Domingo, 13 de Março de 2011

Em boa parte a riqueza do lavrador media-se pelo tamanho da meda e pela quantidade de fanegas (uma fanega equivalia a quatro alqueires, sendo que o alqueire teria 14 litros?)
Se atendermos que para uma fornada de 15 pães eram necessários 4 alqueires e que para abastecimento de casa eram necessárias duas fornadas, o lavrador teria de colher 24 fanegas de pão para garantir o alimento para o ano todo. Claro que a mesma quantidade de grão podia dar para fazer mais ou menos pães consoante fosse moído na pedra alveira ou borneira e do próprio apuramento ao peneirar a farinha. Se queria pão alvo (como o das padeiras) fazia menos pães e restava-lhe mais farelo para viandas dos animais domésticos, nomeadamente marranos.
Depois do dinheiro, sempre escasso, o centeio servia como principal género de troca:
Pagar ao barbeiro, pagar os Bens de Alma, pagar a Côngrua ao pároco, pagar rendas de lameiros, ou mesmo uma proporção (meias, terças) das terras centeeiras, pagar as ferragens de animais, pagar a cobrição das vacas, para citar apenas as mais usuais. E tinha ainda de garantir que ficava com a quantidade de semente necessária para a sementeira seguinte. Por isso, a arca tinha de ficar bem cheia para durar até à próxima colheita. E os anos, por vezes, eram ingratos e Maio e Junho eram meses complicados numa altura em que os dias são grandes e o trabalho árduo. Por isso, se ia pedir de empréstimo uns alqueires aos mais ricos; por isso, havia quem malhasse a cevada e dela fizesse pão; por isso, se ceifava antecipadamente um chão onde amadurecera primeiro para se socorrer.
Agradece-se a correcção das medidas a quem tenha melhores conhecimentos
De Vila a 13 de Março de 2011 às 22:12
E muitas vezes ceifava-se esse chão a que alude o texo no final, para se ter pão para dar aos ceifeiros que iam ceifar as restantes tapadas.
De Anónimo a 9 de Abril de 2011 às 02:10
;)
De O Ilustrado a 14 de Março de 2011 às 15:43
A razão porque há tanta refeição nas malhas é porque se trata dos trabalhos mais duros, necessariamente feito na torreira do sol e com um ritmo elevado. Enquanto nas ceifas se bebia água, nas malhas bebe-se vinho, um energético poderoso.
De Arraiana a 14 de Março de 2011 às 17:37
Que texto didático!
Para os jóvens de hoje, este texto pouco ou nada lhes diz. Esta juventude que hoje anda "à rasca" tem que começar aprender a trabalhar a terra ou a tirar proveito dela e tratá-la melhor, para que possamos ter todos dias pão à mesa. Eu falo por mim, porque apesar de pertencer à geração do director do blog, que sabe disto "a potes" pouco sei destas lides da agricultura. Ainda sei distinguir a maior parte das arvores de fruto. Este blog´também serve para ficarmos mais ilustrados.
De Jarmeleiro a 17 de Março de 2011 às 16:39
Naqueles tempos da minha infância, na escola primária aprendiam-se cousas de grande importância, como essas das palavras começadas por -al- como almude, alfaiate alqueire e muntas outras e que foram trazidas e por cá ficaram desde o tempo dos chamados árabes, muçulmanos, sarracenos ou moiros. O alqueire, tamem foi trazido por eles e por cá ficou até aos nossos tempos, inda que a sua medida variasse conforme os tempos e os lugares. Na Vila e terras à volta, tal como diz o Dretor do blog leva 14 litros de centeio ou trigo. E isso digovos-o eu que por ter dúvidas entre os 14 ou 15 litros, me dei ao trabalho de medir plo meu alqueire. São 14 litros passando-lhe o rasoiro e só faz os 15 se for de câgulo. E o que munta gente não sabe é que o alqueire tamem podia servir pra medir a área das tapadas. Dezia-se então : É uma tapada de um alqueire, de meia, de uma, de X fanegas de semente. Os lavradores d'antão é que sabiam.
Munto bôs tardes a todos.
De ARRAIANA a 17 de Março de 2011 às 17:47
Muito obrigado sr. Jarmeleiro pela sua sapiência das coisas da lavoura. Se eu soubesse um terço do que V. Exa. sabe! Iria ainda para a Universidade da 3ª Idade a tirar um MBA sobre a Agricultura e talvez ainda fosse uma grande emppresária do ramo nas Beiras e assim contribuisse para tornar o nosso país mais produtivo e não precisassemos tanto dos nossos vizinhos espanhois.
De Jarmeleiro a 18 de Março de 2011 às 01:23
Ora... Vocemecê deixe pra lá essas cousas das universidades. Aí só se fôr pra aprender a bacinar o vivo, a capar algum marrano ou cousas assim, porque as lidas da lavoura aprendem-se mas é fazendo. Foi assim que os meus avós, meus pais (e escalhar até os seus) aprenderam e ensinaram os mais novos. Tenha vocemecê saude, pois esperta como parece, em poucos meses ao lado de quem saiba, fica a saber o princepal destas cousas. E olhe que a mim não se me vai da ideia que as terras da Vila e arredores inda voltam a ser bem amanhadas. O mundo dá muntas voltas.
Munto bôa noute.
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