Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013

Vende-se em Vilar Maior

AVISO


INFORMAM-SE TODOS OS INTERESSADOS QUE SE ENCONTRAM À VENDA AS PROPRIEDADES DOS HERDEIROS DE JOÃO ANTÓNIO MARQUES E MARIA DA GRAÇA SILVA LEONARDO, AS QUAIS SÃO:

- CASA NO SÍTIO DA PRAÇA

- PORTO SABUGAL – CULTURA DE REGADIO, LAMEIRO, PASTAGEM, MATO

- PONTE DA GUARDA – CULTURA DE REGADIO, PASTAGEM, MATO

-ENTREVINHAS – CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

-GAITEIRAS – CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

- CHÃO DO CASTELO – CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

- QUINTAL DA COSTA – CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

-HORTA DO CHORREÃO – CULTURA DE REGADIO

- TAPADA DOS PICOTES (de baixo) – CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

- TAPADA DOS PICOTES (de cima) - CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

- CHÃO DAS EIRAS – CULTURA DE SEQUEIRO, PASTAGEM

- HORTA DA RIBEIRA – CULTURA DE REGADIO

-CHÃO DAS CASAS DOS MOIROS – LAMEIRO

- RASA DAS MOITAS ( ATALAIA) – MATO, PASTAGEM, MATA DE CARVALHOS

- RASA DAS MOITAS (VALE DE BÔLOS) – MATO, PASTAGEM, MATA DE CARVALHOS

- RETORTAS (de baixo) – CULTURA DE REGADIO, SEQUEIRO, MATO E MATA DE CARVALHOS

-RETORTAS DE CIMA – CULTURA DE REGADIO, MATO, PASTAGEM

- CORREIA (CHÃO DO POMBAL) – MATO E PASTAGEM

- ENTREVINHAS - LAMEIRO

OS INTERESSADOS PODERÃO ENTREGAR PROPOSTAS OU PEDIR INFORMAÇÕES:

CARLOS ALBERTO LEONARDO MARQUES – 964687518 – leomarques@sapo.pt

JOÃO SILVA MARQUES – 914015174 – joao­­_smarques@hotmail.com

JÚLIO SILVA MARQUES – 934561269 – julmarjsm2@gmail.com

 

VILAR MAIOR, 29 de Dezembro de 2012 

publicado por julmar às 20:07
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Os Tosquiadores - Uma Operosa classe profissional - Dr Leal Freire

Até  ao grande  surto das  fibras  têxteis, a  lã   de  ovelha  era  uma  grande  riqueza. Quem  tivesse  meio  cento  de merinas, podia  considerar-se   um  homem   remediado   e  bem  remediado. O rifoneiro  atestava-o: Quem tem ovelhas , abelhas e pedras no rio entra com el-rei ao desafio. Na  vizinha  Espanha, os  grandes  terratenentes   distinguiam-se  pela  numerosidade  dos  seus   rebanhos. Só os grandes  senhores, à  sua conta, tinham, rezam  os  cronicões, quarenta  milhões de  merinas. E  não  eram  apenas  os  Alba e  MEdina  Sidonia, os  Veraguas  e  Romanones, os  Paio e Santillanas  que  criavam  gado  merino, mas   todo  o povo   espanhol. Do  cantabro ao mediterrânico, estabelecera-se um   enorme  emaranhado  de  pastagens, tudo  dirigido  pelo  honrado   Concepto de la Mesta, com  Canadas CAminos  Y   Veredas  Pastoriles, extenso   e  prolixo  mapa  que  a  tudo  tem  resistido . De  modo  que  ainda  agora, todos  os  dias de  Páscoa, as  principais  artérias   de  Madrid   se  engalanam  para  ver passar  os  gados  da  transumância. Do nosso  lado  e  à nossa  dimensão, partilhávamos daquele  entusiasmo. Aqui  na  Raia  Sabugalense   não havia  praticamente   merinas. Mas  abundavam as churras. Ricos, remediados, pobres, quase  todos os  chefes   de  família  tinham  a  sua   peara. E  valia  a pena. Tudo  naquele  gado, fácil de  manter, porque  tosava  sobre  quaisquer  rebentosl, rapando   como  quem barbeia, era aproveitado. A  comecar   pelo estrume. O  chão, assim  fertilizado, dava  o  cem por  um, anunciado   pelos  santos   evangelhos. Vale  mais  rabo   de  ovelha  que  benção   de  bispo, lembra   velho   adágio. E  o  humus  onde  o  cancelame  se  apusera  não  só rendia   mais  como  os   produtos  eram  mais  saborosos. Boa  batata   é  a  dos tres  itas...terra  granita, onde  se semeou. Água  granita  com  que se  regou. Caganita   que  deu outro  vigor  aos  renovos, melhor   textura   e  mais  aprimorado  sabor   aos   tubérculos. Com  o leite  fabricava-se   o  queijo,   diferente   do clássico Serra da Estrela  pela   qualidade   do gado, levando  aí   vantagem  as  mondegueiras,  e  pelo   modo  de  fazer, chamado  à  cabreira, por  menos  exigente. Os borregos  rendiam  bom  dinheiro, indo parar  ao estômago  dos  janotas   das   capitais  de  concelho, distrito  ou mesmo da   Nação. Já   velhas, não parindo  nem  obviamente dando  leite, achanfanadas  eram  o  consolo  de  festas  e  casamentos. E até  mesmo quando perigavam iam parar  ao barranhão  dos  enchidos. Por  vezes,o  tempo  vinha demasiado  áspero. O    ditado  apresentava   queixas. Quando  o Março   dá  ao rabo, não escapa  o gado gordo nem magro, nem  o  pastor mesmo  encapotado. Pois  as  rezes  assim desaparecidas  iam dar   chouriças. Eu  próprio, nos  meus verdes  anos, ajudei   a  comer  muitas  nos serões   do  Escabralhado   e  Carvalalzinho  e  que  não morri  nem me ressenti  do facto  atestam-no os  meus  quase  noventa, ainda   com  alguma  rijura e  bom  apetite… Eram, pois, os  rebanhos  uma  benção. Mas, quanto  a dinheiro  corrente e  transacções   de  ocasião,  nada   era   como  a  lã. Levada  ao pisão, dava  mantarronas  e  surrobeco. Vendida  aos  laneiros, tapava  buracos   em orçamentos  quase   sempre  mais  furados  do  que  capa  de  pedinte. E  aos lavradores   mais  do  que  meões   até  lhe  permitia   custear  os   estudos    dos  morgados   e  pagar  um empréstimo  bancário   contraído  para  adquirir   mais  um lameiro. Daí   a  azáfama  dos  dias  de  tosquia e  o pleno emprego, é certo   que por períodos  curtos, duma  classe   de profissionais, que, por  aqueles  dias, sentem  as  moedas, tilintando-lhe   nos  bolsilhos, deixando-os possuídos  duma  certa ufania. Ao  tempo ,havia   em Vilar   Maior, dois  estabelecimentos   de  tem-tudo – de  panos   de  cheviote, a  quartilhos  de  tinto, passando  por artigos   de  mercearia  e materiais  de   construcão, drogas  e  quinquilharia . Logistas  eram  os senhores  Albino Monteiro Freire, aliás  meu  tio  carnal   e Aníbal Gata, progenitor  de  ilustre  prole. Durante  o ano, os  tosquiadores, à  espera  da  sazão, tratavam-nos  com  reverência Mas   em  plena tosquia desinibiam-se. Batiam  à  porta  da  venda  e  requeriam  atendimento breve. - Ó  Albino, vem cá baixo, se náo vou já ao Gata Antes  do  ciclo, a   terminologia   e  o  tom eram  outros. - Ó  senhor Albino, fie-me aí um garrafão até às tosquias ...

publicado por julmar às 11:04
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Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013

Quem é?

Nascida e criada em Vila Maior, com um filho vivo a residir na vila. Faleceu em 1928. Ana, filha de José Cerdeira e Isabel dos Santos que foram pais de uma grande prole que tornou os Cerdeiras uma das maiores famílias de Vilar Maior. Morreu com 37 anos e era irmâ de Justina, Filomena e Maria e como irmãos o Manuel, o José e o Francisco. Todos Cerdeiras. A Ana, casada com José Seixas, pintor de profissão, teve como filhos, nados e criados, a Isabel Seixas, O César Seixas e o António Seixas.
publicado por julmar às 19:37
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UNIÃO DAS FREGUESIAS DE ALDEIA DA RIBEIRA, VILAR MAIOR E BADAMALOS

Através da lei nº11A/2013 de 28 de Janeiro cessam as freguesias de Aldeia da Ribeira, Vilar Maior e Badamalos que passam a constituir uma única freguesia cuja designação é.

UNIÃO DAS FREGUESIAS DE ALDEIA DA RIBEIRA, VILAR MAIOR E BADAMALOS, com sede em Vilar Maior, de acordo com o artº 5 da lei.

1 — No prazo de 90 dias após a instalação dos órgãos que resultem das eleições gerais das autarquias locais, a
realizar em 2013, a assembleia de freguesia delibera a localização da sede.
2 — A assembleia de freguesia deve comunicar a localização da sede da freguesia à Direção -Geral das
Autarquias Locais, para todos os efeitos administrativos relevantes.
3 — Na ausência da deliberação ou comunicação referidas nos números anteriores e enquanto estas não se realizarem, a localização das sedes das freguesias é a constante.
Artigo 6.º
Transmissão global de direitos e deveres
1 — A freguesia criada por agregação integra o património mobiliário e imobiliário, os ativos e passivos, legais e contabilísticos, e assume todos os direitos e deveres, bem como as responsabilidades legais, judiciais e contratuais das freguesias agregadas.
2 — O disposto no número anterior inclui os contratos de trabalho e demais vínculos laborais nos quais sejam parte as freguesias agregadas.
3 — A presente lei constitui título bastante para todos os efeitos legais decorrentes do disposto nos números anteriores, incluindo os efeitos matriciais e registrais.
4 — Sem prejuízo de outras formas de cessação da validade, consideram -se válidos os registos anteriores à data de entrada em vigor da presente lei que mencionem as freguesias objeto de agregação.
5 — O Governo regula a possibilidade de os interessados nascidos antes da data de entrada em vigor da presente
lei solicitarem a manutenção no registo civil da denominação da freguesia onde nasceram.
Artigo 8.º
Recursos financeiros
1 — As transferências financeiras do Estado para as freguesias criadas por agregação são de montante igual à soma dos montantes a que cada uma das freguesias agregadas tinha direito no Fundo de Financiamento das Freguesias (FFF).
2 — É aumentada em 15 %, até ao final do mandato iniciado com a realização das eleições gerais para os órgãos das autarquias locais, em 2013, a participação no FFF da freguesia criada por agregação através de pronúncia da assembleia municipal, nos termos do disposto na Lei
n.º 22/2012, de 30 de maio.

Para a leitura completa da lei consulte em:

http://dre.pt/pdf1sdip/2013/01/01901/0000200147.pdf

publicado por julmar às 18:41
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Tudo por causa do O UNIVERSO NA NOSSA TERRA - a condenação de Galileu

"A verdade é que a igreja não ' condenou' Galileu Galilei por este ter acreditado na mobilidade da terra e na centralidade e imobilidade do sol como se diz".
Causou-me e causa-me perplexidade a defesa que o João pretende fazer desta tese. Com efeito, o que no documento da abjuração estã referido não é qualquer tese sobre a teoria da luz, qualquer tese sobre a natureza da alma mas apenas sobre o que de maneira clara nele está expresso. Também, se fosse como o João sustenta, não faria sentido ( para mim náo faz por outras razões) que o papa viesse pedir desculpa pelo erro cometido pela Igreja ao condenar Galileu. Todos sabemos que no século XVII a par da emancipação da razão e da criação do método experimental (com contributo relevante de Galileu), havia fortes correntes de misticismo que, muitas vezes não eram, mais do que a forma de responder a questões para as quais não havia resposta. Mas temos que distinguir os vários planos.
Quero, de qualquer modo, fazer uma declaração de interesse. Descartes ( que se recusou a publicar uma obra ' O Mundo', depois de ter conhecimento da condenação de Galileu) e Galileu são dois dos meus filósofos preferidos, filósofos que admiro cujas doutrinas, anos a fio, ensinei aos meus alunos. Galileu é simplesmente genial. Teve mais consequéncias científicas a viagem que ele fez à Lua, montado no telescópio feito por ele, do que a viagem feita pelos astronautas americanos. A invenção da experiência do plano inclinado é genial. Sobre O comportamento moral ( a abjuração) no julgamento ( bem diferente da atitude de Sócrates que, em tribunal, continuou a defender as suas ideias e foi condenado à morte), quem somos nós para julgar?


Carta de abjuração de Galileu (1633)
"Eu, Galileu Galilei, filho do finado Vincenzio Galilei de Florença, com setenta anos de idade, vindo pessoalmente ao julgamento e me ajoelhando diante de vós Eminentíssimos e Reverendíssimos Cardeais, Inquisidores Gerais da República Cristã Universal, contra a corrupção herética, tendo diante de meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com minhas própria mãos, juro que sempre acreditei, e, com o auxílio de Deus, acreditarei no futuro, em tudo a que a Santa Igreja Católica e Apostólica de Roma sustenta, ensina e pratica. Mas como fui aconselhado, por este Ofício, a abandonar totalmente a falsa opinião que sustenta que o Sol é o centro do mundo e que é imóvel, e proibido de sustentar, defender ou ensinar a falsa doutrina de qualquer modo; e porque depois de saber que tal doutrina era repugnante diante das Sagradas Escrituras, escrevi e imprimi um livro, no qual trato da mesma e condenada doutrina, e acrescendo razões de grande força em apoio da mesma, sem chegar a nenhuma solução, tendo sido portanto suspeito de grave heresia; ou seja porque mantive e acreditei na opinião que diz que o Sol é o centro do mundo e está imóvel, e que a Terra não é o centro e se move, desejo retirar esta suspeição da mente de vossas Eminências e de qualquer Católico Cristão, que com razão era feita a meu respeito, e por isso, de coração e com verdadeira fé, abjuro, amaldiçoo e detesto os ditos erros e heresias e de uma maneira geral todo erro ou conceito contrário `a dita Santa Igreja; e juro não mais no futuro dizer ou asseverar qualquer coisa verbalmente ou por escrito que possa levantar suspeita semelhante sobre minha pessoa; mas que, se souber da existência de algum herege ou alguém suspeito de heresia, o denunciarei a este Santo Ofício, ou ao Inquisidor do lugar onde me encontrar. Juro ainda mais e prometo que satisfarei totalmente e observarei as penitências que me forem ou me sejam ditadas pelo Santo Ofício. Mas se acontecer que eu viole qualquer de minhas promessas, juramentos, e protestos (que Deus me defenda!) sujeito-me a todos os castigos que forem decretados e promulgados pelos cânones sagrados e outras determinações particulares e gerais contra crimes deste tipo. Assim, que Deus me ajude, bem como os Santos Evangelhos, os quais toco com as mãos, e eu, o acima chamado Galileu Galilei, abjuro, juro, prometo e me curvo como declarei; e em testemunho do mesmo, com minhas próprias mãos subscrevi a presente abjuração, que recitei palavra por palavra.”
Em Roma, no Convento de Minerva, 22 de Junho de 1633. Eu, Galileu Galilei abjurei como acima por minhas próprias mãos.
publicado por julmar às 12:12
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A propósito do "O Universo na nossa terra" - João Valente

 O tema de hoje é sobre o processo de Galileu porque é sempre actual e interessante, quanto mais não seja, pela controvérsia que suscita.
A verdade é que a Igreja não “condenou” Galileu Galilei por este acreditar na mobilidade da terra, e na centralidade e imobilidade do sol como se diz. Passo a explicar: 
O sistema heliocêntrico, como hipótese astronómica baseada em cálculos matemáticos e observações reais, já havia sido formulado por Copérnico no seu De Revolutionibus orbium coelestium e há dois séculos e meio pelo Bispo de Lisieux, Nicolau de Oresme, e era aceite, como hipótese astronómica, por membros do clero como o cardeal Giovanni Ciampoli, o cardeal Maurizio da Savóia e o padre Orazio Grassi, grande adversário das “heresias” de Galileu.
Os motivos pelos quais estes membros do clero, embora o aceitando como hipótese, ainda não defendiam o heliocentrismo abertamente, eram dois: Prudência , pelo facto de não haver, até então, provas suficientes a tornar o heliocentrismo seguro (a completa superação do sistema tradicional Ptolemaico pelo heliocentrismo, atemorizava pela novidade revolucionária); e pela eficácia das medidas astronómicas baseadas no sistema geocêntrico (o sistema Ptolemaico baseava-se também em cálculos matemáticos e astronómicos a que se contrapunham os do heliocentrismo).
Esta reserva prudente explica-se também porque a Igreja, seguindo a “teoria da boa ciência” de Santo Alberto Magno entendia que a prova pelos sentidos [a indução] era a mais segura no estudo da filosofia natural, e situava-se acima da teoria sem observação (Meteoros 3, tr. 1, c. 21) e que a experiência, através de repetidas observações, é a melhor mestra no estudo da natureza (Sobre os animais 1. c. 19) competindo à ciência natural não aceitar simplesmente o que foi narrado. Cabendo-lhe, muito mais, a serviço da filosofia natural, buscar as causas das coisas naturais (Sobre os minerais 2, tr. 2, c. 1).
Resumindo: Para os membros da Igreja que já admitiam no tempo de Galileu a hipótese do heliocentrismo, este ainda não possuía observações que o comprovassem seguramente, nem experiências, com observações repetidas, e muito menos buscava a sua demonstração em causas naturais.
O Padre Cristophoro Grienberg, matemático jesuíta, interlocutor científico favorável a Galileu e seu contemporâneo, também admitia como hipótese científica o heliocentrismo, mas expressou algumas reservas, precisamente porque nenhuma experiência ou demonstração permitia tornar certa e segura a verdade copernicana (Apud. Pietro Redondi, Galileu Herético, Editora Schwarcz Ltda, São Paulo, p.18.)
Por isso se compreende que o próprio inquisidor de Galileu, São Roberto Bellarmino (cardeal), afirmasse numa carta ao padre Foscarini, que também havia publicado uma teoria sobre o heliocentrismo, o seguinte:
 
“[…] eu digo que se houvesse uma demonstração verdadeira de que o Sol está no centro do Mundo e a Terra no terceiro Céu, e que o Sol não circula a Terra, mas a Terra circula o Sol, então, ter-se-ia de proceder com grande cuidado em explicar as Escrituras, na qual aparece o contrário. E diria antes que nós não as entendemos, do que, o que é demonstrado é falso. Mas, eu não acreditarei que exista tal demonstração até que esta me seja mostrada.” (Carta do Cardeal São Roberto Bellarmino ao padre Foscarini, 12 de Abril de 1615. Na Internet: http://galileoandeinstein.physics.virginia.edu/lectures/gal_life.htm).
 
Isto é; para São Roberto Bellarmino, a haver qualquer discordância entre o heliocentrismo e as Sagradas Escrituras, seria porque não as entendíamos e não porque estas fossem falsas. Contudo, admitindo-o como hipotético, não acreditava que o heliocentrismo estivesse provado, até que lhe fosse cabalmente demonstrado.
Esta doutrina do cardeal Bellarmino sobre a relação complementar e não necessariamente antagónica entre a ciência e a fé, viria a ser consagrada alguns séculos depois na seguinte passagem da encíclica Providentissimus Deus de Leão XIII:
 
«Nenhum desacordo real pode certamente existir entre a teologia e a física, desde que ambas se mantenham nos seus limites e segundo a palavra de Santo Agostinho, tomem cuidado de nada afirmarem ao acaso, nem tomarem o desconhecido pelo conhecido» e «Quanto a tudo o que, estribando-se em provas verdadeiras, nossos adversários nos puderem demonstrar a respeito da natureza, provemos-lhes que não há nada contrário a esses fatos nas nossas Santas Letras. Mas, quanto ao que eles tirarem de certos livros seus e que invocarem como estando em contradição com essas Santas Letras, ou seja, com a Fé católica, mostremos-lhes que se trata de hipóteses, ou que absolutamente não duvidamos da falsidade dessas afirmações.» (In Gen.op. imperf.,IX,30) (Documentos Pontifícios, Providentissimus Deus,pg.28).
 
Isto é; se alguma tese da ciência moderna contradiz as Sagradas Escrituras, isso abre duas possibilidades: ou a contradição é aparente, ou a ciência moderna errou.
Como vemos, é o próprio inquisidor de Galileu, muito antes de Leão XIII, que afirma que o heliocentrismo nunca porá em causa as Escrituras. Não foi portanto esse o motivo da condenação de Galileu.
A verdade é que as teorias de Galileu eram muito mais do que científicas; tinham um profundo misticismo com raízes cátaras e pagãs.
Para Galileu, havia um espírito que aquecia e fecundava todas as substâncias corpóreas, o qual partindo do corpo solar se propagaria com enorme velocidade pelo mundo inteiro.
Este espírito que aquece e fecunda é curiosamente a mesma Luz Primordial e agente criador, adoptado no simbolismo maçónico, que irradiando por todos os lados em simultâneo, emana de um centro que não está localizado em parte alguma, mas que cada ser pode encontrar em si. (Oswald Writh, O Simbolismo Hermético Na Sua Relação Com A Franco-Maçonaria; Hugin Editores Lda. 2004, pág.122).
Falando dessa mesma Luz, numa carta ao padre Pietro Dini (felizmente os sábios do renascimento trocavam correspondência entre si), dizia Galileu que era uma substância espiritualíssima, sutilíssima e velocíssima que difundindo-se pelo universo penetra tudo sem resistência, aquece, vivifica e torna fecunda todas as criaturas viventes. (Carta de Galileu a monsenhor Pietro Dini, 23 mar.1615, Opere, V, p.289).
A substância espiritualíssima de que fala Galileu é também curiosamente o Fogo Vital da simbologia maçónica, «inerente a toda a célula orgânica e a todos os átomos minerais», que «propaga indefinidamente os seus raios, de tal modo que de todos os seres individualizados desprende-se uma radiação luminosa difundida através do espaço.» (ainda Oswald Writh na obra citada, pág. 123). A substância espiritualíssima ou fogo vital, seriam o “sopro divino” que existe em todas as criaturas.
Galileu defendia portanto mais que o heliocentrismo. Defendia, exemplificando com este, uma metafísica do Sol como símbolo de Deus, um verdadeiro triunfo da Luz, com referências textuais ao livro do Génesis e aos salmos:
 
«No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo… Deus disse: Faça-se a luz. E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas…» (Génesis)
«Deus colocou no sol o seu tabernáculo (...). Ele tal qual esposo que sai do próprio tálamo, saltou como um gigante para escapar.» (Salmo XVIII)
 
È certo que, sob a escolta de Dionísio Areopagita, Galileu fez a concordância do Génesis e do Salmo XVIII com as ideias sobre a emanação da luz celeste e terrestre, baseada em Hermes Trimegisto, que via a Luz como um espírito emanado de uma fonte eterna; o Sol.
Mas de facto, para Galileu, o Sol simbolizava Deus; e contemplar a Luz era apreciar o “sopro divino” que emana de todas as criaturas.
A condenação de Galileu nunca foi portanto a negação do heliocentrismo como verdade científica, mas a forma de eliminar este simbolismo hermético, que ao difundir-se através de uma figura de prestígio, ameaçava tornar-se uma séria heresia pela semelhança com o pagão culto de Mitra (Deus-Sol). 
Sendo assim, a Igreja condenou em Galileu as crenças esotéricas; nunca a teoria do heliocentrismo que ela própria já admitia com hipótese.
 
(João Valente – in Capeia Arraiana)
 
 
publicado por julmar às 10:31
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Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013

BUCÓLICA - Miguel Torga

A vida é feita de nadas 
De grandes serras paradas 
À espera de movimento; 
De searas onduladas 
Pelo vento; 

De casas de moradia 
Caídas e com sinais 
De ninhos que outrora havia 
Nos beirais; 

De poeira; 
De sombra de uma figueira; 
De ver esta maravilha: 
Meu Pai erguer uma videira 
Como uma mãe que faz a trança à filha. 

S. Martinho de Anta, 30 de Abril de 1937

publicado por julmar às 18:21
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ILUMINAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA - Dr Leal Freire

Contrariamente  ao  que  sucedia  na  vizinha  Espanha,onde  pequenos  pueblos   como, por  exemplo, Alamedilha, que  uns   dizem  DEL CHOZO, outros  DE  AZABA, ou  até  fincas   de  pouca  importãncia  como  Los   Campanarios  se  encontram   já  dotados  de  luz  eléctrica  desde  os   princípios  do   século  passado, portanto   há  mais de  cem  anos, a  RAIA  SABUGALENSE  só muito  tarde  veio  a  gozar  daquele  benefício.

De  maneira que  no pré  e  post crepúsculo   só  a  lua    valia  aos  noctivagos  de índole  ou necessidade.

Aliás, mesmo dentro de casa  ou nas  palheiras   do gado, o  negrume  era  rei.

O  problema  foi  particularmente  sentido  na  década  quarenta do  século  passado, quando, face  ás  contingencias  da  Segunda   Grande  Guerra,   o petróleo, o principal  dos  gases  de  iluminação, quase desapareceu  do Mercado  e  o  azeite   e outras  gorduras  usadas   como  sucedâneo  foram objecto de   apertado   racionamento.

O  petromax  era  um luxo caro  e inacessível  a  novecentos  e  noventa  e  nove  por  cento  dos  íncolas, que  também  desconheciam  as  outras  pedras iluminantes.

As  velas  de cera, por  serem  de  preço  muito  alto, restringiam-se  aos  actos de  rito,

E as  de  sebo, não  se  vendiam por  aqui.

De  sorte   que, posto o sol  e  não sobrevinda  a  lua, era  ainda  à  mae-natura   que se  recorria.

A lumeeira  de  palha, o  galho  de  pinho—do bravo—porque  o manso  mal debuta—,

a  rama  da  giesta, a   pinha  constituíam  o material iluminante—dentro  e  fora   de  portas.

Até  na casa  do  correio, ou seja  do  influente   local   onde  se  ia  pôr  e  levantar   a  correspondência, se  adregava de  chegar   já  depois  do  crepúsculo  nocturno, o  solicito distribuidor armava-se  de  lunetas  e  acendia  uma  pinha, não  com um fósforo, mas  chegando-a  ao braseal  que  rechinava.

Assim  o mandavam  elementares  preceitos  de  economia  centrados  no rifão: Quem  não  poupa  um palito, nunca  chegará  a  rico.

Por  vezes, muitas  vezes   até, não  era  a sovinice  mas   a  rareza  da  moeda   cunhada   que  levava  a  pedir  uma brasinha  de  lume  á  vizinha  que  mais  cedo acendera  a  lareira.

É  que, antes   do  grande  exôdo, dois  tostões, preco  da  caixinha  dos  amorfos, eram  dois  tostões...  que  nem  sempre  tilintavam  no bolsilho  de  qualquer.

publicado por julmar às 17:01
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Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013

O rio da minha aldeia

 

(Foto de Manuel Fonseca)
          O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
          Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
          Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia
          (...)
          Poema de Alberto Caeiro

 

publicado por julmar às 14:23
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Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2013

E agora com a A25?

Em 30 de Março de 2005 no meu extinto blog "O Pitagórico, a pergunta era:

IP5 - Desenvolvimento do subdesenvolvimento?

Mais uma vez rumei caminho de Vilar Maior onde quase sempre passei a Páscoa. Tomei o IP5 que há-de ficar na história viária portuguesa como um progresso enorme dos que como eu, antes de existir, precisávamos de um dia de Inverno para chegar do Porto à aldeia: O Mini, primeiro, o Carocha, a seguir fizeram a velha estrada vezes sem conta com família e bagagens por curvas e contracurvas de olho nos buracos grandes que se abriam na estrada – quem não se lembra do que era atravessar S. João da Madeira, no tempo em que as estradas nacionais percorriam longitudinalmente aldeias, vilas e cidades? Os últimos dez quilómetros para chegar à aldeia eram feitos em terra batida, com o credo na boca não fosse aparecer algum sítio de difícil transposição. Mas a alegria antecipada de chegar ao lar quente da família ajudava a vencer toda a adversidade. A viagem de regresso complicava-se mais ainda porque era impensável para os pais que se partisse sem levar uma saca de batatas, uns litros de feijão, um resto de cebolas, um garrafão de vinho, mais o enchido, mais o queijo, mais isto, mais aquilo ... em bagageiras modestas para tanta generosidade que obrigava à colocação de grade no tejadilho. O Mini e o Carocha tradicionais concorriam na estrada com os recém chegados japoneses Toyotas e Datsuns, os Kadets da Opel, os 128 da Fiat, a Dyane da Citoen, a 4L da Renault, o Simca 1100, o Peugeot 2004 que de fracas cavalagens e de cilindradas a rondar os 1000 e 1200 constituíam o grosso dos veículos circulantes. Não havia cintos de segurança, não havia ABS, não havia Air-Bags, não havia Ar Condicionado, não havia limites de velocidade senão os que derivavam das máquinas circulantes e do estados das vias, não havia operações Páscoa da GNR e os acidentes eram raros. A bordo ouvia-se rádio quase sempre acompanhado de um fundo ruidoso ou, então, se provido da mais recente tecnologia de leitor de cartuchos, o Roberto Carlos, o Júlio Iglésias, o Carlos do Carmo, os Beatles, o Tom Jones ou outros consoante os gostos. Era no tempo em que a aldeia estava cheia de gente, de gente que conhecíamos e por quem nos interessávamos tanto quanto elas se interessavam por nós. Cumprimentávamo-nos todos de maneira pessoal e demorada. Já sabia que o ti Chico, positivo e bom como era, diria: - O sr. Dr está bom, está gordo! – no tempo em que ser gordo era uma boa notícia.
Depois veio o IP5 e com ele outros carros, outras músicas, outras vidas e mais mortes, e mais morte. Com o IP5, pelo IP5 (não por causa do IP5) mais gente veio para as metrópoles do litoral, menos gente ficou nas nossas aldeias.
O IP5 por onde vim já não é o mesmo. Está em extinção. Dentro em pouco teremos a sua duplicação, transformação em autoestrada. Com que efeitos para a minha aldeia, com que efeitos para as nossas aldeias?

publicado por julmar às 19:20
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