Por mais de uma vez, amigos meus quiseram passear pelo concelho do Sabugal e, por saberem quanto eu gosto dessas terras, me pediram opinião sobre itinerários, sítios onde dormir, onde comer, lugares a visitar. Por razões óbvias, reforço o interesse da visita a Vilar Maior pela paisagem natural e pelo património edificado. E, claro, têm um museu e começo a falar sobre o interesse dos objetos expostos. Depois lembro-me que há, mas está fechado. Perguntam-me porquê e digo-lhes que não sei. E sou sincero. NÃO SEI.
O edifício tem história e foi muito bem recuperado, com fundos europeus, e tem um espólio de grande valor histórico e etnográfico. Houve gente que se empenhou para que fosse uma realidade. Não sei dizer ha quanto tempo está fechado... dois, três anos? Que se passa?
PORQUE NÃO ESTÁ ABERTO? Quem sabe? Quem pode explicar o que se passa?
Vai para vinte anos que bem me afligia por ninguém estar a fazer nada pelo interior do país, por o deixarem numa agonia lenta. O pouco que fizeram foi no sentido errado.
“Hão-de vir pelo S. Brás, um dia pr’a frente ou um dia pr’a trás”
Da variada e abundante fauna por aqui existente, uma não é possível esquecer - a cegonha. Entrou no imaginário colectivo e, durante muitos anos, puderam os pais contar aos filhos que os interrogavam sobre os mistérios da vida, ou mais prosaicamente, sobre a chegada de um novo hóspede à família que, na maioria das vezes, já tinha de abonda.
Não sabemos das razões que levaram a sabedoria popular à esta escolha mas, se tivéssemos de escolher, que outra escolha melhor? Todos os anos partia para muito longe, voando muito alto, para, passados nove meses, regressar em época fixa, ao mesmo lugar. Regressava com a vida dentro de si para criar, na época em que toda a Natureza cria - a Primavera. Quem se lembra do seu elegante andar ao longo dos verdes prados? Quem se lembra da maneira como alimenta e protege os filhotes ou, como, chegado tempo, os incita a sair do ninho para ensaiar o próprio voo?
Um dia partiram para nunca mais. Para lembrar, apenas, os restos do ninho, no alto da torre da igreja, no tempo em que não havia altifalantes e os sinos tinham o som e o toque do ti Junça, sacristão, que dividia a vida entre tocar os sinos, embrulhar cigarros e fumá-los e um copo na taberna do Aníbal Gata, essa magnífica instituição, onde a vida dos homens se exaltava, dando cumprimento ao que na Bíblia se diz " O vinho alegra o coração do homem e entristece o coração da mulher".
Um ano a cegonha da torre da Igreja deixou de vir. Depois, não veio a do alto freixo das Entrevinhas, nem a do Castelo. Deixou de vir a da Balsa. Deixaram de vir todas e foi um anúncio de morte. Não houve mais bebés. Secaram as figueiras, primeiro, e as cerejeiras depois. Nos campos, cresciam as plantas boas com as más, mas estas eram mais fortes e roubavam-lhes o alimento, a luz, o calor...a vida. Chegado o estio, vinha o fogo que devorava as plantas, as más e as boas. Às vezes, havia um lavrador mais teimoso, ou distraído da mudança dos tempos, e semeava a tapada de pão. Porém, chegado o S. Brás, as cegonhas não vieram. Olhou as tapadas dos seus vizinhos e estavam ao abandono A presa secou muito antes do tempo. Nos rios e ribeiros, corre cada vez menos água que já não vivifica coisa alguma. As casas que, antes, estavam sempre abertas, agora estão sempre fechadas, quase todas. No campo, só já as cigarras cantam. As fraugas apagaram-se e as bigornas emudeceram. Não há rondas, nem aguguios, nem choradeiras. As almas já não há quem as encomende e, qualquer dia, não há quem enterre os corpos. E os triteiros? E as bugalhadas? E os jogos (a Chona, a Caganita-Rita, a Fustigada, o Corcho Lorego, a Arraoila, o Crasto, o Carambolo, à Lua sai que agarra)? Nos caminhos, o lavrador teimoso, não encontrava carava. De França, o seu compadre não parava de mandar francos. O lavrador, teimoso, foi-se embora para junto do compadre e, chegado o Estio, a tapada do pão ficou à espera dos ceifadores que nunca chegaram. As eiras ficaram vazias e os manguais parados. Os moinhos viam a água passar, inutilmente, e os fornos deixaram de cozer. A Escola, onde se conjugava o passado, o presente e o futuro, virou museu onde se recorda o passado. A lei da vida é a mudança, mas a vida deixou de morar aqui.
In Memórias de Vilar Maior, Minha Terra, Minha Gente
(foto publicada por Mário Beirão na sua página do facebook)
Às vezes os fotógrafos têm sorte, embora saibamos que sorte dá muito trabalho. É preciso procurar, andar focado, não se distrair. E, claro, trazer a arma, quero dizer, a máquina sempre à mão. Sim, porque a cegonha não é um modelo: espere um pouco, vire para a esquerda, levante voo. No caso, o disparo tinha que ser naquele preciso momento. As nuvens mais lentas que a cegonha, aguadaram. O conjunto resulta maravilhoso: A torre, brio dos pôpos, o relógio tão certo no bater das horas como o Big Ben de Londres, podendo eu garantir que este se ouve a uma mmaior distância, os dispensáveis altifalantes. E o céu azul sustentando tudo, as nuvens esparsas de algodão, o ninho e, no ponto mais alto, a sarangonha abrindo as asas, de bicoamarelo apontado, pronta a lançar-se no espaço.
O som do relógio, a sarangonha no ninho são o ícone mais representativo desta bonita aldeia espreguiçando-se na margem direita do rio Cesarão.
Para os mais novos uma explicação. O nome que aqui se dava a esta ave era sarangonha que, se se derem ao trabalho de observar o movimento do seu voo hão-de concordar que é mais adequado que o termo cegonha. Pormenores, dirão. Pois, como alguém muito célebre dizia: O diabo está nos detalhes. E a arte também, digo eu.
(Documentos de Otília Domingos publicados no Facebook)
Eram assim as festas há 47 anos. A tragédia seria três anos mais tarde, "o desastre dos foguetes" que ceifou seis vidas, destruiu a Igreja da Misericórdia mas não a misericórdia de Deus nem a fé dos homens. Talvez Deus aprecie mais o silêncio do que o troar dos foguetes que o programa refere:
«Seguidamente serão queimadas grandes e variadas girândolas de foguetes apropriadas a este acto»
Os caminhos de Deus são mesmo insondáveis!
Fotografia cedida por Carlos Gata
A primeira fotografia retrata a paisagem anterior a 1950. A segunda retrata a paisagem em março do ano corrente.
Não se assustem que não é caso para tanto. Há pessoas que não dizem com o nome que lhe deram na Pia Batismal e, por isso, o povo arranja-lhe um denome que o acerte com o seu jeito, feitio ou maneira de ser. No meu caso não foi necessário por que sempre fui dado ao bom trato da natureza com um gosto muito especial pelas flores. É assim que quando chega a Primavera fico eufórico e não caibo em mim com tanto odor e com o esplendor das cores que, Deus me perdoe, desafia o resplendor da luz perpétua. Do castelo olho para os cabeços da Fraga e do Arreçaio e o branco da maia - porque as giestas dominam a paisagem - é um extenso manto que cobre o chão. Olhando perto lá está a 'Serpente', esse caminho feito em chapa de cimento ladeado de amarelo, muito amarelo, que é a flor dos moiros, planta invasiva que está por todo o lado. Com tanto moiro, suspeito que não haverá grande lugar para as papoilas que é o que, de acordo com o dinheiro da UE gasto para o efeito lá deveria florescer.
Para todos os amigos, para todos os vilarmaiorenses, para todos os que passam por aqui votos de Páscoa Feliz.
Em dia de Páscoa, o céu da Vila fica mais azul, os campos mais verdes, as flores desmultiplicam-se em cores e perfume, as águas mais cristalinas, as aves, a que agora se juntaram o cuco e a popa, redobram seus cantos.
Em dia de Páscoa, a Igreja encheu-se de gentes - claro, mais velhos, mas crianças e jovens - das que cá moram e das que vieram de Framça, de Lisboa, do Porto, da Guarda e de outros lugares. Houve cerimonial completo com Asperges, incensos, cânticos de Aleluia e procissão com sinos a repicar. E, pela primeira vez, não se cantou o Tantum Ergo em Latim, como convém. Tentou o padre que se cantasse em português, mas não resultou.
Afinal, parece que a Vila ressuscitou! Aleluia!
Mais uma vez se andaram as Cruzes na Vila. Entre as estações marcada pelos Passos, sob a orientação da senhora Lurdes Monteiro, o cantar dolente do povo.
REFRÃO
Lá vai para o Calvário,
Lá vai caminhando,
Seu pranto rogando,
Com Passos de um filho
I
Lá naquela rua,
Cheia de amargura,
Chega a virgem pura,
Sua triste mãe.
II
Olhando para a turba
Lhe diz tristemente
Que mal fez meu filho,
Oh ingrata gente
III
O meu filho morre,
De secura, vêde
Eu não tenho água,
Para apagar a sede
IV
Ouvindo esta queixa,
Um algoz cruel,
Vem trazer a Cristo,
Esponja com fel.
V
E Jesus tão brando,
Com tanta agonia,
O suor corria
Em sangue inundado.
VI
Vinde almas devotas
Ao horto, se quereis,
Ver o Rei dos reis,
Em terra prostrado
VII
Cristãos pensai bem,
Se estais comovidos
Há-de à vista da mãe
Morrer o filho querido
Faleceu Ana Lourenço Silva, natural da Arrifana e residia em França. Mulher corajosa, viúva hà 24 anos, mãe de dez filhos, avó de 15 netos e bisavó de 12 bisnetos. O funeral é sexta feira às 11h na Arrifana. Aos familiares aprentamos as nossas condolências.
. Requiescat in Pace, José ...
. Centenário da capela do s...
. Requiescat in pace, Manue...
. Paisagem humana - A Vila ...
. Jeirinhas e os bois teimo...
. Diário de um bebedor de a...
. Arqueologia - Em busca de...
. Requiescat in pace, João ...
. badameco
. badameco
. o encanto da filosofia
. Blogs da raia
. Tinkaboutdoit
. Navalha
. Navalha
. Badamalos - http://badamalos.blogs.sapo.pt/
. participe, leia, divulgue, opine