Segunda-feira, 28 de Novembro de 2011

A nossa pobre e desequilibrada balança de pagamentos - Dr Leal Freire

II-No funeral da sogra do meu amigo...

 

 

Sou também inversado frequentador de  enterramentos, não daqueles que têm origem em tragédias ou levaram cedo de mais para o Além pais  de menores ou cidadãos cujo desaparecimento a Comunidade vai sentir por fas ou nefas.

Mas quando um cidadão dá a alma ao Criador depois de ter passado bem pela vida e se fina como um passarinho ao fim de bem cantado dia, o convívio é de arromba.

Juntam-se amigos esparsos um pouco por todo o mundo. Ouvem-se relatos de cenas quase inimagináveis. E concluída a funçanata, ainda há margem para uma banqueteação  de culto à gastronomia da   zona.

Enfim, a   bonomia, quando nos assiste, dá direito a tudo. Desta vez, todavia, o cenário era diferente.

É que tudo o que dava corpo ao acto, salvo o cadáver da defunta era espanhol:

Espanhol, o padre oficiante; Espanhol, o sacristão – e que bem que ele entoava os salmos do dies irae; Espanhol, o coveiro; Espanhol o agente funerário.

E eu dei comigo a pensar no tempo em que nós enchíamos  os seminários do Continente e municiávamos os de Angra do Heroísmo e Macau, com levitas que se espalhavam até pelos mais recônditos  lugares de todo o nosso vasto mundo ao serviço da FÉ.

E em que as irmandades das Benditas Almas, existentes em todas as paróquias, destacavam andantes, mordomos e pregoeiros, empunhando umas grossas velas de cera e outros estandartes e insígnias , mas todos envergando distintivas opas. E em que as mesmas irmandades, mal anunciado o decesso faziam tanger os sinos e abrir a cova.

Algumas, com ou sem o contributo das famílias enlutadas, mandavam cozer fartos moios de pão ou até panelões de arroz de bacalhau – a carne era  interdita – e tudo para  oferecer  aos  participantes na cerimónia.

O que dava lugar até a ditos jocosos como este.

Vale mais ir a um enterro do que a um casamento

Neste só se come badana e naquele bacalhau

No enterro não se dá prenda

E o espectáculo é mais completo, porque no casamento não se vê enterrar

Mas o que mais me entristeceu neste funeral foi constatar que, aqui na Raia, que foi viveiro de sacerdotes e deconfraraias das Almas já nem sequer detemos meios  para uma cerimónia fúnebre

publicado por julmar às 18:28
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Instantes eternos

 
Nas muralhas do castelo, numa noite de Agosto, estrelas no céu, uma pequena luz de isqueiro para cortar o escuro, música no silêncio da noite com a distância de trinta e tantos anos. E o fumo dos cigarros. e as conversas, e o silencio da ribeira ao fundo. E tudo ... e nada e entre eles cinco amigos que alguém tinha de ficar de fora a fazer o registo.
 
publicado por julmar às 17:46
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Sexta-feira, 25 de Novembro de 2011

Torga pela Miuzela

Porque vai chegando o tempo de andar mais devagar, resolvi (em vez de meter na A25 em Vilar Formoso a Caminho de Gaia) sair pelas Portas, passar a Ponte da Guarda, subir os Galhardos, descer ao Belo Luís, arribar a Badamalos, descer ao Côa e subir as barreiras da Miuzela. E, aí, tive de parar para dar passagem a um enorme rebanho de ovelhas, quinhentas disse-me o pastor.

Hoje, relendo Torga encontro o poema inspirado nesta temática, em altura em que o autor dava lugar ao seu hobby preferido- a caça:

 

«Miuzela, 7 de Novembro de 1971

 

Manhã

 

Largo sorriso da terra

A festejar o sol nado;

Um arado

Aguça a ponta de ferro

Na luz macia,

Antes de começar o dia

De trabalho;

Por um atalho,

Vestido de lã churra,

Rola um rebanho, à frente

Do pastor paciente

Que o empurra»

publicado por julmar às 16:20
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A nossa pobre e desequilibrada balança de pagamentos - Dr Leal Freire

I - A lenha espanhola

 

 Talvez por uma forte mistura de sangue judaico com algumas influências egipcianas, tenho em alto grau o culto das relações de parentesco, muito para além daquilo que o Código Civil considera relevante.

De resto, os nossos legisladores têm-se ferozmente encarniçado em sucessivas alterações legislativas a que pomposamente chamam reformas, contra as relações de consanguinidade. No momento presente, o último grau com alguma relevância é o de primo direito que, para quem ande um pouco arredado destas coisas, informarei que é nosso colateral em quarto grau.

E passo a explicar porquê.

Na linha colateral, os graus contam-se subindo primeiro até ao tronco comum e depois descendo. Assim, os irmãos são parentes em segundo grau, pois vai-se até o pai, tronco comum e, depois, desce-se. Um tio é parente em terceiro grau porque o tronco comum é o nosso avô, que é pai do tio. Ora, eu, nas minhas deambulaçoes vou até parentes em grau enésimo e tenho a sorte de ser magnificamente recebido.

É isto que me dá matéria para a presente croniqueta

De uma maneira geral, os meus parentes que moram e demoram na Raia Transcudana – ou Ciscudana – segundo o ponto de onde se parte – são proprietários de bons canchais – para os que ignorem estas reminiscências de falar charro, por contraposição a falar grabe – canchais são campos ricos em lenhosas aborígenes – carvalhos robles, freixos, giestas, até carrascos...

Pois nas cozinhas de todos encontro boas rimas de carrasco, mas carrasco vindo de Espanha, cortado à medida e ali descarregado por  espanhóis, de   tractores, se logo na primeira linha de fronteira, ou camionetas, se mais distantes.

Bom patriota, insurjo-me contra a invasão.

- Então, a lenha a cobrir as tapadas, lameiros e veigas, e vós a empobrecerdes o erário público?

- Pois é! Mas se mandar cortar um dos meus carvalhos ou desbastar-lhe as pernadas, fica-me quatro vezes mais caro.

O mesmo sucede com as giestas, substituídas na incandescência por acendalhas

publicado por julmar às 15:50
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Quarta-feira, 23 de Novembro de 2011

Quem é quem?

Este ainda era o tempo dos burros encabrestados, com rabeiro e albardados como lhe era dado. E do chafariz no sítio onde nasceu.
E quem serão os três infantes?
publicado por julmar às 17:47
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Terça-feira, 22 de Novembro de 2011

Quem é quem?

A foto anda por ali muito próxima dos anos sessenta: Ainda se pode ver a tradicional e belíssima varanda da casa dos Esperanças, a frondosíssima amoreira do Curral Grande e lá para o Buraco apenas o palheiro do ti Joaquim André, a casa de António Seixas ( a parte velha), a garagem do sr Fernando e, mais em cima, as recentes - na altura- escolas do plano cinquentenário.
publicado por julmar às 18:18
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Mocidade de Vilar Maior

Sete magníficos rapazes: Zé Seixas e Tó Zé Bárbara - à frente

Quim Bárbara, Victor, Zé Adelino no meio)

Cristóvão Monteiro e João Seixas (atrás)

 De que ano é a fotografia?

publicado por julmar às 18:00
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Segunda-feira, 21 de Novembro de 2011

E a Guarda ali tão perto

(Foto de Sérgio Fava)
Num dia radioso de sol é assim que se avista a cidade da Guarda. Bem se compreende assim como este castelo era tão estratégico para a sua defesa.
publicado por julmar às 20:05
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Sábado, 19 de Novembro de 2011

A Avó Zabel

  

(1887-1982)
Isabel Maria da Silva, nascida em 1887 filha de José Silva e Margarida Pereira pais de uma extensa prole. Casada com Albino Leonardo com ele aprendeu e exerceu a profissão de latoeira.
Muito do que sei devo-o à minha avó Isabel e muitas das recordações mais gostosas da infância estão ligadas a ela: desde os morangos do Mindagostinho, ao arroz de tomate das vindimas, aos bolinhos de bacalhau comidos no Moitão ou à simples fatia de trigo espanhol. As coisas da avó tinham um sabor diferente. ensinou-me da história de Vilar Maior ligada à história do país - as guerras liberais; da passagem por aqui da rainha D. Amélia, de histórias dos franceses aquando das invasões; do tempo em que na vila havia quartel da Guarda e Botica. Conversava comigo como se fosse uma pessoa crescida em caminhadas para a estação do caminho de ferro para a Cerdeira ou para as águas termais do Cró, ou a caminho da horta do Mindagostinho. E contos mais contos sem conta. Não sabia ler mas sabia contar. Espírito brilhante, um humor saudável, uma atitude vencedora. Foi uma sorte ter tido uma avó assim.
publicado por julmar às 21:43
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Quarta-feira, 16 de Novembro de 2011

A melhor gente do mundo- 3

A pedido de uma eugénia do ano de 1953, aqui vão os nados desse ano. Entre eles estarão muitos nados-mortos.

Fruto dos avanços na saúde a corte celestial dos anjos deve estar muito diminuída.

António Fonseca Duarte Duarte, Artur Ninfa, Ermelinda da Fonseca 1953
António José Martins Esteves Martins, António Joaquim Esteves, Maria de Lurdes 1953
António José Seixas Badana Badana, Manuel Joaquim Sexas, Maria Dias 1953
António Tendeiro Afonso Esteves, António Tendeiro, Maria Araújo 1953
Anunciação Rasteiro Dias Dias, Manuel Marques Fernandes, Maria Rasteiro 1953
Conceição Rasteiro da Cruz Cruz, José Cunha da Matilde Rasteiro 1953
Fernando Bárbara Cunha Cunha, Francisco Cerdeira Bárbara, Justina 1953
Fernando Silva Proença Cerdeira, António Proença Martins, Filomena 1953
Filomena dos Santos Santos, José dos Proença, Elvira 1953
Francisco Lopes Valente Valente, José Joaquim Lopes, Prudência  1953
Ilda dos Santos Leal Fernandes, Francisco Leal Brigas, Maria de Lurdes 1953
Isabel da Cruz Franco Franco, Lourenço Pereira B., Justina da Cruz 1953
Joaquim António Gonçalo Robalo Robalo, José Augusto Lavajo, Amélia Gonçalves 1953
José Bernardo Serrano Serrano, Joaquim Augusto Afonso, Maria Cândida 1953
José Marcos Fernandes Fernandes, António Lopes Marcos, Maria Monteiro 1953
Leonor Soares Cunha Cunha, António Martins Soares, Olímpia 1953
Manuel André Lavajo Lavajo, José Cunha André, Maria dos Anjos 1953
Manuel dos Santos Cerdeira Cerdeira, António Santos, Maria da Luz dos 1953
Manuel Jarmela Fernandes Fernandes, César Lourenço Lourenço, Maria Isabel 1953
Manuel Lourenço Rasteiro Rasteiro, Francisco António Lourenço, Isabel 1953
Maria dos Anjos Costa Rasteira Rasteiro, Manuel Fernandes Costa, Dulce 1953
Maria Teresa Cunha xxxxxxxxxxxxxxxxx Cunha, Hermínia 1953
Olívia da Assunção Leonardo Dias Gonçalves, José Dias Leonardo, Lúcia Silva 1953

 

publicado por julmar às 22:21
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