Sexta-feira, 27 de Novembro de 2015
Bons sentimentos grandes virtudes, excecional capacidade de trabalho, profunda dignidade, respeito por tudo e grande devoção eram qualidades que já nesse remoto tempo revelava a gente de Vilar Maior, a terra do Sabugal que se ergue num alto vistoso e alegre, entre dois rios: Na margem esquerda e junto do Cesarão, e, na direita, da parte do Sabugal, a Ribeira de Alfaiates. Conquistada aos mouros pelos combativos reis de Leão, dom Dinis tomou-a àqueles monarcas no ano de 1296. Então, Vilar Maior ficou, temporariamente, obedecendo a Portugal e, espiritualmente, ao bispo leonês de Ciudad Rodrigo até que o nosso rei D. João I a uniu espiritualmente ao bispado de Lamego.
Guerras com Castela assinalaram aquela época e a povoação bastante apareceu por estar muito próxima da fronteira. Perto da localidade, sinceramente venerada e com um profundo amor do povo, existe, há muitos e muitos anos, uma linda imagem de Nossa Senhora. Mulheres, homens e jovens, em muitos casos acompanhados de crianças, fazem orações, implorando a proteção da Virgem e formulando promessas, que devota mente cumprem. Foi sempre assim através dos tempos, manifestando amor, carinho, veneração a maior e mais respeitosos ao fazer as suas preces. Com genuflexões constantes, persignando-se com murmúrios sinceros de rezas e sentindo sempre grandes esperanças, inúmeras pessoas da risonha localidade se aproximavam da admirável imagem.
Quinta-feira, 26 de Novembro de 2015
Um romance à maneira antiga
Não era noite nem dia.
Eram campos, campos, campos
abertos num sonho quieto.
Eram cabeços redondos
de estevas adormecidas.
E barrancos entre encostas
cheias de azul e silêncio.
Silêncio que se derrama
pela terra escalavrada
e chega no horizonte
suando nuvens de sangue.
Era a hora do poente,
quase noite e quase dia.
E nos campos, campos, campos
abertos num sonho quieto,
sequer os passos de Nena
na branca estrada se ouviam.
Passavam árvores serenas,
nem as ramagens mexiam,
e Nena, para lá do morro,
na curva desaparecia.
Já da noite que avançava
os longes escureciam.
Já estranhos rumores de folhas
Entre as esteveiras andavam,
quando, saindo um atalho,
veio à estrada um vulto esguio.
Tremeram os seios de Nena
sob o corpete justinho.
E uma oliveira amarela
debruçou-se da encosta
com os cabelos caídos!
Não era ladrão de estradas,
nem caminheiro pedinte,
nem nenhum maltês errante.
Era António Valmorim
que estava na sua frente.
– Ó Nena de Montes Velhos,
se te quisessem matar
quem te havera de acudir?
Sob o corpete justinho
uniram-se os seios de Nena.
– Vai-te António Valmorim.
Não tenho medo da morte,
só tenho medo de ti.
Mas já a noite fechava
a saída dos caminhos.
Já do corpete bordado
os seios de Nena saíam
– como duas flores abertas
por escuras mãos amparadas!. ..
Ai que perfume se eleva
do campo de rosmaninho!
Ai como a boca de Nena
se entreabre fria, fria!
Caiu-lhe da mão o saco
junto ao atalho das silvas
e sobre a sua cabeça
o céu de estrelas se abriu …
Ao longe subiu a lua
como um sol inda menino
passeando na charneca …
Caminhos iluminados
eram fios correndo cerros.
Era um grito agudo e alto
que uma estrela cintilou.
Eram cabeços redondos
de estevas surpreendidas.
Eram campos, campos, campos
abertos de espanto e sonho …
Sábado, 21 de Novembro de 2015
Após deixar de ser concelho em 1855, a Vila sobe a sua populacão atingindo o seu máximo de sempre em 1886, com 852 habitantes em 220 fogos. A grande queda dá-se de 1940 para 1960 e, sobretudo a partir daí com o grande surto migratório. Se continuássemos o gráfico estaríamos abaixo dos 100 habitantes.
Quinta-feira, 19 de Novembro de 2015
Como em outras regiões do país, na Vila, a batata tornou-se o alimento de todos os dias, sendo impensável que se pudesse viver sem ela.
- Batata, o nome botânico da batata, por ventura o tubérculo mais popular do mundo, é solanum tuberosum, não sabemos como, nem de onde proveio, admite-se que tenham sido os espanhóis a divulgar o seu cultivo e que tenha chegado à Europa em 1534.
- Em 1557 entra no léxico português no tratado dos descobrimentos por Augusto Gaivão. Sabe-se apenas que todas as variedades de batata descendem de uma única, originária do Perú.
- O seu nome, batata, segundo o dicionarista Honaiss deriva do falar dos nativos do Haiti, o Taino e advém do castelhano,«patata».
- A batata entrou na Europa em 1534 como planta ornamental e só a partir de 1570 se começou a vulgarizar como planta alimentar.
- Porque era cultivada em hortas e pousios estava por isso isenta do imposto de dízimo e de outros direitos feudais, o que fez com que os camponeses a adoptassem rapidamente, tendo o seu cultivo em Portugal início em meados do século XVI.
- Uma das primeiras referências à batata , se não a primeira, foi feita em 1545 pelo cronista espanhol Agustín Zarate Cosat, na sua História del descubrimiento y conquista de la provincia de Perú. Las viandas que em aquelas terras comem los índios som maíz cocido y tostado em lugar de pan, e la carne de venado es cocinada a la manera de mojama, existe pescado seco y unas raices de diversos géneros que Elles llaman yucas, camotes y papas.
- Sabemos portanto (op. cit) que o conhecimento do tubérculo que viria a revolucionar a história da alimentação do povo europeu, data pelo menos da segunda metade do século XVI e que os navegadores espanhóis e portugueses o terão provado no local de origem, mas com isto não se quer dizer que a população europeia, particularmente a portuguesa e espanhola a tenha cultivado de imediato para seu uso, tanto mais que os médicos da época tinham dela uma péssima opinião e consideravam-na, entre outras desvirtuosidades; desenxabida, flatulenta, indigesta, debilitante e malsã, adequada apenas ao sustento de animais (sic).
- Durante o final do século XVI e no século XVII a batata não se encontra citada nos livros de receitas da época, embora alguns escritores espanhóis dessa mesma época a tenham em textos.
- Foi já no século XVIII que o francês Antoine Augustin Parmentier teria convencido Luís XVI de que essa batata poderia solucionar os problemas alimentares do povo francês.
- Foi então que para divulgação e promoção da batata, esta fez parte de uma refeição servida em Versailles, a 24 de Agosto de 1785, com toda a corte reunida, para apreciação da mesma como alimento humano.
- A partir daí a batata passou a vulgarizar-se como alimento humano em França e a aumentar-se o seu consumo, passando de alimento malquisto e vilipendiado, a ter lugar na mesa dos nobres e burgueses europeus.
- Segundo José Hermano Saraiva, Diogo de Sousa, que terá escrito «As cortes de Parnaso», entre 1620 e 1630, seria conhecedor da batata porque a sita na sua poesia. Também Bento Pereira, no seu Thesouro da Língua Portuguesa, 1647, refere a batata. Porém, até aos finais do século XVII e grande parte do seguinte a batata continuou a ter uma baixa reputação na Europa, não passando de um alimento pouco conceituado pelas classes altas, utilizada apenas para alimento de animais, de escravos e de pobres , conceito a que Portugal não fugia.
- Para confirmação o que acaba de ser dito, atendemos ao primeiro livro de cozinha publicado em 1680, Arte de Cozinhar de Domingos Rodrigues, no qual a batata não aparece mencionada, tal como acontece com outras obras dos seus colegas espanhóis.
- A batata só aparece como receita de culinária, para gente bem instalada na vida em 1715 e 1729 registada por Francisco Borges Henriques, mesmo assim dizendo que : « o que dá pelo nome de batatada não passa de um puré grosseiro adicionado com o dobro do peso de açúcar em ponto e amêndoa pisada e, se for de nabos, passa a chamar-se nabada», contudo fica-nos a dúvida se a batata referida seria a Solanum tuberosum (nome botânico da batata comum, de que temos vindo a falar) ou a Ipomoea batatas ( que é a batata doce), conforme aparece muitas vezes confundida uma com a outra.
- A batata comum (Solanum tuberosum) no início do conhecimento da sua existência não foi apreciada como alimento humano pelas classes altas, que apenas a usavam como curiosidade gastronómica, o que se prolongou durante o século XVIII.
- Lucas Rigaud, um dos cozinheiros de quem presentemente se fala muito, por ter sido cozinheiro da corte portuguesa nessa época, na sua obra Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinhar de 1780, dedica apenas duas linhas à batata em que diz: « As batatas depois de cozidas em agoa, e pelladas, comem-se com molho de manteiga, e mostarda».
- Só a partir do livro de Paulo Plantier - O Cozinheiro dos Cozinheiros, editado pela primeira vez em 1870, a batata entra nos tratados de culinária, sendo nesta obra apresentadas 18 maneiras de a cozinhar.
- À segunda edição desta obra, veio Ramalho Hortigão (1836-1915), com o prestígio da sua escrita, dar um grande impulso à credibilidade da batata ao adicionar à referida obra uma receita da sua autoria, onde ensina frigir as batatas em manteiga fresca vinda de Sintra, a constipa-las no parapeito de uma janela e a voltar a submete-las ao inferno da gordura fervente para que empolem e se transformem no pitéu do qual exalta a qualidade e o sabor.
- Seis anos mais tarde, João da Mata na sua obra «Arte de Cozinha», lançada em Lisboa em 1876, inclui as batatas nas mais variadas receitas, vindo a torna-las indispensáveis nas variedades de cozinhados em que actualmente se representam.
- Assim entrou a batata no século XX como elemento respeitado, não parando a sua escalada nos mais diversos processos que hoje conhecemos: cozida, guisada, estufada , assada, recheada em puré e de toda a maneira imaginável.
- A batata demorou a impor-se, mas vencida a desdita do seu desconhecimento, já não é dispensável seja nos processos mais simples, como nos mais sofisticados.
Extracto do Texto Original – A HERANÇA INCA- de JPL Reis, in Alimentação Humana, S.P.C.N.A.
( Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação), vol. 14, nº3, 20, coligido por
Palmira Cipriano Lopes
Segunda-feira, 16 de Novembro de 2015
As lendas têm sempre algum fundo de verdade e, esse fundo, é por vezes uma pequena luz que nos orienta para encontrar a verdade. Santa Marinha. Foi o topónimo que me fez andar por lá à procura de vestígios de uma capela. E não foi em vão pois encontrei lá um belo ajimez - uma pedra trabalhada que encimaria uma janela e que, juntamente com meu sogro, transportei para Vilar Maior, podendo ser vista à entrada do museu local. Para mais informação:
http://vilarmaior1.blogs.sapo.pt/274321.html
Então, a lenda reza assim
Já nesse tempo era grande devoção que tinha o povo de Vilar Maior, bonita terra do Sabugal, cuja existência, anos antes, tinha ficado assinalada, primeiro pelo domínio dos mouros, e, mais tarde, pelas lutas de Portugal com Castela. Uma linda imagem de Nossa Senhora já ali se notava, e, era com grande fé que os homens, mulheres e jovens faziam as suas orações. No dizer da tradição, atravessava-se em determinada época histórica, um período em que as relações com o país vizinho sempre se mostravam pouco amistosas, causando preocupações entre o povo que, de modo algum, sentia empobrecer sua devoção. Apesar das desinteligências que se manifestavam, um dia, alguns naturais de Espanha, dirigiram-se para Vilar Maior, lugar que queria atravessar, conduzindo uma imagem de Nossa Senhora, num carro de bois, com esse fato pretendendo revelar a sua fé católica. Aconteceu todavia, - e isso deixou-os estupefactos e preocupados - que as rodas do veículo ficaram solidamente pregadas ao solo e não se lhes tornou possível mudar de posição. Crendo que isso acontecia por falta de força dos animais, desengataram-nos, substituindo-os por outra junta de bois. Eram mais fortes mas, mesmo assim, o carro não se deslocou. Então – diz a lenda - o povo convenceu-se de que se estava na presença de um milagre da Mãe de Deus, que não queria ir para Espanha, mas ficarem Vilar Maior. Por isso, expulsaram os espanhóis e apoderaram-se da imagem da Senhora. Presentemente, respeitando essa vontade de Maria Santíssima, ergue-se na terra uma bonita capela onde Nossa Senhora opera constantes milagres, robustecendo a pura crença popular.
Quinta-feira, 12 de Novembro de 2015
Tenente Palos ouvindo o discursos de Manuel Esperança que ofertou o chafariz
O local da implantação do chafariz não foi pacífico como podemos testemunhar pelos dois ofícios do Presidente da Câmara:
25-05-1950
Exmo Senhor Presidente da Junta de Vilar Maior
Para efeitos convenientes e a fim de que se digne informar a comissão que apresentou proposta de arrematação das águas, tenho a honra de comunicar que em princípio a Camara aceita as condições propostas, desde que a liberdade da colocação do chafariz e bebedouro seja condicionada às indicações dadas por mim, aquando da minha visita a essa povoação.
Para ser feita a entrega definitiva, devem aqueles senhores comparecer nesta Camara trazendo o recibo comprovativo do pagamento da dívida à casa Conde § Gião ou, a importância em referência.
A Bem da Nação
O Presidente da Camara
Francisco Maria Manso
30-05-1950
Exmo Senhor Presidente da Junta de Vilar Maior
De acordo com o ofício da Comissão dessa freguesia, queira Vª Excª qual o local onde desejam, sem prejudicar os interesses do público, colocar o chafariz e bebedouro e dizer quais as razões por que não serve o indicado.
Cumpre a esta Camara zelar pelos interesses dos seus munícipes, em geral, parecendo que no referente a essa freguesia não deseja a Junta da sua presidência ir contra este princípio. Devemos, portanto, estar de acordo na defesa do interesse público.
A Bem da Nação
O Presidente da Camara
Francisco Maria Manso
Os paralelos da calçada estão bordejados de verde. Chegaram as chuvas de Outono. Caminhantes, nem de noite nem de dia, nem às horas do meio dia. Noutros tempos, outras coisas se diziam:
Pedrinhas desta calçada
Levantai-vos e dizei
Quem vos passeia de noite
Que eu de dia bem o sei.
Segunda-feira, 9 de Novembro de 2015
As muitas coisas que o assento de batismo nº10 do ano 1860 nos pode ensinar ou abrir uma porta para o estudo da sociedade, da cultura, da religião e suas instituições. O insólito do caso é tratar-se de um homem - um engeitado colocado na roda dos expostos - com cerca de 26 anos.
Aos treze dia do mez de Setembro, do anno mil oitocentos e sessenta pelas dez horas da manhã, na Igreja parochial desta freguesia, concelho do Sabugal, Distrito Eclesiástico de Alfaiates, Diocese de Pinhel, eu Presbítero Joze Ignacio de Faria, Reitor da mesma freguesia, baptizei solemnemente debaixo de condição e pus os santos Óleos, conforme a um Mandado que do Excelentíssimo Vigário Geral desta Diocese me foi entregue. Tendo corrido naquele tribunal um processo visto não se achar documento algum que comprove ter sido baptizado, eu assim comprovo observando para este acto todas as cerimónias que a Santa Igreja ordena para tal fim. Revestido da sagrada estola, capa e barrete, no meio da porta principal da Igreja veio da sua muito livre vontade apresentando-se de joelhos perante mim examinar em Doutrina Christã e actos de Fé, Esperança e Caridade, Atenção e Contrição respondendo a tudo com muita energia e perguntando ao dito catecúmeno para que fim se me apresentava respondeu que não sabia se era batizado e por isso me pedia por amor de Deus lhe ministrasse o sacramento do baptismo e ser contado no número dos filhos de Deus e ter Direito à Bemaventurança e perguntando como se queria chamar respondeu Joze Monteiro.
Logo lhe dirigi Quid putas ab Eclesia Dei, elle respondeu: Fidem, sem contenção …
Perguntando-lhe que idade teria disse ele que mais ou menos vinte seis ou vinte sete anos que fora exposto que não conhecera pai ou mãe. Atestou este acto muita gente e seus padrinhos e (diante) a todos ele quis ter recebido o Santo Sacramento do Baptismo lhe dirigi um excelente discurso e dando graças a Deus a todos abraçou como irmãos findando este acto com muito regozijo acompanhado de uma excelente banda de muzica. Foram seus padrinhos João António Ferreira, cazado, Professor do Ensino primário e sua molher D. Maria China desta freguesia os quais todos conheço serem os próprios para constar … »
A ribeira já corre
Pelas redes sociais de há sessenta anos - a barbearia do senhor Zé Franco, a presa de Vale de Castanheiros onde as mulheres lavavam roupa suja e botavam nódoas em vidas imaculadas, as eiras cheias de medas onde se malhava no pão e na vida dos ausentes, o caminho do mercado da Miuzela e de Alfaiates levantando nuvens de pó, a taberna do senhor Aníbal Gata onde a verdade vinha sempre ao de cima - circulava a informação local que ia das coisas que toda a gente sabia e serviam para alimentar conversa sendo que o estado do tempo, como ainda hoje , era o lugar mais comum, até rumores da Rússia e do Além. Quando a mãe ditava uma carta ao filho mais novo para mandar ao filho mais velho, falava-lhe de todas estas banalidades sérias, dos fatos e das invenções locais e de como o longínquo chegava aqui:
- Olha Francisco, a ribeira já corre e a gente inté a oice a cantar. Agora as noutes já são munto grandes e eu vou fazer sarão para loja do ti Duarte, pois sempre dividimos o petróleo da candeia por todas, aproveito para fazer a meia ou fiar uma estriga de linho; como sabes eu falo pouco mas ouvem-se lá muntas cousas. A Maria Eufrásia inté deu uns entenderes, no leves a mal, que tu andavas embeixado pela filha do Esteves, eu fiz-me desapercebida como se lá no estivesse que o melhor é oralhas moucas para palavras loucas. Olha por cá anda tudo um bocado assustado pois o senhor coronel que lê o jornal todos os dias - outro dia até me deu um e forrei o nosso basal que ficou munto lindo - diz que a Rússia quer invadir o mundo inteiro e fechar as igrejas todas e cabar com a religião. O senhor reitor tamém falou nisso e ontem no terço diz que agora íamos rezar sempre três ave marias pela conversão da Rússia. O senhor reitor disse que com ajuda de Salazar e da Nossa Senhora de Fátima Portugal há-de ficar a salvo. A Amarela pariu uma linda bezerrinha e agora já temos leite pra fazer o queijo. O tê pai ficou munto contente.
No equivalente à imprensa cor-de-rosa misturava-se parte verdade, parte de invenção, de suspeita, de desejo, de inveja em que mexendo e remexendo, acrescentando de um lado e retirando do outro alimentava os dias repetidos em que nada acontecia.
E, pronto, era mais ou menos assim o facebook há sessenta anos, em que o mais parecido é a ribeira a correr e a cantar.
Segunda-feira, 2 de Novembro de 2015
Depois que o estio se finou, que os frutos que a terra deu se recolheram, diminuem os dias e crescem as noites. Homens e Natureza tomados de cansaço como que se preparam para uma longa hibernação. São assim os meses de Outono. Mesmo as festas litúrgicas são mornas e tranquilas. Nada nem ninguém sobressai. Festejam-se todos os Santos, aqueles que não têm direito a lugar em altar de Igreja ou Capela, a mordomia e festa, a procissão e foguetes. Festa de todos os santos anónimos.
Era, antigamente um tempo bom para a garotada: Sem trabalho de campo, dava para jogar ao Crarambolo com as nozes ou amendoas tiradas à socapa da casa dos pais ou descobertas no rebusco. À socapa se tiravam umas batatas (das maiores) da tulha que a senhora Clemência trocava por milagradas, que assim se chamavam as romãs. E no dia de Todos os Santos, a lembrança que os padrinhos ofereciam era o Santoro - pão que levava azeite e ovos em forma de ferradura.
Pretérito perfeito em que o tempo era ainda todo futuro.