Na Vila, no fim de contas, quem mandava eram as mulheres. Se as mulheres eram dos homens, os filhos eram das mães. A identificação era, quase sempre, por linha materna: Era o Júlio da ti Graça, o Manel da ti Ester, O Quim da ti Amélia, o Mário da ti Júlia, e por aí fora. Eram sempre as mães que estavam presentes, que cuidavam de nós. Por isso, estarão sempre em nós.
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
(Poema de Almada Negreiros)
Olímpia da Conceição Soares (1926 - 2023), nasceu em Vilar Maior onde, cresceu, casou, trabalhou, teve filhas e viveu uma longa vida. Vizinha da minha avó Isabel e do Barroco dos Martírios, ali está, juntamente com a ti Graça e a ti Filomena, a mostrar a arte das rendas. Sentimos a falta de cada um que parte. Somos menos, cada vez menos. Às filhas e restante família, apresentamos sentidas condolências.
Toda a gente, mesmo sem graça, tem a sua graça
Por isso meu pai interrogava
Antes de uma qualquer conversa
Qual é a sua graça?
Manel, Tonho ou Zé,
Diziam em apresentação
Pois a minha é João
E antes que assunto tratassem
Faziam aturada investigação
A quem pertence vomecê
E vomecê de que terra é
Desafiando parentescos até à sétima geração
Escarafunchando pelo tempo
Chegavam à conclusão
Que eram parentes, então!
Abeiravam-se do tonel
E de copo de vinho na mão
Celebravam com chalaça
A história da sua graça
Como se cantassem uma canção!
Faleceu Francisco Fonseca Cerdeira, filho de José Monteiro Cerdeira e de Elvira Fonseca, nascido em Vila Maior no ano de 1959. Conheço o Chico desde que pisou chão e começou andar pelas ruas da Vila. Teve uma infância igual à de todos nós, era uma criança inteligente como me referia a mãe, a ti Elvira, e a irmã Maria que dele cuidaram toda a vida com desvelo e afeto. A vida trouxe-lhe complicações de saúde e sofrimento que limitaram o seu gosto pelo trabalho, a sua natural alegria e boa disposição que nunca deixou de espreitar do fundo do seu olhar. Merece de todos nós louvor e reconhecimento pela forma como desempenhou, com gosto e competência a função de sacristão apesar do esforço físico exigido. Que teria sido de nós ( e como será daqui em diante) se o Chico não tocasse os sinos? Também a vida dele não teria tanto sentido. Uma das facetas do Chico era o humor que se expressava não tanto no dizer mas na forma de olhar. Dizia qugostava sobretudo de tocar a sinal, porque era sinal que ele ainda cá estava. Na última conversa, como noutras anteriores, o Chico queixou-se que lhe doía isto e aquilo e desesperava, anunciando no que dizia que isto já não era vida. Recordaremos o Chico com os seus elementos icónicos (ver fotografia): o olhar, o boné, o apito e o pau. Estamos todos de luto.
Os meu sentidos pêsames à Maria e Zé Carlos, aos sobrinhos e demais família
Ao ler este texto do amigo Alberto, que na Vila passou alguns dias, puxou as minhas memórias de infância. Tão parecidas!
«Crescíamos a olhos vistos e o mundo em torno de nós diminuía de dia para dia. Todas as coisas consideradas difíceis de obter, de repente desabavam a nossos pés e ofereciam-se.
Infelizmente, já o disse mais que uma vez, este blog é, em grande parte uma espécie de Liber Mortuorum (Livro dos Mortos), onde fica o registo dos nossos conterrâneos. No cemitério ficam os corpos e nesta espécie de obituário fica, por pequena que seja, uma pequena nota da sua existência, uma luz que não sabemos por quantos anos perdurará. O que nos torna humanos é a memória e é essa que eu quero manter a salvo. Um dia, os netos, os bisnetos, será aqui que encontrarão os seus: o seu retrato, umas curtas palavras que a maior parte das vezes, não chegam a ser um epitáfio. Com os que morrem é a Vila que vai morrendo e é doloroso ser testemunha deste caminhar apressado para o nada.
O padre Agostinho, suponho que colega seminarista do professor Mário em Vila Viçosa e mais tarde em Évora onde se ordenou sacerdote e exerceu a sua vida pastoral, conheci-o como seminarista ( do seminário de Beja) em férias de Verão, num acampamento nas margens do rio Côa, em Badamalos. Estávamos alguns jovens seminaristas quase todos da diocese de Évora e eu de Beja com o padre Agostinho, o padre Francisco e o padre Luís que foram marcas na vida de jovens como eu. Da memória turvada com os anos que já lá vão, sobressai-me a figura do padre Agostinho que, conhecedor das talocas e buracos do rio, mergulhava durante um tempo que me parecia imenso para depois emergir à superfície com três grandes barbos, um na boca e um em cada mão. Peixes que, grelhados na fogueira, haviam de acompanhar as batatas com a salada de alface, tudo colhido ali na veiga ao lado.
O padre Agostinho era um homem de fé, que antes de o papa Francisco haver publicado a encíclica "Gaudium et Spes", já ele transportava a alegria e a esperança em generosa bandeja para quem delas se quisesse servir. Com estas poucas palavras espero ter pago a dívida ( a dos peixes também) que tinha para com ele. RIP
Fomos hoje informados, por Celine Pinto, do falecimento de seu pai João Pinto Fonseca de 71 anos de idade, casado com a nossa conterrânea, Anunciação Fonseca. O funeral será na terça-feira, às 9,30h, na igreja de Santo António, em Tarbes (França).
Apresentamos sentidas condolências à esposa, filhos, sogros e restante família.
Em agosto do ano passado apresentei, em Vilar Maior, a presente obra com o titulo "Dona Zézinha, a vida singular de uma professora". Como a autora explicou, então, por razões que lhe foram alheias, o livro foi impresso sem que tivesse tido oportunidade de o ler após revisão final. Continha, de fato, algumas impreciões e falhas resultantes, sobretudo, de uma deficiente tradução de francês para português. Ficou a promessa da autora de rever a situação que deste modo se cumpre e que soube tirar proveito dessa falha. Como soe dizer-se, ' há males que vêm por bem'. Com efeito, o título que agora surge - na verdade, continuo a achar o título original em francês muito interessante - passará, certamente, a ser muito mais apelativo, nomeadamente, aos interessados no tema "O Ensino durante o Estado Novo". Está de perabéns a autora.
Nascido em Vilar Maior em 1949, filho de Adriano Ferreira Simões e de Maria Proença Cunha, faleceu este nosso conterrâneo. Lembro o Quim Manel dos tempos de escola a seguir à qual foi para Lisboa. Apresentamos à família as nossa condolências.
Faleceu no dia 2 de Janeiro, no Hospital da Guarda, Zé Silva que nos últimos anos residia no Lar da Santa Casa da Misericórdia da Bismula. O Zé Siva era filho do ti Zé Silva (os da minha idade lembram-se dele por ser o ferreiro que nos soldava os arcos a troco de lhe tocarmos o fole) e da ti Clara dos Anjos Caramelo. Homem bom, com humor e divertido, vamos sentir a sua falta quando chegar a festa do Senhor dos Aflitos a que nunca faltava. À família, em especial à filha e irmã, apresentamos sentidas condolências.
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