Porque sei que o administrador deste blog, a par de interesses literários e filosóficos, se encanta com a natureza, incentivei-o a experimentar semear umas pevides de botelheira. O resultado foi fabuloso: de uma semente criou-se uma dúzia de belas cabaças. Na vila, quando havia penúria de vasilhame, era onde o cavador ou o lavrador levavam a pinga para o campo.
Hoje, mais do que a utilidade, procura-se a criatividade e o interesse decorativo aliado, ou não, à funcionalidade. No caso, o amigo e administrador do blog, começou por usá-las na iluminação, fazendo dois candeeiros.
O embudle ou Budle, como lhe chamam na vila, de nome científico Oenanthe crocata é da família das apiáceas e, noutras paragens é designada por Rabaça. Planta tipicamente ripícula, pois tem como habitat natural terrenos alagadiços e nas margens dos rios.
Quando, no Verão, as águas se quedam em poços, regatos e açudes, que abrigam e preservam a continuidade da vida aquática - cobras, peixes, rãs e os seus descendentes peixes caçanos, vulgarmente designados por girinos - é altura de fazer pescarias. De entre as inúmeras formas de as fazer, já que de plantas estamos a tratar, falemos do budle ou embude Trata-se de uma planta existente no leito do rio ou nas lameiras contíguas, cujas raízes são tubérculos e cuja propriedade principal é a toxicidade. Uma vez desenterradas, escolha uma dessas bacias naturais escavadas nas rochas do leito fluvial. Tome um seixo que lhe sirva de martelo e esmague os tubérculos, desfazendo-os o melhor que possa. Desça junto da água e procure lama. Misture-a bem misturada com a farinha dos tubérculos até obter uma pasta homogénea. Faça bolas de 200 ou 300 gramas e terá a infalível receita preparada. Com dois ou três companheiros pegue nas bolas e vá até ao poço ou represa onde observou a existência de peixes. Tome cada um sua bola e, em simultâneo, desfaçam-nas na água que agitarão, tão fortemente quanto puderem, durante alguns minutos. Os peixes começarão a ficar tontos e a andar em correrias à superfície da água. Facilmente os apanhará à mão e terá arranjado um belo petisco. Arranje um bom pão centeio e um bom vinho da adega.Voltará a querer começar tudo de novo e ficará a saber por que chamam ao rio Cesarão, Cesarão Peixeiro.
A gilbardeira é um pequeno arbusto (pode atingir1,5m de altura) com rizomas de onde saem vários caules. Tem folhas reduzidas e pequenas escamas lanceoladas, rígidas e que picam, Os seus frutos, não comestíveis, são bagas de vermelho vivo, quando maduras. Dá-se até uma altitude de 1400m de altitude mas exige lugares sombrios e frescos razão porque na vila a encontramos no meio de fisgas de barrocos, gostando de ter por companhia próxima carvalhos e azinheiras.
Utilizações
Trata-se de uma planta em extinção, dizem alguns ser em virtude de ser uma bela planta ornamental sobretudo para arranjos decorativos pela altura do Natal. Na vila havia certamente mais do que hoje, mas a razão não é essa e não sei qual seja. Sei de três lugares apenas onde a poderei encontrar e em pequena quantidade.
Na vila chamava-se esfulijadores pela razão da sua utilização mais comum ser a de limpar a fuligem das chaminés, da seguinte maneira: fazia-se um molho e atava-se uma corda ficando uma pessoa em baixo outra em cima, puxando a corda, fazia-se subir e descer o molho até ficar limpa. Simples, prárico, eficiente.
Também podiam ser utilizadas como vassouras.
Quando havia o enchido a secar na cozinha colocavam-se uns ramos junto das cordas que sustinham os varais para evitar que os ratos se banqueteassem.
Os da minha geração, no tempo em que a Bic ainda não tinha sido inventada e as canetas de tinta permanente eram coisas de gente rica, fazíamos as nossas próprias canetas que diariamente utilizávamos na escola. Comprávamos no comércio do senhor Anibal o aparo por um tostão e o cabo era feito dos caules das gilbardeiras: direitinhos, da grossura de um lápis e levíssimos.
Quem puder proteja esta planta, replante se puder. Vou fazer isso, ou eu não me chame Hortêncio da Silva!
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Os musgos são representantes do grupo das b e como tal são desprovidos de vasos de condução e tecidos. São constituídos por caulóides, rizóides e filóides. São plantas criptógamas, isto é, que possuem o órgão reprodutor escondido, ou que não possuem flores e nem sementes. Preferem viver em lugares húmidos (são dependentes da água para a reprodução, cuja fase dominante é a gametofítica), e preferem lugares com sombra (umbrófitas). Geralmente atingem poucos centímetros de altura justamente por não possuírem vasos de condução de seiva, In Wikipédia
Encontram-se divididos em três classes: Sphagnidae (os musgos-de-turfeira), Andreaeidae (os musgos-de-granito) eBryidae (conhecidos como “musgos verdadeiros”).
Esta planta minúscula, na vila, desenvolve-se nas estações de chuvas e acrescenta o seu verde caraterístico - o verde musgo - à paisagem. Fazia parte na nossa meninice dos materiais de brincar, arrancando em placas que constituíam verdadeiros tapetes colridos e fofos. Tapetes com que inevitavelmente se fazia todos os anos o chão onde assentava o Presépio do Natal.
Também entrou na linguagem para classificação do feitio daqueles para quem o calado é o melhor. Dizia-se daquele que é pouco expressivo em palavras e gestos: é um musgo!
Subi à torre da vila para dar corda ao relógio, aproveitei para olhar lá de clma e tirar umas fotografias. E veio-me à lembrança a cena da tentação de Jesus:
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. IV, vs. 5-8.
Vinicius de Morais serviu-se desta passagem como introdução ao fabuloso poema " O operário em construção"
Poderiam duvidar se fosse eu a dizer que o Cesarão é maior que o Tejo. Mas não, é Pessoa no seu melhor. E eu até teria argumentos que Pessoa não tem, porque Pessoa não teve uma ribeira na sua infância, nem uma aldeia. E eu sei que foi a partir da aldeia que conheci o mundo. Aprendi Geografia, Botânica, Português, Sociologia, Filosofia e tudo quanto sei, a partir daí. Claro que se pode aprender a vida a partir da rua
ou do bairro onde se cresceu. Mas não é a mesma coisa. Qalquer rio, em livro ou em viagem, me remete sempre para o rio da minha aldeia. Ao descer o Nilo rumo a Alexandria, remetia ao Cesarão. Quando as pessoas não têm mais sobre que falar, falam do estado do tempo. Na vila, além do tempo ou, juntamente com ele, falam do estado da Ribeira: se já começou a correr, se já secou, se já entrou às hortas, se já canta. Sim, se já canta. Quem já ouviu esse murmúrio das águas, sabe como é, sabe em que é que param ou correm as águas.
E foi com esse fundo sonoro, que nos garante que o mundo não muda assim tanto e que continuamos a ser, que me encontrei a ler o poema do bucólico Caeiro:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Também Job Tobim achou que devia cantar o rio da minha aldeia:
http://www.youtube.com/watch?v=n4z3Rm5y1hI
Não havia IP5, nem A25, nem aviões, nem carros. Apenas cavalos, mulas e carroças. Mas os reis corriam o reino, iam atá à Guarda, ao Sabugal, talvez mesmo a Vilar Maior tratar dos problemas do povo e do reino. E ainda tinham tempo para poemar.
Ai eu, coitada, como vivo en gran cuidado
por meu amigo, que hei alongado!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu, coitada, como vivo en gran desejo
por meu amigo, que tarda e non vejo!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda
D. Sanco ou Afonso X
Cumprir com as obrigações fiscais - a décima, o dízimo, a licença do cão, a licença disto e daquilo - não era coisa fácil numa comunidade onde a escassez do dinheiro era comum. Pelo que, na impossibilidade de cumprir se botavam ao relaxe. Outros se botavam ao relaxe pois por onde quer que fossem apenas deparavam com becos sem saída.
Eram relaxados aqueles que se abandonam ao curso dos dias, ao vento das circunstâncias, aos que se deixam arrastar pela corrente, aos que baixam os braços. Deixam que as nódoas se acumulem, que a barba cresça, que a remela se seque, que o tempo passe indefinido. Deitam-se ao relaxe e tanto se lhes dá isto como aquilo, que chova ou faça sol. Entegam o seu destino ao pior dos deuses: O Deus Dará que é uma providência descuidada. Desacorossoados da vida, sem réstea de esperança, botam-se ao relaxe. Seca-se-lhes o corpo, mirra-se-lhes a alma.
E, tirando o vinho e a confissão não havia remédios nem doutores que tal coisa curassem. Quando não empederniam o coração, quando a indiferença era impossível, às vezes, uma corda para apertar cargas ou prender o vivo era o instrumento de perdição.
Hoje o relaxe é outro. Aquilo que era uma figura do direito fiscal passou a uma técnica (ou um campo de lazer...) corporal e/ou espiritual de aliviar o stress, de encontar bem estar.
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