Sexta-feira, 29 de Abril de 2016

Largo do Pelourinho de outrora

DSC_0027.JPG

 

Muitos, serão a maior parte, já não se lembram do largo do Pelurinho como o mostra a fotografia. 

O Pelourinho, de estilo manuelino, feito de um esteio monolítico, encimado por uma gaiola, assente no topo de uma escadaria quadrangular de sete degraus, representa o direito, a liberdade e a autonomia admistrativa. De certo modo, representa, a passagem do poder castrense simbolizado no Castelo para o poder civil.

No largo do Pelourinho, durante  anos vigiado por uma acácia que já não sabia a idade, foi o local de todos os acontecimentos importantes, incluído o divertimento dos mais novos e dos bailes e cantigas de roda dos rapazes e raparigas que com olhares trocavam mensagens de amores (im)possíveis . Os pais e avós assistiam. O entorno das velhas habitações tornava-o um belo lugar que aos poucos se foi descaraterizando. Hoje é um lugar que ontenta a incúria e o desleixo num mini jardim em que a erva cresce, malcriadamente, sem pedir licença. E ninguém se dói.

publicado por julmar às 15:15
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Arrifana da Coa

ARRIFANA DO COA

Tudo o que sou o sou por obra e graça
Do sangue dos avós aqui nascidos
Tudo o que na mente me perpassa
Recebe inspiração dos tempos idos

Supina, intolerável e bem crassa
É a vida daqueles que presumidos
Julgando ter provindo doutra raça
Blasfemam das raízes esquecidos

A rocha modelou-nos o carácter
Na minha geração foi Alma Mater
Foi hora de prima de sexta e de noa

Laus Deo Virginequae Maria
Assim se vive cristamente o dia
Aqui, nesta Arrifana que é do Coa.


«Poetando»Manuel Leal Freire

publicado por julmar às 11:46
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Segunda-feira, 25 de Abril de 2016

Requiescat in Pace, António Santos

Filho de Elvira  Cerdeira Proença e José dos Santos era o mais velho dos irmãos - Fernando, Maria, João e Filomena, todos emigrantes em França. O António veio passar uns dias a Portugal, como fazia com alguma frequência. Encontrou a morte num fatídico acidente na estrada da Malhada- Vilar Formoso quando o carro que conduzia colidiu com um taxi a que se seguiu o incêndio dos dois veículos. Socorrido pelo INEM, foi conduzido ao Hospital da Guarda, tendo posteriormente seguido para o Hospital de Coimbra onde faleceu. O corpo foi levado para França onde foi sepultado. Aos  familiares apresentamos as nossas condolências.

(Estas informações avulsas foram colhidas na Vila)

publicado por julmar às 21:26
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Sexta-feira, 22 de Abril de 2016

A conversão da Rússia

Curioso livro de cariz anti-comunista e católico, impresso a vermelho e azul alternadamente. Edição numerada e assinada pelo autor.

A Igreja e o Estado Novo uniam esforços no combate ao comunismo e, diariamente, em todas as paróquias se rezava pela conversão da Rússia.

O livro supra foi largamente publicitado na altura e mereceu todos os cuidados na distribuição por todas as freguesias através dos Presidentes da Junta. O pedido de controle também chegou a Vilar Maior.

publicado por julmar às 21:58
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Quarta-feira, 20 de Abril de 2016

Duas épocas, dois rostos, sempre a Vila

vm cg.jpg

                            Foto cedida por Carlos Gata

  A primeira foto é dos finais da década de cinquenta. A torre ainda conservava a traça original que na seguinte aparecerá encimada com uma pirâmide quadragonal, sendo feita por António Seixas a mando do padre Narciso. O Cimo da Vila, antiga cidadela, mantém a traça multissecular com os três ícones: O Castelo, a Igreja da Senhora do Castelo e a Igreja matriz com sua torre medieval. As casas rasteiras ainda bem conservada servindo de morada a jornaleiros e artesãos todas ocupadas com gentes e gado.

cimo da vila.jpg

 Depois veio a França e o dinheiro que lhe hão-de mudar o rosto. Finalmente, veio o abandono e a incúria e o passar do tempo encarregou-se de, pacientemente,  apodrecer caibros e traves mestras até os telhados se juntarem ao chão e as portas se escancararem e de dentro surgirem telhado fora silvas e sabugueiro e até figueiras que chegado o tempo dão figos como é próprio das figueiras.  

 

 

publicado por julmar às 10:03
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Sexta-feira, 15 de Abril de 2016

Ora Viva a Pândega!

 

 

 

 

P033.jpg

 

Na fotografia consigo identificar: O professor Pinheiro (o segundo) de chapéu e cigarro na mão; António Palos (o terceiro) tenente fardado; Florêncio Dias (o sexto) fardado de guarda fiscal; Júlio Palos (o sétimo) de chapéu, à civil. Os outros três, quem souber que diga.

Uma pândega era sempre uma ocasião especial para rir, cantar, dançar, fazer piadas, tudo isso com bons pitéus e vinho à farta das boas adegas da vila.O pretexto variava: um aniversário, a vinda de alguém da cidade, a simples razão de que está a fazer falta divertimento. A Vila era um lugar que se prestava a essas coisas e havia gente urbana que aqui vinha, de quando em vez, e que não lhe perdoava. Atrevia-me a apostar que o personagem na quinta posição era o principal, vindo de Lisboa. 

P07.jpg

 E, como era uso e costume, mulheres para um lado e homens para o outro (não que esta cena tenha a ver com a primeira). As pândegas eram para os homens. As mulheres eram mais dadas a piqueniques.

P019.jpg

 

Bom e depois da pândega e do piquenique há baile ao som de concertina, ou tratando-se de gente fina, como é o caso, talvez de grafonola.

Era assim na Vila dos anos quarenta!

 

publicado por julmar às 15:03
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Quinta-feira, 14 de Abril de 2016

Professor António Esteves Pinheiro

Por mais que uma vez, falei aqui neste blog da importância do professor Pinheiro. A propósito do post anterior, mais uma vez, me lembrei desta importante figura, que para além da atividade de professor primário, desempenhou um importante papel social e cultural. É uma figura que merece ser lembrada e reconhecida, para o que seria bastante o fato de ter escrito a letra do hino do Senhor dos Aflitos. Mas foi ele também que, em 1948, para participação de Vilar Maior no cortejo de oferendas a favor do Hospital do Sabugal que contava com a participação das freguesias do concelho,  que escreveu a letra (e a música?) das cantigas que, a solo ou em coro, se entoavam quando o povo se dava à reinação.

Esta que elogia as belezas da Vila:

Vilar Maior, terra de sonho e beleza,
Tu és de todas as princesa, 
Do paraíso aqui da Beira,
Vilar Maior, grinalda composta de amor,
Onde tudo são lindas flores.
Vilar Maior, que nos convidas a sonhar!

Nos teus pinheirais,
Ouvem-se cantar
Vozes de donzelas,
De noite ao luar!

Vilar Maior, terra de sonho e beleza,
Tu és de todas as princesa, 
Do paraíso aqui da Beira,
Vilar Maior, grinalda composta de amor,
Onde tudo são lindas flores.
Vilar Maior, que nos convidas a sonhar!

 

A segunda, que a minha memória já não dá conta dela completa, de caráter reivindicativo e irónico:

Ò vila modernizada que vai ser falada …

Pois segundo ouvi dizer

Que vão fazer uma estrada

Oxalá venha esse dia

Se não for Zum-Zum

Vai haver muita alegria

Foguetes tum-tum

Bandas na rua da vila

Concerteza até perlim-pim-pim

Porque a malta sem conforto

Com fartura é sempre assim

(...)

 A dar crédito ao dito popular que quem faz um cesto faz um cento, certamente haverá escritos do professor inéditos, talvez esquecios no meio de papéis ...

publicado por julmar às 15:24
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Segunda-feira, 11 de Abril de 2016

Olhai, senhores, esta Vila d'outras eras

P024.jpg

A fotografia, uma tecnologia de ponta à época, tem como cenários as escadas da varanda das Rebochas (assim era conhecida à época), retrata um casamento. Não sei quem são os noivos. Ao lado da noiva está o professor Pinheiro e esposa; um pouco atrás a minha professora da Primária, Adélia Gata; mais atrás Aníbal Gata (e esposa?); as duas meninas, no primeiro degrau, serão as professoras Fernandinha e Sãozinha, filhas da professora Adélia e de Fernando Castelo Branco. O rosto de algumas outras figuras é-me familiar mas não os consigo nomear. E você, Conhece alguém?

Na década de quarenta, do século XX, o pároco não dava mãos a medir: Batismos, casamentos e funerais haviam de rondar a centena; missa todos os dias, pela manhã; à noite reza do terço, caso a tarefa não estivesse entregue a uma  devota senhora. Ao domingo para além da missa, iniciada com o asperges aos fiéis, com a prática com explicação das sagradas escrituras; a catequese, ao tempo chamada doutrina para iniciação da garotada; à tarde reza do terço com benção do Santíssimo; Mais confissões, procissões, festas, extrema-unção para os agonizantes. E burocracias. Era um pesado trabalho que, obviamente, gerava copioso rendimento.

 

Era a vila d'outras eras.

publicado por julmar às 10:31
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Quinta-feira, 7 de Abril de 2016

Preservar a memória

fotospascoa20051 054.jpg

fotospascoa20051 052.jpg

 Poderá ser incúria, desleixo, falta de conhecimento, ou qualquer outra razão. Mas quando perdermos a memória nada mais importa porque sem ela não seremos nada. 

Aos poucos, com o passar dos anos, o sol, a chuva, a geada foram-no arruinando. Porque ninguém se importou. Como ninguém se importa com o museu. Se é para estar fechado não precisa do edifício onde está, um armazém serve para guardar as peças. 

publicado por julmar às 12:14
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Terça-feira, 5 de Abril de 2016

As almas no vocabulário da Vila

cruzeiro pontguarda.jpg

 Cruzeiro da Ponte da Guarda

  Há quem diga que a invenção do fogo foi a maior invenção da Humanidade. Nas minhas cogitações, cheguei a uma  conclusão de que a maior invenção feita pelo homem terá sido a religião: sem a criação ou a descoberta dos deuses ou de Deus o homem jamais invenaria a humanidade. Com isso se descobre um aqui e um além, um mundo terrestre e um mundo celeste; com isso se descobre a transcendência; com isso se descobre que o homem é corpo e alma; com isso surge toda a história da salvação da alma.  Tudo isso, apesar da única certeza que temos é de que há vida antes da morte. 

Alma até Almeida: Incitação para chegar ao fim. Não será estranha à expressão  o facto de Almeida constituir um refúgio seguro em tempo de guerra.

Alma danada: Pode servir de elogio a quem cometeu uma acção valorosa ou como uma depreciação de alguém que só é esperto para o mal.

Alma do diabo: São aquelas que são levadas do diabo para a brincadeira ou para as artes do demo.

Alma de cevada- Nada tem a ver com cereal mas antes com marrano ou porco, tratando-se pois de uma alma pouco elevada, dada a acções baixas. Por almas de cevada eram alcunhados os judeus.

Alma do outro mundo- Havia muitas outrora quando não aceites no céu , no inferno ou no purgatório vadiavam por aí como espectros, fantasmas. 

Almas do purgatório- As únicas por quem vale a pena rezar, sobretudo pelas que mais precisarem que são as que maiores tormentos têm que passar.

Alma nova- Até lhe nasceu uma alma nova; os milagres, única forma de resolver  o impossível, também acontecem

Alminhas - Não se trata de almas menores mas de pequenos  monumentos em pedras que situados na beira dos caminhos lembrando aos viandantes a transitoriedade    desta    vida e lhes solicita um Pai Nosso pelas almas  que no Purgatório estão a penar.

In, Memórias de Vilar Maior, minha terra minha gente - Júlio Silva Marques

publicado por julmar às 11:16
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