Os blogues - a mais moderna e eficiente forma de comunicar e os antigos jornais do nosso concelho
O homem, porque animal gregário, sente necessidade de comunicar.
Daí o aparecimento dos órgãos de informação.
No território do concelho do Sabugal, que, como se sabe, integra todas as freguesias que pertenceram aos antigos municípios do Sabugal, Alfaiates, Sortelha e Vila do Touro, a maior parte do também extinto de Vilar Maior e ainda uma que foi do Castelo Mendo, houve já inúmeros jornais, mantendo-se ainda hoje alguns.
O primeiro foi a Estrella do Côa, mais cometa do que estrela, porque de efémera existência, ou então a ser estrela seria cadente.
Foi seu proprietário, director e editor Luis José Capello Barreiros, datando do ano de mil e novecentos.
A família Capello terá sido motivada com aquela fugaz iniciativa, pois em 1925, aparece o Sabugal, semanário regionalista, de propriedade, direcção e edição de um outro capelo, José Capelo Martins.
Regionalista, assumia-se como republicano, ao estilo, naturalmente da primeira república que, todavia, já agonizava.
Teve colaboradores de vulto, como foi o caso do padre Alvares de Almeida, que se celebrizou como escritor de nível mundial, sob o cognome de Nuno de Montemor.
De Carlos Marques, que foi geógrafo de mérito e conceituado professor daquela especialidade no liceu da Guarda.
De Joaquim Manuel Correia, imortalizado pelas Memórias do Concelho do Sabugal.
Neste nosso mundo de efemérides, surgiu logo um outro semanário—bairrista e nacionalista—ao estilo tradicionalista.
Foi a Gazeta do Sabugal, que se intitulava orgão dos lavradores do concelho .
Fundou-a e dirigiu-a um grande proprietário rural, possuidor duma extraordinária cultura literária e que foi mesmo um dos grandes doutrinadores do integralismo lusitano.
A nata do escol concelhio, triplamente filtrada—porque regionalista, descentralizadora e nacionalista, segundo o credo do integralismo—acorreu a colaborar.
Casos, entre outros, dos futuros presidentes de camara, o advogado Carlos Frazão e o médico Francisco Manso, do etnógrafo Lopes Dias, do pedagogo Reis Chorão, do político Martins Engracia.
Muito mais tarde aparecem as folhas paroquiais.
O porta voz, mensário criado na Bismula pelo padre Delmar Barreiros.
A Voz do Senhor, da paróquia do Soito.
A Mensagem da Saudade, de Alfaiates.
O Ecos da Aldeia, de Aldeia da Ponte.
O Arraiano, de Vilar Maior, que em 1971 se transformou em Nordeste, integrado numa rede de mensários paroquiais, que cobria meio país.
Apareceram ainda outros, sediados em lisboa.
Como o Terra Fria, o Concelho do Sabugal, o Sabugal que se apresentava como boletim informativo da Casa do Concelho do Sabugal em Lisboa.
Havia ainda jornais que publicavam ou suplementos para o concelho – v g O Amigo da Verdade ou uma página ao concelho dedicada como a que o doutor Jose Diamantino dos Santos manteve no Correio da Beira.
Hoje com os jornais concorrem os blogues
Viúvo, desde a morte da ti Ana Prata há muitos anos, sem filhos, o ti António Rasteiro, para além de todos os Rasteiros e Pratas tem uma enorme família que são todas as pessoas da Vila. O que o tornava, assim uma pessoa tão especial?
Era o vagar, que é uma palavra bem da nossa terra, o dar tempo ao tempo que é no tempo e com tempo que os laços se criam.
Por isso, parava no meio da rua e falava, falava ... E ouvia.
Se o presente não oferecia tema, ia à memória dos tempos outros e desfiava histórias da vida real, suas e do seu interlocutor.
Era a coragem para enfrentar a adversidade, traduzida num "raio" tirado das entranhas capaz de botar por terra toda a a tibieza. Por isso, de menino criado a mando de outros se tornou dono de si, indo à luta.
Era o optimismo contagioso que se sustentava no sucesso das lutas travadas.
Por isso, cumpriu a palavra do Evangelho, multiplicando os talentos que recebera.
Era a crença no poder transformador do trabalho criador de riqueza.
Por isso, foi pastor, lavrador, emigrante.
Era, ao contrário da inveja que corrói e amargura, a admiração pelo sucesso dos outros.
Por isso, tinha tantos amigos.
Era a aceitação da vida como ela é.
Por isso, uma sabedoria assente na experiência e na reflexão.
Era, talvez esse, carácter chão, essa profundeza telúrica, que transparecia no teu olhar e irmanava todas as coisas, todos os homens.
Por isso, talvez por isso, vestias a opa, pegavas na cruz e ias à frente na procissão ou na lanterna a abrir o caminho ... para a eternidade.
Para já vou sentir a tua ausência. Sentirei a falta não do copo do vinho, mas do convite, mão na chave da porta, infinitamente repetido:
- Ó Júlio, vai um copinho?
- Obrigado, ti António. Fica para logo.
A Rua de Cima
Terminava a rua de cima, no seu correr de casas do lado esquerdo com a casa do ti
António Rasteiro, casado com a tia Ana Prata. Só os dois, que filhos não tiveram cuidavam de uma junta de vacas e de uma grande piara de gado até seguir, como quase todos o caminho de França. Depois enviuvou. Para além das terras que tinha comprou a horta da ti Esperança (bela propriedade!) que continua a cultivar com os noventa anos a baterem à porta, a solidão a pesar ... e recordações contadas vezes sem conta como se fosse sempre a primeira vez: 'ah, Júlio se me agarro no tempo de sê pai! Aquilo é que era um homem!' Depois, irrompia pelo Manel que guardava o gado, pela lavra das terras, pelo agadanhar do feno, pelas malhas como se tudo isso fosse uma epopeia que urgisse salvar. Depois havia de recuar até ao tempo da tropa em Lisboa e das boas graças em que caíra nos seus superiores que lhe permitia interceder a favor dos seus conterrâneos, tropas também do ramo da cavalaria.
In, blog Vilarmaior1
Nominum Ratio
O título nomes das coisas sugeriu-me uma pequena abordagem do tema, fazendo uma abreviada peregrinação pelas regras da evolução, tanto filológica como semântica das palavras
Já não há papel na Guarda
Nem tinta pelos conventos
Nem aves que criem penas
Para escrever sentimentos
Precedendo de milhões de milénios os aparos e canetas, mesmo os mais rudimentares que eu e os meus coevos ainda usámos na escola, eram as penas de ave que exerciam aquela função, com elas rabiscavam os letrados as sentenças que remetiam para o pelourinho, a cadeia ou, in extremis, a forca, aqueles que julgavam.
A pena ditava o castigo que tinha de se cumprir e como esse cumprimento implicava dor, tudo o que desgostasse passou a ser pena.
Com pena pego na pena
Com pena de te escrever
Com pena eu te escrevo
Com pena de te não ver
ou
Para marcar o desgosto da separação
O papel em que te escrevo
Sai-me da palma da mão
A tinta sai-me dos olhos
A pena do coração
Mas não eram só as aves que forneciam aos nossos antepassados instrumentos para a escrita.
Os caules de pequenas dimensões, nomeadamente os do trigo e centeio, também se usaram e, com eles, os escribas ao serviço dos governantes escreviam as determinações destes.
Determinações que, por saírem dos calamos, se chamavam calamidades e que, por, normalmente, serem más para o povo, se confundiam com desgraça.
Mas uma calamidade, entendida a palavra na sua pureza original, é pura e simplesmente um decreto.
A palavra ladrão, hoje vituperada, significava antigamente um cargo da mais alta importância.
Laterão – do latim lateronem – era o governante sentado à direita do monarca e em quem este delegava para a resolução das grandes questões.
O laterão era, pois, o chefe do governo, o primeiro ministro, em linguagem actual.
Os abusos do poder foram minando o conceito
Inversamente, o ministro, antigo moço de recados, nobilitou-se
Como os homens, habent sua fata verba
Um excelente estudo de José António Rebocho Esperança Pina com o título «A Ponte Romana sobre a Ribeira de Cesarão em Vilar Maior», publicado na Revista Praça Velha, número 28, de Novembro e 2010, defende a tese de que se trata de uma construção romana. A tese encontra-se sustentada quer no estudo das técnicas de construção dos romanos, quer no estudo da rede viária, nomeadamente da relativa a esta região. O estudo encontra-se ilustrado com fotografias e sua interpretação e com valiosa bibliografia relativa ao tema.
A tese tem o aval do Prof. Doutor Baquero Moreno que, sobre o estudo, afirma:
«Li com o maior gosto o excelente estudo que me enviou sobre a ponte romana de Vilar Maior. O texto está muito bem escrito e é claramente demonstrativo de que a ponte é romana e não românica (...)»
Sendo assim, para quando a substituição das placas indicativas que a dão como românica?
O funeral foi ontem. Nestas terras ainda se morre nas já não se nasce. E para encomendar as almas a Deus e sepultar os mortos já precisamos de recorrer aos espanhóis. Na pequena (e bela) igreja do Escabralhado, cheia de familiares e amigos, com presidência de um padre espanhol, rezámos e acompanhámos o corpo do Gabriel até ao pequeno cemitério, onde uma cerejeira, à entrada, farta de flores acenava um último adeus.
Por mim, corriam as lembranças da meninice. Da conversa no leito do rio à Fraga, uma discussão infantil sobre o nome das coisas, porque é que as coisas se chamam assim e não de outra maneira. Vim a saber mais tarde, muito mais tarde, e a ter de estudar, que essa foi uma acesa questão nas universidades mais importantes da Idade Média e que Saussure (talvez escrevendo sobre o assunto no preciso momento em que nós infantilmente colocávamos o problema em cima de um barroco), revolucionou os estudos linguísticos com o chamado carácter arbitrário dos signos. O Gabriel era um pensador que não teve oportunidade de partilhar o carácter arbitrário não apenas dos signos mas da própria vida. Por vezes, a corrente do rio é muito forte porque são muito estreitas as suas margens.
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