Quantos teares havia em Vilar Maior?
É que para além do comer, necessidade primeira, vinha logo o agasalho. Esta era uma actividade exclusivamente feminina onde a mulher (solteira, casada, viúva) urdia a teia; e na solidão urdia os sonhos ... que em sonhos ficavam ... ou talvez não.
Assenta-te aqui ó Manel
Nas mesas do meu tear
Enche-me aqui uma canela
E o mundo deixa-o falar
(Graça Leonardo)
Acerca dos comentários
A pergunta que se fazia não era sobre a identidade da tecedeira que eu próprio desconheço. Penso ter tirado esta fotografia em Rebolar, ali por Navas Frias.
Quem é que no tempo das verdadeiras tecedeiras se lembrava de tirar uma fotografia a tais personagens?
Já por mais de uma vez solicitei a colaboração dos bloguistas no envio de fotos (quanto mais antigas melhor) sobre personagens, acontecimentos ou sobre o quotidiano em Vilar Maior.
Quanto´à pergunta feita no post nem um palpite sequer.
Não deixou de ser divertido os comentadores personalizarem instrumentos ou fases do linho. Nem sequer fatou no cortejo o Baganhas.
(Fotografia retirada do blog da bela Aldeia da Malcata, a visitar Malcata net)
Festa mesmo festa era a do Senhor dos Aflitos. Até poderia Deus não existir, mas o Senhor dos Aflitos existia da mesma forma que existia tudo o resto, pois, até sabíamos onde morava. Para as crianças eram os foguetes - e as canas, e o linhol e as bombas que não rebentavam; era a curta boleia na camioneta da música; era o desfile com a música pelas ruas; eram as amendoeiras, ladeando as ruas, que vendiam santinhas de comer e amêndoas doces; eram as cornetas e os balões; era o estrear de roupae as guloseimas feitas de arroz doce e pudim; era a incerteza daquele instante mágico da subida do balão; era o tocador de concertina que tinha como palco um carro de bois; era a luz eléctrica que o barulhento motor produzia. Por três dias a aldeia transformava-se em cidade, três dias no ano eram sonho real. Acabada a festa caía uma tristeza infinda que vagarosamente se ia diluindo até renascer de novo a esperança e a ansiedade crescente da nova festa. Tudo o que de bom havia tinha de se guardar para a festa: a melhor roupa, o melhor galo, o melhor borrego ... e os melhores melões para sobremesa, sempre de forma inconfundível, casca de carvalho. Só a lembrança faz crescer água na boca: Rugosa a casca, grande no tamanho, de cor verde por fora e laranja fogo por dentro, de cheiro intenso ... e de sabor divinal.
Dias antes da festa, o pai que nunca dava ordens directas, sentenciou à hora da ceia: - Os melões da horta, nesta altura, é preciso guardá-los, senão ainda os leva o diabo, no tempo em que o diabo as mais das vezes tinha figura de gente.
Quando o pai dizia “é preciso” não carecia de dizer quem tinha de o fazer e o Carlos soube que era quem ficaria de guardião pela noite, que de dia ninguém se atreveria. Claro que sem carava nem pensar e disse ao pai:
- O João vai comigo.
- Pois que vá. Levai uma facha de palha e umas mantas.
Sexta feira depois de uma ceia, comida à pressa ( e lá diz o ditado que quem se deita com fraca ceia toda a noite rabeia) um pega na palha, outro nas mantas e lá foram. Conversa para aqui, conversa para ali, deitados costas firmes no chão, olhos cravados em miríades de estrelas até deu para interrogações cosmológicas sobre se o número de estrelas era finito ou infinito cada um teimando para um dos termos, por necessidade dialéctica de prolongamento da conversa. Deitados ao lado do meloal, uma leve brisa trouxe-lhes o cheiro dos melões maduros que os trouxe à doce imaginação de se sentirem a saboreá-los. Às tantas, solta o João, de alcunha o mandongas por nunca se cansar de parecendo que havia de comer este mundo e o outro:
- Ah... bem que podíamos provar um melãozito ...
- Pois! Provas o melãozito e depois quem prova porrada sou eu! Sabes que o pai os tem contados.
Mas a tentação dançava lá dentro e quanto mais esforço para a afastar mais firmemente se impunha e ganhava terreno. E tal como Eva e Adão, resistir à tentação ficou completamente fora das suas forças.
- Mas… sabes… podíamos provar ali um dos do sr Raul. E levantam-se, passam à horta do lado e começam a apalpar um, e outro, e outro e todos pareciam verdes. Um deles puxa da navalha e abre um. Não presta. Abrem outro, não presta. E mais um e outro, outro ainda na ânsia de encontrarem um que lhes soubesse ... como quando são bons sabem.
Terminada a empreitada louca, sentiram-se como Adão e Eva depois de comerem o fruto proibido. Não iriam ser expulsos dum paraíso em que não viviam mas não se iam livrar do purgatório e de expiar duramente a falta cometida. Muito cedo, antes que o sol rompesse, puseram mantas às costas, cozidos de medo, a caminho de casa, e, ao avistarem o sr Raul que mal dormira a pensar nos melões, escondem-se atrás de um muro junto à ponte até o deixarem passar. Caminham apressadamente para casa e, à socapa, meteram-se na cama aguardando o já previsível desenrolar dos acontecimentos. E foi como se lhes caísse um raio quando ouviram a voz do sr Raul, do fundo das escadas:
- Ó sr João! ó sr João!
Ouviram a voz do pai a acudir. Tolhidos de medo nem foram capazes de seguir a conversa e apenas perceberam, a rematar a conversa, o pai dizer:
- Esteja o senhor descansado que não vai passar a festa sem melões!
Da porrada, (o pai batia poucas vezes ... mas quando batia...) nem queiram saber. Porém o difícil, foi no sábado da festa. E agora não dizia “é preciso”, mas, em voz firme e austera:
- Pegam no cesto maior, vão à horta, colhem os nossos melões e vão levá-los a casa do sr Raul.
No almoço do domingo de festa, à sobremesa, comeu-se o habitual arroz-doce. O pai disse às visitas que, infelizmente, este ano, os melões foram uma desgraça: uns não nasceram e os que nasceram deu-lhes o mal e não vingou nem um para a amostra.
Gostaria de dizer que o posto de turismo e o museu de Vilar Maior se encontra aberto até dia 15 de julho por uma estagiária do 11ºano (2ºano) de Formação do curso de Turismo. Gostaria ainda dizer que queria cozer o pão no forno cpmunitário, gostava de escolher um dia que juntasse muitas pessoas para relembrar os tempos antigos
Hoje o negócio principal é este. De que falamos? Onde se passa a cena?
Se uns com os copos ensaiavam a malaguenha, outros puxava-lhes o romantismo.
«Perdi uma boa parte do dia no quintal. Ao fim da tarde saí. Desci pelo Churrião, em direcção ao rio e resolvi subir a um ponto do Arsaio, na outra margem. Aí, frente à nossa aldeia, fica uma encosta íngreme, coberta por lameiros e freixos, que desce a pico sobre uma ravina. Desse lugar vê-se o lado oriental da nossa aldeia, uma série de casas em granito sobre uma escarpa, com telhados em telha velha, de um vermelho já desbotado, diversas amendoeiras e nogueiras a despontarem dos muros dos quintais, aqui e ali, uma chaminé a fumegar, algumas peças de roupa, estendidas a secar. Mais acima a igreja, o cedro do cemitério, a torre de menagem, a ruína da Senhora do Castelo, a torre de menagem. Tinha ainda umas duas horas de sol, e este foi descendo vagarosamente sobre os campos da Correia, na direcção de Porto-de-Ovelha e a luz sobre os telhados e muros foi-se tornando mais amarelecida, mais intensa e dourada. Antes de me sentar, fitei por momentos o Vale da Lapa, até à folha do Côa, as colinas distantes, em primeiro plano os carvalhos do Pombal, e o caminho do Pindelo com profundos sulcos escavados pela água, e depois observei a nossa aldeia, aquele ninho aconchegante onde todos os traços de telhado, todas as empenas, todas as chaminés, me eram familiares. Mesmo por baixo do adro, um telhado, anteriormente de um castanho-escuro, foi agora recuperado e apresentava um tom mais avermelhado. Era a casa do Seixas, com aquele terraço aberto sobre a Travessa das Moreirinhas, onde exibe uma antiga estela funerária. Ainda não me tinha apercebido, mas ele reparou o telhado inteiro no último Verão. Um pouco mais ao lado a casinha do Manuel da Malhada, térrea, sem telhado ainda, mas com antena de televisão. Divorciou-se e já não a concluiu. Algumas das casas, já têem os telhados arruinados. Todas elas pertenciam a alguém, foram construídas por alguém, alguém que viveu, comeu, dormiu, fez, teve e criou filhos e morreu lá dentro. Mas já há muito as suas chaminés não fumegam. Apenas resistem as árvores nos pequenos quintais, os pequenos prados, as últimas cepas de vinhedo, as últimas cerejeiras, que já ninguém sabe a quem pertencem. O que os poucos e últimos habitantes vêem nas suas casas e quintais, não consigo eu ver daqui. Que o mosto fermentou e é preciso atestar a pipa, que a latada perdeu toda a rama, que a chaminé não puxa o fumo, a escava-terra mina o cantinho dos alfobres, o porco ceva para a matança, tudo isso eu não consigo ver daqui. Mas aquilo que eu vejo da nossa aldeia, outros não conseguem ver. Ninguém vê o verde característico da figueira que nasceu no corta-águas da ponte, a suavidade do calor a subir nos telhados, por entre as copas das nogueiras, o verde-salsa da casa do Zé da Laura contrastando no cinza granítico dos muros da Mundanha, a branca agulha da torre sineira a furar a imensidão azul do céu, a graça com que o cedro do cemitério interfere com o amrelo-ôcre da torre de menagem. Ninguém repara como lá em baixo, nas veigas e hortas junto ao rio, o amarelo dourado do entardecer é mais profundo e se distingue perfeitamente da faixa azul das colinas que se erguem lá para as bandas do Carril. Ninguém percebe, a não ser eu, que é precisamente a esta hora do pôr-do-sol, que a alma das coisas se desprende e o jogo das cores se torna mais vivo e aprimorado, que a qualquer outra hora do dia. »
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