Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2012

Vilar Maior no Séc. XX

Pelo comércio do senhor António Gata , personagem ilustre, passava muito do que era a vida de Vilar Maior. Com tempo saberemos mais. Eis um documento interessante, uma Carta Comercial:

Vilar Maior, 3 de Junho de 1922

Exmº Senhor Santos Pinto e Cª, Ldª

De posse do seu estimado memorando de 29 e amostras darrozes e assucares e preços de bacalhaus, que muito lhe agradeço.

Abaixo dou nota dos artigos que desejo a fim de mandar despachar para a estação da Cerdeira.

Arroz não devem mandar em sacos pequenos como alguns que vieram ultimamente.

Assucar  deve vir bem acondicionado.

Bacalhau espero me sirvam bem, para poder continuar a dar-lhe as minhas encomendas.

Pagamento faço daqui semanapelo correio a 30 dias, é favor caso me esqueça avisar em postal, fazendo o desconto como o que me faz Vasconcelos M. Filho e outros.

Despede-se de V. Exª com estima e consideração

António Gata

Nota de encomenda:

2 sacos de arroz Saigão

2 sacos de arroz Java

30Kg de assucar extra

30Kg de assucar B. Branco

60 kg de assucar (?)

30 Kg bacalhau R.P. fino

30 Kg de bacalhau geral

Vilar Maior 3-6-1922

António Gata

publicado por julmar às 23:13
link | comentar | favorito
Sábado, 11 de Fevereiro de 2012

Tempo de preparar a terra

Na "minha " quinta, a Quinta de Santo Tusso ainda se faz tudo de maneira tradicional e sem uso de agentes agressivos para o solo. Parte da terra já foi lavrada e espalhado o estrume que a há-de tornar mais produtiva.
publicado por julmar às 21:50
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012

Um Poema que bem se pode aolicar a Vilar Maior - Dr Leal Freire

No povo velho da vila ninguém sabe

Quando é que a vila começou.

Nem entre  os velhos nem  entre os meninos

 

Mas todos sabem que antes de todos

Quase antes de sempre  já havia vila

E quando todos fecharem os olhos

A vila continuará como se nada acontecesse

Como se eles nada fossem no seu viver

 

Sabem que ao aloi fica o seu castelo

Tão velho como a corda do relógio

Que nunca deu as horas certas

Tão velho que todos dizem que vem dos  mouros

E  não do rei que foi seu fundador

 

Agora de que lhes serve o castelo

Se não há moiros para matar

E para que lhes serve o relógio

Se sempre trabalharam ao compasso do Sol

 

Sabem que tem uma igreja  imponente

E  um pelourinho que não prende criminosos

 

Só não sabem quando é que a vila foi vila

Quando o castelo foi erguido

Quando o pelourinho teve  o calor do medo humano

Mas sabem

Que o resto é  a  sua vida

Que o resto são os seus trabalhos

Desde que o sol nasce  até vir a noite

publicado por julmar às 15:03
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Sexta-feira, 3 de Fevereiro de 2012

A RUA DE BAIXO

As casas desenham as ruas que desembocam em outras ruas, largos, praças ou terreiros. A viagem de hoje começa aqui no Terreiro da Misericórdia e termina no largo do Pelourinho. A Rua de Baixo surgiu depois da Rua de Cima e, assim, teve nome até chegar a modernidade que mandou que se pusessem placas com o nome das ruas, não por causa dos que moram na vila, nem por causa dos forasteiros que aqui vêm tratar da sua vida tratando da vida dos outros, mas por causa do carteiro que é de fora. A Joaquina Santa, primeira carteira, não precisava nem de nomes de ruas nem de número de porta. Quando rebaptizaram as ruas, a rua de Baixo passou a ser Rua da Misericórdia, não porque os seus moradores superassem os outros em compaixão, clemência ou piedade nem por memória de algum personagem ou acto especialmente digno de nota, nem porque aqui tenha tido lugar o Sermão da Montanha mas porque aqui movido por tão dignas virtude alguém mandou que se edificasse a Igreja da Misericórdia. Bem que até lhe poderiam chamar a rua da Ira de Deus, sem cair em blasfémia, pois, na Bíblia é referida com frequência. A Rua de Baixo é uma rua urbana, calçada de uma pedra que tem mais quartzo do que feldspato e mica, de forma irregular, sonora no pisar das gentes calçadas de tamancos cardados, nos rodados dos carros de vacas cravejados em ferro e nas ferraduras de vacas e solípedes. A vida moldada em matérias extremas: ferro e fogo ... e pedra. Terra de pedreiros e ferreiros. Até o senhor Reitor, mandava que, aos sapatos de sola, o sapateiro colocasse os devidos protectores. A Rua de Baixo era sombria por mor das casas altas da Rua de Cima e que até à Casa da Ti Filomena Moleira dava acesso ao piso inferior reservado às lojas do vivo e guarda das alfaias e produtos agrícolas. A passagem da habitação das pessoas ao piso inferior fazia-se, normalmente, pelo alçapão que mais não era que uma semi-porta no chão que dava acesso a uma escada rudimentar. Do outro lado, começamos junto do Terreiro da Misericórdia com uma casa térrea onde, com os meus seis anos me comecei a familiarizar com algumas tragédias, e com a maior delas - a morte. Nesta casa, vi pela primeira vez um homem morto, que sei hoje chamar-se António Seixas Valente, filho de Bernardo Seixas e de Maria Valente. Corria o ano de 1957 quando a morte o ceifou com a idade de 23 anos. Em acidente, ( penso que com foguetes) havia perdido uma mão. Lembro a caldeirinha da água benta e das pessoas que ao chegarem o aspergiam com hissope feito de um ramo de oliveira, se benziam e se juntavam ao coro de velhas vestidas de preto - para mim todas as mulheres vestidas de preto eram velhas - repetindo avé Marias sem conta e rematando, com regularidade, com o rogo: - dai-lhe, Senhor, o Eterno descanso, repetindo o coro: - entre os resplendores da luz perpétua. A casa veio a ser adquirida,mais tarde, por Adriano Cruz que, estando de vacanças, com tudo o que um cristão de Vilar Maior precisava para ser feliz - novo, saudável, com francos ( à época todos os emigrantes - os franceses - se julgavam ricos), de fato novo para participar na missa e procissão da festa do Senhor dos Aflitos. À sua porta, que era a porta mais próxima da porta da casa de Deus - a Misericórdia - sentado, na companhia de seu sogro, o ti Aurélio Prata, viam, felizes, os fogueteiros preparar o foguetório, enquanto a Filomena lá dentro refogava o borrego e confeccionava o arroz-doce para o almoço da festa. Terá Deus tido inveja de tanta felicidade? Num segundo, incendeiam-se os foguetes e o corpo do Adriano desfez-se em bocados projectados não se sabe para onde. O telhado da casa ruiu; o refogado e o arroz doce desapareceram; a Filomena, por milagre, viva, aturdida, levou tempo a compor o novo cenário: a casa sem telhado ... sem o seu pai, sem o seu homem... as pessoas falam-lhe mas ela não entende o que se passa. Regressou a França e demorou muitos anos a voltar... para voltar a ir ... para sempre. A casa lá está e os netos do Adriano, uma vez por outra, vindos de França ali pernoitam, vizinhos da Misericórdia. No mesmo terreiro, encostado à casa do Adriano um marco de água onde António Cerdeira, Guarda da República a comandar o posto do Rochoso, que viera à festa, foi encher o cântaro. Poderia ter demorado mais um minuto na conversa com a ti Júlia ou o ti Xico Henriques, poderia não ter falado com eles. Enfim, qualquer coisa que o adiantasse ou atrasasse em relação à sincronia fatal da passagem à frente da porta lateral da Misericórdia no preciso momento da explosão. Ali ficou como estátua ajoelhada a arder, a água a escorrer mansa pelos interstícios da calçada, os cacos no chão. Num ápice a alma do cabo da Guarda Republicana apresentou-se à justiça divina sem tempo de arrependimento ou de extrema unção. Se nem um cabelo nosso se perde sem o consentimento de Deus, terá sido mesmo assim que Ele quis a morte do cabo da Guarda Republicana com esta sincronia e este aparato. Mas os desígnios de Deus são insondáveis. Pois, mas falávamos dos caminhos dos homens e só falámos dos caminhos de Deus por desta maneira se terem cruzado com os caminhos dos homens. Na casa que era de Bernardo Seixas, além do meu primeiro defunto, criou-se o Zé que foi para Lisboa, o Rodolfo que de Lisboa emigrou para a Holanda e a Antónia que por aqui ficou na função de criada da minha querida professora Adélia, de sobrenome Gata Gonçalves. No tempo em que nasci, década de cinquenta, havia criados e criadas. Hoje a Antónia seria uma espécie de assessora, de auxiliar de educação ou, com a modernidade tecnológica, uma técnica operacional de educação. De bom trato e cortesia, como os irmãos, prestava inestimáveis serviços à professora Adélia desde o cuidar da burra que a transportava à escola, à preparação da escalfeta para aquecimento dos pés nos frios dias de Inverno, no apoio mesmo de funções didácticas de tomar conta dos alunos ou de resolver problemas de aritmética mais bicudos. Bem que, se não desse tanto jeito ser criada, e houvesse a influência necessária poderia ter exercido competentemente o cargo de Regente, do mesmo modo que mostrou, durante anos, competência no ministério da celebração da palavra de Deus aos domingos por minga de padres para celebração da missa. Nem sequer lhe faltava o cumprimento do voto de castidade exigido aos padres. O mundo fechado torna fechadas as pessoas que nele vivem. Seguia-se a casa de uma família ( José?) Esperança, famílias que aqui tinham bens mas que se dedicavam ao comércio em Lisboa e também em Coimbra. Por aqui vinham de férias quando calhava à vida deles. Depois da emigração sem rendas para receber e sem criados foram vendendo quase tudo. No caso, a casa foi comprada pela Céu Cerdeira e pelo Carlos de Vale das Éguas, emigrantes reformados, que a restauraram a seu gosto e que a usufruem no tempo que dividem entre França e Portugal. Com a casa do senhor Albino Freire (falecido em 1945), inicia-se uma fila de casas todas de dois pisos, todas rebocadas a cal e pintadas, com janelas algumas de guilhotina, com beirais bem alinhados, que no seu conjunto representam a modernidade da primeira metade do século XX. Aqui era o comércio de Albino Freire que antes fora sediado no Largo do Pelourinho na casa onde viveu o senhor António Lucrécio sobre cuja porta mal se consegue ler ' comércio de Albino Freire'. Passou depois à viúva Aninhas Frias onde a mando de minha mãe ia comprar uma lâmina de barbear 'nacet' para o meu pai ou uma caixa de palitos ( assim se designavam os fósforos) para acender o lume, que dizia a minha mãe é preciso gastar de um e de outro comércio,( sendo que o outro era do senhor Aníbal Gata) porque as obediências eram muitas. Num como no outro se vendia um pouco de tudo e também ao lado se vendiam copos de vinho. E durante algum tempo (1955, 1956?) aqui funcionou o correio que para mim, naquele tempo, era o lugar com o símbolo do homem no cavalo a tocar a corneta, e não o ti Agostinho de Aldeia da Ribeira em cima da mula e com as notícias fechadas a aloquete num saco saco cinzento. A senhora Aninhas Frias, viúva, com o comércio e as rendas de terras criava os filhos: o Manuel que havia de ser padre, um padre urbano dedicado ao estudo e ao ensino no Colégio de S. José, na Guarda. O Carlos provido de alguns estudos ia acompanhando o comércio mas, breve se voltou para a área dos seguros e desde princípio dos anos sessenta, com o seu carocha, tornou um ritual a viagem diária Vilar Maior- Sabugal - Guarda - Vilar Formoso - Vilar Maior, ou o percurso inverso. De trato afável, atencioso, prestável, generoso, fizeram dele um mediador de excelência, tornando-se o maior centro de poder da vila na segunda metade do século XX. Durante a emigração ele era o intermediário de muitos emigrantes no câmbio de francos, no aconselhamento do banco em que se deveria fazer os depósitos, no tratamento de burocracias notariais, finanças, judiciais, na compra de terras, nas obras de restauração da casa, na nomeação de mordomias, na boleia a quem precisava de ir ao Sabugal ou à Guarda, no levantamento do cheque ou da reforma, no jeito que se dá para isto ou para aquilo ... quem não devia um favor ao Carlos Freire? E com o dinheiro a chegar de França mudam os hábitos de consumo e as mulheres dos emigrantes deixam de ir à lenha às Moitas e compram fogões a Gaz para cozinhar e grande parte deles passam pela mediação do Carlos Freire, o mesmo sucedendo anos mais tarde com a chegada da electricidade e a aquisição de frigoríficos. Mas todo o negócio era como que uma extensão da sua extrema sociabilidade feita de conversa misturada com um copo. A última vez que falou comigo foi exactamente: - Então, Júlio, vai um cafézinho? Exerceu durante muitos anos o cargo de Presidente da Junta. O Comércio, onde a professora D. Mariazinha passou muitas horas a vender produtos e dar conselhos, está fechado mas guardando organizadamente muito dos objectos produtos que lá se vendiam. Por baixo do telhado, muito desmaiada conserva-se ainda a pintura feita pelo ti Zé Seixas, que, exímio profissional, fabricava as próprias tintas, em segredo tal que nem aos filhos permitia o conhecimento do segredo. Mais casas de que já não dou aresto se encontram a seguir. Numa delas viveu a ti Elvira Polónia, minha parente da parte paterna cujos laços de parentesco nunca discerni. Mulher que nunca casou e que repartia a sua vida pela participação em todos os actos litúrgicos acrescentados de terços incontáveis e a limpeza da rua porque da sua casa até à horta do Tarém, apanhava todas as bostas e cagalhões que haveriam de alimentar todas as plantas da sua horta que a alimentariam a si. Remata a fila no largo do Pelourinho na casa que é habitada pela Carolina, viúva do Xico Adrião, talvez o mais temível adversário que se podia defrontar no jogo da sueca, fazendo massetes com uma habilidade inigualável. Uma das consequências do movimento migratório para a Europa, da vila quase exclusivamente para França, foi a venda de propriedades pelos ricos e que os emigrantes compravam, à época por preços muito elevados. E, foi assim que esta casa onde terá vivido a Senhora Raquel, ou Arraquel como aqui se dizia, o senhor Martins, o senhor Horácio e depois o padre Narciso de sobrenome, que de nome era o diminutivo de Francisco acrescentado da alcunha que me recuso a escrever em virtude da dignidade do cargo. A vila nunca foi uma paróquia fácil, sobretudo, se o poder religioso não vergava ao poder temporal. Não foi o caso do padre Narciso mas foi o caso do padre Matias aquando da instauração da República, foi o caso do padre Francisco Vaz nos anos setenta. O padre Narciso veio a seguir a um padre que deixou muitas saudades: o padre José Baptista de quem ouvi, vezes sem conta, falar do seu empenho no abastecimento de água vinda do Seixal. Foi a maior obra realizada pelo povo, com o seu trabalho e cujo ícone foi o Chafariz, deslocado para o Buraco, recentemente. Com o padre Narciso cessou a era em que os clérigos se deslocavam de mula pelas terras que pastoreavam. Porém, as vias eram impróprias, a mecânica pouco fiável, a perícia dos condutores medíocre, a potência passara de mulas verdadeiras a poucos cavalos mecânicos. Donde resultava que nas barreiras de Aldeia da Ribeira o padre Narciso com o carro a afrouxar na, subida temeroso de que não subisse, ia, carinhosamente, batendo com a mão no tablier ( como se da mula se tratasse) e incentivando: -Vamos, vamos que tu sobes! Verdade é que subia mesmo. Do outro lado da rua, ficava a casa do senhor Joaquim Ribeiro, irmão do senhor José Ribeiro e da senhora Elvira Cardosa. O sobrenome além de Ribeiro, era também Cardoso e era também Simões. Eram ricos e faziam favores aos pobres. Empréstimos. Trocas desiguais. Tinham afilhados a quem arrendavam terras e jornais a ganhar. O senhor Joaquim Ribeiro era um homem forte de corpo e tomava grande previdência em relação à salvação da alma: temia a Deus e frequentava assiduamente a Igreja. No dia do seu funeral distribui-se pão aos pobres, lembro-me bem. E também algumas moedas de tostão, dois tostões e de cinco tostões. A sua irmã, a senhora Elvira Cardosa, talvez, pelo seu amor a Deus, talvez por uma paixão não correspondida, talvez por alguma paixão impossível, talvez por todas ou porque simplesmente a vida é assim, nunca casou. Sobretudo na Quaresma quando se rezava o terço na Misericórdia, era, em voz sumida a senhora Elvira Cardosa que presidia à reza e ao andar das cruzes- via crucis-, essa odisseia que começava no Pretório de Pilatos e terminava no Calvário, no monte Gólgota. Estação: Jesus é condenado à morte Nós vos adoramos Senhor, e vos bendizemos, porque por vossa Santa Cruz  remistes o mundo.  Sentenciado e não por um tribunal, mas sim por todos e por nossos pecados. Condenado pelos mesmos que vos tinham aclamado pouco antes. E Ele cala… Nós fugimos de ser reprovados. E saltamos imediatamente… Daí-me, Senhor, vos imitar, me unindo a Ti pelo Silêncio quando alguém me faça sofrer ou me condene injustamente. Eu o mereço. Ajudai-me! Pequei Senhor, tem piedade e misericórdia de mim. Pai Nosso Ave Maria e Glória… E para cada estação, uma oração. 2. Estação: Jesus carrega a cruz às costas 3. Estação: Jesus cai pela primeira vez 4. Estação: Jesus encontra a sua Mãe 5. Estação: Simão Cirineu ajuda a Jesus 6. Estação: A Verônica limpa o rosto de Jesus 7. Estação: Jesus cai pela segunda vez 8. Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém 9. Estação: Terceira queda de Jesus 10. Estação: Jesus é despojado de suas vestes 11. Estação: Jesus é pregado na cruz 12. Estação: Jesus morre na cruz 13. Estação: Jesus morto nos braços de sua Mãe 14. Estação: Jesus é enterrado Este era o meu mundo e estas eram as histórias que revivíamos na voz da senhora Elvira Cardosa. Além destas, havia as que a avó Zabel me contava e as que eu recontava com tanto engenho que os rapazes solteiros me pediam para lhas contar e o Manel Valente a quem, imerecidamente, chamavam de tonto a troco das histórias me prometeu um pião de ronca que acabou por ser um vulgar pião de pinho que à primeira chicha que levou abriu em dois, mesmo não sendo o pião das nicas. Porque não é possível viver sem histórias, o povo tinha necessidade da história do calvário e de outras histórias como aquela a que me lembro de assistir e de ter ficado impressionado com a coreografia e representação mas nada lembro sobre a história. E o local escolhido foi o curral do senhor Joaquim Ribeiro. A Rua de Baixo, agora Rua da Misericórdia, já não é o que era. Passam-se horas sem passantes. Nem vacas, nem cabras, nem ovelhas. Mesmo na procissão da festa a rua se enche como se enchia. O ti Zé Vicente já não demanda a Praça com salvas sem conta até desaguar(era mais desaguardentar)na Praça: - Bôs dias, lhe dê Deus! Duas viúvas é o que resta na rua de Baixo.

publicado por julmar às 19:22
link | comentar | ver comentários (3) | favorito
Quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2012

Gastronomia da matança do porco, nalgumas freguesias chamada de matação - Dr Leal Freire

 

A tradição não é o que está morto

Mas o que do passado ainda resta

O corpo e a alma ganham reconforto

Lembrando tempos evos numa festa

 

A hora até podia ser de festa

E o fuso do destino girar torto

Que não ficava sombra de funesta

Naquele dia em que se matava o porco

 

Evoca-se assim a forma que o poeta encontrou para caracterizar aquele dia, que, mais do que simples promessa, era uma solene a afirmação de fartura.

E que, com fartura havia de decorrer, desde o toca-dentes matinal até à provadura das morcelas último acto daquele ritualismo, mas para os velhos frequentadores de matanças tão importante  que, dizia-se, ir a uma matança e não provar a  massa massapa é como ir a Roma e não ver o Papa.

Mas comecemos, então, pelo princípio, que é como quem diz pelo corta-jejuns matinal, desta feita não para matar o bicho

Uma hidra de lerna sempre pronta a botar novas cabeças em buchos mais habituados a parvas do que a enfartadelas—mas para dar ao matachim e pegadores   força e ânimo para o apresamento do animal e o doseamento do golpe mortal que tem de ser bem cronometrado, e  que propicie às mulheres  do clã, especialmente as apuladoras do sangue e lavadeiras das tripas defesa   contra o frio.

Há bebidas para todos— vinho, que quase todos preferem, aguardente para um ou outro mais raçudo, geropiga, mais requisitada pelas damas.

Sobretudo para estas, fizeram-se filhoses e fritas, milharadas doces e fofas.

O pessoal pega melhor nas curtimentas de vinagre—gingas queimosas ou morrones ou cebolas ou tomates verdes, nas azeitonas e no queijo de cabra, no presunto e no chouriço que adregasse de escapar  aos gastos do ano e não fizesse  falta  para enriquecimento do caldo, já a fervilhar  num grande panelão e que há-de abrir  a solenidade do almoço. Ou numa fritada de peixes do Pereiro ou do Cesarão.

.Mas este toca-dentes matinal é breve, pois o tempo urge.

E já todos estão a pensar no soventre frio que abre a guerra entre o estomago dos compinchas e a carne a sair do porco já  a berrar e espernear no banco, rodeado das paveias de centeio que o hão-de chamuscar.

publicado por julmar às 22:47
link | comentar | favorito

Lançamento de livro

Parabens ao autor. Aguardamos poder disfrutar da leitura do «Cancioneiro da Raia Morena» na escrita do nosso conterrâneo e amigo João.

 

publicado por julmar às 15:13
link | comentar | favorito

.Memórias de Vilar Maior, minha terra minha gente

.pesquisar

 

.Maio 2025

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
16
17

18
19
20
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30
31


.posts recentes

. Passeio pela pena do poet...

. Tratado da cegueira

. Requiescat in pace, Beatr...

. 2000 Postagens de Histór...

. Às Mulheres da minha alde...

. Requiescat in pace, Lurde...

. HOJE NÃO HÁ MÉDICO.

. Viagens para a Vila

. Porque é que as burras nã...

. Gente da minha terra

.arquivos

. Maio 2025

. Abril 2025

. Março 2025

. Fevereiro 2025

. Janeiro 2025

. Dezembro 2024

. Novembro 2024

. Outubro 2024

. Setembro 2024

. Agosto 2024

. Julho 2024

. Junho 2024

. Abril 2024

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

. Março 2007

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

. Outubro 2006

. Setembro 2006

. Agosto 2006

.O encanto da filosofia, o badameco

. 2000 Postagens de Histór...

. Que falta faz a filosofi...

. Liber mortuorum

.links

.participar

. participe, leia, divulgue, opine

blogs SAPO

.subscrever feeds