Natal
Por não chegar a tempo é que Maria
Assim cantou um vate já arcano
Não deu á luz o filho que trazia
Aqui no nosso sabugal raiano
Se o tempo precedente ao santo dia
Em que um deus por nos se fez humano
Tardasse mais mês e chegaria
Para ser o milagre lusitano
Aqui no Ribacoa acastelado
Presépio de contorno inimitado
No orbe eu não sei de outro melhor
Diria á virgem santa São José
Procurar outro berço para quê...
Será novo Belém Vilar Maior
A todos aqueles para quem este blog constituiu um ponto de encontro, que estejam por terras de Portugal ou da Europa ou de qualquer continente, votos de que se cumpram os sonhos que acalentam e de que novos sonhos nasçam. E que o calor do "Toco" que este ano é ainda maior seja também o símbolo do amor que une os vilarmaiorenses
Hossana
Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro …
Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza
Miguel Torga
Durante muitos anos, assim como uma espécie de eternidade, a vida não mudou. Só muito tarde, quando o meu pádrinho e depois a minha avó materna morreram, é que para mim se tornou inquestionável a conclusão do argumento aristotélica: " Todo o homem é mortal". Até então, morriam crianças, logo promovidas a anjinhos da corte celestial, morria alguém no Cimo da Vila ou no Canto, ou tocavam os sinos a sinal, ou da Irmandade da Misericórdia saíam bandeiras com imagens do outro mundo, mas a morte era uma coisa dos outros, não da família, não dos vizinhos. Na praça durante muitos anos ninguém morreu. Eu nasci lá, cresci sem dar por isso e tudo era sempre igual mesmo as pessoas que por lá passavam eram sempre as mesmas, a menos que ( o que acontecia com alguma frequência) triteiros, caldeireiros, capadores, compradores de peles e outros, por aqui passassem a tratar das suas vidas,tratando da vida dos outros. As casas, sempre iguais, ladeavam a praça onde desaguavam as pessoas e os gados que eu do nosso balcão ( nosso era a palavra da nossa identidade familiar que incluía os familiares e toda a propriedade quer se tratasse da burra, do carro das vacas, ou da Horta da Ribeira) conhecia na perfeição: o tilintar dos chocalhos das ovelhas e das guisas das cabras, a identidade de quase todos os burros e vacas nas suas feições e jeitos. Era um mundo que se repetia todos os dias, todos os meses, todos os anos. E nas casas habitavam as pessoas como se desde o princípio do mundo assim fosse. E assim era porque o mundo tinha começado quando comecei a vê-lo. Ao Cimo da Praça vivia o ti Xico Henriques e a Ti Júlia e, mais tarde o Zé da Ruvina e a Amélia; no correr das casas térreas ( que as casa que ladeavam a Praça eram de escada e balcão como convinha à nobreza do lugar) do Forno onde o povo cozia o pão, vivia uma família que tomou o nome do ofício - Forneiro - e que mais tarde demandariam Lisboa; a seguir confinando as Portas vivia a ti Isabel Periquito ( que me perdoem as alcunhas mas também fazem a nossa identidade ao ponto de como é o caso serem a forma de sabermos de quem falamos - e é caso para dizer que quem nunca as usou atire a primeira pedra. E alcunha, quem a não tem? Como verão também não lhe escapo.) Em frente a este correr de casas temos o senhor Aníbal e a senhora Aninha que tinham o comércio e a taberna acessados pelo Cimento - esse altar profano ou palco, ou tribuna, ou plataforma onde os acontecimentos se tornavam notícia e passavam a ser verdadeiramente reais. Seguia-se a Ti Isabel do Alípio e filha a Maria Pelada - a mãe padeira e a filha uma autêntica amazona Se em vez de mula montasse uma égua; depois, quiçá, na mais antiga casa da Praça a Ti Zabel Afonso ( onde minha mãe me mandava pedir a malga do fermento para fintar o pão) vestida de preto, lenço na cabeça e olhar de humildade pregado ao chão como se a cruz não fosse do seu homem, o ti Zé da Cruz. Na mesma construção, em casa geminada o ti Mergilgo ( simplificações antroponómicas) lavrador e a tia Anunciação Polónia. A Botica das poçôes de outrora passara a local de guarda de instrumentos e produtos agrícolas; confinavam no correr a Dona ( e um título fazia toda a diferença na vida) Vangelina e sua filha D. Maria( a quem devo favores de enfermagem); seguia-se o Senhor João da Cruz - polícia de profissão na cidade da Guarda mas que conheci apenas como reformado - e a senhora Patrocínia Magalhães. Seguia-se uma casa - com uma varanda tradicional - desabitada e onde em dias de chuva, a garotada se abrigava a jogar o " ó ladrão marcha cão " - propriedade do sr Manuel Esperança que seguindo a tradição familiar se estabeleceu comercialmente em Lisboa; já fora da praça e ladeando o largo do Pelourinho, mas bem visível do nosso balção vivia o inconfundível senhor António Lucrécio e sua mulher Mercês ; bem ao lado com escadaria de serventia comum vivia a ti Filomena Rasteira , a ti Mouca tal era o considerável grau de surdez. Ao fundo da Praça era a nossa casa, o nosso balcão de onde eu aprendi a ver o mundo. No ano em que eu nasci - o ano em que começou o mundo como o estou a ver - o senhor Tenente inaugurou o Chafariz que foi construído no quintal da nossa casa. Ora, do nosso balcão eu via todas as mulheres e todas as raparigas que vinham buscar a água para todos os fins a que se destina. E, claro, muitas coisas vinham agarradas ao "ir ao chafariz" como, por exemplo, a namoradeira que gasta mais àgua do que precisa para ter um pretexto. Mas o chafariz merece uma história completa. Aqui na nossa casa viviam os meus pais , o ti João Marques - lavrador, cujo assobio resultava tanto na comunicação com os animais como o fiat do Criador - e a ti Graça, por linhagem de quem nos alcunhavam de Carrachos ( eu sei, mãe, que também não ias gostar de ler esta parte mas é só por causa dos outros não levarem a mal). Ao nosso lado, viviam o ti Zé Badana que aliviava o peso da profissão de pedreiro com o seu quê de zombeteiro e cuja alta estatura contrastava com a da ti Filomena. Do outro lado, no início da Quelha, em casa térrea, vivia o ti Augusto Balão orientando os rituais da cozedura do pão que trabalhar mesmo a sério era com a mulher, a ti Beatriz. Mais uma vez a profissão gera o apelido - ou alcunha - à descendência - Tonho do Forno, Ana do Forno, Zé do Forno. Segue-se a Senhora Glória, viúva de Guarda Fiscal a caminho do Vale da Lapa onde a cultura do linho a obrigava; o senhor Raúl - um pouco agricultor, um pouco sapateiro, um pouco habilidoso, um pouco emigrante - e a D. Zézinha, sua esposa, que exercia o cargo de Regente (professora primária sem curso, para o que era necessário boas informações, influências, jeitos ou favores) na Vila e na Arrifana do Coa. Depois era a casa do meu padrinho João Seixas, polícia e da minha madrinha Assunção que levavam a sério a função de padrinhos. Do nosso balcão não via, mas nas costas da casa do meu padrinho vivia o senhor Zé Franco - a quem meu pai pagava em alqueires de centeio os cortes de cabelo dos filhos - e a senhora Celestinha que passava o tempo todo a fazer renda. Ladeando a praça a Norte estava a propriedade de senhor professor Pinheiro com a casa, o mirante sobre a Praça e coberto de glicínias e um alto muro resguardando o quintal, para onde, apesar do medo e respeito pelo proprietário, a rapaziada não conseguia evitar, que um pontapé mais forte e mal direccionado, lá enfiasse a bola. Não contei. Talvez me tenha escapado alguém. Depois que conheci a morte não pararam de partir. Agora as casas estão fechadas. Quase todas. E o mundo que começou comigo só existe porque o lembro.
Diz o poeta
Quando a preguiça morrer
Até o monte maninho
Até as penhas da serra
Darão rosas, pão e vinho
Andava eu pela instrução primária que frequentei na cidade da Guarda, por nas Batocas, a cuja guarnição fiscal meu pai se achava adstrito, não haver escola e os postos de ensino ainda não terem sido criados, quando ouvi dizer a um engenheiro inglês, amigo e companheiro de farras de meu tio Augusto, que nós portugueses éramos tão ricos como brutos, pois que atirávamos ás cabras com notas de conto. Pouco tempo depois estalava a Segunda Grande Guerra e todos começámos a andar à cata de tais pedras. Foi o tempo do volfrâmio, em que o País da Pedras Pretas foi literalmemnte varrido delas, que, ou pelos canais aduaneiros da exportação legal ou pelas vias sinuosas do contrabando e descaminho de direitos, voaram directamente para a nossa velha aliada Inglaterra ou, passando primeiro pela nossa vizinha Espanha, se esgueiravam para a Alemanha, transformando-se num caso e noutro em meios de destruição...
O casal CURIE, declarando a autonite e a tobernite, os metais básicos para a energia atómica passou-nos um novo certificado de país potencialmente rico. Mas, neste caso, não se passou ainda da potência a acto. E os jazigos jazem ainda na jazida do fiat ou foram pouco mais que iniciados por empresa pública ou parapública.
Mas os pequenos vales que levam ao Pereiro feudatário do Coa pelo Cesarão, que divide os limites da Bismula e Vilar Maior, estão repletos daqueles filões. Espontaneamente outras fontes de riqueza, andam por aí. Em pequenas amostras, como o lenticão mais tecnicamente conhecidos por cravagem de centeio, os cornachos na linguagem popular.
Em grande plétora, como as amoras de silva, sempre em crescendo pelo também sempre crescente abandono dos agros. Com cada vez maior procura, como as variedades das saprófitas...Até há pouco, apenas procuradas por mateiros e pastores. Ultimamemte na moda até de sécias e peraltas, que fazem semanas de estudos, cursos de iniciação e aproveitamento, concursos gastronómicos, até...
A grande inovação dos ultimos tempos consiste, todavia no aproveitamento indiscriminado de todas as espécies, incluindo as mais venenosas que vão para a farmacologia ou outras indústrias químicas, mas de Espanha.
As mais valias serão assim para nuestros hermanos, que também já nos limparam as rochas decorativas.
A Câmara Municipal de Idanha-a Nova, concelho que é um dos mais extensos do País, vem sendo um magnífico exemplo da mais excelente gestão autárquica.
Uma sucessiva pleiade de presidentes que começou com o Marquês da Graciosa, o agrónomo Fernando Afonso de Melo Geraldes Sampaio Pereira de Figueiredo e atingiu o zénite com Joaquiam Mourão, que está a repetir em Castelo Branco os êxitos que conseguiu na sua Idanha natal tem rubricado uma obra que enche de alegria e entusiasno não só os egitanienses de berço e genealogia mas todos os que se habituaram a vibrar com os tons da Campanha e os sons do adufe, que tantas vezes me encheram de contentamento no cabeço de Monsanto e nas veigas do Almurtão.
Ora, Adufe é exactamente o título de uma publicação que se impõe tanto pela seriedade, pertinência e nível do conteúdo, como pela beleza da mancha gráfica.
Por ela, venho seguindo o palpitar do concelho de que guardo gratíssimas recordações -- das recepções fidalgas dos Condes da Ponte, com quem privei no Vale Feitoso - e da
Covilhã, o cabouqueiro de Monfortinho - ou dos saraus poéticos da Senhora Maria do Carmo, deficiente motora plena de energia e talento, que, enquanto viva manteve uma notável tertúlia de lírica popular em Penha Garcia - ou das lições da mais lídima etnografia, de Sales Viana, o responsável pela pura portugalidade que que deu a Monsanto o galo de prato, e de Melo Lapa, sumo pontífice da gastronomia da zona.
É efectivamemte com avidez e incomensurável prazer de espírito que folheio e refolheio os números que me chegam.
O último trouxe-me uma redobrada causa de alegria.
Pela referência a um agrónomo nascido e criado em Vilar Maior, a cuja família me prendem particulares laços de amizade e deferências e cuja carreira venho acompanhando.
Trata-se de Júlio Cardoso, filho cadete de José Pedro das Neves Cardoso e sua falecida esposa, dona Bárbara Valente, em casa dos pais de quem dezenas de vezes me regalei com os mimos da sua bem provida agropecuária.
Pois o agrónomo Júlio Cardoso soube impor-se como criador de Porcos Pata Preta, na herdade que dirige e explora nos limites de Oledo, ridente paróquia da Campina.
A excelência dos animais torna-os apetecíveis não só no mercado nacional, mas também na Espanha, para onde exporta. E esta operação comercial não pode deixar de ser louvada, num tempo em que, como vimos lamentando, a nossa economia em quase tudo se vem revelando deficitária
Neste cumprimento, quero ainda envolver a família Pessanha ou Passanha, como preferem escrever alguns genealogistas – família que teve solar em Vilar Maior e radica no almirante Manuel Pessanha, genovês muito sabedor das coisas do mar, razão pela qual Dom Afonso IV o trouxe para Portugal
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