Quem já encontrou uma cabra
que tivesse ritmos domésticos?
O grosso derrame do porco,
da vaca, do sono e de tédio?
Quem encontrou cabra que fosse
animal de sociedade?
Tal o cão, o gato, o cavalo,
diletos do homem e da arte?
A cabra guarda todo o arisco,
rebelde, do animal selvagem,
viva demais que é para ser
animal dos de luxo ou pajem.
Viva demais para não ser,
quando colaboracionista,
o reduzido irredutível,
o inconformado conformista.
(João Cabral de Melo Neto)
De O bairrista a 21 de Junho de 2009 às 19:19
Havia quem tivesse uma, duas, meia dúzia. Excepcionalmente, alguém poderia ter mais mas isso já dva um trabalhão. Todas tinham uma identidade, um nome: A Andorinha, a Rola, a Charda entre outros. Qual o valor económico de tal animal?
De Ribacoa a 21 de Junho de 2009 às 23:31
Para mim (qual Chico Rasteiro de Arrifana), o valor económico de cada rês está na proporção directa entre o preço de compra e o preço de venda. Porém, o seu valor real não pode ser aferido desta forma tão simplista. É mister considerar o leite, os queijos, os cabritos, o estrume e muitas vezes a carne destes animais, porque mesmo em fim de vida e dura como os próprios cornos (mesmo mochos que fossem), ela sabia que nem o melhor prato de chanfana dos nossos dias. Por fim, restava a pele, a qual vendida ao Esfola Burros da Bismula ou ao já referido Chico Rasteiro, sempre renderia mais uns patacos. E ainda sobravam os cornos (quando possuissem tal adereço), os quais podiam ser aproveitados para fazer os badalos dos chocalhos, denunciadores das suas intenções de se esgueirar para os renovos. Assim e tudo visto, um animal destes tinha uma valor (quase) incalculável. E sendo verdade que um único já dava trabalho a guardar, não era menos verdade, a verdade do ditado do meu pai que dizia: Quem guarda uma, guarda duas, três, dez ou vinte.
De jarmeleiro a 24 de Junho de 2009 às 00:23
Pois pra mim o melhor duma cabra era o leite. E que bem ele sabia quando altas horas da noute, depois de encerrado o gado dentro das cancelas, tirar um fatrôco de pão da mochila, agarrar uma cabra e mamá-la surro a surro apertando a têta que esguichava o leite dreitinho à boca onde já se encontrava o pão que mistura do com o leite amaciava até ficar em sopas. Que belo manjar. E o cão tamém não ficava sem o seu quinhão uns surros lançados diretamente para uma poça no lavrado e nem a terra humida do leite escapava. Esses eram outros tempos.
Uma bôa noute a todos.
De Lagartixa a 24 de Junho de 2009 às 23:18
Lagartixa e mulher sou eu e também mamei a cabra muitas vezes, tal e qual como conta Jarmeleiro . O meu obrigado por me ter avivado a memória com tais recordações quase esvanecidas. Na verdade, aqueles tempos eram mesmo outros tempos.
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