(Fotografias cedidas po Marcos Santos)
Um dia, talvez na próxima Feira de Talentos, havemos de organizar uma exposição - e seria a segunda - com fotografias de Vilar Maior e suas Gentes. Muitas vezes não é o objeto que muda mas a maneira como o vemos, o mesm rosto visto por olhares diferentes.
(Visita 13-8-2016)
Evolução da População
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
495 | 546 | 558 | 567 | 626 | 610 | 653 | 756 | 8oo | 817 | 359 | 312 | 246 | 198 | 131 |
A partir do censo de 1940 passa a ter mais população do que Vilar Maior e desde 1864 sempre teve mais população do que a Bismula, tendo-se alterado a situação em desfavor de A. Da Ribeira a partir de 2011, embora não saibamos os dados.
Depois de ter ido dezenas de vezes de Vilar Maior a Aldeia da Ribeira, pedantibus, desta vez eu tinha o propósito de o fazer integrado no projeto Por Terras do Sabugal passo a passo. Com os sentidos bem despertos e o sol em frente a espreitar do lado de Almedilla, ia rememorando viagens anteriores, lembrando a excursão feita à Atalaia em ruínas que há-de ter tido pela última vez aquando da passagem das tropas francesas na Guerra Peninsular, a menos que as gentes da Pavorosa dela se tenham servido nas suas incursões de terror que espalharam por estas bandas e que o padre Barroca conhecia como ninguém. Passo a passo cheguei ao cemitério novo de onde se avista o povoado cujo casario desce lá de cima preguiçoso até à Ribeira. Aldeia da Ribeira. Chamam-lhe Ribeira da Aldeia, querendo dizer que é Ribeira de Aldeia Velha onde tem sua nascente. Melhor seria chamarem-na Ribeira das Aldeias: Aldeia Velha, Aldeia da Ponte e Aldeia da Ribeira que banhará, antes que se mande ao Coa, Vilar Maior, onde lhe chamam seu nome verdadeiro – Cesarão e por alcunha Peixeiro.
Como figura destacada surge-nos o Padre João de Matos (1815-1893) de que nos dá notícia MJC,, nascido em A.Ponte e falecido em A. Ribeira onde foi pároco 51 anos. Os elementos mais biográficos são colhidos do relato do carcereiro da cadeia do Sabugal, onde deu entrada em 7 de Agosto de 1873, tendo saído dois dias depois sob fiança. A causa da sua detenção está ligada à sua atividade revolucionária, ligado ao partido legitimista e ligado ao movimento guerrilheiro de um bandido espanhol de nome Montejo, de Valverde d’el Fresno, que era o terror do concelho do Sabugal. Grande pregador, guerrilheiro, dando tudo pela causa miguelista e ferocíssimo inimigo da causa liberal. Foi já dentro do povo que pude ver que um o padre guerrilheiro e excelso pregador não tinha sido esquecidoao colocarem-lhe o nome numa rua.
Nesta época os párocos não eram apenas os mediadores entre Deus e os homens mas também mediadores nos conflitos terrenos e exercia, não raras vezes e por longos períodos o cargo de presidente da junta da paróquia. Assim acontecia no ano de 1850: O padre João de Matos era presidente da Junta de Aldeia da Ribeira e o padre José Inácio de Faria era presidente da Junta de Vilar Maior. O planalto das Moitas – enorme planura coberta de carvalhos que era termo das freguesias da Malhada Sorda, Nave de Haver, A. Ribeira e Vilar Maior – constituía precioso recurso energético para o aquecimento e confeção dos alimentos. Nessa época eram as juntas de freguesia que faziam a administração desse território. No dia de S. Marinho, 11 de Novembro, os moradores das freguesias de Aldeia da Ribeira e Vilar Maior, ao nascer do sol, subiam ao planalto para tomar posse de uma rasa, por família. Aconteceu que se geraram graves conflitos entre habitantes das duas freguesias que obrigou os párocos das duas paróquias a fazer reuniões e a suspenderem a tomada das rasas até estabelecerem um (novo) regulamento, como consta em atas da Junta da Paróquia. Desconheço se estará aqui a origem das hostilidades ou se foi mais uma manifestação de um fenómeno anterior
Desde miúdo que me lembro das rivalidades entre as duas freguesias e das histórias que se contavam de brigas violentas, sobretudo, entre os rapazes da Vila e de Aldeia da Ribeira. Tal despique perdurou e manifestou-se, de forma estrondosa, até ao desenlace trágico do rebentamento dos foguetes da festa do sr dos Aflitos em Vilar Maior em que seis pessoas ficaram desfeitas. Com efeito, cada uma das freguesias queria superar a outra na quantidade de dúzias de foguetes. O povo esqueceu-se reiteradamente da sabedoria que dizem pertencer-lhe – com o fogo não se brinca -, e levou a paciência de Deus ao limite, consentindo na destruição da sua propria casa, sede da misericórdia.
Aparte as rivalidades e competições, necessárias a elevar a auto-estima e o sentido de pertença a uma comunidade, havia também as solidariedades e complementaridades as trocas de pessoas, de bens e de serviços: namoros e casamentos segundo os rituais de pagamentos de vinho; os lavradores da vila que aqui traziam vacas, burras e éguas em altura de cobrição ao boi, burro e cavalo do ti ‘Grilo’ dando continuidade à vida destas prestimosas alimárias.
O tempo de andar, passo a passo, dá para lembrar tudo isso e, ao passar junto da torre do relógio que sempre conheci encimada com o ninho da cegonha, o relógio bate as oito horas, com o mesmo toque que há mais de cinquenta anos eu ouvia distante daqui, lá para o Vale da Lapa ou Correia num som claro e cristalino que a brisa do lado de Espanha transportava por todo o vale do rio Cesarão.
Agora que a Igreja Matriz de S. Pedro estava aberta, aproveitei para entrar. A florista punha todo o seu brio no enfeite da Igreja e dos andores que haviam de sair em procissão pelas ruas da aldeia, no dia seguinte, festa do Santíssimo Sacramento. Calculo que a Igreja deveria estar apinhada de gente no tempo do padre João de Matos, o mais insigne orador da região, atendendo às suas dimensões e ao número de habitantes. Tem uma belíssima capela-mor com o teto forrado de quadros a óleo emoldurados e a talha dourada reveste todo o altar-mor. Ao passas frente à fachada principal lá está sobre a porta "Restaurada em 1940". Passo a ponte e, de regresso a casa, do lado esquerdo - que já estiveram no lado oposto - lá está a capela das alminhas suplicantes:
"Ó vós que passais, tende piedade de nós"
Guardo uma história de infância que só não é infame porque tais infâmias são impossíveis na ingenuidade infantil.
Visita – 09-08-2016. Percurso Vilar Maior – Bismula – Vilar Maior
Área – 15,44 km2; Densidade populacional 12,5 hab/Km2
Evolução da população (dados do censo de 2011)
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
411 | 459 | 456 | 498 | 528 | 522 | 466 | 670 | 659 | 576 | 350 | 298 | 226 | 198 | 193 |
Por se tratar de um povo vizinho desde muito cedo tomei contato com as terras e gentes da Bismula. Tão pequeno que me montavam na burra com os sacos de centeio e a burra conhecedora do percurso, conduzia-me exatamente à porta do comércio do ti Mendes que me tirava a mim e aos sacos de cima da alimária. Estes comércios de aldeia eram uma espécie de drogaria onde se vendia quase tudo desde materiais de construção, tabaco e vinho, petróleo, fósforos, vasilhas, sabão, enxofre, muito género de panos e material de costura e todo o tipo de mercearia. Aqui na Bismula o do ti Mendes, sempre prestável e atencioso com jeito para o bom trato dos garotos, servia também de entreposto onde recebia o grão de centeio e trocava por farinha feita nos moinhos de Valongo. Voltava a carregar a burra com sacos de farinha e lá me encarapitava a mim, cinco réis de gente, para a viagem de regresso com recomendações para a minha avó latoeira por quem confessava admiração. Outras vezes, vinha cá buscar mercadoria que na Vila não havia como, por exemplo, vidros para janela. Depois havia os Carreiras que apascentavam gados nas terras confinantes do Porto Sabugal. Havia os parentes Polónias e, entre eles o ti João que o recordo sempre montado num cavalo.
Quando chegava a altura de venda dos borregos la íamos ao mercado da Bismula vendê-los, compra um bacorinho, ou comprar um par de botas. Eram conhecidos os bismulenses pelo empenho com que se dedicavam à pesca e à caça utilizando, muitas vezes métodos pouco ortodoxos.
Veio a emigração e muito mudou. Casas novas cresceram na periferia, sobretudo, ao longo das estradas, outras foram restauradas e outras ficaram assim como estavam à espera que o tempo lento as fosse corroendo. Algumas, velhas, abandonadas, já não esperando nada são lindas e mantêm viva a memória de um outro tempo. Como as da Rua do Saco.
À saída para Aldeia da Dona, ao lado do cemitério, encontra-se o lar da terceira idade de Nossa Senhora do Rosário construído neste século com gente nascida no século passado.
E seria grande injustiça falar da Bismula e não lembrar o seu filho mais ilustrado, o Dr Manuel Leal Freire. Ninguém como ele conhece as terras do concelho do Sabuga, ninguém melhor que ele captou o sentir e a alma destas gentes que expressou e expressa na mais rica e cuidada popular.
QUADRAÇÃO E FARRA
Na taberna do lugar,
À noite, depois da ceia,
Ajuntam-se para reinar
Os solteiros da aldeia
Há harmónios e guitarras
Incitando à quadração
E há promessas de farra
Em pipos de carrascão.
Ao cheiro da patuscada
Que vai ao imos profundo
Juntam-se à rapaziada
Adregas de todo o mundo.
Ciganos de pau de junco
Negociantes de gado
Judeus de nariz adunco
Errantes correndo o fado
Cargueiros de ombros robustos
E guias de contrabando
Homens indemnes a sustos
Até de tiros zombando
A todos a noite acalma
O negro torna-se idílico
O cantador que tem alma
Ressuma a resumo bíblico
E uma historia que começa
Bem antes do pai Adão
É contada peça a peça
A quantos no tasco estão.
(Visita em 01-09-2016; Percurso Bismula - Ruivós - Nave - Aldeia da Dona - Bismula)
Evolução da população (dados do censo de 2011)
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
758 | 851 | 849 | 920 | 1018 | 1048 | 937 | 1224 | 1211 | 1004 | 531 | 413 | 288 | 273 | 230 |
Durante muitos anos conheci a Nave como muitos a conheceram: por passar na estrada que a divide ao meio. Conheci-a também por ir de Vilar Maior ao Soito, a pé, e de a atravessar paralelamente ao rio, nos idos dos anos sessenta; nesta mesma altura a conheci por, pedantibus, aqui vir apanhar a camioneta para o Sabugal com destino ao Sabugal, caminho da Guarda e daqui para onde o destino me chamasse. Desta vez, com propósitos que fogem às necessidades de outrora, vim da Bismula a Ruivós e daqui, por um caminho, daqueles que ainda são transitáveis, aportei à Nave, no sítio da Igreja Matriz, um belo edifício com torre sineira, rodeada de altos muros que formam o adro onde se encontram sepulturas do antigo cemitério. Pela rua principal que conduz à estrada que atravessa a povoação recordei a casa do alfaiate, o ti Baletche, que confecionava as roupas para a família. Lá se deslocava a casa de meus pais, quando o serviço o justificava, com a máquina de costura. Pelas ruas viam-se uma ou outra casa de lavoura abandonada, mas muitas estavam muito bem recuperadas respeitando a traça, ornamentos e os materiais originais, nomeadamente, a pedra como elemento principal.
No outro extremo, encontra-se a capela do Santo António que, durante muitos anos, serviu de Igreja Matriz por a igreja paroquial ter sido destruída pelos castelhanos, na época da restauração. Aqui começa a ribeira da Nave que encontrei em Badamals com o nome de ribeira do Beluiz. Vizinha das terras mais raianas aqui existe a tradição taurina cujo instrumento principal é o forcão. Aqui encontrei um descendente de antigos judeus conversos, com quem demoradamente conversei sobre casas, sobre religiões e sobre pessoas, tudo por causa da inscrição da porta de sua casa que diz:
Para vida breve basta
E lá fui pela longa reta da estrada que liga a Nave à sua anexa Aldeia da Dona a matutar no que levaria este homem, que tal inscrição mandou lavrar, a desesperar da vida mesmo se a porta nos indica que era casa de vinho que chegasse e, a construção no seu conjunto, mostrasse suficiência de gado, de linho, de castanha e de tudo o que na Nave se colhia mais do que noutras terras.
O fator demográfico é o fator mais crítico de Vilar Maior. É a freguesia com a mais baixa densidade demográfica de todo o concelho, cuja média se situa em 14,4 habitante/Km2. Como chegámos aqui? Como sairemos daqui?
Área - 24,82 km². Densidade populacional - 4,8 hab/km².
Evolução da população
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1910 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
696 | 680 | 760 | 748 | 825 | 708 | 710 | 745 | 767 | 612 | 281 | 231 | 188 | 168 | 120 |
(visita em 2 de Setembro de 2016)
Percurso: Peroficós – Cerdeira – Peroficós
Área 24,13 Km2; 229 habitantes; densidade populacional 9,5
Evolução da população
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
297 | 322 | 450 | 495 | 550 | 472 | 517 | 614 | 651 | 576 | 512 | 382 | 385 | 262 | 229 |
A Cerdeira é a única estação do caminho-de-ferro no concelho, ainda que situado num seu extremo. Será fácil de imaginar o que significou para toda esta região a chegada do comboio, então, a grande promessa do progresso. As pessoas podiam agora deslocar-se com facilidade para todas as regiões do país.
A evolução da população, na povoação, resulta da construção da linha da Beira Alta que se tornava um dos mais importantes eixos ferroviários para o país que, assim ligava o interior do país ao litoral, na zona centro, e, o país à Europa na fronteira de Vilar Formoso. A linha com uma extensão de 202 Km (Pampilhosa- Vilar Formoso) foi inaugurada em 3 de Agosto de 1882. Vemos a população a aumentar constantemente, salvo uma quebra em 1920, até ao ano de 1950 e a cair constantemente até 2011 para um valor inferior a 1864.
O povoado situava-se na margem direita do rio Noémi mas a chegada do comboio levou ao seu crescimento na margem direita onde se construíra a linha e a estação de caminho-de-ferro. O crescimento da população é constante desde 1878 até 1950, ano a partir do qual decresce até a um valor inferior a 1864. Como escreve JMC: «A construção da linha férra levou o progresso e riqueza à Cerdeira, que vai crescendo e progredindo consideravelmente, sendo já uma das mais importantes povoações do concelho. Tem muitos estabelecimentos comerciais, farmácia (já teve duas) e escola para os dois sexos (…) No bairro novo existem já bons estabelecimentos perto da estação de caminho de ferro, que é uma das de maior movimento (…)No memso bairro há várias tabernas e casas de pasto».
Pois, aqui acorriam gentes e mercadorias de todas as terras do Sabugal, de povos de Almeida e da Guarda. Eu próprio recordo ir tomar o Trama à Cerdeira, com o meu colega Zé Vaz do Escabrahado, colega do seminário em Beja. Em tempo de Inverno, havia que sair cerca das cinco da manhã, calcorrear o caminho, a pé, durante três horas. Era aqui que chegava o correio que estafetas das várias terras iriam levar até ao destino as notícias de longe. Era aqui que chegavam os abastecimentos para os vários comércios e que carros de vacas ou bestas de cargas faziam chegar aos quatro cantos do concelho.
Cheguei, entrei na estação, atravessei a linha e assomei para o rio Noémi. Ninguém. Uma máquina:
Saudades do Chefe da Estação, o chefe Silva.
Atravessando a ponte para a margem esquerda lá está o colégio com o nome do desembargador Dr José Diniz da Fonseca, talvez o mais ilustre dos cerdeirenses por cuja obra, em prol da educação, muitos terão aprendido a ler e a escrever.
A Igreja está a precisar de obras inadiáveis. Com efeito, existem infiltações de chuva (como é visível no canto superior da fotografia) que requerem a colcação de um telhado novo.
Porque algumas pessoas me perguntaram como poderiam ajudar, aqui fica o NIB da Comissão Fabriqueira que recebe os donativos de todos que queiram comparticipar.
NIB PT50 003507020001480043144
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