Sexta-feira, 13 de Julho de 2012

Uma Planta Textil, Mas Nativa - Dr Leal Freire

 

 

Já lhe ouvi chamar baracejo e varacejo, bracejo e vracejo.

Não sei se a primeira divergência se deve a mera questão de betacismo ou seja da tendência para trocarmos B com V, tão comum aqui na Raia Sabugalense, onde  falamos de BACAS e VOIS

Ou se a segunda é filha da nossa tendência  para pouparmos letras, recorrendo a aféreses, síncopes e apócopes, tudo supressão de  sons, variando a designação consoante o corte se fez no princípio, meio ou fim.

Ou ainda se um e outro fenómeno serviram para a afirmação da ideia de que tudo se resume à braçada, medida tradicional de comprimento, ou à vara, com a mesma função.

De qualquer modo, do que se trata é sempre da mesma realidade, uma planta textil, tão pobre quão resistente à dureza do solo e, porque  de sua essência  também dura, capaz de ser usada como matéria prima  para artefactos resistentes à erosão do tempo.

Ao contrário de uma outra têxtil, também autóctone - o linho- que reclama para o seu cultivo as terras mais úberes - as veigas mais férteis chamadas linhares -, ou de outras   já de paragens distantes, casos do algodão, da juta, do  cânhamo, todas muito exigentes em humus, o baracejo é mais espartano que o esparto.

Serve-lhe o solo da maldição junqueiriana

Ou seja,

uma encosta escalvada,

seca, deserta e nua, mesmo  longe da estrada

terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha

comendo pó, bebendo sol, mordendo a rocha...

De qualquer modo, é fibra a ser tratada por mãos femininas que tanto a podem transformar numa vil vassoira ou áspera coanha, como fazer dela rendilhados artefactos.

Ou até peças de vestuário, como galantes chapéus ou capas anti-chuvas

Seria bom que as novas gerações ressuscitassem este  valiosa forma  do nosso tradicional artesanato.  

publicado por julmar às 16:02
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Domingo, 8 de Julho de 2012

Feira de Talentos - Banca recreArte

Da banca recreArte da Família Seixas Marques haverá um conjunto de trabalhos de objectos que são belos e são úteis (ainda não chegámos ao estádio da Arte pela Arte!). Poderá ver mais exemplares em:
Dada a limitação de exemplares, aceitam-se reservas.
Teremos todo o gosto em publicitar os vossos produtos.
                                                (Trabalho de Teresa Seixas Marques)
publicado por julmar às 12:44
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Nasceu o menino!

Notícia rara em Vilar Maior é mesmo o nascimento de uma criança. Há sessenta anos nasciam em média em Vilar Maior entre 20 e trinta crianças por ano. A média dos últimos dez anos será 0, 3 ou menos. Isto é de tal modo aterrador que nem queremos tirar a conclusão.

Porém, há que festejar o nascimento do Hugo e associarmo-mos à alegria dos pais e irmã e restante família. Para o Hugo uma vida feliz!

                        (Agradeciento a João Marques pelas foto e pela notícia)

publicado por julmar às 11:45
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Sexta-feira, 6 de Julho de 2012

Castanheiro milenar

Havia dias e noites e estações do ano. Havia gentes e gados; lobos, raposas,ursos e aves, veredas e caminhos. Portugal ainda não tinha nascido. Estás tão forte e saudável que ninguém se atreverá a dizer quantos anos mais darás de novo folhas e fruto e sombra. Certo que nós morreremos e tu ficarás.
Contas hoje 345.335 dias o equivalente a oito milhões, duzentos quarenta mil e quarenta horas, mais coisa menos coisa.
(À entrada do Soito, sentido Nave-Soito)
«Tratem-me bem
Sou um bébé
Que nasci em 940
Fui posto neste lugar em 944»
publicado por julmar às 10:33
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Quarta-feira, 4 de Julho de 2012

Feira de Talentos - Mercado da Miuzela

Agora que nos aproximamos da Feira de Talentos da vila, republico uma bela crónica retirada do blog " Miuzela Arriba", de Carlos Esperança, e que me aviva a memória,  e aos dos da minha geração, que a pé, de burro ou de bicicleta subia, esforçadamente, as Barreiras da Miuzela para chegar ao mercado, onde ansioso e dividido entre o mercado do gado onde o pai vendia alguma rês e o mercado do feijão onde a mãe vendia os queijos curados, a linhaça e o feijão manteiga, aguardava o tempo de comprar um par de botas das que se faziam no Adão e deliciar-me com um pão de quartos, de fabrico miuzelense, e um traçado.
"A morte não é só a injustiça que refere Saramago, é uma divina patifaria à espera da manifestação de repúdio adiada pela complacência, cobardia de quem teme atirar pedras ao algoz. É difícil perceber como vivos provisórios, sem nada a perder, se resignam, sem luta, a tornar-se mortos vitalícios. Não serei eu que os convoco para o exercício cívico de um dever de cujo êxito não estou seguro, mas também não os acompanharei na subserviente gratidão por cada dia de vida que gozam enquanto esquecem agravos para com entes queridos que foram. Mingua-me, aliás, a autoridade. Partiram os avós e eu nada fiz, chorei apenas. Dói-me recordar a avó que ainda me sorri com o sorriso que lhe via quando a convocava a acompanhar-me à poça de lama onde eu caíra, a exigir-lhe a mão para me levantar de novo onde antes tivera de o fazer sozinho, e a dizer-me meigamente, filho, és quase tão bom como bruto e és tão bom. E o avô, generoso, a repartir sempre o que tinha sem nunca o arrefertar, a insistir comigo para que comesse. Depois foram os pais e fiquei sem retaguarda. À medida que foram as pessoas que amámos, apreciamos mais as coisas que eram. E invade-nos a saudade pela nogueira sob cuja copa jogávamos à bisca, cortada para lhe porem uma casa no sítio. Onde então estavam as raízes passam hoje canos; no lugar das nozes secam peúgas e cuecas no estendal; aquela pedra que suportava o baralho, donde biscávamos as cartas, está algures na parede da casa rebocada se, acaso, lhe deram préstimo. Sobre a videira de moscatel cujas uvas resistiam à nossa gula, defendidas por uma mistela que punha os garotos de soltura e lhes arriscava a vida, foi construída uma garagem. Até a macieira velha onde todos os anos sobravam duas ou três maçãs para o rebusco foi sepultada por uma máquina cujos roncos saíam da nuvem de pó que anunciava a nova méson do emigrante. Roubaram-nos as sombras, os sítios e, sobretudo, a memória daquelas tardes em que jogávamos às cartas até à hora em que o sol, depois do seu pôr, deixava no horizonte uma auréola rosácea a indicar onde se ocultava. A terceira quinta-feira de cada mês era dia de mercado. Nas tendas vendiam-se sapatos, pentes, fazendas, canivetes, alfaias agrícolas, espelhos redondos com emblemas de clubes de futebol por trás e molduras com a senhora de Fátima e os três pastorinhos. Um negociante comprava a dois contos o quilo de lenticão, fungo do centeio, pequenos cornos cujos alcalóides faziam, sei-o hoje, as delícias dos farmacologistas e a fortuna da indústria farmacêutica que os convertia em remédios para variadas moléstias enquanto, ao lado, um negociante comprava lã com a arroba a valer dezasseis quilos, um era para a merma. Por cima dos barrocos, em precário equilíbrio, barris de vinho esvaziavam-se ao ritmo dos negócios e da sede a caminho de estômagos vazios ou com fritos à espera. Os solípedes valiam mais na altura das colheitas e desvalorizavam no inverno por via da escassez dos fenos. Os porcos começavam a comprar-se na Primavera para criação e no Outono para engorda. Os borregos e os cabritos tinham a sua época. As vacas e os vitelos valiam uma fortuna mas custavam a criar. Às galinhas pedia-se um certificado de que não tinham moléstia, certificado que logo era passado por palavras de quem vendia, e que valia o mesmo do que isentava da peste o porco que se comprava para criar. Entre as dez da manhã e as cinco da tarde fazia negócio quem podia, depois era levantar a quitanda, o que tinha a dar já fora, toca a arrumar a tenda e ala que se faz tarde, era milagre não haver três ou quatro furos aos cem quilómetros nos carros ligeiros e camionetas. Era então que os garotos competiam para se dependurarem na escada fixa que conduzia ao tejadilho da Vencedora, camioneta sem janelas que misturava mercadorias e feirantes no interior, e regressavam a correr para apanhar outra camioneta para, dependurados nos taipais, voltarem a fazer a viagem do Espadanal até à vinha do Panelo e tentar ainda outra, numa competição por distância percorrida, puxados pelos motores que se queixavam do piso, do peso e da subida. Os automóveis estacionavam sempre a descer, desconfiados os condutores da eficácia da manivela para despertar o ímpeto que os motores de arranque haviam de tornar uma brincadeira ao alcance de um leve toque na chave de ignição. Mas os automóveis eram raros e só consentiam um único garoto no pára-choques traseiro pois havia apenas o manípulo da mala para manter o equilíbrio durante os solavancos. As carroças, que os machos tiravam lestos, eram difíceis de ultrapassar pelos veículos motorizados mas deixavam indiferentes a pequenada. O mercado era o frenesim mensal, a romaria laica, o destino de quem precisava de vender e de quem podia comprar, o ponto de encontro de produtos, afectos e suor, o lugar de partida de um negócio auspicioso ou de chegada para uma pneumonia de mau prognóstico. Nem a chuva nem o sol venciam o mercado que todos os meses se repetia.
publicado por julmar às 18:44
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