O primeiro era o pai, pela manhã, que, bacia na mão, lançava a água da lavagem matinal, sem dizer água vai. Depois a mãe, a seguir o filho mais velho. Abre e fecha, abre e fecha que foi para isso que foi feita. Tinha uma cor de madeira muito velha, com veios como se de impressões digitais se tratasse. E tinha um pincho gasto pelo uso da mão e do polegar que de cada vez fazia um ruído metálico leve. Dava directamente para a rua onde começava o mundo todo e que nessa altura era o largo e as histórias sempre iguais que nele se contavam.
Durante muitos anos, eu não entendia porque a propósito de amuos da minha mãe o meu pai a acusava de estar com o cu para a porta, como não entendia a sua esperança desesperada dizendo que quando deus fecha uma porta abre outra ou ainda quando as coisas lhe corriam bem dizia que nem sempre o diabo está atrás da porta. Não sabia o que é que a velha porta de carvalho tinha a ver com tudo isto porque haveria mais portas mas eu só conhecia aquela.
Não sei se era por não entender estas coisas que o meu pai aborrecido me dizia:és mesmo burro como uma porta, ficando sem saber se o insultos era para mim ou para a porta. Ainda não sabia o que era Braga e já, na persistência de não fechar a porta, me perguntavam: - Mas tu és de Braga?
Era no tempo que as portas serviam e cumpriam, silenciosamente ou com um doce ranger, a função para que foram feitas: abrir e fechar separando a vida pública da vida privada. Volveram anos e ninguém mais abriu a porta até uma umbada de vento a escancarar e ficar incomodamente assim sem ninguém se importar do dentro e do fora.
Sobre as virtides medicinais e muitas outras propriedades do sabugeiro remeto-o para o site:
http://www.especialista24.com/sabugueiro-propriedades-medicinais-e-beneficios/
Esta planta sempre foi familiar aos caros conterrâneos que sabiam aproveitar algumas das suas propriedades, nomeadamente as que aliviavam as dores de garganta ou a sua utilização para dar mais cor ao vinho. Dado que o interior dos seus ramos é oco, os mais habilidosos retiravam-lhe o miolo e nesse canal onde circula o ar abriam buraquinhos e conseguiam, nada mais nada menos, fazer um instrumento musical - um pífaro.
Mas se falamos das plantas que povoam a nossa paisagem, e já vimos que algumas imperam na paisagem, o sabugueiro impôe-se não na paisagem rural mas na paisagem urbana , por razões que não nos alegram. Nesta altura em que estão floridos - e que bonita é a sua flor - se olhar para o cimo da vila, vê-los-á como inquilinos dominadores das casas em ruínas, emergindo de dentro como se colocados por mão de artista dentro de jarras, numa espécie de beleza macabra.
In Cantinho das aromáticas- http://www.cantinhodasaromaticas.pt/loja/plantas-em-vaso-bio/loureiro-laurus-nobilis-3/
Propriedades :
Medicinal: digestiva, tratamento de bronquites, gripes e constipações. Possui propriedades anticancerígenas, antissépticas, adstringente, carminativa, diurética, emética (induz o vómito), tonifica o estômago, estimula o apetite e a secreção de sucos digestivos. Quando consumida em doses elevadas apresenta propriedades narcóticas e é emenagogo (favorece a menstruação). O óleo do fruto é usado externamente para tratar entorses e hematomas; e o óleo as flohas tem propriedades narcótica, fungícida e antibacterial.
Condimentar: aromatizar diversas sopas, doces e pratos de carne. De aroma doce e balsâmico, ressaltam as notas a noz-moscada, a cânfora e uma adstringência refrescante. O louro é o ingrediente que nunca falta na cozinha portuguesa, sendo perfeito para caldos, guisados, todos os tipos de carne e também arroz. Combine com manjerona, salva, segurelha e tomilho.
Outros: O óleo essencial do fruto é utilizado nos sabões.
Contra-indicações/ Efeitos secundários /Observações:
Contra-indicações: abortiva – antigamente, era utilizada para promover o aborto.
Cuidados: a não ser em cuidados veterinários, as folhas e os frutos não devem ser ingeridas.
O loureiro que cura mazelas e condimenta a nossa comida, entrou no folclore do povo.
Registado em sexta feira da Semana Santa de 2006. Enquanto o povo andava os Passos, a ti Olinda despejava um rosário de versos, como estes
Loureiro, verde loureiro
Loureiro, verde loureiro
Loureiro assim ,assim
Enganaste a menina
Casa com ela, ó Joaquim
Casar com ela não caso
Porque ela não me faz conta
Loureiro, verde loureiro
Seco no meio, verde na ponta
Eu hei-de subir ao loureiro
Corrê-lo de folha em folha
Para que saibas amor
Que eu tenho muitos à escolha
Eu hei-de subir ao loureiro
Corrê-lo de nó em nó
Para que saibas meu amor
Que te tenho a ti só
Ó loureiro, ó loureiro
Loureiro da baga preta
Na vida dos namorados
Sempre há-de haver quem se meta
Eu não tenho coração
Nem partido, nem inteiro
Que o dei ao meu amor
Na sopinha de Loureiro
O loureiro é pau verde
Dá-se pelos quintais
Abalou-me o meu amor
Cada vez me alembra mais
A língua é o retrato do povo, e, se quiserem, do indivíduo também. Falar, saber falar, falar bem, falar caro traduz o génio do indivíduo acrescentado pela educação. Mas lá está. Educação era uma palavra que na vila não se usava, era assim uma espécie de palavra chique. O que havia era criação daí resultando indivíduos bem-criados, sendo que estes eram designados como bem mandados, isto é, que obedeciam. Daí que cheguei no âmbito das minhas reflexões teológico-cristãs à conclusão de que apenas existe um único pecado: a desobediência. É daí que surge Lúcifer e depois (se nestas alturas há antes e depois!) toda a saga da queda e regresso ao paraíso. A transgressão é sempre um atentado ao poder. Por isso, os malcriados são aqueles que, em primeiro lugar, não obedecem aos pais.
Ser mal-criado é, em primeiro lugar, não fazer o que lhe é dado ou o que lhe mandam. Em segundo lugar, é a forma como exprime os seus sentimentos e se comunica com o uso de palavras obscenas, as carvalhadas. Ora a boa educação passava muito pelo uso que se fazia das mesmas. Esperava-se que mulheres e crianças delas não fizessem uso. Quanto aos homens o uso dependia das circunstâncias - do lugar, do tempo, dos circunstantes, dos motivos. Para alguns, a carvalhada era uma espécie de bordão, em que não abriam a boca que não saísse asneira, como uma spécie de jaculatória profana; outros usavam-na apenas em situações de extrema irritação ou indignação; outros encontravam derivados ou substitutos da carvalhada na sua pura crueza, como: catancho,catano, carais, caramba, carago(espanhol), catrino. Para além dos que praguejavam contra acontecimentos, coisas, animais e indivíduos, havia os que praguejavam contra Deus, contra a Virgem e contra os Santos, o que era frequente fazerem nuestros hermanos. Também eu conheci um blasfemador, guardador de cabras nas penedias da Fraga, lançadas com uma indignação tão feroz que até os barrocos se encolhiam e mudavam de cor.
E, finalmente, havia os criados e as criadas que o destino quisera que a bem ou a mal se sujeitassem ao mando dos que podiam e que de nome tinham ser criado do dono.
Os da minha idade e mais velhos sabem como eram as tardes dos domingos na Vila, num tempo em que o espetáculo e o divertimento eram feitos do corpo e da voz dos que se queriam divertir, sobretudo rapazes e raparigas. O lugar mais habitual era o largo do Pelourinho. As danças de roda tinham um lugar especial na animação, como esta:
Encadeia
Encadeia, meu encadeado
Não me aperte a mão
Que me estala o braço
Encadeia, dá-me um beijinho
Encadeia, dá-me um abraço
Eu passei numa terra estranha
Pedi esmola, ninguém ma deu
Eu hei-de deixar escrito:
"À fome ninguém morreu"
Encadeia, meu encadeado
Não me aperte a mão
Que me estala o braço
Encadeia, dá-me um beijinho
Encadeia, dá-me um abraço
Tu dizes que me namoras
Já te andavas a gabar
Tenho toalha mais limpa
Se me quiser alimpar
Encadeia, meu encadeado
Não me aperte a mão
Que me estala o braço
Encadeia, dá-me um beijinho
Encadeia, dá-me um abraço
Julgavas que eu te queria
Olha o engano do mundo
Os meus olhos já navegam
Em outro poço mais fundo
Maio é o mês das rosas e não as encontro mais copiosas e belas que na Vila. Basta entrar no adro da Igreja matriz e estará envolvido pelo perfume e policromia de um recinto de rosas.
Outra flor que anima a paisagem neste mês são as papoilas diante de cuja beleza é impossível ficar indiferente. Quando havia tapadas de centeio era proliferarem por lá. Mais do que isoladas, são belas quando cobrem manchas de terreno.
Certamente que dessa experiência terá nascido o projeto de ajardinamento da passadeira que conduz ao castelo. E chegado o tempo em que florescem, também aqui floresceram. Em vez de papoilas, papoilinhas. Pequeninas, rentes ao chão, apesar de um ano abundante em chuva até tarde. Ao contrário do cimento obediente, as papoilas, numa sabedoria desconhecida à engenharia ambiental, bem que lhe fez o manguito.
Estácion Arenales
Muito se falou da emigração para o Brasil e muito trabalho académico se produziu sobre esse tradicional e compreensível fenómeno migratório. Ao contrário, pouco se escreveu sobre o fenómeno migratório para a Argentina, nomeadamente a seguir à Primeira Guerra Mundial. Verdade é que foi um destino para muitos vilarmaiorenses sendo o mais conhecido de todos o Francisco Magalhães, avô da professora Maria Delfina Magalhães. Tivemos recentemente em Vilar Maior, em busca das suas raizes, Norberto Magalhães com esposa e dois filhos. Muitos vilarmaiorenses se dirigiram à Argentina, sendo o anfitrião Francisco Magalhaes como aconteceu aos irmãos Albino Marques e Daniel Marques. A localidade, próxima de Buenos Aires, era Estacion Arenales.
Ora, numa breve pesquisa no Google no site http://lulo-estacion-arenales.blogspot.pt/, encontrará memórias de pessoas e lugares e por lá encontrará em fotografias de vida social para além dos Magallanes(Osvaldo Magallenes), uma extensa família de Proenzas, tão certo serem de Vilar Maior ou de descendentes que o nome da terra se fixou no próprio nome:
Nelba Proenza de Villamayor e Enrique Villamayor.
Fica o desafio ao Norberto e família que nos visitaram e a todos os que tenham por lá ascendentes de os trazermos à memória.
Daniel Marques e esposa
A concepão mais brilhante da natureza foi concebida pelos pitagóricos - todos se lembram do teorema de Pitágoras. A afirmação de que a essência do real são os números foi depois reafirmada por Platão e esteve na origem da ciência moderna com Galileu e Descartes e continua na base de todo o desenvolvimento computacional.
As fotos que se seguem são interessantes se interpretadas em termos geométricos, vendo como o homem enquadrou os seus desenhos na paisagem.
Bem mo lembra o meu amigo Paulo - você é meio filósofo! Habituados que estamos a ver tudo pela perspetiva moral, arriscamo-nos ao dogmatismo, que o mesmo é considerar como cegos os que não vêem o mundo que nós vemos. E a perspetiva moral, ou se quisermos carregar a cor moralista, é pouco propícia a meios tons ou ao espetro das cores: preto é preto e branco é branco, como se no próprio preto e no próprio branco não houvesse matizes.
Os dogmáticos lêm da mesma maneira o mundo e os livros. Por isso, sem contemplação, com paixão e sem compaixão anulam, destroem, desacreditam os olhares que não sejam seus.
Hegel escreve: «a religião é a filosofia dos ignorantes» e o seu discípulo Marx, por sua vez « a religião é o ópio do povo». Entendo a verdade parcial de cada afirmação, ao que os dogmáticos correrao a dizer que não há meias verdades, pois desconhecem ou rejeitam a dialética. Que lhes faça bom proveito. Poderemos dizer que filosofia e religião são abordagens, leituras diferentes da realidade. Talvez, se fosse filósofo por inteiro - como gostam os moralistas que todos sejam - não pudesse ter tanto respeito e compreensão como tenho por aqueles que, na falta de oportunidades para o desenvolvimento da luz natural da razão, encontram na religião o sentido da vida.
Nesta linha, acho o trabalho desenvolvido pela igreja do mais alto mérito. No caso da Vila e do interior do país, acho altamente meritório o trabalho dos párocos, e poderemos imaginar o que, à semelhança das escolas, e outras instituições se fechassem as igrejas. Nesta acelerada desertificação é a igreja que continua a sua presença.
Ocorreram-me estes pensamentos, durante a missa de domingo onde estariam cerca de trinta pessoas e veio-me à memória a passagem de S. Mateus:
"Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." Mateus 18:20
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