Pede-me Manuela Gata Esperança:
Gostava de publicar uma história, de um amigo (incógnito) com fortes raízes na região, passada em Vilar Maior e uma ida à festa da Stª Eufémia, com passagem obrigatória pelo cabeço do Arreçaio. Junto um desenho alusivo do autor.
Vilar Maior sempre teve grandes adoradores do deus Baco, era cada piela…. Lembro-me do Junça da Burra, que me ia buscar ao comboio ao Noéme de burro, que trabalhava esporadicamente em casa de minha avó, de quem assisti um dia a uma bebedeira monumental depois de ter “comido” uma malga de ginjas. Explico melhor, a minha avó era especialista a fazer ginjinha (nada a ver com a zurrapa do mesmo nome que se vende aí aos turistas e que tanto apreciam). Aquilo era a bebida fina dada às visitas de cerimónia lá de casa preparada um ano antes. Basicamente eram ginjas açúcar e aguardente a macerar num garrafão. Após alguns meses havia a trasfega para garrafas de licor e o excesso das ginjas, nada se perdia, ia fazer a felicidade do Junça, que naquele dia, ainda sem beber um copo, curtia uma bebedeira só de ginjas.
Mas de quem eu quero falar é de outro, o Alípio e do milagre de Santa Eufémia da Freineda, para quem não saiba, santa do Sec. III, DC consagrada à Virgindade e eu era-o, na altura ainda um miúdo que ia passar férias a casa da minha avó a Vilar Maior, só os dois, que saudades. Então à época havia o Alípio, sempre avinhado, que quando me apanhava junto ao nosso portão tinha por brincadeira de mau gosto assustar-me, dizendo “corto-te o pirilau”, outras vezes era “capo-te”, sacando do bolso um canivete espanhol. Em segredo, eu andava muito assustado com a perda da virgindade e mais, da virilidade, até que chegaram as Festas da Santa Eufémia da Freineda. Que animação, uma roda-viva. Passavam pela Vila muitos peregrinos vindos de outras terras, paravam para se refrescar no chafariz e seguiam pelo Cabeço do Arreçaio acima, a pé, de burro ou de mula, que naqueles tempos não havia estradas, pelo que não havia automóveis, salvo o do Sr. Fernando Boavida, homem de ideias largas e avançadas no tempo, mas que empanava cada vez que teimava em sair de carro. Ia-se à Freineda por fé, por entretenimento, pelos copos, fosse lá pelo que fosse e lá foi na leva o Alípio, mais por Baco, penso, do que pela Santa. No fim das festas começam a regressar os peregrinos que trazem a notícia, “O Alípio MORREU”. Mas como? Não sabiam.
Naquele tempo já havia telefone público no Sr. Aníbal, dava-se à manivela, esperava-se umas horas e lá se conseguia falar para Lisboa ou Porto, jamais para a Freineda. Jamé dizem os franceses. Por fim, alguém esclareceu; o Alipio tinha feito uma aposta em como era capaz de beber um litro de aguardente, mas seria um litro? “Quem conta um conto acrescenta um ponto” diz o povo. O certo é que apostou, ganhou e MORREU.
Uma morte santa, podia ter morrido de cirrose, de doença prolongada mas não, morreu feliz, no seu meio ambiente, entre amigos, conservado em álcool, isto só pode ser um milagre graças à Santa Eufémia. O corpo regressou a Vilar Maior mais tarde e assisti à sua chegada na Praça, ainda o estou a ver, hirto, montado num macho, todo vestido de branco, tinham-lhe tirado as calças e o casaco e vinha em ceroulas e camisola interior, com a cabeça pendente. Montado atrás no mesmo macho vinha um homem, este vivo, que o abraçava pelo peito, lembrava uma cena bíblica, fantasmagórica. Ali estava à minha frente o homem que queria fazer uma mutilação genital, a minha e não teve tempo. Mais um milagre.
Nunca fui à Freineda, mas devo uma vela à Santa.
16/VI/2015
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