Quarta-feira, 31 de Agosto de 2011
Sábado, 3 de Setembro, irá realizar-se o I PEDDY PAPER em Vilar Maior que decorrerá das 07h às 14.00h, devendo todos os interessados inscrever-se na quermesse até às 14.00h.
O objectivo é, de uma forma divertida, recordar/reconhecer locais, coisas e factos, aprofundar conhecimentos sócio-culturais e históricos sobre Vilar Maior.
Este é um convite da Comissão de Festas do Divino Sr. dos Aflitos
Por razões de ordem técnica, estamos com dificuldades de colocação de imagens.
Terça-feira, 30 de Agosto de 2011
Sair da vila para o campo é, hoje, uma aventura que, como todas as aventuras, contém riscos. Por isso, se o quiser fazer deverá ter alguns cuidados e tomar algumas precauções. Se não conhecer não se afaste de caminhos transitáveis e são cada vez menos; se conhece bem, como eu eu conheço, não se esqueça de avisar familiares ou amigos. De preferência arranje carava - não é bom que ande só. Não leve telemóvel porque não terá rede e os campos estão desertos: se cair, se torcer ou partir um pé, se lhe der uma macacoa poderá gritar á vontade que o mais provável é não ser ouvido por gente. Leve um bordão ( mulata, cajado, pau, moca, potro, vara) para se apoiar, para tirar o ânimo ou animosidade a algum cão mais afoito, para retirar a silva que se atravessa - e nunca se sabe se não lhe aparece um coelho à mão de semear. Não tema lobos ou outros animais selvagens que depois daqueles e de porte considerável só se for alguma raposa distraída ou porco bravo. Náo se assustará com o rastejo de lagartos por entre os ramalhos, porque, tão abundantes outrora, aposto consigo que não encontrará um mesmo que va para o Vale da Lapa para os lados da Arrifana onde por serem tão comuns deram a alcunha aos seus habitantes. Vista-se em conformidade com o que o espera: proteja a cabeça com boné ou chapéu (nenhum antigo era suficientemente tolo para andar, sobretudo no verão, de cabeça descoberta). Vista camisa que cubra os braços e livre-se de levar calção - para além de protegerem do sol ( se for muito cedo, do frio) protegem-no de arranhões de silvas e giestas. Como calçado o preferível será umas daquelas botas que ainda se vendem nos mercados bem ensabadas e do sapateiro do Adão. Se quiser poderá comprar óptimas botas na Timberland ou na Ecco pagando dez vezes mais. Dependendo dos seus gostos, interesses, propósitos e disposições, escolherá o percurso (haveremos de noutra ocasião dar alguns itinerários). Quanto ao tempo, sendo no estio, prefiro sempre o passeio matinal: o nascer do sol, a frescura da manhã, o orvalho, o chilrrear da passarada ... Não se esqueça de levar um cantil de água porque não a encontrará potável. Antigamente encontraria dezenas e dezenas de nascentes, presas e poços onde beberia água mais garantida do que as engarrafadas de hoje. Por vezes, terá de se confrontar com situações mais difíceis como sejam arames farpados que dificultam percursos, algumas vezes mesmo cortando caminhos e passagens públicos. Não desanime. Um duche, um almoço e uma sesta retemperam-nos para a próxima. Bons passeios.
Passagens e caminhos públicos que obrigam ao regresso à quadripedia umas vezes, outras a rojamentos reptilianos.
E outros são barramentos civilizados. Não terá qualquer problema: o fio azul substitui a chave. Não custou nada: desatou-se o fio, abriu o portão, voltou a fechar e apertou novamente o fio. E que tal se substitíssem os barramentos de arames farpados por este processo?
Domingo, 28 de Agosto de 2011
Era Setembro, mês da festa e das colheitas
Das uvas pendentes na ramada sobre a mesa
Onde se saciava, mais que a fome, a saudade.
Um copo de vinho na mão
Brindando à felicidade
Com olhar terno pousado em nós
Secretamente desejavas que a vida,
Naquele instante,
Ali para sempre se quedasse.
Sábado, 27 de Agosto de 2011
É verdade!!! Como tudo mudou nos últimos cinquenta anos. E as feiras e mercados são um bom exemplo para ilustrar tais mudanças. Lembro-me com se fosse hoje, de em certa ocasião ter ido ao mercado da Bismula e enquanto meu pai ficava no mercado das vacas lá para os lados da capela de Santa Bárbara a fim de mercar uma novilha, eu ter ficado no mercado do gado (ovelhas e cabras), cá em baixo perto do largo da fonte da amoreira, para vender uma piara de trinta e tal borregos, bem tratados, já desmamados e que teriam à volta de vinte quilos cada um. As ordens, essas eram claras: pedes 130$00 por rês, mas se a coisa não pegar podes largá-los por 125$00. Às tantas lá apareceu um comprador e começam as manobras de negociação. Ele que não, que os borregos não eram parelhos e que enganavam no peso (estes negócios eram feitos a olho) e que não podia ir alem dos
125$00 por cabeça. Eu, que nem pensar; que mesmo não sendo parelhos, lá dariam uns pelos outros. Nisto, chega o ti Chico Rasteiro da Arrifana, negociante de gado e sabedor do assunto como poucos; depois dos cumprimntos, précura: Atão em quanto está a dirença? Dei-lhe a resposta e logo de seguida agarrou um dos animais e de mão aberta assentou-lhe um apalpão no lombo; a outro pegou-lhe com ambas as mãos, alevantou-o em peso e disse: não estão munto maus; pensa durante uns momentos e atira; ala, ala, vamos lá mas é a resolver isto porque o dono não os quer levar de volta e vocemeçê (diz para o comprador) está a arrebentar por eles. E nisto, faz uma rachadela para os 127$50 e o negócio ficou fechado e foi selado com o pagamento do albroque à minha conta, como era de uso. Entrementes chegou meu pai e não vendo os borregos logo perguntou; atão quanto renderam? Respondi-lhe e ao mesmo tempo que me dizia que também tinha mercado uma bonita novilha, vi-lhe um leve sorriso nos lábios e um certo a reluzir nos olhos que me deixaram contente. De repente, diz: ala, vamos passar ali plos sapateiros pra mercarmos umas botas pra ti e a seguir vamos a ter com a mãe a ver se já vendeu a quarta de linhaça para nos metermos a caminho de casa, pois as vacas já devem estar a urniar na loja e com os dentes na boca; E tu não te esqueças que inda tens que ir a ter com os garotos que andam com o gado no penicôto.
Ora, como decorre desta hstória, que mais coisa menos coisa é verdadeira, são muitas e grandes diferenças de então para os nossos dias. Mas para mim, a maior das diferença nem está no preço dos borregos. A maior está na rapidez com que uma criança deixava de o ser, para se tornar adolescente e nessa condição passava a pensar e a assumir tarefas de gente crescida, mesmo antes de ser adulto.
Essa sim, é uma grande diferença em relação à relalidade actual
Uma bôa noute para todos.
Sexta-feira, 26 de Agosto de 2011
Uma bela crónica retirada do blog " Miuzela Arriba", de Carlos Esperança e que não resisto a publicar aqui.
"A morte não é só a injustiça que refere Saramago, é uma divina patifaria à espera da manifestação de repúdio adiada pela complacência, cobardia de quem teme atirar pedras ao algoz. É difícil perceber como vivos provisórios, sem nada a perder, se resignam, sem luta, a tornar-se mortos vitalícios.
Não serei eu que os convoco para o exercício cívico de um dever de cujo êxito não estou seguro, mas também não os acompanharei na subserviente gratidão por cada dia de vida que gozam enquanto esquecem agravos para com entes queridos que foram.
Mingua-me, aliás, a autoridade. Partiram os avós e eu nada fiz, chorei apenas. Dói-me recordar a avó que ainda me sorri com o sorriso que lhe via quando a convocava a acompanhar-me à poça de lama onde eu caíra, a exigir-lhe a mão para me levantar de novo onde antes tivera de o fazer sozinho, e a dizer-me meigamente, filho, és quase tão bom como bruto e és tão bom. E o avô, generoso, a repartir sempre o que tinha sem nunca o arrefertar, a insistir comigo para que comesse. Depois foram os pais e fiquei sem retaguarda.
À medida que foram as pessoas que amámos, apreciamos mais as coisas que eram. E invade-nos a saudade pela nogueira sob cuja copa jogávamos à bisca, cortada para lhe porem uma casa no sítio. Onde então estavam as raízes passam hoje canos; no lugar das nozes secam peúgas e cuecas no estendal; aquela pedra que suportava o baralho, donde biscávamos as cartas, está algures na parede da casa rebocada se, acaso, lhe deram préstimo. Sobre a videira de moscatel cujas uvas resistiam à nossa gula, defendidas por uma mistela que punha os garotos de soltura e lhes arriscava a vida, foi construída uma garagem. Até a macieira velha onde todos os anos sobravam duas ou três maçãs para o rebusco foi sepultada por uma máquina cujos roncos saíam da nuvem de pó que anunciava a nova méson do emigrante. Roubaram-nos as sombras, os sítios e, sobretudo, a memória daquelas tardes em que jogávamos às cartas até à hora em que o sol, depois do seu pôr, deixava no horizonte uma auréola rosácea a indicar onde se ocultava.
A terceira quinta-feira de cada mês era dia de mercado. Nas tendas vendiam-se sapatos, pentes, fazendas, canivetes, alfaias agrícolas, espelhos redondos com emblemas de clubes de futebol por trás e molduras com a senhora de Fátima e os três pastorinhos. Um negociante comprava a dois contos o quilo de lenticão, fungo do centeio, pequenos cornos cujos alcalóides faziam, sei-o hoje, as delícias dos farmacologistas e a fortuna da indústria farmacêutica que os convertia em remédios para variadas moléstias enquanto, ao lado, um negociante comprava lã com a arroba a valer dezasseis quilos, um era para a merma. Por cima dos barrocos, em precário equilíbrio, barris de vinho esvaziavam-se ao ritmo dos negócios e da sede a caminho de estômagos vazios ou com fritos à espera.
Os solípedes valiam mais na altura das colheitas e desvalorizavam no inverno por via da escassez dos fenos. Os porcos começavam a comprar-se na Primavera para criação e no Outono para engorda. Os borregos e os cabritos tinham a sua época. As vacas e os vitelos valiam uma fortuna mas custavam a criar. Às galinhas pedia-se um certificado de que não tinham moléstia, certificado que logo era passado por palavras de quem vendia, e que valia o mesmo do que isentava da peste o porco que se comprava para criar. Entre as dez da manhã e as cinco da tarde fazia negócio quem podia, depois era levantar a quitanda, o que tinha a dar já fora, toca a arrumar a tenda e ala que se faz tarde, era milagre não haver três ou quatro furos aos cem quilómetros nos carros ligeiros e camionetas.
Era então que os garotos competiam para se dependurarem na escada fixa que conduzia ao tejadilho da Vencedora, camioneta sem janelas que misturava mercadorias e feirantes no interior, e regressavam a correr para apanhar outra camioneta para, dependurados nos taipais, voltarem a fazer a viagem do Espadanal até à vinha do Panelo e tentar ainda outra, numa competição por distância percorrida, puxados pelos motores que se queixavam do piso, do peso e da subida.
Os automóveis estacionavam sempre a descer, desconfiados os condutores da eficácia da manivela para despertar o ímpeto que os motores de arranque haviam de tornar uma brincadeira ao alcance de um leve toque na chave de ignição. Mas os automóveis eram raros e só consentiam um único garoto no pára-choques traseiro pois havia apenas o manípulo da mala para manter o equilíbrio durante os solavancos. As carroças, que os machos tiravam lestos, eram difíceis de ultrapassar pelos veículos motorizados mas deixavam indiferentes a pequenada.
O mercado era o frenesim mensal, a romaria laica, o destino de quem precisava de vender e de quem podia comprar, o ponto de encontro de produtos, afectos e suor, o lugar de partida de um negócio auspicioso ou de chegada para uma pneumonia de mau prognóstico. Nem a chuva nem o sol venciam o mercado que todos os meses se repetia.
Quinta-feira, 25 de Agosto de 2011
O dia do mercado era um dia muito especial se nos calhava a sorte de irmos lá e, às vezes tinha que ser por mor das botas que só nós podíamos experimentar. Aparelhava-se a burra com albarda limpa e tapete de farrapos guardado para a ocasião, mais o alforge novo onde, dum lado se colocava a quarta de feijão manteiga e do outro meia dúzia de queijos curados, mais os cornachos apanhados pela garotada e mais o peguilho que o pão nesse dia havia de ser o pão de quartos da Miuzela acompanhado de vinho da mesma traçado com gasosa. Com sorte, nesse dia o pai não levava nem vitelo, nem vaca, nem cabra para vender o que dava todo o tempo para mirar o espectáculo das barracas, arregalar os olhos e passear desejos que as vendas da mãe eram mais rápidas que o negócio do gado, feito de avanços e recuos, de (desa)apreciações dos animais, de juras, de rachadelas de preços e de alboroques tudo num ritual de palavras e gestos que ultrapassava toda a minha paciência de garoto. Era assim na década de sessenta. Depois veio a emigração e os francos convertidos em escudos e os portugueses - lavradores, pastores, jornaleiros - a que agora chamavam de " os franceses" que neste " querido mês de Agosto" invadiam o mercado da Miuzela e o de Alfaiates para gáudio dos feirantes que vendiam tudo sem regatear. E para descanso dos burros substituídos pelas voaturas.
Morreram os homens que vendiam o gado e as mulheres que vendiam o queijo mas os filhos deles continuam a ir ao mercado. Diferente e igual. Vende-se quase de tudo: tendeiros de roupa e de calçado, cortes de pano para fatos, uma barraca de oiro duvidoso, cresce o plástico e diminui a lata, sem chapéus de feltro mas com chapéus de palha, ferramentas agrícolas, bordões de caminheiros em vez das mulatas e ... antigudades dum tempo que já foi nosso- candeias e candeeiros de petróleo, pratos a que gatos asseguraram continuidade, alquitarras, ferros de engomar camisas domingueiras, lavatórios de bacia e balde, pexichés ...
E no linguajar das gentes a mistura de línguas, sendo difícil apurar se dominava o português ou o francês ou a mistura das duas. E também aqui o português antigo:
- Atão, passandes lá à nossa porta e no vandes lá a casa, porquê?
- Atão, vós tamém no indes à nossa...
Quarta-feira, 24 de Agosto de 2011
Comprada ontem a farinha de trigo em Fuentes, atalhámos muito no processo que vai da sementeira até ao pão ir para a mesa. Mas se nunca fabricou pão não fique seguro que esta é uma parte fácil, sem engenho e arte. Não fosse o supervisionamento da minha sogra e não teria chegado ao mais essencial alimento do homem na terra - o pão, este com fermento e com sal.
Em jeito de ementa:
Amorne uma panela de água. Desfaça 85g de fermento em um pequeno tacho. Numa masseira ( à falta desta use um alguidar suficientemente grande) e coloque nela 5 kg de farinha, tendo já reservado 0,5kg. Faça uma poça no meio e coloque a água onde desfez o fermento e comece a amassar acrescentando o sal ( não abuse) e misturando àgua até obter uma massa homogénea branda mas consistente. Faça uma Cruz na massa.
E mesmo que não seja cristão de missa dominical, reze porque é preciso o pau da barca e a fé:
S. Vicente te acrescente,
S. Mamede te levede,
E todas as almas santas,
Te ponham a sua virtude.
S. João te faça pão,
Com a graça de Deuse daVirgem Maria.
Cresça o pão no forno
E o bem pelo mundo todo.
Nós a comer e ele a crescer
Não há mal que não possamos vencer.
Tape a massa com um pano( se ainda os tiver de estopa ou linho, use) e pode abafar com uma mantinha. Deixe ficar a fintar por cerca de duas horas. Enquanto leveda amassa, prepare o forno.
Usarà lenha miúda, seca: giestas e toradas da mesma, vides secas, ou outra espécimes. O forno terá de ficar bem quente por todo devendo com um pau "ranhá-lo" para que o chão do forno fique quente. Aunei o forno estiver branco está pronto. Terá de retirar as brasas e cinza ficando completamente limpo. Terá de verificar que a massa cresceu ( se a técnica foi correcta e a oração bem feita) e observará uma espécie de côdea. É altura de tender ( fazer os pães) que colocará num tabuleiro, ficando prontos para ir ao forno. Com a pá meta um a um aproveitando todo o espaço. Feche o forno. Aguarde cerca de 40 minutos e observe a cor, podendo pelo toque ( seco) saber se tem cozedura suficiente. Comecei às oito horas, e já foi á mesa ao almoço que começo com uma bola de chouriço. Estava divinal. A partir de agora serà mais difícil comer o pão que o diabo amassou.
Domingo, 21 de Agosto de 2011
A 3 de Setembro próximo a descendência desta anciã que viveu vinte e três anos na Monarquia e 72 anos na República vai reunir em restaurante próximo da Vila para convívio intergeracional da tribo.
A anciã na foto é Isabel Maria da Silva, casada com Luís Leonardo. O casal nada mais possuía que o saber do ofício de latoaria. Num tempo em que o plástico não existia e o concorrente era apenas o barro, a lata era raínha e abasteciam a vila e a região de todo o vasilhame necessário: Baldes de regar, latas,caldeiras e caldeiros, regadores, acinchos e francelas, enchedeiras, enxofradores, ogadores, candeias e lanternas, almotolias e jarras, copos de tamanhos standardizados segundo as medidas legais e outros objectos que queiram acrescentar. Das suas mãos saía todo um mundo. Não sabendo ler era uma pessoa culta e que apreciava a cultura. E o resultado está à vista: colocam os dois filhos a estudar e na geração seguinte todos estudam.
O exemplar que tem ao colo - a Ana Sofia, uma das bisnetas mais velhas - é uma ilustre socióloga.