Mais uma vez, o sino da torre tocou a sinal. Quem foi, quem não foi ... pelo toque foi mulher. Chegou a hora de Fátima, filha de João Valente e de Maria Alves. Casada com Manuel Simões, residia há muitos anos em França. Aos familiares apresentamos as nossas condolências.
Todos nos lembramos como era no princípio das nossas vidas, na nossa infância recuada: A chegada a um mundo no qual tudo nos extasiava: um dia reparávamos numa gota de água que desliza na vidraça da janela lambendo-a com a língua a provar a lisura do vidro; noutro dia era a terra molhada que pegávamos nas mãos; o rugido do vento, o cair da chuva; o ribombar dos trovões e dos raios cortando os céus; mil e um sabores, cheiros, sons, texturas e um número infindo de formas e figuras no espaço que iam urdindo em nós imagens do céu e da terra; um mundo misterioso que cada dia se tornava familiar, repetido, banal, habitual; um mundo que deixou de ser mavioso ou para qual nos tornámos cegos. A memória começava a habituar-se às repetições no tempo em que tudo era repetição: as refeições com as comidas sempre as mesmas: água sempre, vinho às vezes e aguardente forte de fazer vir as lágrimas aos olhos dos menos acostumados, nas manhãs gélidas de Inverno para mata-bicho; o caldo de couves, intercalado, de quando em vez, com o caldo de vagens secas e, em dias de festa, o caldo de gravanço ou, quando o rei faz anos uma canja de galinha; um naco de pão com uma talhada de morcela ou farinheira, chouriça mais raramente; umas batatas cozidas (rachadas ou de novelo) num prato, com uma lágrima de azeite, pimentão e água.
Os estrugidos do alho, da cebola e outras ervas aromáticas na cozinha, transbordam para as ruas; o fumo das giestas verdes escoa-se pela telha vã enrola-se no ar, dissipa-se com o vento, penetra forte nas narinas e obriga a abrir a porta da rua onde a cozinheira vem esfregar os olhos lacrimejantes.
Era o tempo em que cheirava a estrume nas lojas das vacas, na cortelha do marrano, na corte das cabras e ovelhas; cheirava a merda sobretudo no tempo em que nela mais se mexia: nos inícios da Primavera em que era transportada em cangalhas nos dorsos dos burros ou com as vacas em carros de bois. Por todo o lado cheirava a merda em múltiplas nuances de acordo com a proveniência e o grau de frescura; Merda de que ninguém se desfazia ou desdenhava que ela era essencial à vida. Era guardada em moreias que de manhã exalavam um fumo que suavemente subia e se perdia no ar. Levada para os campos e espalhada havia de alimentar plantas e ervas donde bichos e homem tiravam sustento. A riqueza de uma casa podia medir-se pela quantidade de merda produzida. A repetição: a vida a alimentar-se da morte e esta a alimentar-se da vida num ciclo eterno.
In, Memórias de Vilar Maior- minha Terra, minha Gente, Júlio Marques
Uma boa parte da História de Portugal anda dispersa em monografias que raramente se veêm em escaparates de livrarias. Esta adquiri-a numa casa de venda de materiais de construção civil. Li-a com interesse e achei sobretudo curioso a origem do nome a qual se patenteia na imagem da capa do livro: dois reboleiros e um rebolo. O autor conta-nos ainda uma gostosa lenda donde se teria dreivado o nome - rouba la rosa. Radica a origem - ou o crescimento - das gentes da Rebolosa no Couto de Homiziados do Sabugal. Não refere o o Couto de homiziados de Vilar Maior que dada a proximidade faria mais sentido. Penso que alguma da identidade do povo da Rebolosa poderá radicar nessa gente que redimiu os crimes praticados e pel trabalho se tornou gente válida, empreendedora como não haverá no concelho do Sabugal. Devotos de Santa Catarina (ninguém podia matar marrano antes da sua festa e tinham que tirar a licença para o efeito), importaram de Vilar Maior a devoção ao Senhor dos Aflitos que erigiram como festa principal. Quando o concelho de Alfaiates foi extinto em 1836, passaram a fazer parte do concelho de Vilar Maior até à extinção deste em1855.
A alcunha dos rebolosenses, os Penuchos, por enfeitarem os seus chapéus com penas e penugens de aves, traduz a sua vaidade, peraltice, orgulho ou auto-estima em alta. Na forma antiga, e no hábito de apor um a no início de muitas palavras, dizia-se Arbolosa.
É seguramente uma das melhores construções do Cimo da Vila. Fartos da pedra que o tempo enegrece, assim que as economias o permitiram, esconderam-na debaixo do cimento pintado com cores que lhes pareciam bem.
Como diz o Eclesiastes, há um tempo para tudo
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz
Eclesiastes 3:1-8
Volta assim a mostrar a face que tinha quando era seu proprietário o senhor Bernardo Simões (1880-1959).
Parabéns ao atual proprietário.
Muitas são as coisas maravilhosas,
Mas nada é mais maravilhoso do que a mão direita do meu pai.
Embaínha a espada por amor à paz
Poda a árvore para que cresça e frutifique
Desembaraça as plantas boas das daninhas
Dá uma mão de ensino para indicar o recto caminho
Pega na rabiça do arado e revolve a terra
Onde, mão cheia, lança, em gesto largo, a semente
Que seara loira o tempo fará
Mão que guia a vaca, o burro e afaga o cão
Dura, calejada, segura e forte,
Poisa-me na cabeça e é uma benção
Tão forte que pegavas no braço
Dos meus poucos quilos de gente
P'ra cima do dócil jumento
Mão que à mesa, com toalha de linho posta,
Fazia chegar o vinho e o pão
Alimentos do corpo, força da tua mão
Só da agressão da morte te não pôde defender
Mas, nas linhas da tua mão direita, pai,
Ficou escrita a civilização.
Isabel Maria da Silva (1887-1982)
De entre as mulheres da minha vida, lembro hoje a minha avó materna. Estatisticamente, devo-lhe 25% do meu património hereditário. Dela, mais do que génio, herdei genica. Mas devo-lhe, sobretudo, as histórias que me contava, o encorajamento e a atitude certa para enfrentar a vida.
A tradição popular, rica na variedade de formas musicais para este tempo da Quaresma, elaborou no decorrer dos tempos, uma série de actos rituais de carácter eminentemente penitencial, como o Canto dos Martírios e a Encomendação das Almas.
Pensei que poderia desaparecer, assim sem mais, com uma despedida à francesa. Mas logo alguns estranharam e me perguntaram o que se passava. Disse-lhes que na Vila eu, o Vilarmaior1, tinha pouca sorte,porque a Internet ou não funcionava ou era tão lenta que o meu addministrador não tinha paciência para me alimentar. De modo que resolveu contratar os serviços de uma empresa informática, a Pixus, e, por esta amostra, podemos navegar por aí fora. Eu que temi pela vida, sinto-me como que ressuscitado. Fico feliz, por poder estar convosco!
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