Sentado numa mesa de um café na Vila do Sabugal, ouvi de uma emigrante da primeira geração o seu descontentamento.
P’ró ano no cá venho
Assim ouvi no Sabugal
Este é o falar d’antanho
Esteja bem ou esteja mal
Uma vez mais, o telefonema da mãe: - Olha, sabes quem morreu? O Manuel da ti Júlia. Pois, o Manuel da ti Júlia. À mãe e irmãos sentidas condolências.
No mesmo ano nasceram em Vilar Maior (e Arrifana): Ana da Conceição André, Elvira da Conceição Martins, Albino Leonardo Dias, Alexandrina Videira Quelha, Ana Lavajo André, Ana Maria Soares Cunha, António Dias Badana, António Esteves Tavares, António Fernandes Silva, António Margarido Afonso, Francisco Fonseca Cerdeira, Ilídia Dias Soares,I sabel da Conceição Silva Dias, João Silva Marques, José Andrade Nunes, José Araújo Esteves, Manuel Marcos GomesJosé Fernandes da Silva, José Gonçalves Simões, Júlio Valério Silva, Lúcio Silva Valério, Maria Alcina Afonso Serrano, Maria da Conceição Esteves Martins.
O novo procurador Geral da República é natural de Porto de Ovelha, aldeia da margem esquerda do rio Côa, pertencente ao Concelho de Almeida. Os Vilarmaiorenses da idade do procurador conhecem bem o caminho que conduzia a Porto de Ovelha, não porque aí tivessem que fazer mas por ser passagem a caminho da estação de caminho de ferro do Noémi. Os habitantes de Porto de Ovelha tinam como alcunha os manhanos, alcunha que lhe vimha do facto de serem madrugadores. Esperemos que, beirão que é daqueles que preferem quebrar que torcer possa regenerar a justiça em Portugal.
Botar o pitafe – era o que dizia a avó Joaquina, quando àquilo que fazia lhe punham defeito (será que o pitafe era uma corruptela de epitáfio?)
Daniel Marques e esposa
O tio Magalhães disse ao rapaz as maravilhas da Argentina, e ele menino e moço foi para longe da casa de seus pais para nunca mais regressar. Por lá casou e teve filhos. Por lá se finou. Um cão, um papagaio, a mulher italiana, as laranjeiras.. e aquela postura, e as mãos, fortes mãos.
- Olha, sabes quem morreu? O Xico Rasteiro, da Arrifana.
Quando a mãe me telefona e me dá notícias, são quase sempre notícias de mortes e funerais. Há muito tempo por aquelas terras que assim é. Eu continuo a gostar daquele mundo que domino completamente, e do qual conheço a geografia - a humana e a física - até ao pormenor. E conheço as pessoas, todas as pessoas e os seus parentescos. Por isso, quando morrem é um pouco de mim que morre. Vejo o Xico no seu jeito de andar à Rasteiro sempre de cachaporro na mão, do falar anguloso e intempestivo de negociante de ovinos, carniceiro dos dias de festa ... E lembro-e da nossa última conversa, sentados no maçadoiro do comércio. Ouvi a história dos negocios de borregos, ouvi as histórias da vida e das maleitas e achaques de ultimamente e do raio das pernas que não querem andar. Não sabia que era a última vez que o ouvia. A mãe disse-me que se juntou lá um gentio para o funeral. Também eu lá fora se a vida desse tempo para chorar os mortos.
Requies in pacem.
«Bem aventurados os pobres porque deles é o reino dos céus»
Corria quente o estio,
quando o acontecimento se deu.
Filho de Lurdes Badana, mãe solteira
Que era filha de Maria Badana, mãe solteira
Que era filha de Rosalina, mãe casada
Com o honrado Alexandre Badana,
Moleiro de profissão de mós que não eram suas.
E aí é que o ponto batia:
À água incerta do Cesarão, nome de rio
E da maquia escassa que lhe competia
A renda certa tinha de pagar ao senhorio
E a mó num girar infindo
Misturando o seu ao som das águas
E o monte de farinha subindo
Com, crescendo, no coração, das mágoas
E nesta vida de desdita, de fome e privação
De fartura apenas tinha o corpo de Rosalina
Que de natureza tão fértil e fecunda
Toda a semente gerava criação
O moinho moía e a família crescia,
De forma tão desigual
Que a fome bateu à porta
De maneira bem natural
- Entre! , disse o Badana já sem o primeiro nome
E a fome entrou, cumprimentou todos
Com tão grande simpatia e acolhimento
Que a acompanharam para sempre
De geração em geração.
Todos a ela se sujeitaram,
Conhecedores da sua condição
E todos foram vivendo
Pelas portas a mendigar pão, por Deus.
E por Deus o iam tendo
…e, sobretudo, alguma consolação.
Mas o Alexandre não era moleiro
Herdara a pobreza, quando já não havia pobres
Sem companheiros de condição.
Só,
Atiravas pedras aos pássaros
E com pedras cortavas as águas paradas dos açudes
À pedrada colhias o fruto seco das nogueiras
À pedrada ensaiavas abrir a porta do destino
E anular a distância dos os outros
Mas todos te lembravam o teu lugar:
Sempre fora: da casa, da mesa, do jogo
Da taberna, da conversa … da vida.
De chegados tinhas os cães dos outros
E mais que todos, os cães vadios
E das cabras alheias que guardavas
Fizeste a tua família a quem deste identidade
Com nome de mulher. Lembras-te?
Da Francisca, da Irene, da Felisbela, da Maximina …
Subir ao impossível, fazer o difícil
Que as coisas normais te estavam interditas
Por isso dizias que tinhas o diabo no corpo
Porque todos o construíram em ti
E todos é muita gente,
Todos é força desmedida
E assim, não culpavas ninguém
E dizias o que há muito sentias,
«Eu tenho o diabo no corpo»
E repetias cada vez mais e com maior convicção
«Eu tenho o diabo no corpo»
… Mas ninguém te dava atenção
Davam-te roupa que já não lhes servia,
Davam-te o naco de pão e peguilho
Com condição que já sabias:
Comeres longe de suas senhorias
Assim te alimentavam o corpo que os servia
E, inocentemente, te envenenavam a alma
Esqueceram, esquecemos todos nós,
Que nem só de pão vive o homem
Mas da palavra de Deus ... e dos irmãos.
Ti Manuel Adrião
Dizem que este homem era maluco, doido, tonto ou qualquer outro nome designativo de um comportamento psiquica e socialmente anómalo. À custa de uma vida solitária o homem foi inventando personagens com quem interagia e com quem falava. Conta-se que tivera uma grande paixão impossível de corresponder e que fora isso que lhe virara o miolo. Aos domingos paramentava-se e fazia as suas liturgias com cânticos e a e não dispensando nunca a homília.
Havia outros dias que fardado subia até à praça no seu uniforme militar. Outras vezes executava marchas musicais servindo-se de uma bogalha que transformara em instrumento de sopro. Só, com suas memórias e fantasmas. Não precisava de ninguém e ninguém precisava dele a não ser talvez a rapaziada que o atentava para o ver enfurecer e praguejar. De resto passava seus dias a caminho dos Labaços onde, nos limites da freguesia, amanhava as terras que lhe davam sustento.
Que sabemos nós da loucura?
Manuel Adrião
Fotografia de Manuel Marques e de Joaquina Monteiro. Tirada no largo do Pelourinho, foi escolhido para fundo uma colcha das que se teciam nos teares artesanais. Terá sido tirada por volta de 1930. Dos doze filhos nascidos, criaram-se Daniel Marques - emigrado para a Argentina por lá constituiu família e deixou descendência, nunca mais tendo vindo a Portugal; Albino Marques que também foi, por curto tempo, emigrado na Argentina; Arminda Marques e João Marques que viveram suas vidas em Vilar Maior.
Em primeiro plano a ti Olinda. Na Páscoa ouvi-a com agrado mais de uma hora. Desfiou as contas do rosário: do seu e dos da sua terra: Memória prodigiosa. Vai nym dia destes fazer cem anos. Parabens.
Tome nota desta, ó senhor Júlio, que esta nem os senhores padres a sabem
Ade Maria de grande valor
Rainha dos anjos no seu resplendor
O seu resplendor tão grande maravilha
Rainha dos anjos
Ó ade Maria que Deus escolheu
Para ser mãe nossa que dela nasceu
Senhor Jesus
Salvador das almas que a todos dais luz
Que a todos dais luz, sempre a estais a dar
E nós todos traidores e sempre a pecar.
Sempre a pecar...
Ninguém considera que há-de morrer
Àquele senhor que nos há-de levar
Ade Maria
Oferecemos ao santo António
Às alminhas santas do Purgatório
Padre nosso maior
Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
Quando os anjos vão para a glória
Todos vão em procissão
S. João leva a bandeira
S. Pedro leva o pendão
Debaixo daquele pendão
Vai um regimento armado
Vai nosso Senhor Jesus Cristo
Com pés e mãos encravados
Todo o santo que ele acorre
Será bem afortunado
Um será rei outro será coroado
Quem o não souber que o diga
Quem o não souber que o aprenda
Todo o homem que o beber será bem afortunado
Lá virá dia de juízo
Que a sua alma se arrependa
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