( Fotografia de José Valente, residente na América)
Trata-se de uma fotografia a rondar os fins dos anos 50. A falta de terra para semmear centeio (e o resto) era tanta que até no interior das muralhas se semeava centeio como se pode ver no chão com regos. Servia também como lugar de apascentamento de cabras e ovelhas. Por volta 1870 houve uma proposta para aí se fazer o cemitério. Ainda bem que a proposta não vingou: iriam encontrar aí sepultada uma civilização antiga, castreja talvez.
A paisagem no interior mudou muito como se pode ver pela segunda fotografia (setembro de 2015), nomeadamente pelas escavações feitas e pela vegetação arbórea.
Caindo-me com facilidade o pé para questões filosóficas, direi apenas aquilo que, sem especulação metafísica, qualquer um constata: Há a realidade que representamos pelo pensamento e que traduzimos em palavras. Nesta trilogia do ser, pensamento e linguagem se contêm todas as outras questões, nomeadamente as que nos conduzem ao entendimento da relação do homem com o meio, isto é, à cultura. E nesse seguimento constatamos que a cultura produz o homem que, por sua vez é um produtor de cultura: o ti Zé Silva ou o ti Zé Duro que na forja moldam o ferro, o Faia ou o Lavajo que com a enxada reviram a terra das hortas, o Nunes que lavra a tapada de uma ponta à outra, o Junça que com o toque dos sinos regula o tempo sagrado e a vida profana, o forneiro que coze o pão, a costureira que apronta as vestes, o ti Jerónimo que desbasta a pedra que se há-de conformar ao lugar, o padre que diz a missa, o pastor que apascenta o gado ... e seria um rosário sem fim a enumeração de todas as atividades e gestos, acrescentados das representações mentais e da comunicação entre os homens, mais os sentimentos e emoções experimentados. E tudo isso é feito na obediência a um código de regras que, como um maestro invisível, leva à execução de uma polifonia admirável. Há na vida uma gramática tão ou mais complexa que a gramática da linguagem. E nem uma nem outra são acompanhadas de livro de instruções.
Não precisa sair da Vila para entender o que é a cultura. Aqui se passa, o que com o homem se passou e se passa em qualquer lugar: o homem frente à realidade, pensando, agindo e comunicando. Porém, em circunstancias diversas, em tempos e espaços diferentes; com histórias e geografias diferentes.
E é essa diversidade de fatores que as torna únicas, lhes confere uma identidade. Essa identidade é feita pela sua história que se insere na história da região e do país; pelo espaço em que se desenvolve; pela ação das gentes; pelo poder (autonomia) que tem para preservar a sua identidade. Quando os fatores mudam, muda a cultura segundo as leis da adaptação e conservação. Porém, por vezes, as mudanças são tão rápidas e profundas que tornam impossível a adaptação. Foi o que aconteceu com a cultura de Vilar Maior, um caso paradigmático de muitas outras no interior do país que, lentamente definham e morrem.
Compreender inteiramente o que se passou e interrogarmo-nos sobre o futuro, parece-nos ser um trabalho urgente. Porque, talvez, nem todo o passado esteja perdido. Em circunstâncias diferentes, é certo, no passado, os reis tiveram de tomar medidas drásticas por causa do despovoamento das terras.
Da esquerda para a direita: Raul Araújo, João Marques, Fernando Cerdeira, José Santos
Inícios dos anos 60, em Campigny, aposto eu que seria domingo, talvez depois da missa.
Hoje sabemos que uns vieram, outros não. Doem-nos todos. Mais os nossos e aqueles que por lá ficaram.
https://www.youtube.com/watch?v=pewOaY3flTs
Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não
Manuel Freire
Estes são os que receberam batismo em 1916. Lembro ainda muita desta gente ou sei dela por dela ouvir falar: A Matilde filha do chamado Regedor Velho, a Maria Carlota filha de Vasco Francisco Quevedo que era foi secretário do Ministério dos Negócios Estrangeiros; do António Lavajo jornaleiro em todos os dias da sua vida alentado pelo copo de vinho de que exagerava; do José Osório, filho da senhora Evangelina e que se despediu da Vila em grande dor por mor da morte do seu filho no trágico acidente dos foguetes; do meu tio Virgílio que morreu anjinho como era usual naquele tempo; do Joaquim que era filho da irmã da minha avó Joaquina Monteira; dos Serranos, dos Valérios, dos Quelhas, dos Badanas ... de gente que foi do tempo dos nossos pais e dos nossos avós. Histórias de vidas que ficam por contar.
Matilde |
Silva, Henrique |
Alves, Emília |
Júlio |
Fernandes, António |
André, Rosa |
Maria José Carlota |
Quevedo, Vasco Francisco Q. |
Augusta, Maria |
António |
Lavajo, Manuel |
Cunha, Beatriz |
Adélia |
Esteves, Manuel |
Cunha, Maria |
Maria |
Badana, Francisco |
Fernandes, Isabel |
Francisco |
Quelha, António |
Fernandes, Isabel |
José |
xxxxxxxxxxxxxxxxx |
Fonseca, Evangelina Osório |
Manuel |
Leopoldino, José |
Fonseca, Maria de Jesus |
Deolinda |
Badana, Alexandre |
Fonseca, Rosalina |
Maria |
Fernandes, João |
L., Teresa Bernarda |
Maria |
André, Manuel |
Lavajo, Ana |
Conceição |
Dias, José |
Lavajo, Maria Clara |
Francisco |
Bárbara, José |
Leitão, Luísa |
Valentina |
Silva, Joaquim |
Martins, Maria de Jesus |
Manuel |
Gomes, Joaquim |
Monteira, Ana |
Pascoal |
Capela, José |
Monteira, Balbina |
Virgílio |
Marques, Manuel |
Monteira, Joaquina |
Maria |
Pinheiro, José Marcos |
Monteira, Maria |
Joaquim |
Nunes, João |
Monteira, Maria da Luz |
João |
Rasteiro, José |
Passareira, Maria Amélia |
Germano |
Franco, José |
Proença, Ana |
Jerónimo |
Afonso, Bernardo |
Proença, Isabel |
Antónia |
Serrano, José |
Rosa, Maria |
Teresa |
Valério, Francisco |
Soares, Luísa |
José |
Valério, Júlio |
Soares, Maria da Luz |
Antónia |
Serrano, António |
Soares, Rosália |
António Sérgio |
xxxxxxxxxxxxxxxxx |
Teixeira, Josefina Rosa |
Joaquim |
Simões, João Ferreira |
V., Ana Martins |
Abrindo os pesados portões de ferro forjado que guardam o adro da Igreja matriz, antigo cemitério, encontra do lado esquerdo a lápide com o epitáfio que na fotografia se mostra.
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