá jeito ganhares o jornal.
E com estas e outras palavras lá foi amaciando o ti Zé que acabou por acenar com a cabeça que sim.
Por isso, quando a porta da França se abriu, uns atrás dos outros, foram 'a salto' em busca de uma nova vida. Era de fato uma nova vida, uma vida independente , uma vida livre em que o trabalho era devidamente compensado, com direito a férias e sem mesquinhez e sem opressão. Mas a geração do ti Zé da Cruz ia a França para trabalhar, ganhar dinheiro e regressar. A vida sem a aldeia onde se nasceu e viveu não fazia sentido. Por isso, o Ti Zé da Cruz regressou, como todos os da sua geração, para retomar uma vida desafogada com a reforma recebida complementada agora por um trabalho leve de horticultura. O ti Zé da Cruz era filho do segundo casamento do ti Zé da Cruz e da ti Isabel Afonsa, e teve como irmãos: o Joaquim, o Adriano, o Júlio, e ainda vivos, a Maria e o Manuel, uma extensa família que ainda conheci como vizinhos no lugar da Praça, frente à casa onde moro. Lembro-me de, em pequeno, ir buscar a tigela do fermento a casa da ti Zabel Afonsa para a minha mãe fintar o pão e contava-me o ti Zé que nas vésperas de cozer o pão, mutuamente emprestavam um pão, enquanto não chegava do forno o tabuleiro dos pães para mais oito dias.
Regressar de França era inevitável para reencontrar a terra e a gente e recordar os 'bons velhos tempos'.
NOTA - Por lamentável erro informático, do qual me não me dei conta, não editei aqui no blog o texto que escrevi aquando do falecimento do conterrâneo e amigo Zé da Cruz. As minhas desculpas às irmãs Maria, São e Amélia.
Morreu o ti Fernando depois de uma vida longa, ultrapassando os cem anos, uma vida boa feita de trabalho, de coragem, de alegria e resistência. Suportou a dor da perda da mulher ( a ti Ester) e de dois filhos (O Zé eo Manel). Como muitos dos seus conterrâneos emigrou para França, onde esteve alguns anos. O ti Fernando andava, andava muito, trabalhava, ajudava nas fainas da agricultura, e lia. Quando alguém precisava de saber os limites de uma rasa das moitas pedia-se ao ti Fernando. Por mim, consultei-o muitas vezes sobre coisas antigas da Vila e era sempre um prazer falar com ele. As minhas sentidas condolências à extensa família Cerdeira e, de um modo particular, aos filhos e netos.
Arrolamento de animais em 1934
cavalares | Muares | Asininos | Bovinos | ovinos | caprinos | Suinos | Galináceos | Patos | Perus | Pombos | Coelhos |
10 | 10 | 153 | 122 | 961 | 461 | 138 | 651 | 0 | 3 | 9 | 55 |
Vilar Maior, minha terra minha gente, também era feita de animais. Em 1934 é feito o arrolamento dos animais existentes no país e no que toca a Vilar Maior, com 162 manifestantes, ali temos a quantidade e espécie de animais declarados. O quadro permite-nos compreender um pouco da economia da época.
De herança do meu avô Albino e da minha avó Isabel recebi o bilhete de identidade da mula essencial no transporte, a mercados e feiras, da latoaria que fabicavam: baldes, regadores, ogadores, candeias, lanternas, enchedeiras, jarras e jarros, cântaros, copos, francelas e acinchos, enxofradeiras e outros que podem acrescentar. O plástico ainda não tinha surgido, os automóveis ainda não tinham chegado aqui e, sobretudo burros, mulas, machos e cavalos faziam o tansporte de mercadorias e passageiros. Que seria do ti Albino das Latas (havia três Albinos, sendo os outros dois o Albino das vacas e o Albino das chitas) sem a mula? Pelas datas dos documentos também a mula do Albino já fazia parte dos 10 muares manifestados. Os muares tinham direito a bilhete de identidade e a inspeções periódicas ( registadas no verso do documento), pois que tinham de estar disponíveis para o Ministério da Guerra. A paisagem zoológica mudou: Nem marranos, nem pitas, nem patos, nem perus, nem pombos, nem coelhos, nem cabras. Burros e cavalos que se contam pelos dedos das mãos, escassas dezenas de ovelhas e muitas, muitas vacas, animais, em parte, sustentados na manjedoura dos subsídios europeus.
O tamanho do nome é proporcional ao número dos que nele se abrigavam. É um retrato exato? Não é. Contudo, dá-nos a paisagem das famílias no segundo quartel do século XX.
Nuvem de palavras baseada em 700 registos
Começa a ser longa a lista do "Requiescat in pace" de que damos conta em "Vilar Maior, minha terra, minha gente". Mais uma vez, pela primeira vez o som dos sinos novos, soou a sinal. Desta vez, foi José Valente. Na década de cinquenta do século passado, terminada a Segunda Guerra Mundial, no dealbar da exploração do volfrâmio e respetivo contrabando para Espanha, antes do êxodo migratório para França, eram muitos os jovens saídos da escola que rumavam a Lisboa onde um conterrâneo ou familiar os encaminhava para marçanos, aprendizes de caixeiro, especialmente de mercearias. Benfica e Amadora eram os lugares mais escolhidos. Lisboa passou a albergar a maior comunidade de Vilarmaiorenses migrados, de tal modo que na década de sessenta e setenta realizavam um encontro anual, num dia que se cimentavam os laços e comungavam a identidade das mesmas raizes.
Foi, um pouco assim, que José foi até Lisboa e se afeiçoou ao ofício que nem a miragem de França fez alterar o curso da sua vida.
Aos familiares do José apresentamos sentidas condolências
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