Muitos, serão a maior parte, já não se lembram do largo do Pelurinho como o mostra a fotografia.
O Pelourinho, de estilo manuelino, feito de um esteio monolítico, encimado por uma gaiola, assente no topo de uma escadaria quadrangular de sete degraus, representa o direito, a liberdade e a autonomia admistrativa. De certo modo, representa, a passagem do poder castrense simbolizado no Castelo para o poder civil.
No largo do Pelourinho, durante anos vigiado por uma acácia que já não sabia a idade, foi o local de todos os acontecimentos importantes, incluído o divertimento dos mais novos e dos bailes e cantigas de roda dos rapazes e raparigas que com olhares trocavam mensagens de amores (im)possíveis . Os pais e avós assistiam. O entorno das velhas habitações tornava-o um belo lugar que aos poucos se foi descaraterizando. Hoje é um lugar que ontenta a incúria e o desleixo num mini jardim em que a erva cresce, malcriadamente, sem pedir licença. E ninguém se dói.
ARRIFANA DO COA
Tudo o que sou o sou por obra e graça
Do sangue dos avós aqui nascidos
Tudo o que na mente me perpassa
Recebe inspiração dos tempos idos
Supina, intolerável e bem crassa
É a vida daqueles que presumidos
Julgando ter provindo doutra raça
Blasfemam das raízes esquecidos
A rocha modelou-nos o carácter
Na minha geração foi Alma Mater
Foi hora de prima de sexta e de noa
Laus Deo Virginequae Maria
Assim se vive cristamente o dia
Aqui, nesta Arrifana que é do Coa.
«Poetando», Manuel Leal Freire
Filho de Elvira Cerdeira Proença e José dos Santos era o mais velho dos irmãos - Fernando, Maria, João e Filomena, todos emigrantes em França. O António veio passar uns dias a Portugal, como fazia com alguma frequência. Encontrou a morte num fatídico acidente na estrada da Malhada- Vilar Formoso quando o carro que conduzia colidiu com um taxi a que se seguiu o incêndio dos dois veículos. Socorrido pelo INEM, foi conduzido ao Hospital da Guarda, tendo posteriormente seguido para o Hospital de Coimbra onde faleceu. O corpo foi levado para França onde foi sepultado. Aos familiares apresentamos as nossas condolências.
(Estas informações avulsas foram colhidas na Vila)
Curioso livro de cariz anti-comunista e católico, impresso a vermelho e azul alternadamente. Edição numerada e assinada pelo autor.
A Igreja e o Estado Novo uniam esforços no combate ao comunismo e, diariamente, em todas as paróquias se rezava pela conversão da Rússia.
O livro supra foi largamente publicitado na altura e mereceu todos os cuidados na distribuição por todas as freguesias através dos Presidentes da Junta. O pedido de controle também chegou a Vilar Maior.
Foto cedida por Carlos Gata
A primeira foto é dos finais da década de cinquenta. A torre ainda conservava a traça original que na seguinte aparecerá encimada com uma pirâmide quadragonal, sendo feita por António Seixas a mando do padre Narciso. O Cimo da Vila, antiga cidadela, mantém a traça multissecular com os três ícones: O Castelo, a Igreja da Senhora do Castelo e a Igreja matriz com sua torre medieval. As casas rasteiras ainda bem conservada servindo de morada a jornaleiros e artesãos todas ocupadas com gentes e gado.
Depois veio a França e o dinheiro que lhe hão-de mudar o rosto. Finalmente, veio o abandono e a incúria e o passar do tempo encarregou-se de, pacientemente, apodrecer caibros e traves mestras até os telhados se juntarem ao chão e as portas se escancararem e de dentro surgirem telhado fora silvas e sabugueiro e até figueiras que chegado o tempo dão figos como é próprio das figueiras.
Na fotografia consigo identificar: O professor Pinheiro (o segundo) de chapéu e cigarro na mão; António Palos (o terceiro) tenente fardado; Florêncio Dias (o sexto) fardado de guarda fiscal; Júlio Palos (o sétimo) de chapéu, à civil. Os outros três, quem souber que diga.
Uma pândega era sempre uma ocasião especial para rir, cantar, dançar, fazer piadas, tudo isso com bons pitéus e vinho à farta das boas adegas da vila.O pretexto variava: um aniversário, a vinda de alguém da cidade, a simples razão de que está a fazer falta divertimento. A Vila era um lugar que se prestava a essas coisas e havia gente urbana que aqui vinha, de quando em vez, e que não lhe perdoava. Atrevia-me a apostar que o personagem na quinta posição era o principal, vindo de Lisboa.
E, como era uso e costume, mulheres para um lado e homens para o outro (não que esta cena tenha a ver com a primeira). As pândegas eram para os homens. As mulheres eram mais dadas a piqueniques.
Bom e depois da pândega e do piquenique há baile ao som de concertina, ou tratando-se de gente fina, como é o caso, talvez de grafonola.
Era assim na Vila dos anos quarenta!
Por mais que uma vez, falei aqui neste blog da importância do professor Pinheiro. A propósito do post anterior, mais uma vez, me lembrei desta importante figura, que para além da atividade de professor primário, desempenhou um importante papel social e cultural. É uma figura que merece ser lembrada e reconhecida, para o que seria bastante o fato de ter escrito a letra do hino do Senhor dos Aflitos. Mas foi ele também que, em 1948, para participação de Vilar Maior no cortejo de oferendas a favor do Hospital do Sabugal que contava com a participação das freguesias do concelho, que escreveu a letra (e a música?) das cantigas que, a solo ou em coro, se entoavam quando o povo se dava à reinação.
Esta que elogia as belezas da Vila:
Vilar Maior, terra de sonho e beleza,
Tu és de todas as princesa,
Do paraíso aqui da Beira,
Vilar Maior, grinalda composta de amor,
Onde tudo são lindas flores.
Vilar Maior, que nos convidas a sonhar!
Nos teus pinheirais,
Ouvem-se cantar
Vozes de donzelas,
De noite ao luar!
Vilar Maior, terra de sonho e beleza,
Tu és de todas as princesa,
Do paraíso aqui da Beira,
Vilar Maior, grinalda composta de amor,
Onde tudo são lindas flores.
Vilar Maior, que nos convidas a sonhar!
A segunda, que a minha memória já não dá conta dela completa, de caráter reivindicativo e irónico:
Ò vila modernizada que vai ser falada …
Pois segundo ouvi dizer
Que vão fazer uma estrada
Oxalá venha esse dia
Se não for Zum-Zum
Vai haver muita alegria
Foguetes tum-tum
Bandas na rua da vila
Concerteza até perlim-pim-pim
Porque a malta sem conforto
Com fartura é sempre assim
(...)
A dar crédito ao dito popular que quem faz um cesto faz um cento, certamente haverá escritos do professor inéditos, talvez esquecios no meio de papéis ...
A fotografia, uma tecnologia de ponta à época, tem como cenários as escadas da varanda das Rebochas (assim era conhecida à época), retrata um casamento. Não sei quem são os noivos. Ao lado da noiva está o professor Pinheiro e esposa; um pouco atrás a minha professora da Primária, Adélia Gata; mais atrás Aníbal Gata (e esposa?); as duas meninas, no primeiro degrau, serão as professoras Fernandinha e Sãozinha, filhas da professora Adélia e de Fernando Castelo Branco. O rosto de algumas outras figuras é-me familiar mas não os consigo nomear. E você, Conhece alguém?
Na década de quarenta, do século XX, o pároco não dava mãos a medir: Batismos, casamentos e funerais haviam de rondar a centena; missa todos os dias, pela manhã; à noite reza do terço, caso a tarefa não estivesse entregue a uma devota senhora. Ao domingo para além da missa, iniciada com o asperges aos fiéis, com a prática com explicação das sagradas escrituras; a catequese, ao tempo chamada doutrina para iniciação da garotada; à tarde reza do terço com benção do Santíssimo; Mais confissões, procissões, festas, extrema-unção para os agonizantes. E burocracias. Era um pesado trabalho que, obviamente, gerava copioso rendimento.
Era a vila d'outras eras.
Poderá ser incúria, desleixo, falta de conhecimento, ou qualquer outra razão. Mas quando perdermos a memória nada mais importa porque sem ela não seremos nada.
Aos poucos, com o passar dos anos, o sol, a chuva, a geada foram-no arruinando. Porque ninguém se importou. Como ninguém se importa com o museu. Se é para estar fechado não precisa do edifício onde está, um armazém serve para guardar as peças.
Cruzeiro da Ponte da Guarda
Há quem diga que a invenção do fogo foi a maior invenção da Humanidade. Nas minhas cogitações, cheguei a uma conclusão de que a maior invenção feita pelo homem terá sido a religião: sem a criação ou a descoberta dos deuses ou de Deus o homem jamais invenaria a humanidade. Com isso se descobre um aqui e um além, um mundo terrestre e um mundo celeste; com isso se descobre a transcendência; com isso se descobre que o homem é corpo e alma; com isso surge toda a história da salvação da alma. Tudo isso, apesar da única certeza que temos é de que há vida antes da morte.
Alma até Almeida: Incitação para chegar ao fim. Não será estranha à expressão o facto de Almeida constituir um refúgio seguro em tempo de guerra.
Alma danada: Pode servir de elogio a quem cometeu uma acção valorosa ou como uma depreciação de alguém que só é esperto para o mal.
Alma do diabo: São aquelas que são levadas do diabo para a brincadeira ou para as artes do demo.
Alma de cevada- Nada tem a ver com cereal mas antes com marrano ou porco, tratando-se pois de uma alma pouco elevada, dada a acções baixas. Por almas de cevada eram alcunhados os judeus.
Alma do outro mundo- Havia muitas outrora quando não aceites no céu , no inferno ou no purgatório vadiavam por aí como espectros, fantasmas.
Almas do purgatório- As únicas por quem vale a pena rezar, sobretudo pelas que mais precisarem que são as que maiores tormentos têm que passar.
Alma nova- Até lhe nasceu uma alma nova; os milagres, única forma de resolver o impossível, também acontecem
Alminhas - Não se trata de almas menores mas de pequenos monumentos em pedras que situados na beira dos caminhos lembrando aos viandantes a transitoriedade desta vida e lhes solicita um Pai Nosso pelas almas que no Purgatório estão a penar.
In, Memórias de Vilar Maior, minha terra minha gente - Júlio Silva Marques
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