Nascer do sol visto da Cabeça da Porca
Assistir ao nascer do sol neste mês de Agosto é um privilégio para quem acorda cedo. Mas fazê-lo no Cabeço da Porca, mesmo à beira do Carvalhal, a 830 metros de altitude é uma experiência única. Há tempos que os barrocos daquele cabeço, vistos do castelo da Vila, me desafiavam. Subi, pois, ao mais alto e dali avistei até horizontes longínquos enquanto, sentado, ouvia o silêncio cortado por o zurrar de um burro, pelo ornear das vacas, o latido de um cão e o tinir de campaínhas de cabras que pastavam numa cerca de arame farpado. Perto e longe ouviam-se tiros de caçadores. Observar o cabeço no lugar de tão gigantescos barrocos leva-nos a imaginar figurações de animais esculpidas num tempo sem fim pelos agentes erosivos. Sem esforço maior, lá está uma imponente porca.
Desci para a estrada vencendo a barreira de arame farpado. Uma idosa puxava pela rédea um burro branco. Abrandei o passo para meter conversa. Ora, quem havia de ser? A minha parente Henriqueta, de olhos azuis como o céu do Carvalhal dos dias claros que são quase todos. Fomos aos nossos ascendentes e, subidos dois ou três degraus, lá estava o tronco Monteiro que nos unia. A Henriqueta conta e eu escuto: do tempo que fora professora, da preferência pelo Carvalhal que o barulho da cidade a incomodava, do cancro que vencera, das casas e terras abandonadas ... e do Amilcar, bom um rapaz. Perdera uma mão que segundo a versão, por conveniência à sua reputação, teria sido um acidente com foguetes. Isso não o impedia de fazer a maioria dos trabalhos com perfeição. Aos poucos, o álcool foi-se tornando seu dono e o comportamento foi-se alterando. Mais do que ninguém a Henriqueta foi-lhe valendo como podia até o comportamento se tornar perigosamente agressivo. Era habitual desaparcer por temporadas. Por alturas da festa do S. Marcos, um pastor encontrou-o, no campo, cadáver. Tocaram a sinal e fizeram o funeral. Passado o largo, frente à capela de S. Marcos, onde a frondosa amoreira sombreia o tronco das vacas, instalação onde o ferreiro compunha os cascos das vacas (dos burros e dos cavalos) e lhes pregava um par de ferraduras, paramos e apontado:
- Esta é a minha casa. Venha tomar o pequeno almoço.
- Obrigado, já tomei.
- Sabe? Era o António Seixas que nos pintava a casa. No tempo dos meus pais era o pai dele, o ti Zé Seixas.
Saí do Carvalhal, pelo caminho que desce até ao Porto Sabugal. Parei ao pontão, olhei a veiga tornada lameiro e fui assaltado por imagens de há cinquenta anos. Tudo tão mudado!
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