Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2014

Etnobotânica - Cabaceiras - Hortêncio da Silva

Porque sei que o administrador deste blog, a par de interesses literários e filosóficos, se encanta com a natureza, incentivei-o a experimentar semear umas pevides de botelheira. O resultado foi fabuloso: de uma semente criou-se uma dúzia de belas cabaças. Na vila, quando havia penúria de vasilhame, era onde o cavador ou o lavrador levavam a pinga para o campo.

Hoje, mais do que a utilidade, procura-se a criatividade e o interesse decorativo aliado, ou não, à funcionalidade. No caso, o amigo e administrador do blog, começou por usá-las na iluminação, fazendo dois candeeiros.

publicado por julmar às 20:57
link | comentar | favorito
Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014

Etnobotânica - Budle - Hortêncio da Silva

O embudle ou Budle, como lhe chamam na vila, de nome científico Oenanthe crocata é da família das apiáceas e, noutras paragens é designada por Rabaça. Planta tipicamente ripícula, pois tem como habitat natural terrenos alagadiços e nas margens dos rios. 

Trata-se de uma planta altamente tóxica e ainda que os herbívoros, por regra a saibam evitar, conhece na vila o caso da vaca do ti Zé Mergildo que morreu envenenada por ter comido a referida planta. 
Mas como na vila não havia coisas sem préstimo também destas plantas souberam tirar proveito, como nos conta Júlio Marques em Vilar Maior, minha terra, minha gente, pgs 70-71

Quando, no Verão, as águas se quedam em poços, regatos e açudes, que abrigam e preservam a continuidade da vida aquática - cobras, peixes, rãs e os seus descendentes peixes caçanos, vulgarmente designados por girinos - é altura de fazer pescarias. De entre as inúmeras formas de as fazer, já que de plantas estamos a tratar, falemos do budle ou embude Trata-se de uma planta existente no leito do rio ou nas lameiras contíguas, cujas raízes são tubérculos e cuja propriedade principal é a toxicidade. Uma vez desenterradas, escolha uma dessas bacias naturais escavadas nas rochas do leito fluvial. Tome um seixo que lhe sirva de martelo e esmague os tubérculos, desfazendo-os o melhor que possa. Desça junto da água e procure lama. Misture-a bem misturada com a farinha dos tubérculos até obter uma pasta homogénea. Faça bolas de 200 ou 300 gramas e terá a infalível receita preparada. Com dois ou três companheiros pegue nas bolas e vá até ao poço ou represa onde observou a existência de peixes. Tome cada um sua bola e, em simultâneo, desfaçam-nas na água que agitarão, tão fortemente quanto puderem, durante alguns minutos. Os peixes começarão a ficar tontos e a andar em correrias à superfície da água. Facilmente os apanhará à mão e terá arranjado um belo petisco. Arranje um bom pão centeio e um bom vinho da adega.Voltará a querer começar tudo de novo e ficará a saber por que chamam ao rio Cesarão, Cesarão Peixeiro.

publicado por julmar às 17:44
link | comentar | favorito
Quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2014

Etnobotânica - Gilbardeira ou esfulijadores - Hortêncio da Silva

Illustration Ruscus aculeatus0.jpg

A gilbardeira é um pequeno arbusto (pode atingir1,5m de altura) com rizomas de onde saem vários caules. Tem folhas reduzidas e pequenas escamas lanceoladas, rígidas e que picam, Os seus frutos, não comestíveis, são bagas de vermelho vivo, quando maduras. Dá-se até uma altitude de 1400m de altitude mas exige lugares sombrios e frescos razão porque na vila a encontramos no meio de fisgas de barrocos, gostando de ter por companhia próxima carvalhos e azinheiras. 

Utilizações

Trata-se de uma planta em extinção, dizem alguns ser em virtude de ser uma bela planta ornamental sobretudo para arranjos decorativos pela altura do Natal. Na vila havia certamente mais do que hoje, mas a razão não é essa e não sei qual seja. Sei de três lugares apenas onde a poderei encontrar e em pequena quantidade.

Na vila chamava-se esfulijadores pela razão da sua utilização mais comum ser a de limpar a fuligem das chaminés, da seguinte maneira: fazia-se um molho e atava-se uma corda ficando uma pessoa em baixo outra em cima, puxando a corda, fazia-se subir e descer o molho até ficar limpa. Simples, prárico, eficiente.

Também podiam ser utilizadas como vassouras.

Quando havia o enchido a secar na cozinha colocavam-se uns ramos junto das cordas que sustinham os varais para evitar que os ratos se banqueteassem.

Os da minha geração, no tempo em que a Bic ainda não tinha sido inventada e as canetas de tinta permanente eram coisas de gente rica, fazíamos as nossas próprias canetas que diariamente utilizávamos na escola. Comprávamos no comércio do senhor Anibal o aparo por um tostão e o cabo era feito dos caules das gilbardeiras: direitinhos, da grossura de um lápis e levíssimos. 

Quem puder proteja esta planta, replante se puder. Vou fazer isso, ou eu não me chame Hortêncio da Silva!

publicado por julmar às 10:51
link | comentar | favorito
Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014

Memórias de Vilar Maior

Como o tempo passa e se transforma em memória! Vai para 17 anos que editei este livro que passa a fazer parte das memórias de Vilar Maior. Amigos e familiares, de quando em quando, pedem-me um exemplar. Resta-me apenas um. Por várias vezes, me decidi a fazer uma nova edição. A causa principal de não ter acontecido é a procrastinação.
Com todos os defeitos, gosto muito dele. Para os nossos filhos e gerações vindouras lá encontrarão a história, as tradições, usos e costumes da Vila. E ... quem sabe talvez um outro apareça, com novo rosto, para dizer o que não foi dito.
publicado por julmar às 12:31
link | comentar | favorito
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2014

Etnobotânica - Musgos - Hortêncio

.

 

Os musgos são representantes do grupo das b e como tal são desprovidos de vasos de condução e tecidos. São constituídos por caulóides, rizóides e filóides. São plantas criptógamas, isto é, que possuem o órgão reprodutor escondido, ou que não possuem flores e nem sementes. Preferem viver em lugares húmidos (são dependentes da água para a reprodução, cuja fase dominante é a gametofítica), e preferem lugares com sombra (umbrófitas). Geralmente atingem poucos centímetros de altura justamente por não possuírem vasos de condução de seiva, In Wikipédia

Encontram-se divididos em três classes: Sphagnidae (os musgos-de-turfeira), Andreaeidae (os musgos-de-granito) eBryidae (conhecidos como “musgos verdadeiros”).

Esta planta minúscula, na vila, desenvolve-se nas estações de chuvas e acrescenta o seu verde caraterístico - o verde musgo - à paisagem. Fazia parte na nossa meninice dos materiais de brincar, arrancando em placas que constituíam verdadeiros tapetes colridos e fofos. Tapetes com que inevitavelmente se fazia todos os anos o chão onde assentava o Presépio do Natal. 

Também entrou na linguagem para classificação do feitio daqueles para quem o calado é o melhor. Dizia-se daquele que é pouco expressivo em palavras e gestos: é um musgo!

publicado por julmar às 11:48
link | comentar | favorito
Quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2014

Do alto da Torre

Subi à torre da vila para dar corda ao relógio, aproveitei para olhar lá de clma e tirar umas fotografias. E veio-me à lembrança  a cena da tentação de Jesus:

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. IV, vs. 5-8.

Vinicius de Morais serviu-se desta passagem como introdução ao fabuloso poema " O operário em construção"

publicado por julmar às 22:06
link | comentar | favorito

O Tejo não é mais belo que o rio que passa pela minha aldeia

 

Poderiam duvidar se fosse eu a dizer que o Cesarão é maior que o Tejo. Mas não, é Pessoa no seu melhor. E eu até teria argumentos que Pessoa não tem, porque Pessoa não teve uma ribeira na sua infância, nem uma aldeia. E eu sei que foi a partir da aldeia que conheci o mundo. Aprendi Geografia, Botânica, Português, Sociologia, Filosofia e tudo quanto sei, a partir daí. Claro que se pode aprender a vida a partir da rua

ou do bairro onde se cresceu. Mas não é a mesma coisa. Qalquer rio, em livro ou em viagem, me remete sempre para o rio da minha aldeia. Ao descer o Nilo rumo a Alexandria, remetia ao Cesarão. Quando as pessoas não têm mais sobre que falar, falam do estado do tempo. Na vila, além do tempo ou, juntamente com ele, falam do estado da Ribeira: se já começou a correr, se já secou, se já entrou às hortas, se já canta. Sim, se já canta. Quem já ouviu esse murmúrio das águas, sabe como é, sabe em que é que param ou correm as águas. 

E foi com esse fundo sonoro, que nos garante que o mundo não muda assim tanto e que continuamos a ser, que me encontrei a ler o poema do bucólico Caeiro:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

 Também Job Tobim achou que devia cantar o rio da minha aldeia:

http://www.youtube.com/watch?v=n4z3Rm5y1hI

publicado por julmar às 03:25
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 12 de Fevereiro de 2014

Ribeira vai cheia

Foto João Marques
Foto João Marques
Todos, por todo lado se queixam do estado do tempo, Nuitos s queixam dos estragos que vai causando. Por mim, não tenho memória de um ano tão chuvoso. Na vila não há prejuízos relevantes, pois a chuva é tão continuada e tão certa que empapa os campos, engrossa a ribeira mas ainda a n-ao fez sair do seu leito. Se houvesse agricultura, seria um ano bom.
publicado por julmar às 07:45
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Quinta-feira, 6 de Fevereiro de 2014

Guarda e as Cantigas de Amigo

Não havia IP5, nem A25, nem aviões, nem carros. Apenas cavalos, mulas e carroças. Mas os reis corriam o reino, iam atá à Guarda, ao Sabugal, talvez mesmo a Vilar Maior tratar dos problemas do povo e do reino. E ainda tinham tempo para poemar. 

 

Ai eu, coitada, como vivo en gran cuidado
por meu amigo, que hei alongado!
     Muito me tarda
     o meu amigo na Guarda!

Ai eu, coitada, como vivo en gran desejo
por meu amigo, que tarda e non vejo!
     Muito me tarda
     o meu amigo na Guarda

                                                                                           D. Sanco ou Afonso X

publicado por julmar às 18:13
link | comentar | favorito

Botar-se ao relaxe - modos de dizer

Cumprir com as obrigações fiscais - a décima, o dízimo, a licença do cão, a licença disto e daquilo - não era coisa fácil numa comunidade onde a escassez do dinheiro era comum. Pelo que, na impossibilidade de cumprir se botavam ao relaxe. Outros se botavam ao relaxe pois por onde quer que fossem apenas deparavam com becos sem saída. 

 Eram relaxados aqueles que se abandonam ao curso dos dias, ao vento das circunstâncias, aos que se deixam arrastar pela corrente, aos que baixam os braços. Deixam que  as nódoas se acumulem, que a barba cresça, que a remela se seque, que o tempo passe indefinido. Deitam-se ao relaxe e tanto se lhes dá isto como aquilo, que chova ou faça sol. Entegam o seu destino ao pior dos deuses: O Deus Dará que é uma providência descuidada. Desacorossoados da vida, sem réstea de esperança, botam-se ao relaxe. Seca-se-lhes o corpo, mirra-se-lhes a alma. 

E, tirando o vinho e a confissão não havia remédios nem doutores que tal coisa curassem. Quando não empederniam o coração, quando a indiferença era impossível, às vezes, uma corda para apertar cargas ou prender o vivo era o instrumento de perdição.

Hoje o relaxe é outro. Aquilo que era uma figura do direito fiscal passou a uma técnica (ou um campo de lazer...) corporal e/ou espiritual de aliviar o stress, de encontar bem estar.

publicado por julmar às 18:07
link | comentar | ver comentários (1) | favorito

.Memórias de Vilar Maior, minha terra minha gente

.pesquisar

 

.Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


.posts recentes

. Vilar Maior, minha terra ...

. Família Silva Marques

. Emigração, Champigny-sur-...

. Para recordar - Confrater...

. Requiescat, Isabel da Cun...

. Em memória do ti Zé da Cr...

. Requiescat in pace, Fenan...

. Paisagem Zoológica da Vil...

. Gente da Minha terra (192...

. Requiescat in pace, José ...

.arquivos

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

. Março 2007

. Fevereiro 2007

. Janeiro 2007

. Dezembro 2006

. Novembro 2006

. Outubro 2006

. Setembro 2006

. Agosto 2006

.links

.participar

. participe, leia, divulgue, opine

blogs SAPO

.subscrever feeds