O mirante é aquele que mira. Com rigor se deveria dizer miradouro.
Que memórias lhe traz este lugar?
Não é uma casa de Vilar Maior
Olhe para a rua da direita. Trata-se de uma casa de uma aldeia circunvizinha. O mais certo é que algumas vezes tenha entrado nesta casa. Claro que está mudada. Tem uma entrada na rua que desce. Então, já são pistas suficientes?
A obesidade está considerada hoje como uma das principais doenças e, não fosse a preocupação, muitas vezes doentia com a imagem e o número de gordos seria muito maior. Hoje em dia come-se demais, come-se mal e estraga-se comida. Longe vai o tempo em que pela vila aparecia o Craveiro com dois caixotes de sardinha no dorso do burro a apregoar: - Olha a sardinha fresca! E a falta de dinheiro levava a Maria (como na história da raposa e as uvas «estão verdes!») a retrucar: «Sarinha fresca, salgada como uma besta!»
Conta-se que quando havia sardinha em casa uma dava para três e era uma grande festa quando tocava uma a cada um.
O cavador por sua vez, diz mal da sua vida quando a pinga e a comida não prestam: «Vinho vinagrento, pão bolorento e sardinha salgada, cava tu enxada!»
Ora, aí está uma palavra que era muito usada na vila e penso que era usada para designar um certo caos ou desordem pela presença massiva de um ou mais elementos indesejáveis como, por exemplo, uma cabeça de garoto que se encontra cheia de lêndeas ou de piolhos. Por extensão aplicava-se a outras situações como por exemplo, a infestação de ervas daninhas numa leira de terra cultivada. A palavra não aparece no dicionário como substantivo mas como verbo.
Por mais de uma vez o dissemos: os ricos tinham porcos e galinhas enquanto os pobres se contentavam com marranos e pitas; os ricos comiam sopa, grão-de-bico e feijão frade enquanto os pobres matavam a fome com caldo, gravanços e tchítcharos. Quanto ao sabor não distaria muito um do outro.
O gravanço era o aportuguesamento do grabanzo das vizinhas terras de Castela onde cobria enormes extensões. Por cá, pela vila, aproveitava-se algum chão ou parte de veiga onde a água não subia para se cultivar. A planta secadal produzia com alguma abundância logo que não se alampasse, caso em que os casulos cheios de ar e vento mais não serviam se não para a garotada se divertir a estalá-los.
Constituíam um substancial alimento guardado para a sopa de domingo a que se misturava massa e para dias de extenuantes trabalhos agrícolas como as ceifas e malhas: e era um regalo ver todo o rancho a laparear do alguidar ao centro da mesa nos idos dos anos 50 do século que deixámos. Enfim, sempre ajudava a variar a dieta quase monótona da caldo de couve galega e da batata cozida ou composta à espanhola. E as maneiras de o preparar e de o acompanhar também tinha algumas variações. Para além das suas propriedades altamente calóricas e da riqueza em celulose aconselhável para o bom funcionamento do intestino, ou li, me disseram ou se me meteu em cisma que tem propriedades afrodisíacas. Quem sobre o assunto souber que se pronuncie.
A maneira mais simples de o cozinhar:
Posto de molho de um dia para o outro, ainda assim convém cozê-lo em panela de pressão procurando que fique bem cozido mas não a desfazer-se. A partir daqui pode servi-lo quente ou frio (agora é chique servi-lo frio como entrada). Pode acompanhar com bacalhau ou com atum. O ovo cozido combina muito bem. Essencial mesmo é regar com um bom azeite (até devia ser proibido azeite que não fosse bom), cebola picada e salsa, ou seja, molho verde. Acompanhe com um bom vinho maduro. Neste caso, prefira branco.
Bom apetite.
Ler Rosalía de Castro, poetisa galega, é um supremo prazer estético para quem no gosto das palavras sinta o pulsar do campo.
Campanas de Bastabales,
cando vos oio tocar,
mórrome de soidades.
Há dias, em comentário ao post «a cravagem do centeio», referia-se uma ida a Malcata onde, segundo o mesmo, prestava serviço na Guarda Fiscal, Bernardo Silva que, refazendo parentescos, era irmão de José Lúcio Silva e Ana de Jesus Silva descendentes de um culto proprietário detentor da quinta dos Vales que durante anos a fio nos finais do século XIX foi secretário da mesa da misericórdia.
Soubemos que há dias faleceu Cassilda (Cacilda?) Dias Silva, em Lisboa. As nossas condolências aos filhos e demais familiares.
«Bôs dias lhe dê Deus»
Poucos davam uma saudação tão simples e encenada como a sua: a entoação da curta frase, acompanhada do gesto que leva a mão ao chapéu que nunca tira, era um ritual generosamente executad para todos que com ele se cruzavam fossem ricos ou fossem pobres que a saudação não se nega a ninguém. Ao contrário de tantos outros não se rebaixava junto dos ricos da terra que o seu mundo não tinha fronteiras: pés ao caminho e tanto ia até à vizinha Espanha como aparecia em qualquer aldeia dos arredores na procura do sustento para si e para a Maria. Homem de sete ofícios: coveiro, ceifeiro (mais em terras de Castela), pescador no Cesarão peixeiro com um tesão sem igual, sapateiro remendão de que se cobrava em dinheiro, rematando sempre: «Olhe que me deu um trabalhão» e «olhe que é por ser para si». Festeiro, corria de terra em terra para apreciar a banda música e piscar o olho às viúvas.
O queijo tinha um outro sabor quando era coalhado com a flor seca do cardo. Quando se tinha de recorrer a outros coagulantes, digo à maneira da vila coalhantes. Com as manipulações genéticas parece que se conseguiu produzir industrialmente a substãncia que era extraída da flor do cardo.
Saiba mais sobre o cardo
http://www.netprof.pt/netprof/servlet/getDocumento?id_versao=8021
Porque não contar como foi o primeiro dia de escola? Meti à pressa, na pasta um livro de bolso. Calhou ser «Os Meus Amores» de Trindade Coelho. Um autor esquecido como o é um dos mais traduzidos no estrangeiro - Ferreira de Castro; ou um não traduzido no estrangeiro mas que melhor traduz a ruralidade de Portugal- Júlio Diniz; ou o, talvez, maior escritor Beirão - Aquilino Ribeiro. Falava de Trindade Coelho que reli, com gosto, a contragosto no alfa a caminho de Lisboa. E as palavras soaram-me a história conhecida: «No velho casarão do convento é que era a aula. Aula de primeiras letras. A porta lá estava com fortes pinceladas vermelhas, ao cimo d agrande escadaria de pedra, tão suave que era um regalo subi-la. Obra de frades, os senhore calculam. Já vinham principiado a aula quando a Helena entrou comigo pela mão. Fez-se um silêncio nas bancadas, onde os rapazes mastigavam as suas lições e a sua tabuada, num ritmo cadenciado e monótono, cantrarolando» Vá lá! Se se lembra há-de gostar de voltar a ler ... e perguntamos ingenuamente:Terá razão o meste escola? «Um mestre sem palmatória, é um artista sem ferramenta, não faz nada. Santa Luzia milagrosa! Aqui onde a vê tem feito muitos doutores».
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