Domingo, 6 de Dezembro de 2009

Criação de uma Sociedade de Desenvolvimento

Eu não me conformo com a situação de desertificação do interior do país, nomeadamente a que atinge a nossa vila. O mundo muda e, como se vê pela crise que atravessamos, por vezes, de maneira imprevista. Não sabemos se daqui a uns anos estas aldeias que hoje fenecem não rejuvenescerão. O mundo muda. Hoje, felizmente, é possível em Vilar Maior aceder a toda a informação a que se pode aceder em Lisboa, em Paris ou em Singapura. Hoje é possível muito do trabalho que há a fazer nos nossos empregos fazê-lo em Vilar Maior. o tenho feito algumas vezes. Estou, naturalmente, a falar da Internet.

Porém aquilo que eu queria propor hoje é um sonho. Um sonho que não é uma ilusão. Um sonho que pode realizar-se: Tornar Vilar Maior uma comunidade próspera economicamente, um local onde as pessoas ganham dinheiro e onde têm qualidade de vida, um local procurado por gente jovem que aí quer trabalhar, constituir família … viver e viver bem. Vilar Maior tem terra, tem água, tem sol…tudo o que homem precisou para viver lá desde tempos imemoriais. Porque razão hoje que a vida está mais facilitada pela ciência e pela técnica não há-de poder lá viver? Porque é que a gente qualificada – médicos, veterinários, professores, advogados, engenheiros, informáticos, profissionais da construção civil e de todos os sectores – espalhada pelo país e pelo mundo além, não há-de ser capaz de participar na realização deste sonho? É tempo de passar das lamentações à acção; é tempo de deixar de pensar pequenino e pensar em grande; é tempo de passar de pedir para isto e para aquilo; é tempo de deixar de pensar que são os outros que têm de resolver os nossos problemas; é tempo de pensar o desenvolvimento como um todo integrado e não como partes; é tempo de pensar em ganhar dinheiro em Vilar Maior. Ninguém tem que dar nada. Nunca uma sociedade se desenvolveu na base das esmolas ou na base do puro altruísmo. Por isso, cada um que queira participar, fá-lo para ganhar dinheiro que é com ele que a economia se desenvolve. Imagine só que desde que começou a emigração por volta dos anos 60, 25% das remessas dos emigrantes tinham sido aplicadas em Vilar Maior. Imagine que tinham sido aplicadas (não para comprar terras e deixá-las abandonadas) para serem rentabilizadas. Como acha que seria hoje Vilar Maior? Já pensou? Dá para imaginar? Dirá, pois mas isso era se tivesse sido porque agora já é tarde.

Tarde porquê, tarde para quê?

Hoje é o dia de começar. Todos podem participar. Quantos mais participarem melhor. Ninguém sem convicção de que pode ganhar dinheiro deve participar. O voluntariado pode surgir mas só depois de as pessoas ganharem dinheiro.

Lembrem-se: Existe sol, existe terra, existe água; existem pessoas qualificadas; existe um património histórico. E também existe dinheiro … se não for noutro sítio nos bancos.

E acima de tudo há dois verbos: Crer e querer. Acreditar no sonho e querer realizá-lo. Trata-se de um sonho grande. É preciso traçar-lhe os contornos.

Um dos problemas da agricultura tradicional era a excessiva divisão da propriedade – algumas eram tão estreitas que uma vaca atravessada faria as necessidades na propriedade do vizinho; outro problema era a falta de mecanização; e outro as dificuldades de comercialização.

Uma vez que se deseja que participe o maior nº de pessoas nesta sociedade uma das formas de fazer essa participação é através da cedência das terras (apenas do usufruto) em troca de acções segundo fórmulas e cálculos a estudar. Desta forma, se evitará o abandono das terras e a degradação dos solos, se criarão postos de trabalho e uma fonte de rendimento para os que não podem tratar das terras. As terras serão usadas com três fins principais que se complementam: Agricultura, Pastorícia e Florestação. A caça, a pesca, a apicultura serão, entre outras, actividades complementares. Progressivamente poderão ser criadas pequenas indústrias e artesanato que valorizem os produtos – por exemplo uma queijaria.

Dada a incapacidade existente, até ao momento, de rentabilizar o património histórico-cultural a Sociedade de Desenvolvimento fará os protocolos necessários para o efeito e será seu objectivo não apenas preservá-lo mas promovê-lo constituindo uma dimensão fortemente dinamizadora da economia local.

A restauração terá um lugar de destaque e há-de salientar-se pela sua qualidade (à base dos produtos locais – os queijos, os enchidos, as compotas, as carnes, a batata, o pão, as frutas …) que será um forte motivo de atracção do turismo. Há dias um comentador apontou o aproveitamento das antigas escolas como edifício para o restaurante.

Não há economia sem dinheiro. Porém, a Sociedade de Desenvolvimento visa uma economia social em que o importante é as pessoas, cuidando de todas, e de modo especial das crianças, dos velhos ou pessoas que sofram de qualquer fragilidade.

A Sociedade de Desenvolvimento não substitui ninguém, não entra em competição com ninguém e estabelecerá com todos os grupos com todas as entidades, com todos os produtores privados relações de cooperação e ajuda.

Para já pede-se a todos os colaboradores ideias que esta é a fase das ideias e de ouvir todos. Depois passar-se á aos projectos à constituição jurídica, à definição dos seus corpos e lideranças, à assumpção dos compromissos e … finalmente à acção no terreno.

publicado por julmar às 22:38
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16 comentários:
De Manuel Maria a 6 de Dezembro de 2009 às 22:57
Náo é tão utópico como isso, Júlio. Algumas comunidades rurais já o fizeram. Basta uma ou duas cabeças pensantes e mentalidade aberta dos retantes...


De Rosário a 6 de Dezembro de 2009 às 23:28
É realmente uma excelente ideia, não só para Vilar Maior como para todas as aldeias que se encontram mais ou menos votadas ao abandono. Mas, será que nós estamos dispostos a largar as nossas vidas nas cidades grandes, onde temos tudo à mão, para ir para uma aldeia onde nem escolas há para os nossos filhos, onde mesmo nas cidades mais próximas a oferta cultural (para não falar de outras) é quase inexistente? Ou será, apenas um projecto a concretizar quando passarmos à reforma. Venham lá as ideias.
A sugestão de transformar as escolas em restaurante é muito feliz, há aldeias que as transformaram também em alojamento. E há o exemplo excelente do Restaurante A Escola na Comporta, que tem uma boa cozinha e por isso é muito procurado. E, fica no meio do nada...Temos que tentar.


De Júlio Marques a 7 de Dezembro de 2009 às 22:19
Ora, aqui está a Rosário a dizer que é possível, que até no meio do nada pode surgir algo de bom. É assim mesmo: os oásis existem no deserto.
Não se pede a ninguém que vive nas cidades que vá viver para Vilar Maior. Ninguém se deve sentir obrigado seja ao que for. Neste momento o que se pede é que as pessoas escrevam dando ideias, que as pessoas que são competentes neste ou naquele campo se sintam motivadas a aderir ao projecto e que contribuam para a sua construção. É preciso ter em conta que é um projecto empresarial, um investimento.
Quanto aos reformados ou que nos próximos anos se venham a reformar (é o meu caso) ´poderá ser uma forma muito interessante de continuarem activos e úteis com todo o conhecimento e experiência acumulados ao longo da vida. Há e haverá nos próximos anos em Vilar Maior gente nesta situação.
Depois as acções da Galp ou outra empresa poderão ser mais rentáveis (?), mas as acções desta sociedade para além da rentabilidade financeira, certamente terá uma rentabilidade que nenhum dinheiro paga: a satisfação de ver um projecto realizar-se. E mesmo não estando em Vilar Maior poderemos saber que as nossas terras em vez de mato e silvados estão cuidadas em troca disso somos detentores de acções que nos dão rendimento.


De Júlio Marques a 7 de Dezembro de 2009 às 21:37
Então, vamos a isto! E os serviços jurídicos são imprescindíveis.


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