Engana-se quem pensa que os homens de hoje são mais cultos do que os de ontem, que hoje se tem mais gosto do que se tinha. Devo confessar que fico sempre impressionado quando vejo uma grande catedral medieval. Mas até na nossa aldeia podemos comparar o que se fazia com o que se faz para constatarmos o nosso embotamento estético e a falta de sensibilidade e gosto.
Muitas vezes habituados à inestética e ao sem sentido das coisas achamos normal o anormal. Que dizer dos editais publicitados na janela?
A vila está em obras e não sabemos por quanto tempo. Esperemos que não sejam como as obras de Santa Engrácia. Por exemplo, os passeios da avenida das escolas bem que, desde há um ano, já podiam estar feitos. O emaranhado de linhas aéreas bem que já podia estar no subsolo. Não está.
Aparte tudo isso, a vila está muito mal arrumada. E suja. As ervas e arbustos proliferam por todo o lado. Qualquer um pode em qualquer lado pode pôr o que lhe apetece. De tudo isto resulta uma desarrumação extraordinária. Os locais públicos são públicos e devia haver alguém que publicamente por eles fosse responsável.
A vila com iluminação nova e arranjo dos espaços ganha um carácter de urbanidade que se torna inconciliável com bostas e cagalhões nas vias e com ausência de regras de estacionamento e circulação de veículos. A Praça não pode ser um parque de estacionamento, sem regras, de tudo o que é veículo, acrescentado de recipientes de lixo e outros objectos.
Quem já viveu ou passou em aldeias alentejanas entende o que digo.
«A única coisa para que não pode servir a festa é para desunir os vilarmaiorenses. Dizem os de um lado que a festa terá de ser no primeiro Domingo de Setembro porque sempre assim foi.Enquanto não houve emigração não houve problema. Também não houve problema enquanto os patrões lhes permitiram que alongassem as suas férias pelo mês de Setembro. Tornou-se problema quando tiveram que rumar ao trabalho até final de Agosto. Com compreensível dor de todos e revolta de alguns a festa continuou na data que sempre foi. Encontrou-se uma forma de mitigar o problema criando em meados de Agosto a «Festa do Emigrante». Neste momento já não são apenas os emigrantes que não podem assistir à festa mas muitos que trabalham em diversas zonas de Portugal.
Talvez seja tempo de repensar a data.
Este é um espaço que aceita essa discussão, dando a todos a oportunidade de expor a sua opinião que todas as opiniões são respeitáveis»
Há dias, em comentário, a um post deste blog, Carlos Martins escrevia:
«É com tristeza que leio estas notícias, mas a minha opinião é que a Nossa Terra precisa efectivamente destes sérios avisos, porque infelizmente os críticos são mais que os voluntários em fazer alguma coisa pela terra (não é que me sinta com grande legitimidade para proferir tal afirmação, pois efectivamente não tenho obra feita na terra), contudo por experiência vivida no pretérito ano verifiquei que quem mais critica é quem se mantém mais afastado das acções e não apresenta soluções para os problemas. Penso efectivamente que pelos momentos vividos na festa anterior, continuamos a fazer uma festa megalómana para a população que dispomos, ou seja na 2.ª Feira da festa quase não se conseguiam pessoas para a procissão, contudo continua a verificar-se a generosidade da maioria das pessoas, faltando a estes actos um pouco mais de união e voluntariado por parte de todos os conterrâneos.»
C.M.
Parecem-me muito pertinentes as observações do Carlos, sobretudo no que se refere à megalomania.
Esta é a casa do senhor José Pedro que foi outrora a casa dos Pessanhas, a mais rica do concelho do Sabugal e uma das famílias pais ricas do país. Restaurado o telhado, certamente serão restauradas as paredes e o largo das Portas ficará nobre e belo hall de entrada da Vila.
O personagem principal continua o mesmo: O Zé Carlos. Para os que quiserem podem comparar as fotos do ano passado sobre o ciclo do pão com as que hoje aqui se publicam.O artesanal e o industrial. Por mim fiquei admirado: Em duas ou três horas, um homem com uma máquina fez o que teria de ser feito por 12 ou 15 ceifeiros durante um dia e mais uma dúzia de malhadores num outro dia.
Para que conste:
O Cerrado, incluindo os Mortórios, que já foi sítio de onde se extraía muito tonel de vinho, é extensa seara de centeio.
Ceifadora e debulhadora
Depois ficou o restolho. Limpo, tão limpo que pode perder a esperança se queria fazer uma manoja. Nem os pássaros vão ter sorte.
E a ti Elvira que não teve que cozinhar para ceifeiros nem malhadores com ar pasmado: -Mas atão já está tudo pronto?!
Lá para o Cimo da Vila, por perto da Igreja matriz de S. Pedro. Casas sem alma. Ninguém mora lá. Uma casa morta e como a um morto a quem esqueceram de fechar os olhos.
a propósito do post de Lian:
As botas sujas de terra
E cavavam
Cavavam, cavavam...
Tchão... tchão; tchão... tchão; tchão... tchão;
Cavava cada um sua valada,
Cada um a sua linha da vida,
cada um o seu fado,
Entre as cepas das videiras
Cavavam, cavavam...
Tchão... tchão; tchão... tchão; tchão... tchão;
Dez homens cavavam
a vinha.
Eram dez homens
Na vinha
E uma mulher
E as enxadas subiam e desciam
A passo certo e ritmado.
Tchão... tchão; tchão... tchão; tchão... tchão;
O telhado da primeira casa da aldeia
Espreitava a seguir às alminhas
E nem uma aragem nas ramadas,
Nem um pássaro,
Naqueles campos em redor...
Os dez homens e a mulher cavavam
A vinha.
Eles cavavam... cavavam...
Tchão... tchão; tchão... tchão; tchão... tchão;
Pois cavavam...
Mas de guitarra
Nas mãos!
O telhado da primeira casa da aldeia
Espreitava a seguir às alminhas
E naqueles campos em redor...
Tchão... tchão; tchão... tchão; tchão... tchão;
Só o tanger pungente
Das guitarras
Disse guitarras?
Cabeça tonta!...
Enxadas!...
Enxadas!
O rio é atravessado pela ponte de pedra com os seus dois arcos de volta inteira e guardas pelo joelho. Nas duas margens, as hortas, o grosso do povo de um lado, o bairro de S. Sebastião do outro, sobre a fraga, a Judiaria.
Passa o António Lavajo aos ziguezagues… de guarda a guarda. A leve inclinação do tabuleiro, parece-lhe uma montanha intransponível. Estaca, pragueja, resmunga, quer apagar a lua! Ri a Mouca, ri a Isabel do Ferreiro, ri a Lurdes Tonta – os miseráveis riem sempre da miséria alheia – e o pobre lá arranja forças para vencer a ponte, para fugir às chufas.
Qual malabarista de circo, faz maravilhas de equilíbrio, entre apupos, escárnios, gargalhadas, e apanhando balanço, vence a barreira, e lá vai ele, dois passos à frente um atrás, a caminho de casa.
Entra no curral, em direcção ao balcão, e deixa-se cair, como um saco de batatas, a meio da escadaria. Reclina a cabeça, abre os braços e adormece… ressona… uma baba acode-lhe ao canto da boca.
A Leopoldina bate-lhe com a vassoura, insulta-o, pontapeia-o, abana-o.
Ele acorda, braceja, afasta as melgas, limpa a baba na jaleca preta, bufa, barafusta, pragueja! Quer apagar a lua! Quer um banco para desatarraxar a lua!
Há homens assim…
A marinarem em "vinha-d'alhos", para esquecerem as mulheres que lhes saem na rifa. Bebem simplesmente para esquecerem! Para não verem! Fingirem não ver!
E o Lavajo marinou vinte e tal anos neste vinho azedo, que a Leopoldina lhe servia.
O velho Aurélio vivia à ponte, do outro lado do palheiro do meu avô, numa casa térrea com alpendre e pátio empedrado e trabalhava à jorna. Quase todos os dias o via a subir a ladeira da misericórdia, os caldeiros na mão para encher no chafariz, outras vezes, sentado na pequena pedra ao portão do pátio, sempre de cigarro no canto da boca.
Naquela altura já teria quase setenta anos e era, um belo velhote. Magro, a cor acastanhada do rosto, o cabelo e bigode brancos, de um branco amarelado e liso. No canto da boca o cigarro.
O meu entendimento, de seis anos, era ainda pouco para ler as feições calmas do Aurélio e atribuir-lhes significado. Mas ainda me lembro daquele rosto calmo, magro, com um invulgar sorriso a observar as brincadeiras das crianças no largo do chafariz.
-Corram para aí – dizia sorrindo – corram!
E sentava-se no muro, de pernas viradas para a ladeira. Puxava o chapéu para a nuca, tirava a saqueta do tabaco, as mortalhas, do bolso da jaqueta preta e ali ficava, tempos infinitos, a enrolar o cigarro.
-Ó ti Aurélio – gritávamos-lhe – olhe os caldeiros, que verterem!
Ele nada dizia. Ficava ali sentado a descansar em silêncio, gozando o sol fraco da tarde, até ficar escuro. Nós corríamos ferozmente por aquelas esquinas a jogar ás escondidas. Saltávamos o muro, brigávamos, fazíamos barulho.
Ele voltava de vez em quando a cabeça desgastada na nossa direcção e nos seus lábios surgia a ponta fumegante do cigarro e aquele sorriso frio e indiferente que ele habitualmente tinha. Enquanto o cigarro se consumia, as suas recordações andavam bem longe dali. Parava de sorrir, apoiava as mãos no muro, inclinava um pouco a cabeça grisalha e fazia um olhar desligado e brilhante e ao mesmo tempo turvo, o olhar que têm os pardais quando estão presos numa gaiola.
Sobre a testa alta caíam os riscos brancos da madeixa e em toda aquela figura nada mais se movia, para além daquela linha estreita e gasta de boca, que de vez em quando soprava uma coluna de fumo.
A sombra da capela deslizava ao longo do muro e descia a ladeira, cada vez mais comprida e fantástica, até que daquele velho restava apenas a silhueta de um gigante sentado, rodeado por uma fina nuvem de fumo. Do lado da ponte e da horta do Ti Albino Marques, a escuridão crescia, as empenas das casas, os telhados, desvaneciam-se na sombra generalizada, aqui e ali, uma janelinha acendia-se com o seu olho vermelho, e no meio daquilo tudo ele ficava a ruminar até ficar enregelado.
Quando via que a lareira de casa começava a fumegar, levantava-se calmamente, pegava nos caldeiros, e de mortalha apagada no canto da boca, descia as escadas da misericórdia, como se entrasse num mundo de trevas imaginário e impenetrável.
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