Com o mesmo espírito, entusiasmo e dedicação lembramos os objetivos da realização deste evento.
1- Permitir conhecer os talentos dos conterrâneos
2- Partilhar saberes, técnicas, valores
3- Divulgar os nossos produtos
4- Tornar esta Feira um evento anual, afirmando-se progressivamente no contexto do concelho e da região.
5- Alimentar os laços entre os vilarmaiorenses residentes e ausentes.
6- Angariar fundos para a festa
7- Fomentar o espírito de Participação e Solidariedade
8- Incentivar o empreendedorismo
9- Proporcionar reconhecimento aos talentos participantes
10- Fortalecer os laços intergeracionais
11- Proporcionar a todos um dia de boa disposição, convívio e diversão.
12 - Criar espírito de pertença entre os povos da nova freguesia.
Contamos com todos, contamos contigo
(Imagem da 2ª Feira de Talentos)
Pela quinta vez vamos realizar a Feira de Talentos de Vilar Maior. Este ano terá lugar no dia 11 de Agosto, 5ª Feira, integrando-se na Festa do Emigrante.
Já sabe como é: tudo depende de si, a feira é sua, a feira é de todos. Você vai fazer a diferença porque vai lá estar, porque você faz renda como ninguém, porque você pinta, porque você tem um poema, porque sabe fazer um bolo especial, porque faz uns bolos de bacalhau especiais, porque tem fotografias da vila, porque tem umas velharias que gostaria de vender ou trocar, porque tem uns queijos, uns litros de feijão, umas amêndoas cascudas ou nozes para vender. Porque tem um número para apresentar. Há na vila escritores, pintores, escultores, fotógrafos, habilidosos, gente com jeito.
Então, VAMOS À FEIRA!
Um dia, a morte chegou e levou a Maria. Perdemos a Maria e com ela perdemos um pouco da conversa de ocasião, feita do ritual da saudação, do estado do tempo, da videira que tem muitos gachos, da horta que precisa de ser regada, da dificuldade cada vez maior em andar e de outras miudezas de que se tece o quotidiano. Depois que a Maria partiu, o portão, a porta, as janelas não mais se abriram; a videira, desorientada, cresce de qualquer jeito sem direção nem suporte, dando frutos para ninguém; os cardos bravios abriram em roxo donos do curral. Tudo por mor da Maria já não morar aqui. E tudo isso pesa sobre mim.
Na casa do ti Jerómino, terminavam as casas do povoado de quem saía pelo Buraco, no tempo em que havia grandes sermões que, invariavelmente, mostravam a miséria da condição humana e pintavam de cor de fogo o inferno e o céu com resplendor de luz perpétua; em que na Misericórdia se cantava, em gregoriano, a ira de Deus; em que os lavradores semeavam tapadas de pão, os pedreiros levantavam paredes, os ferreiros aguçavam os picos dos pedreiros e as relhas dos lavradores; os pastores dormiam com as ovelhas nas noites quentes de verão nas terras centeeiras que a merda do seu gado havia de alimentar o pão semeado pelos lavradores; em que os moleiros tornavam farinha o grão de centeio no rodízio fabricados pelos carpinteiros que moviam as mós talhadas pelos pedreiros; em que as mulheres dos homens de todas as profissões amassavam a farinha e a tendiam em pães que, poisados em tabuleiros, à cabeça, levavam aos fornos da Quelha, da Praça ou do Cimo da Vila; em que em todas as mesas, branco ou escuro, à farta ou doseado, só ou com peguilho, acompanhado de vinho ou de água o pão ocupava o lugar principal. Tudo pode faltar menos o pão. Foi o pedido que todos, desde crianças, aprenderam a fazer a Deus: ‘O pão nosso de cada dia nos dai hoje’. Que o senhor da terra, servo de Deus, havia de chegar no mês de Setembro para recolha de tudo o que sobrava da fome.
O pequeno Tonho, sem mãe desde os quatro anos e com o pai mais ocupado em arranjar mulher onde fazer filhos que criar os que fizera, ficara entregue à Segurança Social que, ao tempo, se encarregava de todos os deserdados e que dava pelo nome de o deus dará. Ora, ao contrário de Deus, o deus dará era, por natureza, um faz de conta, pois o que acontecia, acontecia ou não acontecia independentemente dele. Não adiantava, nem atrasava um deus assim e Deus também não se importava de um deus sem importância. Falecida a mãe do Tonho, o garoto ficou ao deus dará e para mitigar o mal de ter um deus assim a cuidar de si, foi-se animando por mor de não lhe faltarem companheiros que tendo ficado ao deus dará lhe continuavam fiéis servidores pela vida fora. irmanados na adoração do seu deus, aprenderam a andar sempre à margem dos que tinham um Deus a sério. Se iam à Igreja, não tinham que estar onde estavam os filhos de Deus, não tinham que cumprir com rigor os preceitos da Santa Madre Igreja, encontravam sempre um lugar mais escondido, mais distante. Os seus passos tinham uma geometria errante e emaranhada ao sabor dos ventos. De certa vez, o António mais o Bernardino, fintaram a vigilância do padre Zé Batista e enfiaram-se no coro da Igreja. Rezados os cinco mistérios dolorosos – ao sr padre dava mais jeito os dolorosos - já eles dormiam como os barrocos da Fraga, embalados pela Salve Rainha, mais umas Avé-Marias avulsas pela conversão da Rússia, as jaculatórias usuais e o ámen final.
O ti Manel Junça, empunhado o pavio, apagou uma a uma as velas, as do altar-mor, primeiro, e, depois, as dos altares laterais tomando a escuridão conta do espaço todo, até à crescente afirmação do treme luz da lâmpada do Santíssimo. As beatas, embrulhadas nos xailes e lenços pretos, olhos poisados no chão, continuando a sibilar orações e rezas, saíam contrariadas como se aquela fosse a sua única morada. O Junça fez ranger langorosamente a porta de ferro, deu duas voltas com uma chave tão grande e tão lisa que bem podia ser a chave da porta do Céu. Enrolou o tabaco no papel e acendeu o cigarro que, às vezes, o distraía, outras vezes, o carregava de pensamentos. Desta vez deu consigo a perguntar-se se Deus não teria em grande conta o trabalho de um sacristão, que a ele, Junça, o obrigava a deitar-se depois de todos porque tinha de subir à torre para tocar ‘às almas’ e levantar-se antes de todos para o toque das ‘Avé-Marias’. No princípio, quando se casara com a Maria Prata, dela ouvia os bitafes de mulher que não conformada com a concorrência que os sinos lhe faziam, desatava:
- Ó Manel, parece que se tu no tocasses o sino nem o sol nascia, nem a noite acontecia!
Lembrou-se do remoque da Maria e perguntou-se:
- Atão, se no houvesse sinos, se no houvesse sacristão que os tocasse como é que esta gente se entendia? Até os galos só cantam depois de eu tocar as Ave-Marias e depois de tocar às Almas. E foi para o Adro saltando e dizendo: Eu sou Deus! Eu sou Deus! Sou importante! Que seria do padre se eu não tocasse os sinos? Sim que seria uma igreja sem gente? E nisto, atreveu-se: Que seria de Deus sem fiéis que o adorassem? Que seria Deus sem mim? De repente assustou-se pela temeridade que acabara de pronunciar. Arrependeu-se, logo. Mas lá que fazia sentido o que dissera, lá isso fazia.
- Que Deus me perdoe! Mas se eu no tocasse os sinos, comé quera?
Nem o pai do Tonho nem a mãe do Bernardino deram pela falta dos garotos, que mal o Junça deu à chave se apressaram a sair, descalços, nas costas do sacristão.
A casa do ti Jerónimo foi durante muitos anos a última. Se, ao tempo, houvesse placas identificadoras do início das povoações a indicar o nome das povoações era ali que estaria: VILAR MAIOR.
Mas naquele tempo ninguém ia além da Vila e todos os que lá iam não precisavam de o ler e a maior parte nem ler sabia. Durante muitos anos o caminho esconso tornado estrada de terra batida, feita para veículos motorizados, continuou a ser um caminho de gente e de gado. Se havia coisa desnecessária para o povo era uma estrada que os ligasse ao mundo que para a maior parte o mundo acabava no sítio onde o céu poisava na terra, lá até onde a vista enxergava. Para que lhes servia uma estrada sem veículos motorizados? Se, por necessidade ou acaso da vida, alguém tinha que ir mais longe do que a distância que a pé ou de cavalgadura se pode fazer num dia, teria de ir ao Noémi e tomar o comboio de cuja existência sabiam os que nunca o viram pelo silvar que nos campos se ouvia se o vento estivesse de feição.
Mas havia gente aristocrática que vivia em Lisboa, não vivia na vila mas que sem lá estar, mandava nela por mor da maior parte das terras, sempre as melhores, serem suas, lá vinha de visita para descansar da canseira da cidade e, sobretudo, para receber vénias, salamaleques e, sobretudo as rendas, em géneros ou dinheiro, através dos seus feitores. Vinham em Setembro, o mês de todos os milagres. Os filhos do deus dará, primeiro que ninguém, se apercebiam da chegada do senhor e da senhora mais dos meninos e das meninas que, por caridade, por divertimento, por tradição deitavam à arrebatinha rebuçados e moedas de tostão como quem deitava parcos grãos de milho a galinhas esfomeadas que mais esfomeadas ficavam. À senhora e demais madamas era-lhes servido chá com galhetas espanholas enquanto o caseiro depois de beberem um Porto lhe mostrava as enormes arcas de centeio, as tulhas de batata e de feijão e os enormes toneis de vinho, seguindo-se depois a escrita das vendas de centeio, de feijão, de batatas, de vinho, dos borregos, cabritos e vitelas e das rendas a dinheiro.
- Está tudo escriturado, senhor Doutor.
E, dizendo isto, foi ao fundo de uma mala de onde tirou um cofre que, encontrada a chave, abriu.
- Estão aqui mil e cem contos!
(…)
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