Terça-feira, 25 de Outubro de 2011

E A BATATA, SENHORES! - Dr Leal Freire

Antes do grande êxodo, todas as terras  que  pudessem beneficiar de rega eram afectadas ao cultivo da batata, exceptuadas umas pequenas leiras, mais ricas e cuidadas,  reservadas para a horticultura — couve galega, tomates, pimentos, pepinos e cebolas.

Este tipo de produtos eram efectivamente muito exigentes, tanto que deles se dizia que todos os dias exigiam a presença do cultivador, embora, porém, em menor grau, também a cultura da batata requeria grandes cuidados.

Para começar logo a preparação e estercagem dos solos.

Depois a escolha das sementes, pois como dizia o povo, quem merda semeia, merda colhe.

E até a escolha data de deitar à terra os pequenos fragmentos, que tinham de ter pelo menos um olho, era objecto de análise pela importância atribuida às fases da lua e ao grau de humidade da vessada — se seca, o olho não despontava, se excessivamente húmida, apodrecia.

O doseamento das leiras, a sua inclinação, os regos a marginá-las — tudo  tinha de ser bem pensado

Até porque  ao lado se plantavam alfaces e beterrabas —  as primeiras para consumo precoce, as segundas   para  forragem hibernal, tal como as abóboras, que tinham campo  à parte...

As ervas daninhas eram  cuidadosamente arrancadas, à sacha, primeiro, e, depois, por arranque manual.

Na minha meninice, só havia três variedades — a vermelha, maioritária, a branca, menos abundante, e a riscada, mais rara ainda.

Como semente, usavam-se tubérculos de média dimensão, entre os grossos, para consumo caseiro, ou venda, e a miúda, para os gados, especialmente os porcos.

Para evitar os malefícios  da repetição, trocava-se com os vizinhos.

Os de mais rasgo e posses, aventuravam-se até os Foios, terra de alma para as batatas de semente.

Entretanto, começa a globalização e com ela a vinda de novas variedades do Estrangeiro.

Com a praga do escaravelho, primeiro  apanhado para baldes e queimado, depois combatido pelo DDT, a que o parasita ia ganhando resistências, nos chões encravados entre rochedos e na zona eram a maior parte, foi tempo de abastança para os lagarto luzídios   como unto sem sal.

Mas entretanto, o íncola habituou-se a outras espécies

Veio a rambana — aportuguesamento por aférese  e apócope do nome  verdadeiro

Veio a rancousa, nome epentético.

Veio a especial rosa branca — evocativa do tempo em que o tubérculo se não  comia e se julgava até  pai de enfermidades  e, por isso, colocado na lista das plantas  ornamentais.

É verdade!

Foi necessário que sobreviesse uma época de grandes fomes, para que nós europeus  começássemos a consumi-la.

A exemplo das famílias reais que lhe louvavam o sabor e virtudes e que, para estimular o desejo da prova proíbiam o acesso aos jardins onde o tubérculo se exibia numa profusão de flores.

Passada a crise, a batata cimentara-se já no gosto alimentar da generalidade das   populações e tornou-se mesmo  o produto de maior consumo, o que obrigou  a uma redescoberta   de variedades.

Presentemente, a coqueluche são as batatas selvagens do Peru, as CHUNO, palavra que para os incas significa exactamente batata.

Pois a mama chuno foi desde há dez mil anos a  sua base  alimentar.

E  dizem os sábios que  aquele tipo de batatas nos fornece o quantum satis de vitamina C,  tem poucas calorias  e muita força antioxidante.

Aqui na orla raiana do Sabugal, a batata, para além de alimentar homens e gados foi o principal financiador das populações.

É  um bom agente publicitário do nosso bom nome, pelos milhares de toneladas que concentrada na Freineda, na Ceredira, na estacão da Guarda e no Barracão se disseminavam depois  aquém e além fronteiras, criando armazenistas de tomo e comissários de uma apreciável mediania

publicado por julmar às 11:42
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