É, das aldeias visitadas até ao momento, mais ainda do que Vila Boa, a que em termos de arquitetura, melhor representa as aldeias agrícolas da primeira metade do século XX.
A pedra é o elemento essencial de toda a construção, sem necessidade de qualquer revestimento: material resistente, indiferente ao passar dos séculos, pode escurecer ou acinzentar-se com a superfiície coberta de líquenes mas é, quase, indestrutível.
A habitação do lavrador segue sempre o mesmo guião: uma loja por baixo ( ou duas) com a entrada protegida pelo balcão com resguardas a que dá acesso uma escada exterior. A parte do rés-do-chão é destinada à junta das vacas e à burra. Por vezes, em loja contígua guarda-se o tonel do vinho, a salgadeira, a arca do centeio e, por vezes, ainda se arranja um espaço para o tear. O soalho de madeira separa o gado da gente. Na entrada da loja abre-se uma porta mais pequena para a cortelha do marrano. Por baixo das escadas, deixou- se espaço suficiente para o poleiro das galinhas. O cão arranjará um abrigo pelo curral e ao gato foi deixado um buraco na porta para sair e entrar para a vadiagem. O curral será o átrio comum a gentes e gados e lá se fará a moreia da lenha e o arrumo das alfaias agrícolas. O que aí não couber, como o carro das vacas, ficará na rua que é mais do que um sítio onde se passa.
Interessante mesmo era recuperar uma casa destas com mobiliário, alfaias agrícolas e mobiliário que preservariam a memória de uma arquitetura, de uma economia, enfim, de uma cultura beirã.
Na mesma rua ( e não só) chamou-nos a atenção o trabalho ornamental de várias janelas.
Por fim, não encontramos outra aldeia que em que se manifestasse uma tão forte vontade de afirmar uma identidade cultural que vai desde as sinalizações de entrada no povo - Aldeia da Dona, aldeia cultural - até às obras de arte, executadas por dois conterrâneos- lembrando as atividades do tempo dos lavradores: a vaca, o arado, o coveiro, os bailadores, o tocador de concertina. Este é um património que não se deveria perder, nem adulterar.
Vale a pena visitar Aldeia da Dona
Comme ci, comme ci, comme ça
Falar de emigrantes na Vila é falar de emigrantes de França - sobretudo de Champigny, le grand bidonville - que com o tempo mudou de rosto. Alguns, poucos, rumaram às Américas (agora, mais do Norte que do Sul) e à África. Na Europa, poucos, demandaram a Espanha, a Alemanha, a Holanda, a Suíça, a Inglaterra, a Bélgica. Ainda, assim, já é possível ouvir falar inglês.
O modo de vida dos emigrantes mudou muito desde a primeira geração da década de sessenta e setenta. Boa parte deles, com idades superior a cinquenta anos, analfabetos ou com nível de instrução rudimentar tiveram, pela primeira vez na vida, direito a férias com congê e tudo. Sem saber falar francês foram aprendendo as palavras básicas e, habituados a desenrascar-se em Portugal, passam à se désenmerder en France, aportuguesando os termos franceses,
Eram tempos de entusiasmo, de euforia que culminavam nas vacanças, no regresso a casa, à família, aos conterrâneos com milhões de francos (novos, mas com nomenclatura antiga que impressionava mais). Na taberna, o vinho foi esquecido e saíam rodadas de biéres que seria ofensa séria à imagem não pagar uma e não aceitar todas as que se seguissem. As feiras e mercados circunvizinhos enchiam as apertadas vielas e os tendeiros e demais feirantes, não tinham mãos a medir. Alguns, mais novos, traziam une voiture que, no desconhecimento do vocabulário português correspondente, utilizavam o francês aportuguesado: fogo rouge, vitesses, marche arriére, bugias, empanar e, como condutores com o permis de conduire há menos de um ano, com um dístico arriére - quatre vint dix . Carros de marca francesa, sobretudo, e modelos da época: Renault, Simca, Citroen. Muitos, que passaram noites de insónia e dias a sonhar com a compra de um chão, de uma veiga, de uma vinha, de um lameiro ou mesmo de uma casa, aproveitavam a vinda à terra natal para sondar os proprietários que, sem mão-de-obra para o amanho das terras, aproveitavam para vender a preços exorbitantes. Acreditavam, então, que a situação de emigrante era passageira, o que se traduzia na expressão frequente – quando a França acabar … Por isso, havia que aforrar e comprar o mais sólido dos bens para a sobrevivência – terras. A verdade é que a França não acabou, os mais velhos regressaram com uma retraite que lhes permitia viverem sem ter que trabalhar a terra, embora a maioria dessa primeira geração o fizesse. Porém, os filhos e, sobretudo os netos, integraram-se no modo de vida franco, frequentaram a escola, aprenderam a falar francês, de tal modo, que para alguns a dificuldade se tornou entender e falar português. Por isso, entrando, um dia destes, numa feira local, me surpreendi, pois o francês era quase exclusivo. A mesma situação ao chegar ao bar de festas de uma aldeia próxima em que fui atendido em francês:
- Alors, que voulez-vous?
- Une biére, s’il vous plait!
Mal saíra da bela Aldeia do Bispo vi um homem, estrada fora, que, mais madrugador que o sol, lento, ia depenicando amoras silvestres, na berma da estrada.
Eu, de passo estougado, depressa o alcancei.
- Bom dia! Então, vamos até aos Fóios?
- A pé? Nem pensar! No me diga que você vai a pé! Atão vossemecê donde é?
- De Vilar Maior?
- Catancho! Sabe, a minha avó era de lá, da família Ferreira. Chamava-se Maria Ferreira.
Desfolhei, de cor, um pouco do livro genealógico da família Ferreira. E, em jeito de despedida:
-Tenho que ir andando que depois o sol aperta.
- Então, ainda nos encontramos lá pelos Fóios no Encerro.
Foi, assim, que soube que iria encontrar a terra a visitar em estado de festa. Estrada fora, fui vencendo a mais longa subida deste passo a passo e, chegado ao alto, deparou-se-me, à esquerda, a indicação da nascente do rio Coa. Segui a indicação da direita que indicava miradouro. Subida íngreme até ao cume, onde me sentei junto ao marco geodésito, estonteado por paisagem tão vasta que os olhos mal poisam no último dos horizontes. Por cima de mim, as pás da eólicas não paravam de rodar, impelidas pelo vento que fazia rodar um exército enorme de iguais engenhos aqueles que antes do sol nascer me aparem como luzes vermelhas. E pus-me a pensar o que D. Quixote não diria de tão numerosos e gigantescos moínhos de coisa nenhuma.
Agora na descida tudo é mais fácil. A paisagem que, escondido, o Coa sustenta com água abundante, torna-se exuberante, os carvalhos e os freixos mais frondosos e mais densos, mais lameiros e pastos mais verdes, os castanheiros dominadores, carregados de ouriços, começam a imperar na paisagem.
E, mal entro na aldeia, sinto no ar um clima de festa que torna o 'bom dia', da salva, dos habitantes num convite ã que me torne alegre e contente.
Passo da margem direita à margem esquerda do Coa, ainda menino, para ver a aldeia acocorada na margem esquerda, descendo preguiçosa para o rio.
Aqui e ali, rapazes e homens de pau na mão, seguem todos no mesmo rumo, carreiro acima, como se estivesse eminente uma qualquer hierofania no cimo do monte. Saudei e abordei um homem determinado no caminhar:
- Bom dia! Então, para onde vai?
- Atão, vou pronde vai toda a gente!
Explicou-me que era lá em cima no Lameirão. Não tivera que regressar a pé, caminho de Aldeia do Bispo, e teria acedido ao rogar insistente do homem:
- Venha que vai gostar! Olhe que há lá comida e bebida com fartura.
Por toda aldeia a azáfama no terminar dos últimos preparativos era intensa, nomeadamente na certificação que todas as ruas estavam encerradas e que os touros chegariam, sem tresmalhos, ao Encerro.
O sol já queimava quando deixava esta tão animada aldeia, de onde quase todos emigraram e que, terminada a festa, voltariam a França. Em conversa co um habitante rematei:
-Tenho que ir, que se faz tarde.
- Atão e vai a pé?
-Então, que remédio!
- Pois vá que 'Sarna com gosto, não cansa''
Pela estrada fora passo a passo, quase sem carros, apenas o barulho das sapatilhas no asfalto e o chilrear dos pássaros nos carvalhais. Por vezes, o chocalho de uma vaca, animal dominante em todo o concelho. Nem cabras, nem ovelhas. Estamos no reino das vacas e do arame farpado que veda as cercas onde pastam. Por isso, fiquei satisfeito ao ouvir a voz de um burro que pode não ter chegado aos céus mas me trouxe à terra do tempo ido. Depois de uma curva, mais um pedaço de estrada a palmilhar que vai até onde a vista alcança sempre à espera de sinais de proximidade do povoado. E acabam por aparecer com um campo de milho, um estábulo de vacas e, sobretudo, os sons: o cantar dos galos, o ladrar dos cães, o roncar de um motor de rega. Nada de vozes humanas que é muito cedo e também já não se berra alto para chamar nem para acudir que os telemóveis substituíram o alarido. Assim se chega a Aldeia Velha com o Lar de Nossa Senhora dos Prazeres à entrada. Um dia mais tarde, ninguém saberá explicar porque é que os lares da terceira idade são á entrada (ou saída) das povoações. Um átrio do povoado cheio de verde que o rio Cesarão, de nascente ali tão perto, no lugar da Churreira, sustenta.
E mal assomei para o rio da minha vida, reparo nos tufos de florinhas roxas. Eram poejos! E saltando ao rio colhi um farto molho que me há-de servir, na saúde, na confeção de umas migas ou, na inesperada dor de barriga, um cházinho. E bem me podia ter quedado aqui pela entrada que é um belo lugar e que esculturalmente nos indica a maior manifestação cultural deste povo, comum e competitiva entre os povos vizinhos da Raia.
E, a festa maior, em honra de S. João Batista não dispensa a garraiada. Tudo está preparado.
E a senhora que me convidava para as cerimónias religiosas, na quarta feira, argumentando que era uma procissão muito linda, me dizia: - Olhe que não há uma igreja mais linda de S. João Batista no Concelho do Sabugal! Com o que não me foi difícil concordar, depois de ter olhado aquele altar-mor.
E já lá vão cinco. A todos os que participaram nesta V Feira de Talentos, em especial àqueles que os apresentaram, os nossos parabéns. Cabe também um agradecimento à Câmara por ter aproveitado este evento para a inauguração desta nova fase do museu e pela sua abertura no dia da feira (e não é aqui e agora o momento de falar sobre a necessidade da sua abertura ao público de uma forma regular).
Por estas terras as coisas não são fáceis, nunca o foram. Resignar-se a existir é deixar-se morrer.
Por isso, insistimos e resistimos.
E Vilar Maior acordou com o seu melhor rosto para a V Feira de Talentos
E a barraquinha de João Marques foi um êxito de vendas: os saquinhos de amêndoas cascudos desapareceram enquanto o diabo esfrega um olho. Mais que houvesse para vender. Pois é, depois dizem: se eu tivesse pensado tinha trazido as nozes, isto e aquilo.
A Sara com a sua barraquinha de vendas, da iniciativa da Junta de Freguesia, tinha literatura sobre Vilar Maior, a maio parte da autoria de Mário Simões.
Olímpia e filha confecionaram e a presentaram deliciosos doces que se mais houvesse mais tinham ido.
A Maria do Céu, apresentou manjericos (rega, rega o manjerico) e outras variedades de flores e um vasto surtido de plantas aromáticas.
A Carla, assessorada pelo Afonso, deliciou com gaufres acompanhados de compota, entre outra doçaria
Carolina Martins, Alexa Silva e uma amiga apresentaram deliciosa doçaria e bebidas, em conformidade.
A Alexa feirante ambulante vendeu, ainda, bijutaria.
A Teresa Seixas (RecreArte) apresentou uma rica variedade de artesanato – artes decorativas – que atraíram a atenção dos cirandantes.
Júlio Marques apresentou livros seus e de outros autores e edição de um disco de 'poesia bemdita' e outro de desenvolvimento pessoal.
A Bárbara Cardoso apresentou os já tradicionais licores da Casa Villar Mayor (TurisPedros) e organizou a Corrida de Arco
A Mariana, com a ajuda do Hugo, de graça, com graça, cirandou pela praça puxando pelo lado cómico das gentes.
O Carlos Martins e a sua equipa tem de passar uma semana a cozer pão porque não chegou para as encomendas. É preciso comer deste pão para saber que o pão não é todo igual.
A barraca da Comissão de Festas vendeu rifas, coleções de postais sobre Vilar Maior (autoria de Carlos Fragoso), T-shirts, Sweatshirts, pack de vinho, calendários, etc
À Sara Fernandes coube o cumprimento da obra de misericórdia de dar de comer a quem tem fome com frango assado na brasa, no largo do Pelourinho.
O dia terminou animado, com a festa do emigrante, com um jantar muito concorrido, no Largo do Pelourinho , seguido de baile pela noite dentro.
(Fotos cedidas por José Cunha)
No tempo do Estado Novo, a ida à inspeção militar era um dia de festa. Os mancebos que atingiam os 20 anos tinham que se apresentar no Distrito de Recrutamento Militar (DRM) para serem avaliados na sua robustez física para cumprirem o serviço militar. Os resultados da inspeção traduziam-se para cada um, numa das seguintes situações: Apurado, Livre, Esperado. No último caso haveria de ir, posteriormente, para nova avaliação.
Claro que todos desejavam ser apurados, pois isso, significava ir para a tropa, sair da terra e, com sorte, conseguir um melhor emprego, nomeadamente na Guarda Fiscal ou Republicana ou na Polícia.
Era um dia de festa para a rapaziada em que o vinho corria farto, estrejavam fogurtes no ar e o tocador tirava da concertina a maior animação.
Os mancebos nascidos em 1936 terão ido à inspeção em 1956, ano em que se apresentaram, segundo informação de José Cunha, um dos presentes na foto, vinte e dois rapazes, quem sabe o maior número de sempre.
Então quem são os da foto? E os restantes?
No dia 10 de Agosto houve a ianuguração do museu da Vila, presidida pelo senhor Presidente da Câmara que traçou o quadro em que nasceu e se desenvolveu. O senhor presidente da Junta da União de Freguesias agradeceu a todos os que tornaram possível esta nova fase do museu e convidou os presentes para um Porto de Honra, quando terminada a visita guiada por uma das técnicas museólogas que explicou e justificou as escolhas feitas para a nova vida que o museu agora inicia.
Poderá saber mais, no seguinte link da Cãmara
https://www.facebook.com/sabugal.concelho/photos/?tab=album&album_id=816099341854448
Organizada pelo blog PORTUGALNOTÁVEL de Carlos Castela, tivemos hoje a visita a Vilar Maior de um grupo de pessoas que, sob a orientação da guia Rita Miguel, apreciaram o nosso património com destaque para a Pia Batismal, Igreja de Nossa Senhora do Castelo e o Castelo. Mais gente que aprendeu um pouco de nós e da nossa história.
O nosso agradecimento ao Carlos Castela pela divulgação que tem feito do nosso património.
Na Igreja Matriz de S. Pedro, cheia de conterrâneos, amigos e familiares, em missa presidida pelo pároco, Daniel Cordeiro, Carlos Valente Martins e Eugénia renovaram os votos de matrimónio feitos há vinte e cinco anos. Ao casal os nossos votos de uma vida venturosa e feliz.
Integrada no contexto da V Feira de Talentos, após obras no espaço do museu e reorganização de todo o espólio, vai ser inaugurada uma nova fase da vida do museu, no dia 10 de Agosto, às 18 horas, com a presença de suas excelências o Presidente da Câmara e o Presidente da Junta. Para esta cerimónia, convida-se a população, em geral, e, em particular, a população da União de Freguesias de Aldeia da Ribeira, Vilar Maior e Badamalos.
E, indo à origem da palavra inauguração (do Latim inaugurare, “examinar os augúrios ao começar um ato, consagrar”), auguramos um futuro em que este museu seja uma importante mais valia na divulgação da terra e das gentes da Vila.
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