Fotografia tirada na estrada que atravessa Albardo
Ao ver esta cerejeira lembrei-me do mítico professor de Albardo a quem eram atribuídas histórias completamente mirabolantes como a de uma couve gigante sob a qual se acolhiam à sombra oitenta ovelhas parideiras, dois carneiros e dez malatas, fora a copiosa descendência de borregos e borregas; couve que para ser cozinhada foram precisos vários ferreiros para a fabricar, dois carros de lenha ... e não maço mais porque as cozinheiras , a quantidade de sal e azeite e o número de pessoas necessárias para a comer parecem coisas impossíveis. Garantia o professor que nada do que contava era exagero. A olhar para a cerejeira e outros ubérrimos fenómenos da natureza por estas bandas, ficam mais verídicas as histórias de que dava conta.
Faleceu na Vila, no dia 14 de Junho, António Cunha Lavajo. O Funeral realizou-se hoje pelas 17 horas. Ainda há dias, escrevia aqui sobre o ti António:
'Vale-me o António Lavajo que ronda a Praça com o seu cão e que, em passeios mais longos, se aventura até à Ponte ou à Misericórdia e vai palpitando sobre o estado do tempo e sobre o drama de não chover e a ribeira secar'.
Quando havia um pouco mais de tempo contava-me sobre as dificuldades e trabalhos dos tempos idos: dos dias de enxada, de foice, de mangual, do carrego das sacas de batatas e dos sacos de centeio, da exploração do minério e do contrabando. Depois da viagem para França, tudo mudou. Foi dos primeiros a chegar a Champigny e achou tão bom que disse a outros para irem e a esses outros que chegaram deu guarida. Foram muitos anos de trabalho, sempre à espera das merecidas vacanças em Agosto. Rolaram anos até chegar a retraite, uma reforma confortável, procurando ter uma vida boa. Sem o ti António a rondar pela Praça, ficarei sem um cumprimento matinal e sem histórias.
À família apresento sentidas condolências.
Alexandrina d'Assunção Franco Dias Pinheiro (Chininha), filha de António Esteves Pinheiro e de Maria Franco
No mesmo ano nasceram mais 29 crianças na Vila, ou seja nem a alta mortalidade do ano anterior - 1918 - devido à peumónica, tirou a vontade de fazer filhos. Do mesmo ano é, por exemplo, a Maria, por alcunha Tonta (penso que mesmo só por alcunha), filha de Alexandre Badana e Rosalina Dias; e também César Cerdeira Seixas, amigo e visita de casa da Chininha e do marido Joâo Bárbara, residentes em Gaia, no Candal, onde acompanhei algumas vezes o César. A Chininha era neta do senhor José Dias, marinheiro, produtor do melhor vinho de Vilar Maior, republicano, que pelo ano de 1910 foi o mentor da expulsão do pároco Júlio Matias, por o considerar um reacionário que não acatava as leis da República. É assim o personagem principal do opúsculo de Júlio Mathias intitulado - História de uma Perseguição em Villar Maior.
Deu consentimento a que a sua filha Maria casasse com um jovem professor primário, vindo de Malhada Sorda, António Esteves Pinheiro, que herdou as vinhas do sogro e se encarregou de ensinar gerações a ler e a escrever na Vila, utilizando como precioso auxiliar os costumeiros auxiliares a régua e a lambada que deveriam estar sempre à mão. Tudo natural, à época. Além de professor era encarregado de fazer o registo dos nascituros e de os comunicar ao registo civil no Sabugal. Ora, à quantidade de crianças que nasciam, bem podia o homem andar a caminho do Sabugal! Daí que, haja ainda hoje gente cuja data oficial de anos nada tem a ver com o dia e mês em que efetivamente nasceu. Que ainda teria sido incomodado e pago multas pelo facto, sempre o ouvi. Pelo cargo, pela cultura também, é um dos personagens marcantes do século XX.
Se o blog vilarmaior1 não o registar, quem mais o fará?
(Anterior a 1971 como se pode ver pelo varandim sobre a porta principal)
Procissão ainda na era do preto e branco, no tempo em que os homens tiravam o chapéu e as mulheres cobriam a cabeça com véu ou com lenço, nos atos religiosos; no tempo em que todos os santos saíam à rua na procissão da Festa; no tempo que o maior dos estandartes era disputado pelos mais valentes. E, garotos que éramos, interrogávamo-nos sobre o significado das letras doiradas, nele inscritas:
Do muito que recebemos dos romanos,deles herdámos esta insígnia que estava presente nas legiões do exército romano e que é um acrónimo de SENATUS POPULUSQUE ROMANUS , traduzido - O Senado e o povo romano
Vamos recordar a primeira para ganhar energia e entusiasmo para fazer a IV. Temos de prosseguir, temos de querer mais, temos de crer mais porque tudo depende de nós, de mim, de si.
Então, clique e veja só isto!
Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram.
Mal eu surgi, cansado, na distância.
Cantava cada fonte á sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
( Fiar - Vale de Espinho 1971)
«Tu misturas de maneira impressionante, nos teus discursos, o véu, a foice e o trigo, e tens razão, já que as coisas estão todas ligadas umas às outras e no Senhor são apenas uma, mas nos nossos olhos estão bordadas no véu da multiplicidade”
Thomas Mann,
Quanto andou a humanidade para aqui chegar! quanto poesia no rosto e no gesto desta mulher!
Olhamos para as fotografias antigas - esta será da década de 60 - e recordamos um tempo que foi nosso. A imagem de S. Pedro - orago da freguesia - o Joaquim Domingos - com versões no nome de Domingues e Domingas - tão jovem ainda - a pegar no andor. As casas de branco com molduras nos beirais do telhado, nas portas, nas janelas de guilhotina. O granito nas resgurdas dos balcões, nas lanchas de cobertura da cortelha, nas paredes e no empedrado da calçada. O branco das camisas e da sobrepeliz do padre a contrastar com o negro dos fatos. O sol tórrido da uma da tarde, a pandareta a marcar compasso no intervalo dos instrumentos de sopro. As pessoas a pedirem alívio do sofrimento deste vale de lágimas. A terra a ligar-se ao Céu.
Era habitual os pais colocarem aos filhos os nomes próprios dos ascendentes, razão por que em diferentes gerações aparecem nomes iguais. Assim, no caso dos Almeidas, aparece-nos um óbito em 1924 de um José Bernardo Almeida falecido com 70 anos, filho de José Bernardo Almeida e de Ana Virtuosa.
O José Bernardo Almeida casado com a ti Maria Dias- a ti Gidória – que teve como filhos:
O Zé Bernardo lavrador de profissão principal, fazia obra de carpintaria grosseira, ora emparelhando com o António Esteves, de alcunha Caífes, serrando longitudinalmente grossos troncos de pinhos, amieiros, carvalhos, freixos em tábuas para usos diversos, ora deitando um eixo a um carro ou acertando-lhe uma cabeçalha ou chêda. Sobrava-lhe algum tempo nas cálidas noites de Verão para, bebido um copito, zamburrear a concertina, desafiando o coaxar das rãs da ribeira. A Joaquina, esposa do tocador, exímia dançarina bem merecia uns acordes mais bem tirados, mas quem dá o que tem a mais não é obrigado e o céu estrelado nunca se importou com a afinação. António fez vida por Lisboa tal como o Florêncio. O Joaquim como o Zé andaram pelos subúrbios de Paris.
Maria do Carmo Almeida, a ti Rabeca (falecida em 1994), por denome, não que se dedicasse ao toque do instrumento mas pelo tom de voz, que é hereditátio, casada com Manuel Gil de que tiveram o José e o Augusto e outros não vingaram. Gente de trabalho, aqui e além, onde o houvesse, por vezes atravessando a raia e entrando em terras de Ciudad Rodrigo e Salamanca. Assíduos em casa de meus pais na ceifa, na malha, no arranque das batatas e na tosquia das ovelhas, ao jornal ou em troca de umas geiras.
Maria Luísa de Almeida, a ti Luísa Caseira, casada com o ti Aurélio Prata – o meu Aurélio, como dizia - foi parteira de muita gente. Sabe –se lá se teve alguma aprendizagem, se foi o jeito ou o acudir a alguma situação desesperada que lhe correu bem. Vidas simples: umas courelas estreitas, um burro e três ou quatro cabras mais a filha. O Aurélio disse-lhe: - Eu vou andando até Vale de Castanheiros e tu vais lá ter, mais logo, com as cabras. Chegado o tempo de ir foi caminho fora, falando para si e para as cabras: - Chiba pra qui, chiba pra li. Ao chegar, pergunta-lhe o Aurélio: - Atão qué das cabras, mulher?! Como se descesse ao real e não as vendo os seus olhos, mais pasmada que o homem, lhe disse:- Ai, Aurélio que me esqueci delas na corte! Talvez que a ti Luísa Caseira, bem trabalhado o seu espírito desse em Poetisa ou Filósofa.
E havia o Manuel Bernardo Almeida, o ti Cácá, (1891-1968) excelente pastor que não sabendo contar, olhava para a cara das ovelhas, à noite, e nomeando cada uma pelo nome à entrada da corte se certificava de que que não faltava nenhuma.
Na segunda metade do século XX com a vinda de Bernardino Almeida, casado com Maria de Lurdes Domingues Martins, outra linha de Almeidas surge na Vila e que promete continuar uma nova linha de Almeidas.
Os Almeidas cruzaram por aliança de casamento com as famílias Fonseca, Dias, Virtuosa, Gil, Martins, Farinha, Martins. Os Almeidas viveram na Rua de Cima, e na margem esquerda do Cesarão, junto à Ponte.
Às gentes da Vila e seu termo - Aldeia da Ribeira, Badamalos, Batocas, Escababralhado e Arrifana - vimos anunciar a IV edição da FEIRA DE TALENTOS que este ano se realizará a 8 de Agosto, um sábado. Contamos com todos os que participaram nas edições anteriores e queremos contar com todos os talentos da freguesia que incluem os supra citados povos. Contamos com as sugestões de todos os que queiram engrandecer esta feira. A feira é promovida por este blog mas é uma feira feita por todos e para todos. Há muitas formas de participar: mostrando o seu talento na feira (todos temos algum talento); falando e divulgando a feira; trazendo um amigo à feira; comprando e vendendo, comendo, divertindo-se. Sobretudo, encha-se de coragem e monte uma barraquinha!
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