A Vila, sobretudo nos últimos vinte anos, urbanizou-se com a dotação de infraestruturas importantes como o (re)calcetamento de ruas e largos, a instalação de saneamento, renovação da iluminação pública, o abastecimento de água, etc.
Temos um museu etnográfico interessante quer pelo património que contém, quer pelo valor simbólico e arquitetónico do edifício.
Temos um posto de turismo, um forno comunitário restaurado.
Temos um campo desportivo com instalações de apoio.
A última obra foi a iluminação do Castelo e algumas controversas obras anexas, em curso.
Dizem muitos que foram obras que vieram tarde demais, quando o envelhecimento da população era irreversível; dizem o mesmo outros, servindo-se da sabedoria popular, que «depois de morto cevada ao rabo». Um conterrâneo, há tempos, numa imagem feliz dizia que a vila é como m computador onde se gastou dinheiro no hardware tendo-se esquecido que para funcionar precisava de software. E, acrescentaria eu, que é preciso haver utilizadores. O resultado é termos uma “Caixa” bonita mas onde não acontece nada. Ou seja, está tudo ou quase tudo parado: As Instalações Desportivas, o Forno, o Posto de Turismo, o Museu.
O fácil, o que dá nas vistas e dá votos são as obras. É a matéria. Mete dinheiros, mete interesses e licenças e projetos … e jeitos.
Difícil e lento é criar conhecimento, qualificar pessoas, educar, fazer animação, fomentar atitudes, criar alma.
Falamos de Vilar Maior, poderíamos falar do Concelho, poderíamos falar do país.
Todos somos responsáveis pela situação em que estamos. Todos somos chamados à solução dos problemas. Claro que os políticos são os primeiros e principais responsáveis. Porém, em democracia eles são eleitos.
Por mim, gostaria que quem se apresentasse a eleições apresentasse programas com o foco no “software”.
Desde já fica o convite a todos para apresentarem sugestões. Aos que se vierem a candidatar a oferta deste espaço para divulgarem os seus programas.
P.S.
Seria injusto não referir um bom exemplo: O Centro de Dia. Uma estrutura social de grande utilidade e das poucas (a única?) que criou postos de trabalho.
Comércio de Albino Freire, antes que construísse o da Rua da Misericórdia
Comecei, logo nos verdes anos, a frequentar Vilar Maior.
E , como a piedade divina me permitiu já ir nuito para alem do octogenariato, basta fazer as contas para concluir que já passaram as bodas de diamante sobre as minhas primeiras idas à Vila,como entao se dizia, prestando,assim.homenagem, à sua historica categoria de sede municpal.
O irmao mais velho de minha mãe estabelecera alí familia e loja de tem-tudo...
Era o meu tio Albino, de seu nome completo Albino Monteiro Freire, no burgo o Senhor Albino, dono do segundo estabelecimento do povoado que o primero era o do Senhor Gata...
Meus pais mantinham com aquele próximo e próspero familiar as mais apertadas relações.
Para além do afectus, as visitas baseavam-se também numa lógica de fornecimentos
Por enfermidades do tubo digestivo e fraqueza pulmonar, meu tio tornara-se dependente de alguns produtos espanhois, designadamende de ceregumis,vinhos nutrificativos de carne e outros tónicos
Afeiçoara-se também às azeitonas de Huelva, a que atribuía efeitos curativos que para o seu caso eram reais e adviriam essencialmete de serem preparadas com sais quimicos, aos escabechados de peixe-chicharro, de molhos tonificantes, aos trigos de que La Raya foi tão abundante até à guerra de Franco.
Por seu turno, minha tia Aninhas, da família dos Frias, preocupava-se um pouco com o seu feminismo, encomendando visnus
E, sendo pródiga no receber, gostava de ter sempre à mão, galhetas e caramelos, torrões de Alicante e melocotones....
Meu pai que, enquanto guarda-aduaneiro, tinha fácil acesso aos estanqueiros de Alamedilha e Albergaria
E peregrinando entre Batocas ou Aldeia da Ponte e a Bismula fazia, e com ele também minha mãe e eu próprio, embora tamanhinho - desvio por Vilar Maior, para lhe deixar aquelas mercancias.
Lembro-me agora de uma ida pela Páscoa da Ressurreiçao, nos meus cinco reis de gente.
E vem-me à memória,um poema de Pedro Homem de Melo
É vila, Semana Santa
Tudo me cheira a alecrim
Tudo me sobe à garganta
Para me falar de mim..
Mas desse remoto ano, já lá vão muitos e muitos, do que mais me recordo é dos mimos pascais com que minha tia me obsequiou - uns ovos de cascas coloridas por qualquer unguento e um bolo podre produzido por umas padeiras aí da Vila, cujo nome tento recordar.
E que ao que me ditam as circunvoluções cerebrais seriam, conhecidas, umas vezes por MEEIRAS, outras por PASSAREIRAS.
Mas que muito mais que pelos folares eram famosas por um raio de sete léguas pelo pão que fabricavam---pães de quartos e trigos meeiros - tanto mais apetecidos quanto é certo que, de mil novecentos e quarenta a mil novecentos e cinquenta, o pão espanhol, antes e depois regalo de pobres, ricos e remediados desapareceu dos mercados, por virtude sucessivamente da Guerra de Franco, da Segunda Guerra Mundial e do Cerco Economico que só terminou com o advento da Tratado Espano-Americano.
Nota de Júlio Marques
Havia efectivamente na vila a família Passareira que o Dr Leal refere e a especialista nps ditos mimos pascais seria a ti Maria Amélia Passareira, falecida em 1957 com 82 anos de idade. Já da ti Meeira nos aconselhavam, dadas as artes de bruxaria que dominava, que ao cruzar com ela cravássemos o polegar entre o médio e o indicador para nos isentarmos de qualquer efeito de arte mágica.
O Senhor Albino Freire, falecido em 1945 com 54 anos de Idade,. foi uma das personagens que marcou o século XX em Vilar Maior.
Vilar Maior,sob o ponto de vista agrícola, foi sempre uma terra de exploração intensiva.
As suas terras férteis, de grande feracidade é certo, são meras linguetas.
Consequentemente não se coadunam com a cultura cerealífera que domina o planalto do Carril.
Tão pouco permitem uma actividade extensiva como a de Aldeia da Ponte, com miríares em batatais, feijoais, ricas pradarias a inculcarem uma rica agropecuária.
Ou a do Soito, com trigais, castanheiros e batatas de sequeiro que pouca mão-de-obra requerem.
Inteligentes e laboriosos, os vilarmaiorenses cedo intuíram que tinham de debruçar-se amorosamente sobre suas minguadas leiras
Filhos da terra, dela foram pais,
Arroteando até os pedregais
Em rosas e mimos,o chão floriu
Tratada com carinho a terra abriu
A horta supríria todas as necessidades.
Demandavam-se os povos das vizinhanças.
Vendiam-se os pimentos e os repolhos.
Praticava-se mesmo a troca directa, trazendo para casa alguidares de feijão e rasas de trigo, saquitéis de castnhas e alforges de batatas.
Ao dealbar do outono, enfrentava-se, é certo, a concorrência das malagas, malaguenhas e malaguetas, descarregadas às toneladas nos pueblos fronteiriços de Alamedilha a Valverde e logo carreadas para Portugal por donas e cargueiros de jorna.
Mas os raianos não dominavam as técnicas da conservação pela acidez nem dispunham de vinagre.
Pacientemente, em Vilar Maior, os homens iam melhorando os aldeidos, acicatando-lhes a eficácia e aprimorando-lhes os sabores.
Com mais paciência, ainda, as mulheres afeiçoam as peças que carinhosamente vão introduzindo nos vidrados--pimentos doces e queimosos, carnudos, semi-carnudos e delgados, cebolinhas, pepinos, tomates verdes....
É essa maravilha, pimentos de Vilar Maior, curtidos em vinagre de Vilar Maior, por mãos de Vilar Maior em recipientes que foram da Malhada Sorda ou vieram de Albergueria que queremos ver na feira dos talentos
Não resisti à divulgação da pintura e do texto de Alcínio Valente. Merece ser visto, merece ser lido. E deveria sevir de efetiva exortação para tomarmos o destino nas nossas mãos e sair da resignação que, dia após dia, nos torna menores.
Porque nos recusamos a pactuar com aqueles, que nos condenaram a uma vida de agonia expectante.
A nossa vontade é inquebrantável.
Cruzámos o mundo de lés a lés.
Descalços, a pé,de carro, e carregados de contrabando ou de ilusões.
Estivemos em França, Alemanha, toda a Europa, África, América Latina e do Norte, Índia e China, em todas as partes do mundo.
Regressámos e voltaremos porque somos imparáveis e invencíveis.
Os cofres dos bancos abarrotaram-se com as remessas dos nossos emigrantes, mas como prémio recebemos o esquecimento.
Estamos fartos de políticos, tecnocratas, burocratas, de fazedores de opinião, dos iluminados e comentadores, porque com todo este saber o país afundar-se-á no Atlântico, mas nós beirões sobreviveremos ancorados aos nossos carvalhos centenários.
Dêmo-nos as mãos, onde nos encontremos, e veremos que somos do tamanho do Mundo.
O sol ainda se levanta, inundando de luz, os nossos vales e serras antes de se esconder no horizonte.
Há noites de prata ao luar.
No silêncio da noite, o rouxinol ainda se faz ouvir interpretando as suas infindáveis partituras, com cantos celestiais.
As águas dos ribeiros saltam de cascata em cascata, por entre os estreitos e sinuosos leitos.
Há festas e romarias.
Estrelejam foguetes no céu.
Bandas de música animam as nossas aldeias.
Desfilam os santos em procissões, nas ruas em dias de festa.
É dia de capeia na aldeia, por entre o arvoredo e poeira, divisa-se um cenário bélico, a infantaria avançada e a cavalaria atrás, entrará triunfante por entre a multidão, que se acotovela por todo o lado à passagem do tropel.
Á tarde é a espera ao forcão, com a praça apinhada de gente, a juventude entrincheirada atrás da pesada estrutura de madeira, espera firme o embate da fera, que roda para um lado ou outro, tentando ultrapassar a muralha, que parece telecomandada.
Se alguém for colhido, então o grupo actuará como um enxame humano sobre o touro.
Nesses dias as nossas aldeias, inundam-se de gentes vindas de todas as partes do mundo…
Ainda ouvimos os murmúrios dos contrabandistas, misturados com as sombras do arvoredo na solidão das noites invernosas.
Ouvi o ranger dos eixos e rodados dos carros de bois, no seu lento trepidar nos irregulares e estreitos caminhos.
Olhai e ouvi o ondular das searas ao vento.
Inalai o perfume das flores do campo, que trazem os odores dos nossos antepassados, que mourejaram por estas terras.
Há lágrimas de dor pungente nos nossos corações, torturados pela saudade sentida, por aqueles que connosco privaram.
Ouvi os manguais vibrar nos molhos de centeio, estendidos na laje granítica.
Vêde como a pá de madeira, lança ao ar o centeio, para o vento o separar das praganas.
As nossas casas de granito, serão o testemunho da nossa passagem por estas paragens, como as pegadas de dinossauros que o mundo não apagará.
Nós somos os que abrimos os caminhos da vida, carregando o corpo e a alma dilacerada, pelas venturas e desventuras da experiência.
Explodimos as lajes graníticas, para construirmos as nossas casas.
Esventrámos as nossas terras, para extrair água dos poços e semeámos e regámos todas as leiras de terra.
Plantámos pomares e vinhedos, entre os barrocais e montes eriçados.
Semeámos o linho, com que fabricámos as albas camisas e lençóis.
Partilhámos as nossas casas com os animais, e fertilizamos os campos com o seu estrume.
Para adquirir competências e saber, inundámos universidades e provámos nos Ministérios, Forças Armadas, outras instituições e associações profissionais, a nossa valia.
Mobilizemos as influências e competências de todos os arraianos, para alimentarmos ainda o sonho de mudança.
Não aceitaremos ser objecto de um parque jurássico…
Alcínio Vicente
Assisti com agrado e com orgulho à inauguração de um Centro Escolardo Pré-Escolar e 1º Ciclo em Vila Nova de Gaia cujo patrono é o grande escritor sabugalenese Manuel António Pina. Uma boa escolha.
A propósito qual é o patrono do Agrupamento das escolas do Sabugal?
A sopa de letras
Era uma vez um menino
que não queria comer sopa de letras.
Podiam lá estar coisas bonitas escritas,
mas para ele era tudo tretas...
Podia lá estar escrito COMER,
podia lá estar GOIABADA,
Como ele não sabia ler,
a sopa não lhe sabia a nada.
Tinha no prato uma FLOR,
um NAVIO na colher,
comia coisas lindíssimas
sem saber mas ele queria lá sabor!
Até que um amigo com todas as letras
lhe ensinou a soletrar a sopa.
E ele passou a ler a sopa toda.
E até o peixe, a carne, a sobremesa, etc....
Manuel António Pina
Ofíco enviado pelo Presidente da Câmara do Sabugal ao Presidente da Junta.
Sabugal 22 de Abril de 1952
«Exmo senhor Presidente da Junta de Freguesia
Festivamente se vai comemorar em todo o país o vigésimo quinto aniversário da entrada do Doutor OLIVEIRA SALAZAR para a Presidência de Governo da Nação.
Portugal deve-lhe PAZ, RENOVAÇÃO, PROGRESSO …
Dia 27 de Abril, será dia festivo em todo o concelho e essa Junta de Freguesia, em reunião com os senhores Párocos, Professores, Regedor e União Nacional, podem deliberar acerca da melhor forma de comemorar a data.
É meu desejo que os festivais se iniciem com uma missa em acção de graças, seguindo-se na escola da manhã uma breve exposição acerca de SALAZAR, aos alunos.
Na parte de tarde, com dispensa de serviço, podem os senhores professores pôr à disposição das autoridades locais, com permissão já concedida pelo senhor Director Escolar, as salas dos edifícios escolares a fim de que, nas terras onde telefonias se instalarem estas, de modo a ouvirem a mensagem que nesse dia, às 16horas é transmitida de Lisboa.
FICA PELO MENOS OBRIGATÓRIO:
A missa. O Repique dos sinos às 16 horas e durante, pelo menos, meia hora. A queima de foguetes à mesma hora.
Queira Vª. Exª apresentar os meus melhores cumprimentos às autoridades locais.
A Bem da Nação.
O Presidente da Câmara Municipal
Francisco Maria Manso
Ao programar as suas férias tenha em conta que este ano a II Feira de Talentos de Vilar Maior se realiza no dia 10 de Agosto, um sábado. Nesta feira você, sim você, é a pessoa mais importante, quer se limite a cirandar por lá, quer compre, quer venda, quer faça um número qualquer desde que esteja presente. Mas já que lá está, porque não dar o melhor de si? Você merece que os outros o apreciem. Então, vá lá descubra, invente, faça qualquer coisa.
De preferência, não trabalhe sózinho: peça ajuda, ofereça ajuda, fale com os familiares, convide os amigos, incentive-os a colaborar consigo. Faça a sua parte que é também opinar, dizer o que se pode fazer numa feira assim, dê sugestões.
Falem, digam coisas, digam que vão participar, façam publicidade do que vão vender ou fazer.Talvez nen sempre o segredo seja a alma do negócio, mas se o for, surpreenda-nos como na feira passada nos surpreendeu o número do ti Fernando e da Céu (e do burro, não vá ficar ogado!).
A feira é de quem a fizer e o objetivo é conseguir torná-la um evento de relevo na região.
Este blog VILAR MAIOR PRIMEIRO (vilarmaior1) tem como objetivo trabalhar para o engrandecimento da Vila e manter os vilarmaiorenses ligados às suas raizes. A feira é uma forma de o conseguir.
Aqui faremos toda a promoção da feira. E já sabe, é um lugar aberto onde pode livremente opinar, publicitar, informar. Todos os posts aqui colocados serão publicitados no grupo de Vilar Maior, no facebook que é por onde a informação corre mais.
Procuramos através de documentos manuscritos dar a conhecer um pouco o que era a Vila no Século XIX. O conjunto de atas que a seguir referimos dá dados muito interessantes sobre questões económicas, sociais, políticas, administrativas, sobre usos e costumes.
Sessão do dia 17 de Março de 1850
«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oitocentos e cincoenta, nas Cazas da Camara onde se encontrava presente o Reitor Joze Ignacio Farias, Presidente da Junta da Parochia junto com os vogaes Joze Maria Cardozo e Francisco Ferreira Franco…»
Este é o início da primeira ata de um conjunto 47, tendo a primeira a data de 17 de Março de 1850 e a última de 29 de Dezembro de 1864.
Olocal de realização para além do citado são «Casa das Sessões da Junta da Parochia desta freguesia de Villar Maior», a «Sacristia da Igreja Matriz» e a casa do Reitor
Todas elas são presididas pelo Presidente da Junta , oReitor Jose Ignacio de Farias.
Os vogais (dois) vão-se sucedendo em mandatos bienais:
- Jose Maria Cardoso e Francisco Ferreira Franco
Joze Ribeiro Leitão e Candido Osório da Fonseca
Jose Maria Cardoso e António Alves
Jose António Gatta Regueiró e Jose Francisco Ferreira
Jose Antonio Gatta Regueiró e Francisco Ferreira Franco
João Antonio Ferreira e Francisco Ribeiro Leitão
Jose António Gatta Regueiro e José João Vasconcelos
João António Ferreira e Joze Fernandes
Vicente Dias e Bernardo Gatta
Além dos membros da Junta, estão presentes nalgumas sessões o Regedor e cidadãos, estes quando se trata de tomar decisões mais importantes, assinando (os que sabem assinar), no fim.
Nomes constantes como regedores – Francisco Ribeiro Leitão, António Martins, António Ozorio, Antonio Joaquim Gonzaga, Bernardo Gato (que é também vogal da Junta)
Nomes de Juizes Eleitos – Francisco Ribeiro Leitão
Francisco Ferreira Franco
Maio é o mês das rosas. Para os crentes é o mês do rosário. Na minha aldeia, nos anos sessenta, era o mês da maia amarela, era o tempo em que a natureza se enchia de frutos verdes e tulhas, arcas e tonéis se esvaziavam. E faltando o pão era a fome. O chefe de família olhava para a cevada, mais temporã que o centeio, na esperança de produzir um pão ruim, mas pão que mata a fome. Ou, então, de gastar o que tem guardado para a sementeira. Ou de pedir uns alqueires, por empréstimo, ao lavrador rico.
Um amigo meu que excessivo na faculdade de imaginar, passa o tempo a fazer conjeturas sobre o que foi e o que será, explica, baseado nos efeitos que a fome e a fraqueza provocam nos seres humanos, desde perda de sentidos, desmaios, descoroçoamento, desânimo, apsiquia, lipotimia, delírio, e ele sublinha delírio, conjetura o meu amigo que foi a fraqueza e a fome que levou os três pastorinhos a ver a imagem de nossa Senhora pousar sobre a azinheira.
Diz o meu amigo que quando Maio se for, quando desmaiar, neste ano de 2013, Portugal precisará de um milagre maior. E diz convicto: aguardemos!
Os rapazes solteiros constituíam um grupo social específico nas comunidades rurais. Terminavam a quarta classe com exame feito na sede do concelho, no Sabugal, onde a duração das provas de exame os obrigava a pernoitar. Quanto a estudos a maior parte ficava por aqui, com sólidas aquisições no domínio do saber ler, escrever e contar acrescido com uma cultura na base da memória no domínio da geografia física (nomes de serras, rios) da geografia humana (distritos e capitais de distrito, produções, Linhas e estações de combóio), capitais dos países da Europa e conhecimentos geográficos extensivos às colónias Ultramarinas. No domínio da História imperava uma concepão patriótica feita de histórias dentro da História, a exaltação dos heróis, a Espanha (que para nós era encarnada na Almedilha onde nos borrávamos de medo dos carabineiros) como rival a quem vencíamos sempre. Algumas noções sobre anatomia e funcionamento do corpo humano. O resto era feito pelo enquadramento da disciplina e dos valores e dos retratos do Salazar e do Carmona pendurados na parede da sala da escola.
Feita a quarta classe os filhos dos lavradores continuavam a fazer o que já faziam, guardar cabras e ovelhas, iniciavam-se na rabiça do arado e na condução do carro das vacas; os filhos dos jornaleiros, tornavam-se jornaleiros e todos passavam a fazer parte do exército que, pela calada da noite, fazia contrabando para Espanha de minério para lá e de outros artigos para cá. Entre a saída da escola e a Inspecção militar mediavam cerca de sete, oito anos. Pelos 14, 15 anos acediam à categoria de "rapazes solteiros"através de um ritual que consistia no "pagamento do vinho" do iniciante, que em festa de confraternização o integravam. Ao toque da concertina, se havia tocador, ou ao toque do realejo, seguia a ronda, pela noite dentro, nas ruas da vila, com vozes aos despique, marcadas por aguguios:
Ó Pelourinho da Praça
Esta noite hás-de cair
Nos braços de uma menina
Quando estiver a dormir
E logo a seguir, um outro
Pedrinhas desta calçada
Levantai-vos e dizei
Quem vos passeia de noite
Que eu de dia bem o sei
E o neófito, deixava de ser garoto e passava a ser rapaz. De ora em diante, podia circular de noite pelas ruas da vila, sem ser escorraçado ao pontapé ou à cinturada para casa depois do Toque das Trindades; participará nas rondas, roubará com os demais a lenha e o toco do natal; roubará as flores com que se enfeita o Chafariz na Festa do Senhor dos Aflitos; agora que é o mais novo recém-chegado terá de ser ele a dirigir-se ao rapaz de fora que venha namorar à vila para lhe dizer quetem de pagar o vinho; agora tem que mostrar o que vale e, antes de mais, cada um vale a força que tem, no trabalho, no jogo, a pegar ao guião na Semana Santa. Tem de mostrar o seu valor na voz a cantar, no acerto do improviso na desgarrada, no toque do realejo ou no pé de dançarino. As raparigas solteiras estão atentas a todos os sinais e os rapazes sabem-no.
Secretamente, sabem que de nada vale o que fazem sem o olhar atento de uma mulher. Será o encantamento do namoro. Depois o casamento. Depois os filhos garotos que volverão rapazes solteiros.
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