PRIMEIRA PARTE
Aqueles que tal como eu amanharam as tapadas e samearam algumas fanegas de grão, sabem quantas voltas há que dar ao pão até chegar à mesa do rico, do pobre do rei, à Casa de Deus e até ao pai nosso, na passage do pão nosso de cada dia. E eu como muntos outros, até comemos o pão que o diabo amassou. Ora e por môr dele ser o alimento princepal em casa de cada um, é que reza o ditado; Casa onde não há pão todos ralham e nenhum tem razão. Mas indo agora às fainas do pão temos:
A decrua da terra, que era feita durante a Primavera nas tapadas onde em Julho se havia ceifado , rasgado-se aterra pelas gomas dos regos deixados da colheita anteroir. Faço aqui um àparte pra dezer que as terras de pão eram semeadas ano sim ano não pois ficavam um ano de poisio. Depois, pelos meses de Junho Julho fazia-se a estravessa, lavrando-se de atravesso os regos feitos na decrua, mas quando a torna era estreita lavrava-se de forma inviezada pra que as vacas, ou burros não virassem tantas vezes, já que isso era tempo perdido. lá por Novembro faziam-se as sementeiras e para isso era preciso gradear a terra desfazendo os regos deixados da estravessa. Aí era ver o lavrador montado na grade de madeira segurando-se com uma das mãos ao rabo de uma das vacas, aguilhada na outra mão, pra frente e pra trás até deixar a terra lisa e pronta pra receber a semente. Logo a seguir com um saco de estôpa ao ombro contendo o grão, ia retirando o mesmo repetidamente, de mão cheia e certeira lançando-o à terra por gestos ritmados e passadas certas, de maneira que as sementes ficassem destribuidas por igual, não fosse o pão nascer ralo ou aos mochões. O calibrador da saída da sementes era composto plo dedo polegar e plo indicador, conforme se abriam mais ou menos. Uma vez espalhada a semente era coberta com a abertura de novos rêgos, feitos no sentido contrário dos da estravessa. Pelo mês de Março o pão era aricado, serviço feito com arado de pau, de abecas curtas de maneira a lavrar alviando a terra do fundo do rego e sem apanhar a goma aonde iria crescer o o cereal . Este serviço tinha por fim matar ervas, dar algum barbeito à terra e desimpedir o rêgo pra evitar o estancamento das águas impedindo que o pão ficasse chôco e amarelado . Em Julho juntavam-se os ranchos de ceifeiros e enquanto ceifavam as louras cearas lançavam cantigas ao vento e d'algumas inda me lembro bem. Finda a ceifa, em cada tapada os molhos eram juntos por todos e enrolheirados, por quem sabia, de modo que as espigas ficassem protegidas pela palha, por môr dos animais não as comerem e tamém pra não se molharem caso viesse alguma trevoada. E o tempo da malha estava logo ali a chegar, pois como dezia o ditado, quem malha em Agosto malha com desgosto. Mas o pão só podia ser malhado na eira e pra isso era preciso acarranjá-lo, o que se fazia nos carros das vacas com aqueles estadulhos especiais, altos lisos e luzidios. E não fosse a demora, até esplicava aqui a maneira complicada como a carrada dos molhos era feita travando-se uns aos outros. Fica pra outra vêz. Trazido para a eira carro carro, os molhos eram empihados na méda que tamém não era feita à toa, mas segundo certas regras. Depois, era a malha que quando feita a mangual, era cousa digna de se ver. Mas esse e o resto dos passos do pão, fica pra mais logo, porque a hora já vai adiantada.
Munto bôa noute a todos.
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