A famiília de José Faria, agradece a todos quantos participaram no funeral. Um agradecimento especial para as pessoas de Vilar Maior que se deslocaram até Vila Nova de Gaia.
A lamentar, na ida para V.N. Gaia, o despiste do carro de Adriano Cerdeira onde seguiam, além da a esposa Filomena, Conceição Rasteiro e Zulmira Fonseca. Felizmente, apesar do aparatoso acidente, ninguém ficou ferido. A todos obrigado.
José Duarte Faria, natural de Vila Nova de Gaia, casado em Vilar Maior com São Seixas (Filha de António Seixas), faleceu hoje após doença prolongada. Cheios de tristeza e dor, o Zé continuará na nossa memória e no nosso coração até ao fim dos nossos dias.
Sabemos que o sentir, o fazer e o pensar se encontram na linguagem do povo. Às vezes dou comigo a pensar nas palavras e expressões que antigamente se usavam e se deixaram de usar por virtude de rápidas mudanças ocorridas sob o nosso olhar.
Ao reler Hedegger – essa é uma das vantagens dos reformados, o poderem fazer as coisas com vagar – em O Ser e o Tempo, no seu desenvolvimento do conceito de cuidado, vi-me atirado para o uso deste conceito na Vila. E lá se encontra em todo o pleno sentido heidggeriano o referido conceito aplicado ao homem que só a ele se aplica no sentido pleno por ser um ente a fazer-se, um ente em curso, mas por extensão aos seres vivos que não às coisas.
E todo o trabalho do homem é cuidar, primeiramente de tudo quanto é mais tenro e mais frágil: dos filhos, dos garotos, das crias dos animais, das plantas; cuidar da vida da gente, do vivo, do renovo. E da fragilidade maior que é a doença a que não é estranha origem latina: o curare , o curar de onde se origina toda a arte médica.
E porque, segundo a fábula de Higino, o homem tem uma alma e dela é preciso cuidar (curare), a Igreja deu àquele que se ocupava das almas da paróquia o nome de Cura.
Consultados vários dicionários e outra literatura não encontro o significado que na Vila também se dava ao verbo cuidar, no sentido de julgar.
Exemplos: Tu cuidas que eu não sei? Ele cuidava que ninguém mais sabia. Tu cuidas que isto é fole de ferreiro?
Por mim não encontro explicação.
Não cuides nem das horas nem dos anos,
mas dos instantes e do agora cuida apenas;
cuida de cada um deles, vive-o todo,
como se o único fosse, ou o derradeiro.
São longos os instantes, curta a vida:
um minuto não passa quase nunca,
enquanto bem depressa correm os anos.
Dos anos, pois, não cuides, nem das horas;
cuida só deste instante, único e lindo,
em que o melhor de ti palpita à espera
Daniel Lima
A festa em honra do Divino Senhor dos Aflitos teve, mais uma vez, o seu apogeu no primeiro domingo de Setembro
Assim manda a tradição já que há sete séculos se respeita a data.
E a História é fonte de sabedoria e assente no passado define o futuro
Mas ao respeitar-se o passado, não pode esquecer-se o actual condicionalismo.
Antes do grande surto migratório, as festas de ano - o culto dos oragos - nos meios rurais tinham um calendário marcado para os domingos de Outubro.
Feitas as últimas colheitas - as vindimas fechavam o ciclo – e, semeados os centeios, o trabalho quase se circunscrevia ao trato dos gados, pelo que o tempo sobrava.
Vendidas umas sebes de batatas e umas medidas de feijões, negociadas no São Francisco, feirado na Guarda, algumas crias do contrário, tilintavam moedas em qualquer bolsilho.
Estava criado o ambiente profano que o religioso esse demorava profundamentre na alma dos íncolas.
Com o exôdo,os emigrantes passaram a ter outros condicionalismos.
O tempo, escasso no resto do ano, só lhes sobeja em Agosto
E é também em tempo de férias que a carteira mais se abre.
Aliás, à tradicional penúria de moeda sonante, contrapõe-se, agora, louvado Deus, uma relativa abundância.
E criaram-se também outros hábitos e necessidades.
A tudo isso deu resposta A FEIRA DOS TALENTOS, inovando inovadouramente, com respeito pelas disponibilidades de tempo e casando harmoniosamente velhos hábitos com novos gostos
Que o exemplo frutifique e em cada Agosto renasça uma FEIRA DE TALENTOS.
António Cerdeira Seixas, nascido em 1920, natural de Vilar Maior, casado, pai de três filhas.
Profissão - Pintor
O Zé Pequeno e o Ronda foram dos primeiros a ir para França. Estávamos sempre a ouvir que lá se ganhava muito. Saímos daqui foi preciso deixar o dinheiro em depósito, sete contos que era mais ou menos quanto custava uma junta de vacas.
Saímos dia 5 de Outubro de 1962.
Comigo, foram da Vila - António Rasteiro, o irmão Zé Rasteiro, o Zé Prata e o António Adrião ( já lá tinha estado). do Escabralhado, o Zé Polónia; da Arrifana, o Joaquim Prata e o Joaquim Quelha; da Bismula, o Joaquim Leitão; de Badamalos, o Zé Mergildo.
Saímos da Vila à tarde, pela Ponte em direção ao Vale de Bolos, com bom tempo, só apanhámos água na saída de Espanha.
Dei sete contos ao Joaquim Rasteiro da Arrifana que era o passador. Não lho demos logo. Tivemos de dar uma fotografia para quando lá chegámos rasgámos a fotografia para o passador trazendo a metade poder receber o dinheiro.
Eu tinha o dinheiro que apurei no mês atrás numa obra da senhora D. Marquinhas da Ruvina da casa que pintei ao senhor Pedro - 18 contos. Não fui em 61 porque tinha gasto o dinheiro na compra de uma mota, uma Famel que custou sete contos. Pedi dinheiro à senhora Evangelina mas diz que já tinha emprestado ao ti Zé Badana que lhe deixou o Pereiro como fiança. Não queriam que eu abalasse. Fui pedir à senhora D. Marquinha da Ruvina, pedi-lhe sete contos e ela disse-me:
- Você não vai! Você fica aqui vai pintar a casa do senhor Pedro.
Queria que eu fosse a trabalhar para o Colégio da Ruvina. Mas ganhos os 18 contos tratei de ir.
Andava a semear de pão o cabeço da vinha da Cabeça Lagar e foi lá a minha São com a filha mais velha da Lipondina que está em França.
- Ó pai, venha embora que os homens já lá estão à espera na vila.
Cheguei a casa agarrei uma côdea, uma merenda, um ou dois chouriços e lá fomos.
Nem cobertor, nem manta, a roupa que tínhamos no corpo e um pau na mão. Juntámo-nos no Vale de Bolos e fomos passar ao lado de Nave de Haver e ao lado de Poço Velho e era á lusco fusco. Antes de sair estava a fazer vinho o Henrique Meliço.
Tinha uma dorna ali ao pé da casa da Beatriz Monteiro. Diz-me ele:
- Bebe uma pinga, que tão cedo no o voltas a provar!
Olhe agarrei uma caneca, uma tigela e bebi-o! Levava sede. Olhe que muita sede passei eu até chegar aos Pirinéus, tanto que eu cheguei a pôr um lenço onde os porcos andavam e a coar aquela enxovia.
Só andemos de noite. A primeira noite cheguemos a Salamanca a andar. (fiz-lhe reparo da impossibilidade de percorrer a pé tal distância talvez, então fossem duas noites). Chegámos já de dia. Fomos para um hotel e estivemos lá três dias a jogar às cartas, ao montinho com castanhas que apanhámos no caminho. Saímos de Salamanca num carro, depois lá para diante mudámos para uma camioneta que estava carregada de caixas vazias de cerveja, com duas filas de caixas em toda a volta até ao cimo e nós íamos lá dentro. Antes de entrar na camionetas estivemos num palheiro onde se encontravam mais vinte homens que já ali estavam há 10 ou 15 dias. Fiz-lhes a barba a todos. Dez tostões cada um. Quando saíram, coitados, lançaram-se às maçarocas do milho, comeram como se fossem porcos, cheios de fome. Aí a nós deram-nos de comer feijoada, numas cortelhas onde havia porcos, no meio dos porcos. Aí deram-nos de comer bem, ainda foi o Joaquim Rasteiro mas depois daí para diante já eram franceses ou espanhóis, passavam de uns para os outros, não foi sempre o Joaquim Rasteiro.
Deixou-nos e entregou-nos a outro, depois fomos até aos Pirinéus. Ainda estou a ver, em Espanha, só comemos uma vez lá no meio dos porcos. Dormimos lá no meio dos porcos e comemos lá. Mas aí enchemos a barriga. Depois entrámos para a camioneta ... Tudo à balda. Uns cagavam aqui, outros mijavam além. Eu tive de subir pelas grades acima e rasgar o forro da camioeta, fazer lá um buraco, não se aguentava o calor. Depois lá mais para diante mandaram-nos sair da camioneta e atirar com os paus que levávamos. Havia outros homens para vir mas não vieram. Ficámos sem os paus. Depois dali fomos sempre a pé até chegar lá. Só andávamos de noite, ainda em Espanha. Mais tarde voltámos a montar noutras camionetas, já em França mas deixaram-nos muito longe. Fomos muito tempo, uma noite a andar, depois fomos de carro atê Champigny. Deixaram-nos num lugar onde havia espinheiros. - Vá, já cá estais! Demos então a metade da fotografia que levávamos connosco para eles poderem receber o dinheiro em Portugal.
Ficámos ali sem saber para onde ir.
Eu disse aos da vila:
- Ala, vamos embora! Se formos presos, fomos presos!
Quando, às páginas tantas, andemos para aí uns 3 ou 4 quilómetros, vimos o Chico Henriques, ah! nem que víssemos Deus do Céu. Vimos o Chico Henriques que tinha ido a renovar o rapicé. Estavam logo ali as Barracas do Ronda, mais à frente as do Zé Pequeno, vimos logo que nos deixaram onde queríamos chegar. Calhámos a encontrar o Chico Henriques. Fomos para casa do Ronda, ofereceu-nos de comer, comemos. O António Rasteiro e o Zé Rasteiro foram para casa do Zé Pequeno e no dia seguinte foi levá-los a Blois.
No dia seguinte logo fiz uma barraca eu mais o António Adrião naquilo do Ronda. A Conceição fazia-nos de comer. Ao outro dia o ti Zé Júlio da Arrifana veio-me a buscar para o patrão. A partir daí não estive um dia sem trabalho na França. Depois vinha a dormir lá à barraca. Oito dias dormi lá na barraca do Ronda. Depois o patrão logo me arranjou alojamento.
No caminho não tive fome, levava dois chouriços, troquei o chouriço pelo chocolate do Joaquim Leitão que lhe fazia mal aos intestinos.
No caminho davam-nos muito chocolate
Atravessámos um rio a pé, ficámos todos molhados, a roupa enxugou- se no corpo, íamos na camioneta, em Espanha, veio a Guarda Civil, abriu as portas da camioneta que levava as grades de cerveja, ficámos todos calados a ouvir os guardas falar. Calhou a ser num sítio em que desviaram caixas para espreitar e ter três filas de caixas e não duas. Tiraram uma, tiraram duas ... Se tiravam a terceira estávamos desgraçados. Estávamos todos caladinhos a ouvir a conversa dos guardas. Era só uma camioneta com 71 homens. Só andávamos de noite.
Alguns ficaram em S. Denis, nós os da Vila combinámos levarem-nos a Champigny
Quando eu andava a fazer a torre já o Zé Duarte tinha cá vindo e lembro-me de o Chico Bárbara dizer:
- Pediu-me o dinheiro a mim, já mo pagou e ainda ficou com dinheiroque dava para comprar um bezerro.
A francesa onde trabalhava a minha senhora, arranjou-me ali terreno onde construí barracas que depois eu alugava. Mais tarde acabaram com as barracas. A mim deram-me 200€ para deixar as barracas e ir para um apartamento. Ganhava 96 francos e pagava 60 de renda. Bastava assinar em como arranjava alojamento, logo lhe passavam o rapicé que era o primeiro documento, antes da carta de séjour. O consulado dava o salva conduto.
E assim foi a minha ida para França
É sempre com prazer que leio boa literatura. Neste caso, acrescenta-se o tema e a escritora. Sou um admirador da escrita de Filipa Fava cujo talento gostava de mostrar aqui mais vezes e na II Feira de Talentos de Vilar Maior.
«Vou à minha aldeia, respirar ar puro e paz. Ouvir os pássaros de dia e as cigarras à noite. Ver as estrelas, esse luxo não permitido aos citadinos. Passear por ruas poeirentas, dizer bom-dia a quem não conheço. Estar num sítio onde não há supermercados, só hortas. Viver uns dias rodeada de um silêncio que nem os muitos emigrantes de volta à terrinha perturbam. Relembrar brincadeiras de pequena: mergulhar no rio lamacento, onde cobras fininhas nos roçavam as pernas, andar de burro e de carroça, enfrentar os cães vadios, descobrir esconderijos. Revisitar o cruzeiro, agora só com a vista, dantes subindo monte acima, entre enormes pedregulhos e arbustos de agulhas.
Do cruzeiro vê-se Espanha, à esquerda. E o Castelo, com a sua monumental torre de menagem, à direita. Um desses lugares marcados pela convivência turbulenta com o país vizinho, foi vila de defesa do território português contra o seu eterno inimigo, a quem costumamos chamar “nuestros hermanos”, apodo irónico, bem vistas as coisas, senão fratricida. E é lá que fazemos as compras: claro que não gostamos tanto do pão, nem do azeite do lado de lá, mas o chouriço e as “galletas” são tradição - coisas que se vão inculcando nas gentes fronteiriças. Antigamente, trazia-se mercadorias “a salto”, ou seja, clandestinamente, sem passar pelo posto da vetusta e néscia Guarda Nacional Republicana. Montavam um burrico ou endureciam as canelas e lá iam irmãos e primos à aventura, fazer um simples recado de mercearia. Se vinham sem levar umas pauladas dos guardas já era uma sorte!
Terra de lavradores e pastores, chegou a sede de concelho. Hoje restam 120 habitantes, que não ocupam as fileiras de casas antigas, de pedra, derrubadas pelo tempo e pelos ladrões. Diz-se pelas bandas que os espanhóis vão aos montes portugueses roubar pedras, que naquela zona são verdadeiros colossos esculpidos pelo vento. Os locais encarregam-se de roubar a dos edifícios, mesmo de pérolas arquitectónicas da região.
Vou à minha aldeia, Vilar Maior, mas podia ser a aldeia de qualquer português. Não se vai para descansar, mas para ser amolecido pelo tempo, pela mesa farta, pelas mãos toscas do parente afastado que abraça e beija sem cerimónia, pelo fresco da brisa, pelas histórias de família. Prometo trazer uma ou duas de volta. Até lá! »
Texto retirado de http://www.dioivo.eu/cronicas/desde-portugal/1020-aldeias-de-fronteira
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