Júlio a minha mãe sabe (e a tua também o sabia)outro responso que é infalível:
S. António de Lisboa
Que em Lisboa nascete
Em Pádua foste criado
Quando vós estaveis a pregar
Uma nova vos veio
Que vosso pai estava cercado
Vós lá foste
Livrinho perdeste
Maria vo-lo achou
3 vezes Maria vos disse:
O perdido seja achado
O morto rescussitado
que o vivo ao longe está cercado.
Rezar um Pai Nosso
Este sei eu que funciona, com fé e intenção.
Das muitas orações populares que na vila se sabiam e se usavam, aqui vai uma, que uma amiga me recuperou. Afirma com convicção que não há coisa perdida que esta reza, feita com devoção, não recupere.
O melhor é tentarem. Se não conseguiram é porque a fé foi hesitante ou a devoção insuficiente, ou uma coisa e outra.
Se milagres desejais,
Recorrei a Santo António;
Vereis fugir o demónio
E as tentações infernais.
Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.
Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraca torna-se forte
E torna-se o enfermo são.
Recupera-se o perdido... (repetir)
Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-nos aqueles que o viram;
Digam-no os paduanos.
Recupera-se o perdido... (repetir)
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre
Ámen.
Como diria o outro - o mais sábio de todos -, «depois não digam que eu não avisei». Agora que a crise bateu à porta (não se pode dizer que não seja bem educada, ainda que as pancadas sejam um pouco violentas), olha-se para trás e todos constatam os erros. Entre muitas coisas, acabou-se com a agricultura e acantonoaram-se as populações à beira mar confiados que o país iria viver do turismo e demais serviços. Com isso se foi encerrando aos poucos o interior do país. Afinal, parece que isso tem um preço tão elevado que ninguém sabe como resolver.
«Que pena me faz a mim, filho desta terra, conhecedor do que foi num passado ainda recente, vê-la extinguindo-se, tão irremediavelmente, num país que dizem estar a desenvolver-se, a modernizar-se, a europeizar-se. O que sinto não é saudade ou saudade apenas, mas dor e uma raiva impotente. Nos dias que vivemos, chegam–nos, por todos os meios, notícias em defesa de tal animal ou de tal planta, - seja do lince da Malcata ou do azevinho -, de um monumento, de um costume ou usança. Há manifestações de solidariedade para com o povo de Timor que, justamente, quer viver segundo a sua cultura e recusa a subjugação a uma alheia. Somos, até, capazes de, convictamente, nos pronunciarmos em defesa dos índios da Amazónia. Assistimos, entretanto, indiferentes à morte de comunidades e culturas seculares que foram parte activa e enriquecedora do que foi e é a nação e a cultura portuguesa. Entre elas está a região de Ribacôa que foi a última parcela a integrar o território nacional do continente, após longas e devastadoras guerras que terminaram com o tratado de Alcanizes, no reinado de D. Dinis. Grande foi a atenção que, a partir de então, tiveram os monarcas, manifesta na defesa (lá está toda a linha dos castelos do Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom e Castelo Rodrigo) e no povoamento, como o atestam os forais e a criação dos municípios. Muitos são os vestígios dos povos antigos que aqui se fixaram. Ao longo de séculos, pela acção do poder político, do poder da Igreja e do labor das gentes, aqui se foram forjando formas próprias de vida, isto é, uma maneira própria de ser português e de o ser, tão plena e dignamente, como em qualquer outra parte do território. Esta maneira de ser português, esta forma de participar na cultura nacional está em extinção. Pelo simples facto de que não há pessoas. Cada uma das suas múltiplas aldeias está morta ou em vias de extinção. Basta olhar para as estatísticas. Na década de 50, era ainda um fervilhar de gente. A vida pulsava por todos os caminhos, veredas, hortas, casas e ruas. Era muita vida para tão pouco espaço. Hoje há tanto espaço para nenhuma vida. Não foi uma barragem que submergiu Ribacôa, mas sim um poder político que o abandonou e, diga-se, uma Igreja que deixou de estar presente. Desapareceram o professor primário e o padre, os dois pilares fundamentais da cultura, nestas comunidades. As escolas fecharam e já se não houve o cantarolar da tabuada. Já se não fazem contas à vida. Algumas igrejas ainda abrem, algumas vezes, ao Domingo, por enquanto, e sempre que a morte bate à porta. Acabem os jornais como o "Nordeste" e terão cortado os ténues laços que unem aqueles que, ausentes, guardam a memória do passado.
Que país é este que tão distraído anda com o que tão longe acontece e se esquece de si? Andam os políticos tão ocupados com a construção da Europa! Quem mais que os ribacudanos a ajudaram a construir? Com pá, suor, cimento e lágrimas. Muitas lágrimas. E sangue. Abandonaram tudo: os campos, os gados, as mulheres e os filhos. Viveram em barracas, levantaram-se manhã cedo, muito cedo e chegavam à noite, tarde, muito tarde. Não havia sábados de descanso e, quantas vezes, Deus lhes perdoe, sacrificaram o dia do Senhor, para que a Europa se construísse. E o seu país também. Na Europa, ficava a obra feita. Para o país, vinha o dinheiro que ajudou a transição para a democracia, em 74/75, que ajudou a reintegração dos retornados de África, que permitiu aos nossos políticos passearem-se pelos corredores da CEE, pelos corredores do Centro Cultural de Belém e por outros corredores.
Que recebemos em troca? A sua ruína e a da sua região porque, se num lado ficou a obra e, para o outro, foi o dinheiro aqui cavou-se o vazio, o deserto. A terra se não é cuidada morre».
Júlio Silva Marques, in "O Nordeste", 1992
Já o sabemos: Em Vilar Maior todo o indivíduo é um personagem. Porém, alguns pelo, jeito, pelo modo, pelo feitio foram-no mais do que outros. É o caso do ti Lucrécio que assim descrevi no livro Memórias de Vilar Maior, minha terra, minha gente.
Para que serve um jornal
Analfabetos podem ser, incultos é que não. A maior parte não vê uma letra do tamanho dum boi, expressão usada aqui para dizer que fulano ou sicrano não sabe ler. Não é que não houvesse escola mas muitos pais não podiam prescindir do rapazito ou da rapariguita para tomar conta do gado ou dos irmãos mais novos e também não viam, por vezes, grandes vantagens em aprender a ler e a escrever.
A casa onde habitou
Os livros eram raros, revistas não havia e jornais, durante muitos anos, chegava com dois ou três dias de atraso o " Diário de Notícias" a que, por ser correspondente, tinha direito o senhor António Lucrécio que também por esse facto era a pessoa mais bem informada do que se passava pelo mundo fora. Extraídas as mensagens do jornal, seguiam alguns exemplares para a ti Pureza. Quem não se lembra dela? Durante anos e anos, todas as tardes de domingo, no fundo da praça, sentada no cais, com o caldeiro de tremoços à beira e um monte de folhas de jornal de diversas medidas. Lá iam os garotos, um a um, a comprar um tostão ou dois de tremoços. Cinco tostões era um cartucho grande e dez tostões um cartucho enorme. Assim, os mais velhos acompanhavam o copo de vinho que se tinha ganho a jogar a arraioila ou a jogar às cartas; assim os rapazes começavam a ronda ao som do realejo na falta de melhor instrumento:
Venha o copo, venha o vinho
Venha mais uma rodada
Que o dinheiro paga tudo
Não lhe fica a dever nada
Entardecia. Lá ia a ti Pureza para casa, com os restos dos jornais que não sabia ler mas de que fazia úteis cartuchos, cozer tremoços, demolhar tremoços para o domingo seguinte , no tempo em que os tremoços eram chochos. Às vezes, serviam os jornais para a rapaziada fazer papagaios, quando algum deles mais cuidadoso havia guardado o fio (linhol) dos canudos das canas dos foguetes que apanhara na alvorada da festa do Senhor dos Aflitos. Outras vezes, decorava basais ou guarda-louças e até havia quem forrasse todas ou partes das paredes interiores das casas. Não fora o senhor António Lucrécio correspondente do citado jornal e estamos a imaginar como se haveriam de resolver tais situações. Para além do citado jornal compor a figura do nosso correspondente que presumo ter sido um homem inteligente, com uma filosofia de vida que o levava a um distanciamento dos outros, a um olhar crítico, a uma independência e a um desprezo pelo servilismo e estupidez humana. Exercera a profissão de comerciante. Exerceu a profissão de agricultor mas diferente dos outros: Mais do que trabalhar organizava o modo de produção: Mandou construir condutas de água em granito e privilegiava a cultura do feijão bem mais rentável que a batata; dedicou-se à apicultura daí conseguindo uma diferente e fácil fonte de rendimento. Lia-se-lhe no olhar, por vezes, uma certa amargura talvez porque sabia poder ter ido muito alto e, no entanto, ficara por aqui a ver restos de jornal a embalar tremoços. Ele era o dono da praça, quando os outros cavavam, lavravam, pastoreavam: Chapéu, capote, bengala, jornal debaixo do braço, praça acima, praça abaixo, vezes sem conta. Às vezes, aparecia o militar ou o proprietário rico mas quem sabia disto ou daquilo era ele, lançando-lhes o epíteto: “são galuchos”. E coisa que dissesse haveria de manter. Contou-me, que quando estava na tropa, certo dia , na formatura se cantava "A Portuguesa". O sargento observou que o soldado Lucrécio não abrira a boca. Ordenou, então, o sargento que cantasse . "Não canto, não canto e não canto", repetiu o soldado. Desobediência que levou ao prolongamento da vida de soldado. Um dia adoeceu. Não houve mais jornal, cartuchos, nem tremoços e a praça nunca mais foi o que era.
Com a ribeira infestada de todo o tipo de vegetais mas com abundância de água que ningém precisa; com casas de portas fechadas que ningém abrirá; com árvores de copiosíssimos frutos que hão-de amadurecer e cair ao chão; com vinhas encobertas em matagal que oferecerão as uvas à passarada.
E também a vila que resiste: O ti António Rasteiro, o ti Fernando, o ti António Lavajo, o ti Zé da Cruz ... e outros mais novos.
E a construção civil - O Cimento em transformação, o calcetamento da envoltura do Centro de Dia, e mais um telhado novo aqui e outro além
E o Nuno que preserva os modos antigos da economia rural. Tudo isto existe, tudo isto ainda faz a vila viver.
A ADES em parceria com a Junta de Freguesia de Vilar Maior promove uma Exposição de Pintura na Sede da Junta de Freguesia, referente a quadros do Pintar Sabugal 2009, evento realizado nesta Freguesia.
A ADES – Associação Desenvolvimento Sabugal, informa a todos os interessados de que poderão visitar e até adquirir as obras expostas numa exposição de pintura alusiva à Freguesia histórica de Vilar Maior, no decorrer do mês Julho de 2011, no salão da Junta de Freguesia.
A referida exposição, retrata o património histórico e cultural da Freguesia de Vilar Maior, e está inserida no contexto do Evento "Pintar Sabugal 2009" com o seu vasto e rico património histórico e paisagístico. Foram elaborados vários trabalhos por parte do GART – Grupo de Artistas e Amigos da Arte e por alguns artistas locais, como foi o caso do Sr. José Chapeira e do Sr. António Alves (artista emigrante e natural do Casteleiro), e pretende-se expor os trabalhos realizados nesta Freguesia possibilitando aos residentes locais, naturais e visitantes em geral apreciar esta arte. Os interessados poderão visitar a exposição em horário de atendimento da Junta de Freguesia de Vilar Maior aos Domingos e Quartas-Feiras das 14 às 16 horas, ou contactar com os elementos da Junta de Freguesia, para solicitar uma visita em outra data, até ao dia 7 de Agosto de 2011.
A ADES, informa ainda de que decorre em simultâneo uma exposição de pintura no Mini Preço do Sabugal junto ao bar, e uma outra exposição na Sede da Academia de Música e Dança do Sabugal.
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