Os rapazes solteiros constituíam um grupo social específico nas comunidades rurais. Terminavam a quarta classe com exame feito na sede do concelho, no Sabugal, onde a duração das provas de exame os obrigava a pernoitar. Quanto a estudos a maior parte ficava por aqui, com sólidas aquisições no domínio do saber ler, escrever e contar acrescido com uma cultura na base da memória no domínio da geografia física (nomes de serras, rios) da geografia humana (distritos e capitais de distrito, produções, Linhas e estações de combóio), capitais dos países da Europa e conhecimentos geográficos extensivos às colónias Ultramarinas. No domínio da História imperava uma concepão patriótica feita de histórias dentro da História, a exaltação dos heróis, a Espanha (que para nós era encarnada na Almedilha onde nos borrávamos de medo dos carabineiros) como rival a quem vencíamos sempre. Algumas noções sobre anatomia e funcionamento do corpo humano. O resto era feito pelo enquadramento da disciplina e dos valores e dos retratos do Salazar e do Carmona pendurados na parede da sala da escola.
Feita a quarta classe os filhos dos lavradores continuavam a fazer o que já faziam, guardar cabras e ovelhas, iniciavam-se na rabiça do arado e na condução do carro das vacas; os filhos dos jornaleiros, tornavam-se jornaleiros e todos passavam a fazer parte do exército que, pela calada da noite, fazia contrabando para Espanha de minério para lá e de outros artigos para cá. Entre a saída da escola e a Inspecção militar mediavam cerca de sete, oito anos. Pelos 14, 15 anos acediam à categoria de "rapazes solteiros"através de um ritual que consistia no "pagamento do vinho" do iniciante, que em festa de confraternização o integravam. Ao toque da concertina, se havia tocador, ou ao toque do realejo, seguia a ronda, pela noite dentro, nas ruas da vila, com vozes aos despique, marcadas por aguguios:
Ó Pelourinho da Praça
Esta noite hás-de cair
Nos braços de uma menina
Quando estiver a dormir
E logo a seguir, um outro
Pedrinhas desta calçada
Levantai-vos e dizei
Quem vos passeia de noite
Que eu de dia bem o sei
E o neófito, deixava de ser garoto e passava a ser rapaz. De ora em diante, podia circular de noite pelas ruas da vila, sem ser escorraçado ao pontapé ou à cinturada para casa depois do Toque das Trindades; participará nas rondas, roubará com os demais a lenha e o toco do natal; roubará as flores com que se enfeita o Chafariz na Festa do Senhor dos Aflitos; agora que é o mais novo recém-chegado terá de ser ele a dirigir-se ao rapaz de fora que venha namorar à vila para lhe dizer quetem de pagar o vinho; agora tem que mostrar o que vale e, antes de mais, cada um vale a força que tem, no trabalho, no jogo, a pegar ao guião na Semana Santa. Tem de mostrar o seu valor na voz a cantar, no acerto do improviso na desgarrada, no toque do realejo ou no pé de dançarino. As raparigas solteiras estão atentas a todos os sinais e os rapazes sabem-no.
Secretamente, sabem que de nada vale o que fazem sem o olhar atento de uma mulher. Será o encantamento do namoro. Depois o casamento. Depois os filhos garotos que volverão rapazes solteiros.
. De novo, a condessa de Bo...
. Vilar Maior, minha terra ...
. Emigração, Champigny-sur-...
. Para recordar - Confrater...
. Requiescat, Isabel da Cun...
. Em memória do ti Zé da Cr...
. Requiescat in pace, Fenan...
. Paisagem Zoológica da Vil...
. Gente da Minha terra (192...
. badameco
. badameco
. o encanto da filosofia
. Blogs da raia
. Tinkaboutdoit
. Navalha
. Navalha
. Badamalos - http://badamalos.blogs.sapo.pt/
. participe, leia, divulgue, opine