Domingo, 7 de Maio de 2023

As mães não morrem

 

gracajulio.JPG

Na Vila, no fim de contas, quem mandava eram as mulheres. Se as mulheres eram dos homens, os filhos eram das mães. A identificação era, quase sempre, por linha materna: Era o Júlio da ti Graça, o Manel da ti Ester, O Quim da ti Amélia, o Mário da ti Júlia, e por aí fora. Eram sempre as mães que estavam presentes, que cuidavam de nós. Por isso, estarão sempre em nós.

Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

(Poema de Almada Negreiros)

 

publicado por julmar às 19:04
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Quinta-feira, 27 de Abril de 2023

Requiescat in pace, Olímpia

Graça rendeira.jpg

Olímpia da Conceição Soares (1926 - 2023), nasceu em Vilar Maior onde, cresceu, casou, trabalhou, teve filhas e viveu uma longa vida. Vizinha da minha avó Isabel e do Barroco dos Martírios, ali está, juntamente com a ti Graça e a ti Filomena, a mostrar a arte das rendas. Sentimos a falta de cada um que parte. Somos menos, cada vez menos. Às filhas e restante família, apresentamos sentidas condolências.

publicado por julmar às 21:13
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Terça-feira, 21 de Março de 2023

Tarde de domingo

VM 006.jpg

Toda a gente, mesmo sem graça, tem a sua graça

Por isso meu pai interrogava

Antes de uma qualquer conversa

Qual é a sua graça?

Manel, Tonho ou Zé, 

Diziam em apresentação

Pois a minha é João

E antes que assunto tratassem

Faziam aturada investigação

A quem pertence vomecê

E vomecê de que terra é

Desafiando parentescos até à sétima geração

Escarafunchando pelo tempo

Chegavam à conclusão 

Que eram parentes, então!

Abeiravam-se do tonel

E de copo de vinho na mão

Celebravam com chalaça

A história da sua graça

Como se cantassem uma canção!

publicado por julmar às 11:23
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Sábado, 18 de Março de 2023

Requiescat in pace, Francisco Cerdeira

trilhos de vilar 014 (2).jpg

Faleceu Francisco Fonseca Cerdeira, filho de José Monteiro Cerdeira e de Elvira Fonseca, nascido em Vila Maior no ano de 1959. Conheço o Chico desde que pisou chão e começou andar pelas ruas da Vila. Teve uma infância igual à de todos nós, era uma criança inteligente como me referia a mãe, a ti Elvira, e a irmã Maria que dele cuidaram toda a vida com desvelo e afeto. A vida trouxe-lhe  complicações de saúde e sofrimento que limitaram  o seu gosto pelo trabalho, a sua natural alegria e boa disposição que nunca deixou de espreitar do fundo do seu olhar. Merece de todos nós louvor e reconhecimento pela forma como desempenhou, com gosto e competência a função de sacristão apesar do esforço físico exigido. Que teria sido de nós ( e como será daqui em diante) se o Chico não tocasse os sinos? Também a vida dele não teria tanto sentido. Uma das facetas do Chico era o humor que se expressava não tanto no dizer mas na forma de olhar. Dizia qugostava sobretudo de tocar a sinal, porque era sinal que ele ainda cá estava. Na última conversa, como noutras anteriores, o Chico queixou-se que lhe doía isto e aquilo e desesperava, anunciando no que dizia que isto já não era vida. Recordaremos o Chico com os seus elementos icónicos (ver fotografia): o olhar, o boné, o apito e o pau. Estamos todos de luto.

Os meu sentidos pêsames à Maria e Zé Carlos, aos sobrinhos e demais família

publicado por julmar às 12:10
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Terça-feira, 14 de Março de 2023

Memórias de infância

Albert TB.JPG

Ao ler este texto do amigo Alberto, que na Vila passou alguns dias, puxou as minhas memórias de infância. Tão parecidas!

«Crescíamos a olhos vistos e o mundo em torno de nós diminuía de dia para dia. Todas as coisas consideradas difíceis de obter, de repente desabavam a nossos pés e ofereciam-se.

Mas rápido tudo se nos quebrava nas mãos, e cada dia, de prova em prova, teima-que-teima, inexperientes, violávamos as esperanças tapadas e fugidias dos nossos recantos secretos. Saldões tímidos, vorazes e avessos nada nem ninguém nos segurava. A vida era, tão-somente, um extenso campo de jogos. Quem é que nos levava a palma, no pino do verão, quando saltávamos nus, à pai Adão, na laje do açudes sobre o riacho junto do moinho do Milagre, onde a maioria da malta se metia a nadar no baixinho e os mais afoitos no “poço” de águas escuras povoado de trutas, sob os olhares curiosos das nossas pequenas admiradores sentadas na borda da carcomida ponte de pau, lembras- te, Alberto?
Para lá do material a muralha que nos separava do segredo das coisas a vida era decerto outra; e, talvez (quem sabe?), Mais simples. O tempo, só o tempo, nos haveria de fazer crescer… Todos os dias-recordo-estalavam palavras novas, ideias padrões e as casas aglomeradas do nosso pequeno burgo (que o tempo memorizou mais do que os milheirais saturados de água e do que os campos arados onde é zero velas a vidas procurado minhocas e outra bicharada), casario cimentado com as nossas invisíveis incógnitas. A nossa vida era ainda ensaio, ânsia de experiência…
 
(…)
“Mas vivíamos sem problemas mentais na liberdade do doce invento de sermos nós próprios. Vivíamos e éramos felizes!… Bons tempos!»
publicado por julmar às 16:56
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Sexta-feira, 17 de Fevereiro de 2023

Requiescat in pace, padre Agostinho

Agostinho padre.jpg

Infelizmente, já o disse mais que uma vez, este blog é, em grande parte uma espécie de Liber Mortuorum (Livro dos Mortos),  onde fica o registo dos nossos conterrâneos. No cemitério ficam os corpos e nesta espécie de obituário fica, por pequena que seja, uma pequena nota da sua existência, uma luz que não sabemos por quantos anos perdurará. O que nos torna humanos é a memória e é essa que eu quero manter a salvo. Um dia, os netos, os bisnetos, será aqui que encontrarão os seus: o seu retrato, umas curtas palavras que a maior parte das vezes, não chegam a ser um epitáfio. Com os que morrem é a Vila que vai morrendo e é doloroso ser testemunha deste caminhar apressado para o nada.  

O padre Agostinho, suponho que colega seminarista do professor Mário em Vila Viçosa e mais tarde em Évora onde se ordenou sacerdote e exerceu a sua vida pastoral, conheci-o como seminarista ( do seminário de Beja) em férias de Verão, num acampamento nas margens do rio Côa, em Badamalos. Estávamos alguns jovens seminaristas quase todos da diocese de Évora e eu de Beja com o padre Agostinho, o padre Francisco e o padre Luís que  foram marcas na vida de jovens como eu. Da memória turvada com os anos que já lá vão, sobressai-me a figura do padre Agostinho que, conhecedor das talocas e buracos do rio, mergulhava durante um tempo que me parecia imenso para depois emergir à superfície com três grandes barbos, um na boca e um em cada mão. Peixes que, grelhados na fogueira, haviam de acompanhar as batatas com a salada de alface, tudo colhido ali na veiga ao lado.

O padre Agostinho era um homem de fé, que antes de o papa Francisco haver publicado a encíclica "Gaudium et Spes", já ele transportava a alegria e a esperança em generosa bandeja para quem delas se quisesse servir. Com estas poucas palavras espero ter pago a dívida ( a dos peixes também) que tinha para com ele. RIP

 

publicado por julmar às 15:49
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Quinta-feira, 26 de Janeiro de 2023

Requiescat in pace, João Fonseca

joão fon.jpg

Fomos hoje informados, por Celine Pinto, do falecimento de seu pai João Pinto Fonseca de 71 anos de idade, casado com a nossa conterrânea, Anunciação Fonseca. O funeral será na terça-feira, às 9,30h, na igreja de Santo António, em Tarbes (França).

Apresentamos sentidas condolências à esposa, filhos, sogros e restante família.

publicado por julmar às 18:26
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Segunda-feira, 23 de Janeiro de 2023

A mesma história com outra cara

O ensino no Estado Novo, D. Zézinha.jpg

Em agosto do ano passado apresentei, em Vilar Maior, a presente obra com o titulo "Dona Zézinha, a vida singular de uma professora". Como a autora explicou, então,  por razões que lhe foram alheias, o livro foi impresso sem que tivesse tido oportunidade de o ler após revisão final. Continha, de fato, algumas impreciões e falhas resultantes, sobretudo, de uma deficiente tradução de francês para português. Ficou a promessa da autora de rever a situação que deste modo se cumpre e que soube tirar proveito dessa falha. Como soe dizer-se, ' há males que vêm por bem'. Com efeito, o título que agora surge - na verdade, continuo a achar o título original em francês muito interessante - passará, certamente, a ser muito mais apelativo, nomeadamente, aos interessados no tema "O Ensino durante o Estado Novo". Está de perabéns a autora.

D. Zézinha citação.jpg

publicado por julmar às 11:41
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Domingo, 22 de Janeiro de 2023

Requiescat in pace, Joaquim Simões

Joaquim simões3.jpg

Nascido em Vilar Maior em 1949, filho de Adriano Ferreira Simões e de Maria Proença Cunha, faleceu este nosso conterrâneo. Lembro o Quim Manel dos tempos de escola a seguir à qual foi para Lisboa. Apresentamos à família as nossa condolências.

publicado por julmar às 12:03
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Terça-feira, 3 de Janeiro de 2023

Requiescat in pace, Zé Silva

zÉ sILVA2.jpg

Faleceu no dia 2 de Janeiro, no Hospital da Guarda,  Zé Silva que nos últimos anos residia no Lar da Santa Casa da Misericórdia da Bismula. O Zé Siva era filho do ti Zé Silva (os da minha idade lembram-se dele por ser o ferreiro que nos soldava os arcos a troco de lhe tocarmos o fole) e da ti Clara dos Anjos Caramelo. Homem bom, com humor e divertido, vamos sentir a sua falta quando chegar a festa do Senhor dos Aflitos a que nunca faltava. À família, em especial à filha e irmã, apresentamos sentidas condolências.

publicado por julmar às 11:18
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