VILAR MAIOR, minha terra, minha gente

 Morreu o ti João Monteiro. Desta vez, soube-o pelo toque inconfundível do sino da torre, que anunciava que mais um se finara. Do ti João, sei muito que muito foi o tempo que passei a ouvi-lo. Ele era um orador que sentia gosto no desfiar das palavras como se as acções não ficassem completas se não fossem contadas, repetidamente contadas. A partida para Lisboa ou para a França, a vida de contrabandista, a ocasional profissão de coveiro, a compra de uma terra, de uma cabra ou a venda de um burro, a aquisição de uma carroça na Freineda (garantiu-me que foi o primeiro da terra a adquirir este meio de transporte que haveria de substituir o pesado carro das vacas), a ida a um mercado, a bebida de um alboroque a seguir a um negócio difícil de uma besta, qualquer assunto trivial ganhava no seu verbo o ar épico de acontecimentos únicos.

 A vida continua para os que ficam mas não será igual: Chegará a segunda-feira da festa do Senhor dos Aflitos e, a seguir à missa (ou durante a pregação), não faremos essa comunhão pagã com o líquido de Baco, dizendo:

 - Então, até daqui a um ano!