No programa de Percursos Pedestres, sob a designação Caminhar com Vida, organizados pelo Município do Sabugal, teve lugar no dia 30 de Agosto o Percurso da rora do Cesarão.
O percurso tem uma extensão de 9,4 Km, com uma extensão de 9,4Km, algo difícil.Em termos de beleza natural, que é excecional, esta data não é a mais indicada. No mês de Maio teríamos o murmúrio das águas do Cesarão como som de fundo, os múltiplos ribeiros escoando as águas pelo verde das pradarias e o incessante canto de aves variegadas. O Castelo da Vila, lá no alto acompanha-o em todo o percurso. Depois do passeio por recantos da Vila, tem a magnífica descida das Escaleirinhas - a parte mais difícil mas também a mais rica em termos de flora e de geomorfologia com o Cesarão lá bem no fundo de fragas escarpas. Passa o Cesarão por um craterístico pontão a que se segue uma subida, com uma bem trabalhada calçada medieval (sendo que os mais bairristas hão-de-lhe dizer que é uma calçada romana), no fim da qual terá, do lado esquerdo, um conjunto de sepulturas escavadas na rocha, e do lado esquerdo, as ruínas de duas casas com um imponente pio em granito. E segue pelo caminho no sopé do extenso cabeço do Vale da Lapa, atravessa o ribeiro com o mesmo nome (mesmo num ano sêco como este ncontinua a correr) para iniciar a subida para a Arrifana.
Ao longo do percurso, uma arqueolgia do trabalho dos nossos antepassados documentado na perfeição com que talhavam a pedra, construíam muros que ladeavam caminhos, amparavam terras, separvam propriedades, restos de latadas com esteios incrustrados nos muros, portaleiras e portais consoante as necessidades de quem havia de sair ou entrar, engenhos de elevar água - noras e picotas - abrigos de pastores. Tudo de dommesticar a natureza, de a pôr ao seu serviço.
E vencer a morte como testemunham cruzeiros que lembram tragédias do Vale de Lágrimas e Alminhas que esperam a reza de um Padre Nosso dos caninhantes que as conduzam ao resplendor da luz perpétua.
Imponente, toda a extensa descida da Arrifana até à confluência do Cesarão dom a Ribeira de Alfaiates. Só visto. Como é que ninguém repara naquela extensa calçada? A dureza das pedras e lageados sulcados pelas rodas ferradas dos carros das vacas é um testemunho da luta destas gentes na construção da civilização.
Só vacas muito bem ferradas podiam vencer tão extensa e íngrema subida. Lá no fundo, a fila das poldras - tão perfeitas - para alcançar a outra margem, por onde regressará em subida fácil ao ponto de partida.
No final, uma farta refeição, tendo como prato principal Rancho - para o Norte chamam-lhe Massa à Lavrador- retemperou as forças e a vontade de fazer o mesmo percurso, em tempo temperado, e com tempo para reparar.
Indiferente aos gostos e desgostos dos homens a natureza segue o seu curso inexorável. As andorinhas, frente à casa, são o primeiro anúncio da chegada do Outono e as uvas pretas da ramada confirmam.
Antes do Largo das Portas, hoje um belo hall de entrada na vila, era o Arco a fortificada porta de entrada na cidadela. Aqui é a grande divisória do que é antigo - O Cimo da Vila - e do que é moderno - a Praça, o Pelourinho, toda a baixa, à exceção da Ponte sobre o Cesarão. O Arco é uma construção medieval, como o é a Torre ( não a Igreja) incluídos os muros adjacentes, bem como o Castelo e respetivas muralhas e, mais antiga, a Igreja de Nossa Senhora do Castelo. Num primeiro tempo, a Vila acantonou-se, amuralhada, na encosta virada a Sul. A casa contígua ao Arco era, ainda no princípio do século XX, rasteira ao chão; o edifício que hoje é um museu (fechado) era apenas o rés do chão, a que chamavam cadeia, junto do Barroco dos Martírios e a casa anexa (hoje também do museu), era a residência do professor quando o edifício começou a funcionar como escola primária foi construída, apenas, no último quartel do século XIX. A toponímia designa este lugar como Muro e Arco. A escadaria, foi construída recentemente, provavelmente no fim do século XIX, secundarizando a rampa ao lado do Arco.
Com a Idade Modena o poder castrense cede ao poder civil, o Castelo cede ao Pelourinho.
Os enterramentos nas igrejas era comum até o governo de Costa Cabral, reinado de D. Maria II, que por decreto de 1844, os proibiu. Certamente, só a gente ilustre teria esse privilégio, sendo que os demais eram enterrados na parte exterior. A entrada da igreja matriz tem várias lápides e muitas foram levadas para outros locais (junto do atual cemitério) e outras foram usadas para fins profanos, algumas partidas para fazer degraus.
A que se encontra na fotografia é a única no interior da igreja, situando se à esquerda de quem entra na porta lateral virada a sul. A leitura imperfeita (sujeita a crítica) da referida lápide, diz: D. Luiza Bernarda Proença Teles Portugal, mulher de Bernardo capitão mor de Vilar Maior para ela e seus herdeiros descendentes jaz nela sua afilhada Luiza Bernarda é falecida anos 1777.
Subir o leito do rio, neste verão seco em que apenas se conserva água num ou noutro charco onde se refugia toda a bicharada aquática, é uma atividade bem interessante:disfruta-se da frescura das árvores marginais - freixos, amieiros, salgueiros - e o piso é bem mais limpo que a maior parte dos caminhos. As pedras alisam-se pelo trabalho da água e da areia em movimento e nas rochas maiores vão-se escavando caprichosas formas geométricas, muitas delas em forma circular por força dos remoínhos, como estas do lugar do Insumidoiro. Assim se cumpre o provérbio popular - àgua mole em pedra dura...
Fósseis de vida vegetal abundam nestas rochas. Encontrará ainda uma infinidade de objetos da nossa civilização: penicos, pratos, bidons, latas de bebidas, telefones, televisores, embalagens de plástico. A mim chamou-me a atenção da bota que não resisti fotografar e que penso ser tão bela como a célebre pintura de Van Gog de um par de botas. Olhe bem para ela e talvez o ajude a construir uma história. Sim porque aquela bota tem uma história.
Agora que por aqui passaram os talentos da IV Feira, terminamos com a banca do Recrearte Maior (https://www.facebook.com/pages/RecreArte-Maior/1664343457121093?fref=ts) onde a variedade de cores, de formas e objetos nos dá vontade de brincar como crianças. Verdadeiro talento para recriar e recrear, para recordar o passado - o de cada um de nós e o da Vila - para viver o presente e construir o futuro. Esse foi o gérmen de onde se originou a feira de talentos.
Uma feira sem comida e sem bebida não estaria completa e os mordomos da festa desdobraram-se em boa vontade e esforços para que nada faltasse.
Gosto do trabalho de A.I.Tonny, gosto da arte nas ruas da Vila que com um pouco de imaginação e boa vontade podiam fazer a diferença. Então este caixote de eletricidade não estava mesmo a pedir?
Hoje sem uso como se pode ver tapado o acesso na margem esquerda, na era do reino das vacas.
Fotografia tirada a montante e que mostra os talha mares
Se falar em toponímia, muita gente não estará bem a topar ou não topa mesmo. Mas se der uma topadela, alto lá que até pode sair asneira como alívio da dor. Certo é que a toponímia me tem ajudado a desvendar ou a esclarcer alguns fatos relacionados com a Vila. E topadelas também não faltaram no passeio de hoje até ao Insumidoiro ou Sumidoiro que fica a juzante do pontão da Pontaguarda ou Ponte da Guarde. Da VIla saía-se para o mundo por algumas saídas principais em direção a centros urbanos maiores. Ora, uma dessas saídas seria, sem dúvida, para a cidade da Guarda. Saía-se pelas Portas. Aí não havia o caminho da Cerca mas apenas o que corre ao cimo do Chão de S. Pedro, seguindo à direita na primeira bifurcação (o outro leva para outra saída pelo Porto do Sabugal), passa a Fonte Nova, um pouco mais abaixo a Fonte Velha, na bifurcação abaixo segue à esquerda, mais abaixo novamente à esquerda e na descida já para a Ribeira de Alfaiates vira à direita caminhando até à Ribeira. Ora, o que encontra aí não é uma ponte mas um pontão como lhe mostra a imagem. Então porque é que a toponímia não regista o nome de pontão (como acontece no pontão do Porto Sabugal)? Porque anteriormente ao pontão havia efetivamente uma ponte de acordo com a informação contida nas Memórias Paroquiais de Vilar Maior de 1758
«Outra da parte de poente a que chamam Rybeira de Alfaiates que nasce junto do lugar do Souto. Também seo curso de Inverno he arebatado e também seca de veram, tem uma pnte de pao, no lemite desta villa que vae desta villa para a cidade da Goarda e também nam he capás de navegaçam.»
Ora, pois, se se der ao trabalho, há-de topar no lagedo da margem direita com ferros cravados na rocha, resto de prováveis argolas que segurariam a dita ponte. Depois verificará também que o pontão foi construído sobre a antiga construção, nomeadamente nos dois talha mares atuais assentes, mas mais recuados, nos anteriores.
Certo é que por ali passavam alimárias e gentes a tratar das suas vidas, por conta própria ou a mando de outros, a maior parte em negócios, outros em ócio, como eu no dia de hoje.
Na margem direita, junto do pontão, um cruzeiro com data assinalada de 1908. Imagine-se o que quiser sobre o que deu origem ao dito cruzeiro: Alguém ali morreu por motivo que desconhecemos, alguém que ia para lá ou vinha para cá, alguém que se matou, alguém que foi morto, alguém que se afogou.
Por mim, dada a data assinalada estárá relacionada com as enormes enchentes de 1908, que aqui arrastaram para a morte os que, em situação duvidosa, teimaram passar à outra margem, desafiando a turbolente torrente que os tombou nas revoltosas águas que ao Insumidoiro conduziu.
Quando já não sabemos como dizer, sobra-nos a poesia
Já não verá o sol matinal
levantar-se sobre os Vales
e a deitar-se atrás do Castelo,
diariamente;
o Cesarão crescer e andar nas hortas,
no próximo Inverno,
a Primaveril explosão das maias
no Arsaio.
Decidiu partir,
apagar
a luz firme dos olhos
lentamente,
desatar os braços por dentro,
sentir a volúpia da ave,
e subir na imensidão de azul de céu,
bem acima da Fraga,
do Poço da Andorinha,
e do casario.
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