Quando o calor aperta um pouco mais, a nossa propensão para o vegetarianismo vem sempre ao de cima.
As hortas do Cesarão que os íncolas desde tempos imemoriais tratam com esmerado carinho propiciam os elemenos essenciais.
A alface, enriquecida com uma boa dose de azeite, uns fios de vinagre e granulos de sal, dá o mote.
Tomates, pimentos e pepinos podem servir de complementos.
Mas todos juntos dão o refrescante caldo a que nós chamamos gaspacho.
Vegetais crus, atenrados a azeite e picativos a vinagre.
É uma mescla para as tardes mais calmosas.
Que se pede ansiadamente.
Ó senhora nossa ama
Veja se nos pode dar
Uma malga de gaspacho
Para o peito refrescar
Trata-se de uma miga de orígem castelhana, do lado de cá da Raia, divulgado pelos nossos gadanheiros que iam cortar o feno para as imensas pradarias do campo charro, onde passavam Julho e Agosto
Teve grande voga em toda a orla fronteiriça.
Hoje, raramente se come e é pena.
Os peixinhos da horta são de origem citadina
Mas hoje têm, entre nós, grande difusão - vagens verdes emolduradas a massa de ovos com farinha e depois levadas a fritar.
Repare-se que, na linguagem popular, o termo usado não é vagens, mas vaginas.
Que também fornecem uma boa merenda, simplesmente cozidas e temperadas a sal, azeite,vinagre e alho.
Os castelhanos chamam ás vagens judias.
Será grande falha se nas bancas de comes e bebes, que se antolha preenchida por numerosas unidades não aparecerem as que mais perfeitamente representam a tradição, até por serem especificamente nossas. Vilar Maior beneficia de dois cursos de água de abundantes pescarias. Ouçamos o poeta Robalos, enguias, trutas,
Peixes que a barbas enxutas
Não pesca o próprio Nereu
Fizeram ninho das grutas
Tersas de rochas hirsutas
Do Cesarão Cesareu...
E se é assim com a ribeira da Vila, que, desde Aldeia da Ponte, vem ganhando o nome, mais popular, mas também mais expressivo de Cesarão Peixeiro, nem por isso, a Ribeirinha do Pereiro deixa de lhe pedir meças em riqueza piscícola. Nao admira, em consequência, que os aborígenes se tenham especializado em pratos de peixe. Referiremos quatro, começando pelo mais simples - A Fritada, que não precisa senão duma sertã, algum azeite e umas pedrinhas de sal. Mais exigente, mas não muito, é a escabechada, que já implica algum domínio da difícil arte das molhangas. Vem depois a miga de peixe e a sopa de peixes, ambas a requererem para a perfeição, trigo espanhol de Alamedilha ou Albergaria Tanto uma como a outra podem ser enriquecidas com poejos e diferentes ervas aromáticas, que crescem nas lameiras das margens do Cesarão.
D. Marquinha Bárbara ladeada de marido e irmão
Levemos á feira a propensão para as artes ligadas à moda, sempre manifestada pelas senhoras e pelos cavalheiros de Vilar Maior.
Nao sei se pela sua multissecular condição de cabeça de concelho ou se por qualquer atávica vocação dos seus íncolas, Vilar Maior, a VILA, a vila por excelência, como ainda hoje se diz por uma roda de sete léguas, sempre ditou a moda para toda uma vasta região. Ainda nos segundo e terceiro quartéis do século passado, todas as meninas e senhoras das Batocas a Vila Boa ou da Malhada Sorda a Badamalos, que se preocupassem minimamente com o seu aspecto exterior, recorriam a modistas na VILA sediadas. E, por estranho que pareça, até algumas elegantes do Sabugal, ou mesmo da Guarda, recorriam ao serviço e conselhos de costureiras do burgo. Famosa, entre todas, foi a Dona Marquinhas Bárbara, mãe do professor Mário. Minha mulher, filha dum abastado proprietário rural, que acumulava, pelo lado patrimonial, aquela condição com a de armazenista de produtos da lavoura e para a lavoura, comprando todos os excedentes dela - batatas, feijões, cereais, linhaça, castanha e matas - e vendendo tudo o que ela necessitava - adubos, sal, enxofre, químicos - desde a idade prépubere que não quis outra modista. Aquela foi-lhe indigitada pelo senhor António Lucrécio, respeitável personalidade na VILA daqueles anos e muito próximo de meu sogro por ser seu comissário, nome dado aos agentes de compras e vendas para a zona. Na Guarda, ou mesmo já cidade do Porto, onde eu estava muito familiarizado com o meio, por ser consultor jurídico do respectivo Grémio Nacional, minha mulher foi vestida pela Dona Marquinhas Bárbara, até que esta, suponho que por velhice, cessou a actividade. E não era o daquela mestra o único atelier de modas da povoação. Embora sem a finesse daquele, havia outros, também de fama. Recordo-me de um, para as bandas do Castelo, onde foram aprendizes várias raparigas da Bismula, que também singraram naquela difícil e concorrencial arte. Também pelo lado masculino, a VILA ditava a moda, embora a nível menos exigente dado que os homens se contentavam com pouco, bastando-lhes que o casaco não tenha três mangas, o colarinho não esbandorre no peito e as calças não bamboleiem. E de três peças apenas se compõe tanto o facto de cotio, como o de ver a Deus, este tão raramente vestido que por vezes o do casamento servia de mortalha, embora o utente passasse a casa dos setenta... Desta vez, para a feira eu venho encomendar roupas de fantasia - trajes para fantasmas, duendes, bruxas e lobisomens…
A tarde de ontem esteve animada no largo do Castelo do Sabugal onde em barraquinhas de feira se misturavam os comes e bebes com tradicionais chás, doces, compotas, pão, enxidos e queijos. Realce para os bragais de linho, rendas e bordados, brinquedos em madeira e, destacando-se a arte, ao vivo, de um ferreiro.
Aos poucos se foram juntando lavradores, à antiga, com suas aguilhadas e suas mulheres e filhas armadas de varapaus e instrumentos agrícolas, sob observação de Guardas Republicanos mais autênticos do que os verdadeiros. Falavam entre si da opressão caída sobre eles na forma de coimas, de leis, posturas, licenças, de taxas que se tornavam insuportáveis. O alarido aumentou e ao mando de um cabecilha dirigiram-se ao largo da Câmara onde discursos inflamados atiçaram tanto os ânimos do povo que aos gritos forçaram a porta da Câmara onde entraram e pelas janelas lançaram e queimaram as lais iníquas que sore eles pesavam. A impotência dos Guardas levou ao apelo das forças da Cavalaria que chegaram e dispersaram a multidão.
Terá sido assim, mais ou menos o que aconteceu em 10 de Fevereiro de 1926 quando a obrigatoriedade de licenças para cães e para poder ter aguilhão na vara de condução das vacas terá sido a gota de água que acabou com a paciência dos camponeses.
Quase 100 anos! Quanto mudou a vida das vacas e a vida dos homens!
A Banca dos Ausentes começa a crescer: para já terá a poesia do João Valente Martins, os azulejos de Albino Dias -
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