Para mim o pão ainda faz parte de todas as refeições. Na vila da minha infância ele era o elemento essencial que sustentava a vida de todos. Ele era inteiramente produzido ali.
O desafio é identificar todos os verbos (operaões) até chegar à mesa.
Começando: Decruar, estravessar.
Das muitas formas de brincar - morar era o termo usado - algums as consistiam em lengas-lengas, rimas que se faziam acompanhar por moafas, mímicas, signifófias, danças, posturas corporais, movimentos rítmicos.
Experimente com crianças e vai ver que ficam deliciadas:
Assim se amassa
Assim se peneira
Assim se dá volta
Ao pão da masseira
Se tiver a idade que eu tenho lembra-se dos movimentos.
Quem sabe ainda o que significa (va)?
A palavra parvo era por aqui pouco usada. O que havia mesmo era tontos, so apoucados de juízo.
Da pergunta que se faz nada tem a ver com parvos, tontos, malucos, palermas, doidos.
A palavra parva está no dicionário e era usada na vila que conservou muito na sua língua da genuidade latina.
Parvus do latim significa pequeno. Parva era uma refeição pequena: uma merenda, um toca dente, uma côdea, uma bica. Uma toalha, um pano de estopa ou de linho sobre o qual se colocava o pão, o queijo, o chouriço e o vinho. E assim se retemperavam forças para o trabalho. E como por aqui tudo se fina, também a parva morreu.
(fotografia tirada em 12-02-2011)
Árvore centenária, testemunha de quem entra e sai na vila, de tristezas e alegrias, de cortejos casamenteiros e de acompanhamentos à última morada, das procissões festivas, das rondas dos rapazes, dos bailes da praça, dos cavadores de enxada ao ombro, dos ceifadores e dos carrs de bois. E quantos segredos guardas ...
Parte de ti, moldou-se em escultura de mulher. A outra em breve com a Primavera voltará a rejuvenescer, a vestir-se de folhagem. Não me esquecerei de no próximo verão gozar a tua sombra ... para que sejas minha testemunha .
(Fotografia de Manuel Fonseca)
(imagem de Loriga)
Começámos na maior altitude, nos cabeços e vamos descendo até ao curso dos rios – O Cesarão e a Ribeira de Alfaiates. Ao longo dos tempos, as águas vindas das partes superiores vão arrastando as terras soltas para as partes mais baixas empobrecendo aquelas e enriquecendo estas. O homem com o seu trabalho humaniza a natureza, fazendo regadeiras, mudando cursos de água de pequena dimensão, limpando terras, cercando terrenos e construindo muros de suporte de terras (cômoros), fazendo quarteirões, evitando a erosão dos solos.
Lameiro vem de lama. Não há lameiros sem água, daí que uma boa parte deles acompanhem ribeiros ou regatos correntes entre montes. Bastará pensar no Ribeiro dos Labaços que mais abaixo toma o nome de Regatos. Os lameiros são sempre propriedades muradas variando muito de extensão – quando mais pequenos tomam o nome de lameira que por vezes roteada servia para culturas de regadio – e de qualidade, valorizando-se também a proximidade da povoação. Se o meio mais natural da cabra é o cabeço (maior altitude), o lameiro (baixa altitude) é por excelência o pasto ideal para a vaca, sendo que a ovelha prefere as tapadas (média altitude) e sendo verdade, claro, que tudo isto é simplificar. O lameiro era das propriedades mais valorizadas pela quantidade de erva que ele produzia, não esquecendo o feno que podia produzir. Não podia haver lavrador que não tivesse lameiro e nabal. Com efeito, seria porventura mais fácil sustentar uma dúzia de cabras do que uma vaca. Daí que as rendas mais caras eram as dos lameiros. Foram das propriedades que se venderam mais caras aquando das remessas da emigração dos anos sessenta e setenta. Ainda hoje com toda a falta de actividade continuam a ser as terras mais estimadas. A árvore de eleição dos lameiros é o freixo, como o carvalho o é das tapadas.
Bom e já agora vamos à lista que não há-de ser pequena. Não fosse o sr Jarmeleiro e ninguém daria aresto dos nomes.
http://www.youtube.com/watch?v=RlevIRdf4NM&feature
Verdes são os campos
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Luís de Camões
Que o povo faz a língua tornou-se um axioma. E quem tem o poder para fazer tem o poder para mudar e para desfazer. E se a voz do povo é a voz de Deus bem poderá acontecer que a voz de Deus tenha mudado ou que tenha ficado mudo. Com efeito, o povo já não é aquilo que era e, porventura, já não será.
O povo. O que é o povo? Há cinquenta anos todo o habitante da Vila lhe saberia responder. Hoje filósofos, antropólogos, sociólogos, linguistas e de outras especialidades da matéria terão dificuldade em responder ou responderão de maneira tão diversa que será difícil encontrar um denominador comum. Dir-lhe- ia o analfabeto, que não inculto, canivete: povo somos todos nós; povo são todos os de cá; o povo são as pessoas todas mais as ruas, as casas com seus currais, os largos, as fontes, os quintais, as eiras, os moinhos, a acácia e o pelourinho. Povo é o sino da torre cujo toque dita o que as gentes hão-de sentir: piedade, devoção, compaixão, alegria … ou raiva. O povo é a festa, é a procissão, é a missa e o sermão e o baile na praça. O povo é oração, é trabalho. O povo é a rodada do copo de vinho emborcado de uma vez só. O povo é o vivo de que é preciso cuidar. O povo é a gente e a povoação; povo é o ti Junça no toque das Trindades e a ti Zabel Espanhola ao Arco berrando alto pela filha: Ó Libânia, ó Libânia! e, baixinho maldizendo os desvarios da sorte que lhe coube.
Assim vão morrendo as palavras porque já não são precisas.
Rasas das Moitas, tapadas e terras de vinha ocupavam, seguramente, mais de dois terços da terra agricultável. A juntar a estas terras de sequeiro havia ainda os chães e os quintais. Quanto aos chães eram, como as tapadas, propriedades muradas, por norma, em altitudes inferiores e de área mais reduzida e com uma terra mais forte, mais abrigados dos ventos prestavam-se à cultura do trigo (nomeadamente o trigo sacho), do milho, do gravanço, do tremoço. Por vezes, serviam rotativamente de nabal, de batata secadal e até de meloal. As paredes com boa exposição solar serviam para amparo a latadas. São tão disseminados que eu penso que mesmo uma pessoa tão versada como o sr Jarmeleiro terá dificuldade em os nomear, para além daqueles que são os principais, os maiores e os melhores: O Chão da Ponte (em tempos o sr Fernando arrendava as sobras das águas do pio para rega) e o Chão de S. Pedro – que do santo há-de ter sido.
Depois existe uma infinidade de quintais que se caracterizam, para além de serem de cultura de sequeiro, por terem pequena dimensão, por existirem dentro do povo ou nas suas proximidades, por serem agricultados à enxada. Complementam muitas vezes a cultura das hortas, havendo neles quase sempre árvores frutícolas: marmeleiros, figueiras, nogueiras, romanzeiras, amendoeiras como mais comuns. Neles se cultivava as couves galegas, as ervilhas, as favas, os alhos e, junto às paredes, de modo espontâneo cresciam os cardos para o coalhamento do leite. Havia alguns que de tão bem cuidados nada ficariam a dever ao jardim do Éden onde a desgraçada humanidade teve origem.
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