A ideia da predestinação é uma ideia arquétipica. Persiste e aparece em toda a parte e sob as mais diversas formas, costumando servir de explicação para o inexplicável.
O povo pressupõe-a nos santos. É como se Deus os escolhesse antes de nascerem.
Ás vezes como prémio às virtudes dos pais ou a um acto de excepcional relevância por eles praticado.
E, não raro, o nascimento dum santo ou de um homem ou mulher de virtude é anunciado aos seus progenitores através de uma aparição ou de um sonho.
Os poderes sobrenaturais adquirem-se por predestinação, por herança, por transmissão mágica, pela frealização dum acto muitas vezes involuntário, até por uma circunstancia alheia, que pode passar mesmo desapercebida a quem os recebe.
O bento que cura doenças apondo as mãos no enfermo e pode fazer levedar o pão ou remediar o vinho que já vai para vinagre e opera muitas outras maravilhas tem esse poder por ter nascido quando o Menino Jesus ou seja numa noite de Natal ou por ser o sétimo filho quando a mãe antes já tenha dado á luz seis varões seguidos.
Como sinal da predestinação, o ungido de Deus pode trazer uma cruz no céu da boca, outra no peito.
O ser o sétimo filho seguido do mesmo sexo é ambivalente, pois o varão, em vez de homem de virtude, pode virar lobishomem e, se forem sete mulheres seguidas a nascer, a sétima pode dar em bruxa..
Ás vezes, os poderes sobrenaturais são hereditários, sucedendo-se geração após geração, os membros da família que curam o meigalho e a ferida de olho, tiram o diabo dos corpos, adivinham coisas ocultas, passadas e futuras e descobrem autores de roubos e malefícios...
Os valuros ou baluros, antigos bruxos que andavam de terra em terra, pedindo para as onze mil virgens e fazendo de rezadores, curandeiros, feiticeiros e adivinhos, tinham virtudes que lhes advinham da terra onde nasceram.
O mal de olhado - em galego Frida D-ollo ...
Trata-se de poder que se atribui às bruxas, mas também é partilhavel por pessoas inocentes do mal que fazem - poder maligno que adquirem por predestinação.
O que faz mal sem querer, para o prevenir, baixa os olhos, diminuindo assim a força dos raios deletérios. Quem tem esse poder e conscientemente o utiliza são as bruxas.
Mas como se chega a bruxa, explica-se de várias maneiras.
Pelo nascimento, sendo a sétima filha consecutiva de um dado casal.
Ou por herança ou investidura, que podem ser actos involuntários.
Uma bruxa não pode morrer sem deixar os seus poderes a outra pessoa, o que faz entregando-lha a vassoura ou o caçoilo dos unguentos. Ou até, simplesmente apertando-lhe o pulso, enquanto diz Herda, herda...
Chama-se a isto passar os novelos.
A predestinação e a herança funcionam também relativamente às feiticeiras práticas.
Muitas destas sofrem de anomalias psíquicas, como ataques epiléticos, crises de sonambulismo, etc...
Por vezes, diz-se que carregam espíritos, que à hora da morte, transmitirão a terceiros
Há quem tenha o corpo aberto e, por isso, pela sua boca, falam outros, anjos ou demónios, quando não mesmo defuntos de pouco tempo.
Há feitos casuais que determinam um fado destes para uma pessoa.
Assim, se no acto do batismo, o sacerdote emprega, em vez do óleo dos vivos, o
da extrema-unção o neófito adquire o poder de ver as coisas ocultas, inclusive a sorte dos defuntos no outro mundo ou anunciar o próximo vizinho a finar-se, nem que o indicado esteja de perfeitíssima saúde.
Há outros factos, meramente casuais e episódicos, que determinam virtude.
Assim, se um homem que anda lavoirando asdrega de matar uma toupeira, adquire, ipso facto, a virtude de curar doenças e aplacar dores, mediante a simples aposição de mãos.
http://www.youtube.com/watch?v=fcSalrWyJnc
Avec ma gueule de métèqueDe juif errant, de pâtre grecDe voleur et de vagabond
Avec ma peau qui s'est frottéeAu soleil de tous les étésEt tout ce qui portait jupon
Avec mon cœur qui a su faireSouffrir autant qu'il a souffertSans pour cela faire d'histoires
Avec mon âme qui n'a plusLa moindre chance de salutPour éviter le purgatoire
Avec ma gueule de métèque[ From: http://www.metrolyrics.com/le-meteque-lyrics-george-moustaki.html ]De juif errant, de pâtre grec** Et mes cheveux aux quatre vents
Je viendrai ma douce captiveMon âme sœur, ma source viveJe viendrai boire tes vingt ans
Et je serai prince de sangRêveur ou bien adolescentComme il te plaira de choisir
Et nous ferons de chaque jourToute une éternité d'amourQue nous vivrons à en mourir
Et nous ferons de chaque jourToute une éternité d'amourQue nous vivrons à en mourir
GEORGE MOUSTAKI - LE METEQUE LYRICS
A bolota trazida pelos pombos
Quedou-se entre os escombros
Da ravina esburacada...
Depois, nova trovoada
Consumou a sementeira,
Foi a chuva a lavradeira
Para o viçoso embrião
A escura prisão
Não seria dilatada.
E numa madrugada
De um maio brando e doce
O véu das trevas rasgou-se...
(texto reportado ao ano 2003)
Durante o curto tempo que estive em Vilar Maior nas férias, em Agosto (também eu, por minha pouca sorte, vou menos vezes e por menos tempo), num dos passeios que costumo fazer rumei ao Buraco, desci até ao Porto Sabugal cuja ribeira não para de correr em virtude da barragem de Alfaiates. Junto ao pontão, na erva das margens que ladeiam as águas correntes pastam duas vacas e um burro. Um casal de idosos na veiga cultivada com milho e outras plantas viçosas. Um autêntico oásis no deserto. Oásis onde as chamas que devoraram tudo em volta na maior área ardida até hoje na região, não puderam entrar. A mulher, com a anuência continuada do marido, recorda como era antigamente: a água escassa que com noras e burras dessedentava o renovo nas veigas que se alongavam pelas margens, as muitas fainas agrícolas, gente e gado por todo o lado e as cantigas que ecoavam no ar.
Continuei o meu deambular sobre cinzas, passando pela Formiga em direcção à Ponte da Guarda. Em redor nem o mais pequeno sinal de vida animal ou vegetal. Na ausência de motivo paisagístico cogitava sobre a conversa mantida com o casal e sobre como nos é estranha um tipo de sabedoria que não se adquire nos livros, mas numa experiência de tradição e de ligação á natureza. De como esta gente não sabe das camadas de ozono, nem das grandes cimeiras internacionais sobre o ambiente mas sabe e faz mais pelo ambiente que todos eles.
As terras envelhecem como as pessoas.
São meninas
são adultas
são caducas.
Dói ver morrer
mesmo sendo casas de pedra.
Dói que o silêncio
entre nas aurículas
e aí seja musgo
paz saqueada. Dói tanta coisa:
até um western
numa cidade fantasma.
Dói tudo o que finda e a findar nos mata.
Poema Erosão, Fernando Namora
Para os que ainda não preencheram o IRS, ainda estão a tempo. Relembramos a todos os vilarmaiorenses residentes em Vilar Maior ou fora que não esqueçam a oportunidade de consignar 0,5% da colecta a favor da Santa Casa da Misericórdia de Vilar Maior Irmandade e Instituição Particular de Solidariedade Social, com o Nº de Identificação Fiscal - NIF - 504 300 130
A consignação de IRS é uma possibilidade que todos os contribuintes têm ao seu dispor e consiste na decisão de “desviar” 0,5% da colecta de imposto para outra entidade.
A opção não representa um encargo adicional a quem a faz, uma vez que se trata de uma simples reafectação do dinheiro que, em vez de dar entrada nos cofres do Estado, vai para a conta de uma instituição à escolha do contribuinte.
Recorde-se ainda que os prazos para a entrega de IRS foram este ano alterados. Assim, quem tiver apenas rendimentos do trabalho dependente e/ou pensões poderá apresentar a sua declaração de IRS em dois períodos, consoante o suporte que decida utilizar: em papel entre 1 e 31 de Março e, via internet, entre 1 e 30 de Abril.
Já agora num espírito de unidade que havemos de construir em torno da União de freguesias de Aldeia da Ribeira, Vilar Maior e Badamalos apelamos
aos contribuintes deste novo território administrativo que inclui as anexas de Batocas, Escabralhado, Carvalhal e Arrifana, para que façam esta consignação.
Não nos custa nada e é dinheiro que será entregue a uma instituição cujo serviço de apoio social é indiscutível, sobretudo no apoio à população idosa. Façam campanha junto dos vossos amigos.
Havemos de dar notícia de quanto conseguimos.
Como já tivemos ensejo de referir, o estranho ao burgo que nele arranje arrange conversada, arrisca-se a pagar a patente, a comer as moras, em linguagem corrente com um certo travo, é certo, a prosa jurídica, atentos os resquícios a incumprimento. Normalmente, pagar é um acto doloroso, não sendo por mero diletantismo que á conta se dá mesmo o nome de DOLOROSA.
Mas aqui há quem goste de pagar.
Porque o amor é a sério e a conversada merece.
Ou porque o fasto acrescenta um ponto a estes dom juans de rabona a quem o epíteto de conquistador provoca cócegas no céu da boca.
Depois o alguacil da Confraria dos Solteiros que o increpou tinha lábia para convencer o mais céptico.
A rapariga era simultaneamente rosa da Alexandria e lírio de Jerusalém, exemplar pela beleza do rosto e a elegância do conspecto. Pura como as onze mil virgens e exornada de todas as qualidades que definem uma mulher. E quanto a bens do mundo, quem a levasse iria bem servida. Do avô constava que achara um pote de santanarias...corruptela a tender para o religioso de centenárias. Isto é de moedas cunhadas para assinalar um importante acontecimento. E o pai fora moleiro e lagareiro, daqueles que juntamente com os escrivões dão o mote para nove ladrões....
Para reforçar o mote, evocava o Deus te salve cantadeira//Deus te cubra de benção
Lembrando a estrofe:
Tão linda qual Policenas
Sabia como a rainha de Sabá
Paciente como Jó
Humilde tal o Isá
Tudo quanto é virtude
Naquela mulher é que há
Enfim, com paciência e geito, o candidato lá se esportulava. Pouco, que os teres não davam para grande coisa. Mas de anos a anos, lá caía na rede peixe do mais grosso. Então, dava para tudo:
Para contratar os grandes acordeonistas de perto e longe - O Chico Serra, dos Forcalhos; O Zé Nobre, de Alfaiates; O Raul, da Bismula; O Giestas, de Quarta- Feira; O Landeiro , das Aranhas; Até o Manuel Augusto, do Salgueiro do Campo - o mago da Orquestra Típica Albicastrense, onde competira com a grande Eugénia Lima.
E, para, regressando às coisas do corpo, adquirir carrolas de trigo, pipas de vinho e meio fato de cabritos, cabras e bodes.
Estas grandes caçadas são raras, não havendo nem sequer uma em cada decada
E chegam mesmo a ser perigosas, muito perigosas até, pelo excesso de ramboia que criam.
Com efeito, podem gerar um ambiente de prolongada histeria em que os vapores do alcóol pesando continuadamente levem a confrontos, por vezes trágicos.
Foi o que aconteceu na vizinha povoação de Aldeia da Ponte, vai, não tarda para um século.
Um rico e generoso lavrador do Jarmelo enamorara-se de uma formosa e abastada senhora daquela freguesia com a qual veio efectivamente a constituir família.
Esportulando-se, deixou na Confraria dos Solteiros verba cabonde para algumas semanas de grande pandega
O quarto copo e vinho pode despertar o maligno e dá para a loucura.
Deixa-o beber à vontade e verás de quem ele é filho.
Surgiram provocações à autoridade.
Esta, possivelmente em excesso de legítima defesa, abriu fogo sobre os moços mais destemidos, matando dois.
O caso deu mote para cantigas de cego e sanfona.
Há em Aldeia da Ponte
Um talho de carne humana
O grande carniceiro
É a Guarda Republicana
Na data aprazada, o neófito, com pleno assentimento do pai, que no seu tempo também andou nas ruas, ou seja foi membro da Confraria, enche na adega da casa, dois cântaros de vinho da melhor lavra do ano.
Para a hipótese rara de os pais não produzirem vinho, aconselha-se-lhe que procure lavrador que lho ceda, relegando-se para último lugar o recurso ao vendeiro que da má fama não se livra - matruca o produto.
Assim rezam as trovas
É um perfeito cristão
Em tudo tam perfeitinho
Que vejam que o maganão
Até batiza o seu vinho...
Municiado de bebida, vai à venda e compra cigarros que dêem, no mínimo, para uma dupla rodada.
Com estas credenciais, aparece à noite, depois da reza das almas, no lugar do estilo - a praça mais ampla do povoado, onde crepita já uma enorme fogueira, ou cabanal para tanto prezado, se há nuvens pressagiando ou confirmando chuva
Então, os dois membros mais novos da confraria, os últimos que pagaram a patente, pegam num dos cântaros, cada qual por sua asa, enquanto um terceiro, que é o antepenúltimo confrade, empunhando um canadão, vai distribuindo vinho, primeiro pelo maioral, depois pelos imediatos e assim sucessivamente até completar todos os presentes, em regra o plenário dos moços, pois só por causa grada, algum faltará...
Por seu turno, o neófito faz a distribuição dos paivantes que uns fumarão, outros guardarão.
Esvaziado o primeiro cântaro, o maioral ou um dos seus validos faz ao novo associado uma arenga, em que fala dos deveres impostos pela sua nova condição - obediência aos mais antigos, bico calado sobre o que se passa na rua, coragem e cortesia para com os confrades das terras vizinhas.
Obrigação de segundo as suas posses contribuir para as despesas gerais e de segundo as suas possibilidades prestar serviços regulares e períodicos, como vigiar as ruas e os campos, reprimindo abusos,,,
Na primeira cerimónia de iniciação que a seguir tiver lugar, será ele um dos dois a pegar no cântaro...
Para as fogueiras acesas para combater o frio ou assar qualquer peça teré ele de carrear a lenha, obter acendalhas e regular o fluxo…
Nos bailaricos que se armam nos terreiros e serões só irá buscar rapariga depois de servidos os confrades mais velhos.
As obrigações são um pouco pesadas, mas têm uma contrapartida que vale bem o sacrifício.
E, sobretudo, há a satisfação de ter entrado num mundo tantas vezes sonhado
Por isso, quando, já alta noite, e um pouco perturbado pelos vapores do vinho, regressa a casa, o nosso herói tem a sensação nítida de ter entrado num novo estádio da sua vida.
Vimos em crónicas anteriores que, segundo acta da Junta da Paróquia de 1852 se decidiu sobre a exploração e o encanamento de água vinda do Buraco para o sítio do Pelourinho, onde se haveria de construir um chafariz. Afinal, a água não era assim tanta, e por mor disso e da falta de dinheiro, o chafariz ficou em águas de bacalhau. Coincidência de datas, o chafariz haveria de surgir, cem anos volvidos, em 1952 e julgou-se que seria obra, não para a eternidade, mas para muitos anos.
Os problemas no princípio começaram não pela falta de água, mas talvez pelo excesso, e pela deficiência de fundamentos científicos de hidráulica conjugados com a falta de conhecimento sobre questões gravíticas e fluxos e refluxos de ar comprimido em canos. Também poderia tratar-se de deficiência dos materiais vendidos pela casa Conde § Gião que à época vendia os tubos de lusalite. Certo é que, volta e meia, os canos rebentavam com óbvios transtornos à população que bem e depressa se habituara ao manancial aquífero e o adir de despesas concernentes à respetivas reparações.
A partir de 1960, não por míngua de água, mas pelo excesso de gentes e gados, a exploração da terra cansada e exausta respondia com produções cada vez mais baixas. Escassez de trabalho para os jornaleiros e de jeiras para os lavradores. A exploração do minério chegara ao fim pondo termo ao contrabando do mesmo. Os forneiros já não tinham onde ir buscar giestas para aquecer os fornos. E se o forno deixa de funcionar lá se vai o provérbio de conforto para quase todas as desgraças: Haja saúde e coza o forno.
Por isso, há que sair. Os rapazes vão para a guerra ou fogem dela. Os homens deixam mulher e filhos, largam gado e terra e, a salto, demandam terras além Pirinéus. A França torna-se a terra prometida onde corre o leite e o mel a que ninguém, quase ninguém resiste.
Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não
O poeta sabia como era, não como seria. Hoje sabemos:
Nem ricos, nem pobres. Muito suor. E todos com histórias para contar.
O abandono da terra foi progressivo e quase total. A paisagem, que é o rosto da natureza, sem o cuidado do homem, seguiu a lei da selva onde na luta pela vida sobrevive o mais forte. E o mais forte nem sempre, diria quase nunca, é o melhor. Quando se perde a cultura, mesmo que seja a cultura dos campos (agricultura), é a humanidade que se perde.
Pois, mas que tem a ver isto com a água? Aprendi com o meu pai que era preciso ordenhar as vacas duas vezes ao dia, que, no tempo das regas, era preciso tirar, regularmente, a água do poço - deitar o poço, como dizia. As vacas dariam menos leite e acabariam por secar. O mesmo para o poço. Ora, aos poucos as terras ficaram incultas e presas e poços por deitar, levou bracejos, juncos e silvas a tomarem conta deles.
O Planalto das rasas das Moitas era o celeiro que fazia chegar o pão à mesa e era a floresta fonte de energia que, em forma de lenha, chegava à pedra de cada lar, à lareira em torno da qual se alimentava o corpo e a alma. Era aqui o altar da cada família onde se repartia o pão e o vinho.
As Moitas deixaram de ser decruadas, deixaram de ser estravessadas, deixaram de ser semeadas, tudo formas de lavrar o solo, de amaciar o rosto da natureza que se hidratava com as águas das chuvas e com os nevões invernais. O rosto endureceu de tal forma que as águas corriam apressadas para os ribeiros que à ribeira iam dar.
Por isso, a água que chegava ao chafariz foi diminuindo, diminuindo sempre até, no pino do Verão, não correr gota de água.
A natureza não se vinga, apenas segue as suas leis.
Porque o homem não respeitou a natureza ela negou-lhe o que sempre graciosamente lhe dera: a água.
E o impensável em 1960 aconteceu duas ou três décadas depois: as pessoas compravam garrafas e garrafões de água.
O Chafariz andou em bolandas daqui para ali sem saberem o que lhe fazer. O povo deixou de ter voz ou a voz que tem não se faz ouvir.
E lá acabaram por encontrar um lugar. Como se trata de gente que não conhece a história adulteraram um lugar que tinha a sua história. Ali era a
eira do Buraco. Para quem lá colocou o chafariz era apenas uma lage. E não conseguindo, sol na eira e chuva no nabal, acrescentaram ao sol na eira, água na eira.
A entrada na Confraria tem o seu ritual e implica algumas cerimónias prévias.
Primeiro, torna-se necessário obter a aquiescência do maioral, por regra o mais velho dos solteiros que, apesar de poder fazê-lo quase nunca decide sózinho, mas apenas depois de ouvir os do conselho.
Consultado o maioral e obtido o seu sim, o candidato a solteiro tem de, respeitando a ordem decrescente das idades, peticionar o acordo de todos os restantes membros da confraria, o que pode tornar-se complicado nos casos de recíproca rixa guedelha.
Para o petitório há mesmo uma fórmula:
Ao que venho, venho
E não venho a mais nada
Venho pedir licença
Para entrar na rapaziada
Numa outra versão a frase final será:
Para Pagar a Cantarada
Por vezes, a coisa embatuca, ou por rivalidades de família, ou por acessos de má ciumeira - o neófito ter deitado olho a rapariga disputada por rival já instalado.
Para desatar o nó, que pode tender a górdio, intervém o conselho do maioral, que corta a direito.
Mas a audição, um a um, de todos os membros da comunidade é essencial.
Se algum se encontrar ausente, por motivo,v g, de serviço militar, ou emprego fora da terra, comumente como pastor ou ganhão, terá, por igual, de diligenciar no sentido de obter dele aquiescência.
E, caso curioso, mandam os canones que, na impossibilidade de ouvir directamente o próprio solteiro, se vá a casa de seus pais, que oferecendo dois copos de vinho, ouvirão a pretensão.
Terminadas as consultas, o candidato avisa o maioral que reune a rapaziada para marcar o dia, ou mais propriamente a noite, para a entronização.
Propícias são as noites de inverno, entre a Santa Catarina e a Senhora das Candeias.
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