II-No funeral da sogra do meu amigo...
Sou também inversado frequentador de enterramentos, não daqueles que têm origem em tragédias ou levaram cedo de mais para o Além pais de menores ou cidadãos cujo desaparecimento a Comunidade vai sentir por fas ou nefas.
Mas quando um cidadão dá a alma ao Criador depois de ter passado bem pela vida e se fina como um passarinho ao fim de bem cantado dia, o convívio é de arromba.
Juntam-se amigos esparsos um pouco por todo o mundo. Ouvem-se relatos de cenas quase inimagináveis. E concluída a funçanata, ainda há margem para uma banqueteação de culto à gastronomia da zona.
Enfim, a bonomia, quando nos assiste, dá direito a tudo. Desta vez, todavia, o cenário era diferente.
É que tudo o que dava corpo ao acto, salvo o cadáver da defunta era espanhol:
Espanhol, o padre oficiante; Espanhol, o sacristão – e que bem que ele entoava os salmos do dies irae; Espanhol, o coveiro; Espanhol o agente funerário.
E eu dei comigo a pensar no tempo em que nós enchíamos os seminários do Continente e municiávamos os de Angra do Heroísmo e Macau, com levitas que se espalhavam até pelos mais recônditos lugares de todo o nosso vasto mundo ao serviço da FÉ.
E em que as irmandades das Benditas Almas, existentes em todas as paróquias, destacavam andantes, mordomos e pregoeiros, empunhando umas grossas velas de cera e outros estandartes e insígnias , mas todos envergando distintivas opas. E em que as mesmas irmandades, mal anunciado o decesso faziam tanger os sinos e abrir a cova.
Algumas, com ou sem o contributo das famílias enlutadas, mandavam cozer fartos moios de pão ou até panelões de arroz de bacalhau – a carne era interdita – e tudo para oferecer aos participantes na cerimónia.
O que dava lugar até a ditos jocosos como este.
Vale mais ir a um enterro do que a um casamento
Neste só se come badana e naquele bacalhau
No enterro não se dá prenda
E o espectáculo é mais completo, porque no casamento não se vê enterrar
Mas o que mais me entristeceu neste funeral foi constatar que, aqui na Raia, que foi viveiro de sacerdotes e deconfraraias das Almas já nem sequer detemos meios para uma cerimónia fúnebre
Porque vai chegando o tempo de andar mais devagar, resolvi (em vez de meter na A25 em Vilar Formoso a Caminho de Gaia) sair pelas Portas, passar a Ponte da Guarda, subir os Galhardos, descer ao Belo Luís, arribar a Badamalos, descer ao Côa e subir as barreiras da Miuzela. E, aí, tive de parar para dar passagem a um enorme rebanho de ovelhas, quinhentas disse-me o pastor.
Hoje, relendo Torga encontro o poema inspirado nesta temática, em altura em que o autor dava lugar ao seu hobby preferido- a caça:
«Miuzela, 7 de Novembro de 1971
Manhã
Largo sorriso da terra
A festejar o sol nado;
Um arado
Aguça a ponta de ferro
Na luz macia,
Antes de começar o dia
De trabalho;
Por um atalho,
Vestido de lã churra,
Rola um rebanho, à frente
Do pastor paciente
Que o empurra»
I - A lenha espanhola
Talvez por uma forte mistura de sangue judaico com algumas influências egipcianas, tenho em alto grau o culto das relações de parentesco, muito para além daquilo que o Código Civil considera relevante.
De resto, os nossos legisladores têm-se ferozmente encarniçado em sucessivas alterações legislativas a que pomposamente chamam reformas, contra as relações de consanguinidade. No momento presente, o último grau com alguma relevância é o de primo direito que, para quem ande um pouco arredado destas coisas, informarei que é nosso colateral em quarto grau.
E passo a explicar porquê.
Na linha colateral, os graus contam-se subindo primeiro até ao tronco comum e depois descendo. Assim, os irmãos são parentes em segundo grau, pois vai-se até o pai, tronco comum e, depois, desce-se. Um tio é parente em terceiro grau porque o tronco comum é o nosso avô, que é pai do tio. Ora, eu, nas minhas deambulaçoes vou até parentes em grau enésimo e tenho a sorte de ser magnificamente recebido.
É isto que me dá matéria para a presente croniqueta
De uma maneira geral, os meus parentes que moram e demoram na Raia Transcudana – ou Ciscudana – segundo o ponto de onde se parte – são proprietários de bons canchais – para os que ignorem estas reminiscências de falar charro, por contraposição a falar grabe – canchais são campos ricos em lenhosas aborígenes – carvalhos robles, freixos, giestas, até carrascos...
Pois nas cozinhas de todos encontro boas rimas de carrasco, mas carrasco vindo de Espanha, cortado à medida e ali descarregado por espanhóis, de tractores, se logo na primeira linha de fronteira, ou camionetas, se mais distantes.
Bom patriota, insurjo-me contra a invasão.
- Então, a lenha a cobrir as tapadas, lameiros e veigas, e vós a empobrecerdes o erário público?
- Pois é! Mas se mandar cortar um dos meus carvalhos ou desbastar-lhe as pernadas, fica-me quatro vezes mais caro.
O mesmo sucede com as giestas, substituídas na incandescência por acendalhas
Sete magníficos rapazes: Zé Seixas e Tó Zé Bárbara - à frente
Quim Bárbara, Victor, Zé Adelino no meio)
Cristóvão Monteiro e João Seixas (atrás)
De que ano é a fotografia?
A pedido de uma eugénia do ano de 1953, aqui vão os nados desse ano. Entre eles estarão muitos nados-mortos.
Fruto dos avanços na saúde a corte celestial dos anjos deve estar muito diminuída.
António Fonseca Duarte | Duarte, Artur | Ninfa, Ermelinda da Fonseca | 1953 |
António José Martins Esteves | Martins, António Joaquim | Esteves, Maria de Lurdes | 1953 |
António José Seixas Badana | Badana, Manuel Joaquim | Sexas, Maria Dias | 1953 |
António Tendeiro Afonso | Esteves, António | Tendeiro, Maria Araújo | 1953 |
Anunciação Rasteiro Dias | Dias, Manuel Marques | Fernandes, Maria Rasteiro | 1953 |
Conceição Rasteiro da Cruz | Cruz, José Cunha da | Matilde Rasteiro | 1953 |
Fernando Bárbara Cunha | Cunha, Francisco Cerdeira | Bárbara, Justina | 1953 |
Fernando Silva Proença | Cerdeira, António Proença | Martins, Filomena | 1953 |
Filomena dos Santos | Santos, José dos | Proença, Elvira | 1953 |
Francisco Lopes Valente | Valente, José Joaquim | Lopes, Prudência | 1953 |
Ilda dos Santos Leal | Fernandes, Francisco Leal | Brigas, Maria de Lurdes | 1953 |
Isabel da Cruz Franco | Franco, Lourenço Pereira | B., Justina da Cruz | 1953 |
Joaquim António Gonçalo Robalo | Robalo, José Augusto | Lavajo, Amélia Gonçalves | 1953 |
José Bernardo Serrano | Serrano, Joaquim Augusto | Afonso, Maria Cândida | 1953 |
José Marcos Fernandes | Fernandes, António Lopes | Marcos, Maria Monteiro | 1953 |
Leonor Soares Cunha | Cunha, António Martins | Soares, Olímpia | 1953 |
Manuel André Lavajo | Lavajo, José Cunha | André, Maria dos Anjos | 1953 |
Manuel dos Santos Cerdeira | Cerdeira, António | Santos, Maria da Luz dos | 1953 |
Manuel Jarmela Fernandes | Fernandes, César Lourenço | Lourenço, Maria Isabel | 1953 |
Manuel Lourenço Rasteiro | Rasteiro, Francisco António | Lourenço, Isabel | 1953 |
Maria dos Anjos Costa Rasteira | Rasteiro, Manuel Fernandes | Costa, Dulce | 1953 |
Maria Teresa Cunha | xxxxxxxxxxxxxxxxx | Cunha, Hermínia | 1953 |
Olívia da Assunção Leonardo Dias | Gonçalves, José Dias | Leonardo, Lúcia Silva | 1953 |
. Porque é que as burras nã...
. A Vila é um Presépio o te...
. Requiescat in pace, Júlio...
. Requiescat in pace, Quinh...
. Famílias da Vila - Osório...
. Rua Direita, quem te troc...
. Requiescat in Pace, José ...
. badameco
. badameco
. o encanto da filosofia
. Blogs da raia
. Tinkaboutdoit
. Navalha
. Navalha
. Badamalos - http://badamalos.blogs.sapo.pt/
. participe, leia, divulgue, opine