MÃE
Poema de Almada Negreiros(1893-1970)
Poeta e artista plástico do Modernismo português
Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
... E UMA CANÇÃO
Depois de uma vida longa e cheia, a mãe partiu. A sua memória e a sua imagem continuarão vivas em nossos corações.
Há alguns sinais, contra ventos e marés, de que Vilar Maior está vivo. A missa dominical contou com Igreja cheia como há muito se não via. E o que há muito se não via, aconteceu: o baptizado do Lucas - filho de José Augusto André. Procissão em volta do adro e termoda cerimónia com a entoação do Tantum Ergo.
Sem lava-pés, sem Judas Iscariotes com a promessa da ressurreição, com a dedicação da Comissão de Festas a comida foi abundante, bebida à discrição, música, dança e alegria ... como convém em véspera de Páscoa. Aleluia!
No forno do povo - a carne e as batatas
O pão cozido no forno
... e os framngos no churrasco
... e as sobremesas variadas de fazer crescer água na boca
... e os comensais
... e mais comensais que todos somados seriam muito para além de uma centena
... e ainda podiam levar uma recordação!
Sendo que os mandei rezar são-me devedores do respectivo folar.
Para todos os vilarmaiorenses e visitadores do blog uma felizPáscoa
O oferecer ovos na Páscoa é um acto que vem da origem do termo Páscoa, que é o nome da Deusa Easter, divindade ligada à natureza, à Primavera e à fertilidade.
O oferecer ovos na Páscoa é um acto que vem da origem do termo Páscoa, que é o nome da Deusa Easter, divindade ligada à natureza, à Primavera e à fertilidade. O ovo sempre simbolizou a fertilidade, fecundidade, no fundo, a criação. Como tal, se antes da Cristandade as ofertas de ovos simbolizava a festa da fertilidade, trazida pela Primavera, depois de Cristo, os ovos simbolizam a sua ressurreição.
A tradição de embelezar os ovos dados na Páscoa, ou, neste caso, na Festa da Primavera, vem da China, do trabalho minucioso e paciente dos chineses. Estes, embrulhavam ovos naturais em cascas de cebola e cozinhavam-nos com beterraba.
Ao retirá-los do fogo, os ovos ficavam com desenhos mosqueteados na casca. Este costume rapidamente chegou ao Egipto, os quais também começaram a oferecer ovos coloridos e desenhados, por altura da Festa da Primavera. Depois da ressurreição de Cristo, os cristão adoptaram este hábito, tornando-se apenas oficializado pela igreja, no séc. XVIII.
A importância dada ao ovo, tem a ver com a sua simbologia, ligada à criação, fertilidade, origem de vida e fecundidade. Gregos, Fenícios, Tibetanos, Indianos, Vietnamitas, Chineses, Japoneses, Siberianos e Indonésios, têm em comum a lenda, de que o mundo surgiu de um ovo cósmico que se subdividiu em dois, formando o Céu e a Terra. Sempre ligado à criação, a história do Hawai conta o mito de que esta ilha foi originada a partir de um ovo, posto nas águas por um pássaro gigante. Mitos Anglo-Saxónicos dão ao ovo a razão da criação do Mundo: da gema nasceu o globo terrestre, da clara, o firmamento e a atmosfera e, da casca, a esfera celeste e os astros.
Desde cedo que se ligou o ovo, à criação da Terra, Homem e estrelas. Na Austrália reza a lenda que a Terra encontrava-se na escuridão absoluta até um homem lançar um ovo no espaço que se transformou em Sol. É comum encontrar-se em documentos antiquíssimos que o primeiro homem adveio de um ovo, ou que de um ovo nasceu Eros, o Deus do Amor, ou dizer-se que os heróis nascem de ovos, ao invés de nascerem de parto.
Assim, se destacarmos na história, a simbologia do ovo, do sol e da água, teremos três dos principais elementos formuladores de lendas. O ovo simboliza o embrião do mundo e da vida, o sol, a vitória da luz sobre as sombras e, por sua vez, a água simboliza o meio primordial de fertilidade. Do ovo nasceu o mundo, a Terra, os seres, o sol (ovo celeste de ouro) e a lua (ovo celeste de prata).
No Cristianismo está também presente a simbologia dos ovos. Simão, o homem que ajudou Cristo a suportar a cruz até ao Calvário, diz-se que era um mercador de ovos. Para além disso, a Páscoa é marcada pela oferta de ovos coloridos que, na sua maioria são de chocolate. No entanto, apesar de hoje, estas ofertas serem mais dirigidas para as crianças, estas só começaram a receber estas lembranças de Páscoa no séc XV, na Alsácia, que a partir deste local, se espalhou pelo mundo fora.
Os ovos de chocolate só surgem no séc. XVII, com o início do desenvolvimento da Indústria do chocolate. Esta, foi uma das razões para que ocorresse a substituição de ovos naturais, pelos de chocolate.
Na Alemanha, pela Páscoa é ainda hoje hábito, esconderem os ovos para que os filhos ou afilhados os procurem entre o jardim. Os adultos dizem às crianças que foi o coelho da Páscoa que os escondeu, para que as crianças se possam divertir e descobrir, os ovos. A questão que ocorre muitas vezes na Páscoa é a razão de ser um coelho a distribuir os ovos da Páscoa, ao invés de uma galinha. Pois bem, mais uma vez remontando ao culto de Easter, a deusa da Primavera, o seu atributo era uma lebre que, ao longo do tempo, se foi confundindo com o coelho.
Na Alemanha, em Herrnhut, existe outra crença relacionada com a Páscoa. Conta-se que no Domingo de Páscoa, o sol dança em celebração da Primavera e da ressurreição de Cristo. Esta lenda data de 1732 e ainda hoje na Alemanha, há o culto de ver o sol nascer, neste dia.
A Páscoa é assim um resultados de crenças e hábitos que o tempo se encarregou de misturar e adaptar consoante a época, ou religião. O que permanece inalterável é que a Páscoa é um momento de alegria e comunhão com a família e com a natureza, é um tempo de festa.
In
http://www.mulherportuguesa.com/gravidez-a-familia/familia/1752
Domingo de Ramos, lava os teus panos porque na Páscoa da Ressurreição os lavarás ou não.
Vamos lá ver quem vai ganhar o (a)folar!
Enganchar, enganchar
Tornaremos amar
Sábado de aleluia
Mandaremos rezar
Domingo de Páscoa
Daremos o afolar
Peça em três actos
PRÓLOGO
Era o mês de abril de 1296, pela tarde. hora das vésperas, e pela rua direita, a mais movimentada e formosa da terra, que atravessa o velho casario da judiaria, a multidão circulava, apertada, por entre as tendas que se estendiam até ao largo, onde se realizava a feira franca.
O reboliço desacostumado, de povo comprando e vendendo, fervilhava no largo fronteiro à velha matriz da Senhora do Casteleo, para onde se debruçava o castelo, onde então residiam os leoneses, a infanta viúva D. Maria, e seu filho adolescente, D. Sancho de Ledesma, senhores daquelas terras em redor.
El-rei D. Dinis, intervindo, aliado a D. Maria e Sancho de Ledesma, na sucessão dinástica de Leão, a favor do Infante D. João, entrara no país vizinho até Valhadolid, de onde retirava contrariado, depois de as partes, à sua revelia, se comporem, e D. João reconhecer o sobrinho, D. Fernando, como rei de Leão.
D. Dinis, regressava à frente das sua hoste armada, fazendo ressoar pelos becos e encruzilhadas um tropear de passadas e cascos, um sussurro de vozes vagas, que indicavam ser inesperado, agitado e contrariado aquele regresso.
E assim foi, com efeito, como o ouvinte poderá averiguar por seus próprios olhos e ouvidos, se, manso e disfarçado quiser misturrar-se naqauela turba de povo, que no largo do vetusto castelo, deambula entre as tendas da feira, ou assiste ao teatro religioso no adro da Senhora do Castelo. umas vinte casas acima da torre das portas da cidadela.
ACTO PRIMEIRO
Riba-Côa, Sabugal, pela quaresma de 1296, dia de feira, tarde, Largo do Castelo e adro de Santa Maria.
cena I
ACTORES (representando peça religiosa da paixão de Santa Maria no adro) ARAUTO, POVO.
(MARIA): Vós que amais o criador, tende ora em mente o meu pranto e grande dor. Eu sou aquela virgem santa que tenho o coração muito triste por a morte do meu filho, meu prazer e esperança, e meu doce viso, que foi cruelmente crucificado
por cada um pecador. Ó meu filho, pessoa tão bela, manda agora algum conforto a mim, tua madre muito chorosa, e deixa-me agora em bom porto, porque fico muito pobre, e que te criei com grande amor. Ó cabeça tão bela e muito delicada do meu filho bem-aventurado, como te vejo muito inclinada! E tu, meu filho muito amado,
como te vejo muito desonrado! E de coroa de espinhos és ensanguentado, por grande doesto e desonor. Os teus olhos são cerrados e a tua barba depenada, os teus narizes sentem fedores muito sujos e ribaldos, e a tua face é muito desassemelhada, e todo tremes e hás grande pavor. A tua boca, muito cortês e ensinada, Todos a perguntam, e ela não fala; e quando responde, de todos é blasfemada, e de fel e azedo por escárnio abeverada, porque da nossa salvação grande desejo havias, oh tu, nosso salvador! As tuas mãos são em a cruz estendidas, e muito mal atormentadas, e os teus braços padecem muito feridas, e de grandes pregos as tuas mãos são muito [esfuracadas, de que eu, triste, hei muito grande dor. E os vossos pés, como são atormentados, que tanto tempo por nos pregar foram [cansados, e vede ora como são galardoados,cruelmente são enclavados, filho meu, Jesus, de tudo muito sabedor! E o vosso lado perfurou-o um cavaleiro [com sua lança, e logo da parte do vosso coração saiu assaz [de sangue e água, porque a nossa culpa já é perdoada por vós, nosso Senhor Jesus Cristo e nosso [redentor. Agora, filho meu, pois que vos finais, a mim, desamparada, a quem me encomendais? Ou que ajuda de minha vida me deixais, porque de mim eu não posso mais sentir, senão chorar e carpir, enquanto eu neste mundo viva for?
(CRISTO): Ó madre senhora, não choreis Eu vos encomendo a meu primo João e meu parente, e a ele por filho recebereis. E vós, meu primo, a minha mãe servireis,
como bom e leal servidor.
(MARIA) (muito esmorecida, chorando) E que escambo é este, mesquinha, porque sempre chorarei por ver o meu filho, e minha esperança de todo ser perdida com dolor?!
(CORO): E choraremos ora porém todos com esta senhora, que assim ora é muito dolorosa, e lhe demandemos agora que sempre nos seja piedosa, e tudo aquilo que lhe demandarmos nos seja muito graciosa, ante o seu filho, de todo o mundo fazedor.
Amen!
ARAUTO (chegando a cavalo. apeia-se ao chafariz) Atenção! Atenção! Abram alas para El-Rei D.Dinis, nosso senhor, que regressa de Leão. E vem zangado...
CORO e vem zangado!
(povo desimpede a rua)
ARAUTO Praça! Praça! Praça! Para El-rei que vem da guerra!
(Toca trombeta: trá lá rá!)
Cena II
REI(chegando pela rua principa, à frente de uma hoste armada), AlFERES, ESCUDEIRO, GENTE
REI (apeando-se) Fazer-me esta afronta, não é de bom fidalgo.
ALFERES prendei-o, senhor.
REI assim seja. Prendei o traidor.
ALFERES não temais, senhor.
REI já estou, amigos, em lugar seguro. Que Deus seja o juiz nesta boa causa.
CORO que Deus seja o juiz nesta boa causa!
(Param junto ao cruzeiro)
ESCUDEIRO Senhor, os Leoneses fecharam-se dentro.
REI pela fé nesta santa cruz (benze-se, à sombra do cruzeiro), esta é gente de truz. Arrombai o portão e prendei esse D. Fuão!
ALFERES o portão é de bom carvalho, nãol virá abaixo sem trabalho.
REI Nenhum rei de Portugal sofre injúria tal. Trazei escadas e acendalhas!
CORO Trazei escadas e acendalhas!
Cena III
ALFERES, GUTERRES, AFONSO, PAIO, FROILAN, RODRIGO, VASCO, GENTE.
GUTERRES e não levamos mais gente?
ALFERES meia dúzia chegam para fazer cócegas aos Leoneses!
GUTERRES (apontando Afonso) este vem também, que é fidalgo da casa real; criado de El-rei.
AFONSO sempre com os meus homens ao serviço do rei. Acudam, aquí, Paio, Froilan; aqui, Rodrigo! as escadas! Às muralhas!
CORO àsmuralhas! Às muralhas!
(Sobem às muralhas. Lutam; os amotinados fogem)
PAIO já fogem!
CORO já fogem! Já fogem!
FROILAN pelas relíquias de S.Teotónio; não ficará nenhum vivo!
VASCO vejam, que já lá vem nosso bom rei D. Dinis.
ALFERES Oh fidalgos! Que nenhum falte a beijar-lhe as mãos, de tanta glória e generosidade ele é prendado!
Cena IV
REI, com a coroa na cabeça, ceptro na mão; AFONSO, com um pendão; VASCO, com a espada na mão; PERO, CORTESÃOS.
AFONSO, senhor, entrai, e tomai posse deste castelo.
REI a vossa lealdade me honra e maravilha.
VASCO tomai este pendão, divino símbolo de Portugal.
REI dando-mo vós, bom Dom Vasco, não posso recusar levantá-lo com a espada que empunho. Faço voto solene de procurar pô-lo em todos os lugares e vilas desta comarca de Riba-de-Côa,
(O rei ergue o pendão. Ajoelham todos)
cena V
REi, GUTERRES, AFONSO, PAIO, FROILAN, RODRIGO, VASCO
REI levantar cabeças! (perfilam-se),pois fizestes-me um grande serviço.
GUTERRES senhor, quanto nos honras. Aqueles homens são traidores, mas como podiam ser leais se o não foram os seus senhores ao bandearem-se com Fernando de Leão?
REI com tão bom guardião não há cão que me file. Deus vos pague, Dom cavaleiro.
GUTIERRES beijo-vos pelo Dom a mão, e o pé também. Faça-vos Deus, rei bondoso, tão temido e obedecido, que seja o vosso reinado o mais glorioso do mundo e que, para maior glória vossa e proveito do reino, flutue o vosso estandarte em todas as vilas e castelos desta comarca, do Côa até ao Àgueda, em castigo da traição que vos fizeram.
REI não é mal pensado, Dom cavaleiro. Pela ideia dou-vos quinhentos maravedis de renda e duas galinhas para o vosso jantar enqunto foreis vivo.
GUTIERRES e eu bejo-vos os pés.
REI a Afonso, moço fidalgo de minha casa, soldo a dobrar lhe darei, um capão e dois ovos de estorninho para o jantar.
GUTERRES leal fidalgo ele é.
PAIO (à parte, para Froilan ) rica prenda, isso sim...
AFONSO o céu vos dê longa vida.
GUTERRES vamos; que quero festejar.
AFONSO hoje vos háo-de ver os vossos inimigos com a glória acrescentada.
GUTERRES recolhamos as nossas armas e a festa que comece. Viva o rei!
CORO viva!
REI que Deus vos guarde, meus vassalos.
(Vão-se para o castelo, seguidos do povo)
ACTO SEGUNDO
[Sobe o pano]
Dentro do Castelo. Sala de gosto medieval. Uma porta à direita e outra à esquerda. No fundo, um arco gótico em toda a largura da sala. Depois do arco, uma grade, aberta no centro, para dar passagem para um pátio que por uma escada que não se vê. À esquerda, um cadeirão e mesa comprida. Sobre a mesa, uma coroa.
Cena I
REI E COMITIVA, FÍSICO, ESCUDEIRO, PAJEM, CORTESÃOS.
CORO contentes, contentes nós vamos ficar! A bela dama, um bastardo nos vai dar!
FÍSICO (Aparecendo à porta, à meia voz.) senhores, não façam barulho, que por hora nada de novo há...
CORO (À meia voz.) Chut... silêncio, que nada de novo há....
FÍSICO senhores, estamos a quinze de Agosto; Há nove meses que truca truca... CORO truca truca... Há nove meses... truca truca ...
FÍSICO (á boca de cena) sou o judeu Roiz, licenciado em Paris, D’El-rei fisico mór e que vos manda desta para melhor.
CORO d’El-rei o físico-mór, e que nos manda desta para melhor!
FÍSICO há um ano somente da academia sai: Já matei um vilão de Alfaiates, um almocreve em Vilar Maior e cinco ou seis judeus daqui! Sou o doutor Roiz, licenciado em Paris!
CORO é o doutor Roiz, licenciadpo em Paris!
ESCUDEIRO (entrando) viram o físico mor?
CORO Ah! Ah! Ah! O que nos manda desta para melhor?
(Findo o coro, entra o pajem a correr)
PAJEM limpem fatos e sapatos, que aí vem El-rei!
(Cada um dos cortesãos tira uma escova do bolso: limpam-se uns aos outros.)
CORTESÃOS Zás! Trás! Pás! Pás! Trás! Zás! Fatos limpos fatos e sapatos! Que aí vem El-rei!
PAJEM depressa, ele aí vem!
CORTESÃOS (A escovarem-se.) Pressa! pressa! pressa! pressa! Que aí vem El-rei!
(Aparece ao fundo numerosa e luzida comitiva, que precede El-rei que vem acompanhado de coiteiros, trazendo petrechos de caça.)
MARCHA E CORO GERAL Praça! Praça! Praça! porque aqui está El-rei que vem da caça! (toca trombeta: trá lá rá!)
REI (À boca de cena.) Eu sou o rei D. Dinis, que tem feito tudo quanto quis!
CORO Ele é o rei D. Dinis, que tem feito tudo quanto quis!
REI (Aos cortesãos, que desde a sua entrada têm-se inclinado bastante.) Levantar cabeças! (Perfilam-se.) Doutor, dou-te a honra de dizer que venho da caça.
FÍSICO a caça é o rei dos prazeres e o prazer dos reis!
REI - Foi uma caçada real!
DOUTOR - E que matou?
REI - Um urso, dois javalis, três gamos, quatro perdizes, seis lebres e onze coelhos.
FÍSICO Tudo isso?
REI os meus coiteiros ajudaram! (À comitiva.) Na próxima caçada, hei-de fazer-vos barões, marqueses, conselheiros, etc. Sois óptimos caçadores! (Inclinam-se.) Levantar cabeças! (Perfilam-se.) Que novas me dás do estado da senhora D. Ester, ó Doutor?
FÍSICO o estado é o mesmo de há nove meses a esta parte, desde que a emprenhaste. Há todas as probabilidades de um parto feliz. Mais dia, menos dia, virá ao mundo o dono ou dona de uma prenda como esta (pega na coroa que está sobre a mesa), que lha arranjareis vós com um bom dote e casamento conveniente!
REI (zangado.) de uma prenda como esta? (naturalmente.) Dá cá a coroa, Doutor... (de mau humor, pondo a coroa.) Pois não tens certeza de que a criança é menina? Há nove meses te ordenei que empregasses toda a tua ciência, a fim de que não seja varão, e sim varoa, os filhos, bastardos ou não, só dão problemas!
FÍSICO pensei que fosse gracejo...
REI gracejo!... Pois eu lá sou de gracejos com os meus vassalos!
FÍSICO relevai vos diga que a ciência, a boa que lemos em Pedro Hispano e Averróis lá em Paris, submete-se aos fenómenos comuns da natureza.
REI fala português escorreito.
FÍSICO se a criança não tiver de ser filha, nem Vossa Majestade, nem eu, nem a ciência em peso...
REI então para que se inventaram as mesinhas? Para que diabo cursaste dez anos em Paris, donde saíste há um ano somente?...
FÍSICO há um ano somente da Academia sai...
CORO e já matou um vilão de Alfaiates, um almocreve em Vilar Maior e cinco ou seis judeus daqui!
REI silêncio (Inclinam-se.) Levantar cabeças! (perfilam-se)Pois nãos podes arranjar uma droga que tenha o efeito desejado?
FÍSICO vossa Majestade pede...
REI não peço; mando!
FÍSICO pois manda o impossível!
REI quero, posso e mando!
FÍSICO (à parte) ele quer, pode e manda...
CORO ele quer, pode e manda...
FÍSICO desta vez, Vossa Majestade pode querer, até pode mandar, mas poder poder é que não!
REI olha que sou teu rei!
FÍSICO e eu o mais obediente dos vossos súbditos!
REI obrigado.
FÍSICO não há de quê... O nascimento, real senhor, é questão de mero acaso; nós nascemos homem ou mulher, conforme o capricho da natureza...
REI boa léria essa! Não sei o que faça...
FÍSICO esperai o resultado da natureza....
REI não sei que faça, que não te abra a cabaça!
FÍSICO isso é mais fácil!
REI senhores, atenção! (bate palmas) Vou deitar decreto! Decreto verbal! (Inclinam-se todos. El-rei sobe ao cadeirão) Sua Majestade El-rei D. Dinis há por bem decretar ao físico-mor de seu paço real, mestre Roiz, que, empregando os meios postos ao seu alcance por dez anos de estudo de medicina em Paris, faça com que a senhora minha amiga, dê à luz uma criança do sexo fraco. Se suceder que a criança pertença ao sexo barbado, morra por ele o referido mestre (esgar de pânico do Doutor.) que assim o tenha entendido. Assinado: Eu! (Descendo.) Levantar cabeças! (perfilam-se)
FÍSICO pensai melhor, senhor...
REI vontade de rei é lei e não volta atrás. Ah! (Trepando ao cadeirão e batendo palmas.) Post-scriptum! Post-scriptum! Atenção! (Silêncio. Inclinam-se.) Se for macho, carrasco com o Doutor; se for femea, faço-o barão de Ruivós! Levantar cabeças! (perfilam-se)
FÍSICO (aflito) senhor!
REI percebeste? (senta-se) E agora bico calado! (bate palmas) Que sirvam o caldo!
FÍSICO sim... Percebi...
REI fêmea, ou...(gesto de cortar o pescoço)
CORO fêmaa, ou… (gesto de cortar o pescoço)
(Os cortesãos sentam-se à mesa em volta do rei. A comitiva do rei sai pelo fundo)
FÍSICO (à boca de cena) Bonito serviço. Fêmea, ou... (gesto de cortar o pescoço) O que hei-de fazer? Isto de morrer aos trinta não lembra ao diabo! E o pior é que a mana vai dar a luz menino! Na Academia ensinaram-me que, quando uma senhora de esperanças, ao subir uma escada, deita sempre em primeiro lugar o pé direito, tem uma criança do sexo feminino... Ora, acontece que a mana deita sempre no primeiro degrau o pé esquerdo... Estou aqui, estou sem cabeça!
(E sai pela esquerda baixa)
Cena II
REI, DAMA, CORTESÂOS, SALTIMBANCOS, JOGRAIS, ACTORES, PAJEM (à mesa, numa ceia medieval. Servem-se vários pratos)
REI (batendo palmas) estou enfadado. Que venham os saltimbancos
(sucedem-se exibições de malabaristas, comedores de fogo, contorcionistas, e dançarinas)
DAMA ( levantando-se e dirigindo-se ao rei)
― Dizei-me, por Deus, amigo:
tamanho bem me quereis
como vós a mim dizeis?
REI (corespondendo):
― Sim, senhora, e mais vos digo:
não cuido que outro homem queira
tão grande bem no mundo a mulher.
DAMA:
― Não creio que tamanho bem
vós me pudésseis querer,
quão grande me estais a dizer.
REI:
― Sim, senhora, e mais vos direi:
não cuido que outro homem queira
tão grande bem no mundo a mulher.
DAMA:
― Amigo, eu não vos crerei,
pela fé que devo a Nosso Senhor
que me haveis tão grande amor.
REI:
― Sim, senhora, e mais vos direi:
não cuido que outro homem queira
tão grande bem no mundo a mulher.
CORO: grande poeta é El-rei!
(aplausos. Segue-se a exibição de um entremês)
REI (indisposto) que coro impertinente! Calem-se!
ROMEIRO:
― Porque no mundo minguou a verdade,
tratei um dia de a ir buscar,
e onde por ela fui perguntar
disseram-me todos:
CLÉRIGO:
― Buscai noutro lado,
pois de tal modo se foi a perder
que novas dela não pudémos haver,
nem anda já na nossa irmandade.
ROMEIRO:
― Pelos mosteiros dos frades regrados
a demandei; e disseram-me assim:
FRADE:
― Não busqueis vós a verdade aqui,
pois há muitos anos, que vão passados,
que não mora connosco, por boa fé,
nem sabemos onde agora ela é,
e dela havemos maiores cuidados.
ROMEIRO:
― E em Cister, onde a verdade soía
sempre morar, disseram-me que não
morava ali desde longa estação
e nenhum frade já a conhecia,
nem o abade a deixaria entrar
se acaso ali quisesse ir parar,
tão fora ela andava daquela abadia.
E em Santiago, sendo albergado
na minha pousada, chegaram romeiros,
perguntei-lhes e disseram-me:
ROMEIRO:
― Por Deus! Levais o caminho muito errado,
pois, se a verdade quiserdes achar,
outro caminho convém de a buscar,
que não há dela aqui novas nem mandado.
(aplausos. Entra mensageiro pelo fundo)
Cena III
REI, MENSAGEIRO, FRADE, MORDOMO CORTESÃOS
MENSAGEIRO (exibindo um pergaminho) senhor, trago notícias do reino.
REI no reino estamos nós, mensageiro; esta terra também é portuguesa. Que notícias trazes? (recostando-se no cadeirão) Lê!
MENSAGEIRO (desenrolando o pergaminho. Perfilando-se) está em latim de missa, não percebo patavina....
REI dá cá (tirando-lhe o pergaminho) podes ir (dá-lhe uma asa de galinha)
MENSAGEIRO (retirando-se pela esquerda baixa, exibindo a asa) fraca paga por tantas léguas de jornada…
REI (atirando o pergaminho) frei, verte para língua vulgar!
FRADE (lendo pausadamente enquanto traduz) é do alcaide do castelo de Leiria, senhor; Felicita-vos pelos sucessos em Leão. Informa o D. Abade de Santa Maria de Alcobaça estar agravado por a raínha nossa senhora ter mandado, na vossa ausência, sorribar e plantar de pinhal as terras da Vila da Pederneira, em pleno dominio do couto do mosteiro. Informa ainda o alcaide, antes de vos beijar a real mão, que ameaça o D. Abade recorrer à Sé Apostólica e excomungar-vos, senhor.
REI (contrariado) mais uma guerra com o clero por causa do pinhal da rainha! (levantando-se, no que é secundado pelos presentes) Mordomo, apresta o nosso regresso a Leiria para amanhã!
MORDOMO mas antes de irdes dormir, tendes os procuradores dos concelhos a ouvir... esperam no pátio, senhor.
REI (impaciente, sentando-se) sentai! Trazei-mos!
(mordomo sai pelo fundos e regressa com três labregos)
Cena IV
REI, MORDOMO, ESCRIVÂO, LABREGOS, CORTE
MORDOMO (introduzindo os labregos, que trazem uma cesta e ajoelham) os procuradores de Villa Maior, Castelo Bom e Alfaiates, senhor.
REI levantar cabeças! (estes erguem-se e perfilam-se) Que trazeis?
LABREGO 1 trutas do Côa, que manda o meu compadre Godinho.
REI (ao mordomo ) manda arranjar para a merenda.
MORDOMO (entregando o cesto a pagem, que desaparece pela esquerda baixa) assadas ou de escabeche, senhor?
REI de escabeche. (aos labregos) E que pretendeis?
LABREGOS (a uma voz) o pedido de uma mercê, magestade
REI e que mercê quereis?
LABREGO 1 os nossos antigos foros, magestade.
REI (para o escrivão), que foros são esses?
ESCRIVÂO os dos costumes leoneses destes concelhos, senhor.
REI e não tinhamos ordenado a sua redacção e compilação?
ESCRIVÃO eu mesmo os trasladei, em linguagem corrente, senhor; iguais aos de Cória!
REI (aos labregos) quereis então manter previlégios, é isso?
LABREGOS (ajoelhando) assim é, magestade.
REI levantar cabeças! (levantam e perfilam-se) senhores, atenção! (bate palmas) Vou deitar decreto! (à parte para o escrivão) anota e põe na fórmula legal! (Inclinam-se todos. El-rei sobe ao cadeirão) Sua Majestade El-rei D. Dinis há por bem decretar que todos os concelhos de Riba-Côa mantenham os foros, costumes e previlégios que os reis de Leão lhes concederam, em tudo o que não contrariar o nosso direito régio. Assinado: Eu! (Descendo.) Levantar cabeças! (perfilam-se)
ESCRIVÂO e lavro instrumento à parte ou adenda, senhor?
REI (displicente) lavra à parte, com remissão para o foro e passa alvará!
LABREGOS (longa vénia) obrigado, magestade!
REI levantar cabeças! (levantam-se e perfilam-se. Dando a cada um uma asa de galinha) Tomai para o caminho. (despedindo-os) Ide!
(labregos saem pelos fundos. Rei e cortesão levantam-se e saem pela direita)
[Cai o pano]
ACTO TERCEIRO
[Sobe o pano]
Mesma sala do castelo mas sem mobília.
Cena I
FÌSICO (passeando, nervoso, de um lado para outro), PARTEIRA
PARTEIRA (Aparecendo da direita com um embrulho nos braços) mestre....
FÍSICO hein?
PARTEIRA uma palavrinha...
FÍSICO Ah! és tu? Como entraste?
PARTEIRA pela porta....
FÍSICO é má hora... Já todos dormem...
PARTEIRA mas é urgente...
FÍSICO filha, olha que tenho mais que fazer. Adeus!
PARTEIRA (Agarrando-o pelo fato.) espera!
FÍSICO diz de uma vez!
PARTEIRA finou-se Marcos... o da oficina de sapateiro à Igreja de S. João... Os mestres de ofícios, por esmola, fizeram-lhe o enterro e deram alguns maravedis à viúva, para a filhinha que acabou de ter..
FÌSICO filhinha? Quando nasceu?
PARTEIRA hoje, pela tarde, de parto que lhe fiz eu. A mãe ainda nem a viu, tão desgostosa está... O pai descer à terra no mesmo dia que a filhinha vinha ao mundo!
FÌSICO (mal humorado) afinal o que queres?
PARTEIRA como te conheço... Pedir-te também uma esmola para a pobre criança;
FÌSICO Toma, e deixa-me. (Dá-lhe o dinheiro.)
PARTEIRA agradeço-te por mim e pela coitada! (Vai saindo pelo fundo.)
FÍSICO espera! (Maria volta) Que levas aí?
PARTEIRA o filhode El-rei, nascido mesmo agora, para levar ao coveiro
FÍSICO e quem mais sabe?
PARTEIRA tu, e eu, que fiz agora mesmo o parto
FÍSICO e a mãe sabe que foi natus-mortius?
PARTEIRA nem coragem tive de lhe dizer... Pobrezinha.
FÍSICO posso confiar em ti?
PARTEIRA conheces-me -me de criança; do tempo em que brincávamos no largo de Santa Maria.
FÍSICO Tenho uma proposta...
PARTEIRA e que proposta é essa?
FÍSICO (Dando-lhe mais dinheiro.) com o que já tens, dá para o enterro. Aqui tens mais; leva-me a ver a criança. (Conduzindo-o ao fundo e apontando para a porta do fundo.) De onde este veio, há mais. Regulamos tudo lá fora, que as paredes aqui têm ouvidos...
PARTEIRA está feito! (Sai pelo fundo.)
Cena II
FÍSICO [só]
[FÍSICO] (à boca de cena) trata-se agora de fazer uma troca da filha de Marcos pelo bastardo do rei e ninguém dará por ela; (esfregando as mãos) basta untar as unhas à parteira e à mãe da criança; sempre é melhor bastarda em palácio de rei, que orfã em casebre de pobre. Maior patifaria é mandar-me cortar a cabeça! Vamos fazer a troca; não há tempo a perder.
(Sai pelo fundo atrás de Parteira)
Cena III
(Físico e Maria entram pelos fundos, ela carregando um embrulho. Rei e cortesãos pela direita)
REI, FÌSICO, PARTEIRA , CRIANÇA, CORTESÃOS
REI que ouço!... uma criança?... (Corre para a parteira)
FÍSICO (Interpondo-se.) - É tua filha!...
REI minha filha!... (Querendo tomar a criança.) A que sexo pertence? É menina? Deixa-a ver!
FÍSICO (Interpondo-se ainda.) ouve o resto: há coisa de uma hora veio ao mundo esta criança...
REI oh! Que alegria...
FÍSICO (exibindo a criança) uma menina, como vês!
REI e onde estavas tu, que não me avisaste?
FÍSICO em casa de minha prima Isabel... Meu pai apareceu em companhia do meu primo Jacob... Vindos de Trancoso com uma partida de fazenda.
REI e....
FÍSICO e também não me avisaram do parto...
PARTEIRA (adiantando-se) e fui eu quem o fez, majestade.
REI dá-me! dá-me essa criança!...
FÍSICO (vai buscar a criança) Aqui a tens. (entrega-lha)
REI (exibindo-a aos cortesãos) Vede!... Uma menina! ... Uma menina!... finalmente! (beija-a).
CORO que linda está!
REI que linda é!
CORO que linda é!
CRIANÇA oh! oh! oh! oh!
REI que linda és tu!
CORO (Imitando a criança.) — Uh! uh! uh! uh!
REI doutor, vê que já se ri... uma hora tem de idade!
FÍSICO não admira; é filha de Vossa Majestade!
(Espalha-se pela sala um cheiro de alfazema)
REI que cheiro de alfazema!
FÍSICO é cheiro a cueiros!
CORO (Aspirando.) — Um! um! um! um! Que bem cheira o rabinho do bébé!...
REI silêncio... ela quer dormir!
CORO Silêncio...
REI (passando a criança) toma, doutor; ela está dormindo.
FÌSICO (repassando-a à parteira) leva-a para o berço.
(parteira sai pela esquerda baixa; Rei e comitiva vão a saír pelos fundos)
Cena IV
REI, FÌSICO,MORDOMO, ESCRIVÃO
FÌSICO (intrometendo-se)não te esqueceste de nada, senhor?
REI ah! As trutas de escabeche para o caminho! (ao Mordomo) vai por elas à cozinha.
MORDOMO (indicando um pejem com um cesto de farnel na mão) vão ali, senhor, com umas botelhas de vinho cá da terra.
REI ah, bom!
FÍSICO (insistindo)não vos lembrais do nosso trato?
REI ah! O de te fazer comendador...
FÌSICO perdão, mas havieis-me prometido um baronato.
REI bem, bem: não havemos de brigar por isso. Trato é trato!
MORDOMO Não pode ser! Não há tempo! O dia clareia e temos longa viagem pela frente!
REI um barão faz-se em dois tempos!
FÌSICO mas já não quer ser barão!
REI não?
FISICO de dois casais com umas quantas pedras antigas levantadas ao alto? Que rendimento dá isso?
Rei mas o trato foi barão de Ruivós,lembro bem!
FÍSICO e se comutaseis para as rendas da judiaria por duas vidas; duas gerações?
REI uma vida...
FÌSICO seja!
REI trato feito! Palavra de rei! (para o escrivão) em quanto me fica isso?
ESCRIVÃO contas por alto, 3.000 maravedis ano, senhor.
REI tanto?!
ESCRIVÃO sim...
REI (afogueado) partamos, que este judeu ainda me tira a pele!
(Rei e comitiva saem pelos fundos. Fisico fica, esfregando as mãos de contente)
[Cai o pano.]
FIM
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