Invertendo a ordem na frase «Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha.», diríamos que se o leitor não vai à biblioteca, vai a biblioteca ao leitor.
Foi isso que moveu, certamente, a esta iniciativa da Câmara Municipal no que respeita à sua biblioteca. Durante um mês a carrinha visita a sede de cada uma das trinta freguesias do concelho tendo terminado hoje a primeira volta na visita a Vilar Maior. Aqui estará todas as terceiras sextas feiras de cada mês. Houve gente a registar-se como leitor sendo-lhe atribuído um cartão e gente a requisitar livros. Uma iniciativa louvável a que auguramos sucesso.
E como se pode ver os resultados imediatos estão à vista!
S. Pedro esperou que tirassem parte do telhado da sua casa para mandar chover durante uma noite inteira sem dó nem piedade. A chuva aliviou e as obras prosseguem.
Visita em 2-10-2016; Percurso - A. Ribeira- Batocas- A. Ribeira
É aqui que começa o concelho do Sabugal na parte mais a norte, junto da Raia. Subida até ao Alto de A. Ribeira com o sol a nascer em Espanha numa manhã fresca de domingo. Aqui entro na estrada 332 no sítio que se chama Carril e do nome poderemos deduzir que por aqui seria um sítio de passagem desde tempos anteriores à fundação da nacionalidade. Estamos no planalto de onde se avista quase todo o concelho do Sabugal, a serra da Estrela e a cidade da Guarda. Estamos na raia seca. Mais à frente, viramos à direita onde se encontra uma imagem em granito de Nossa Senhora dos Caminhos com profusa ornamentação de flores de plástico. Entrámos no povoado e há algo de diferente difícil de explicar talvez porque Portugal acaba aqui e aqui começa Espanha. As águas que aqui caem já se encaminham para os lados de Allamedilla d’el Choço essa aldeia que tinha padarias e inúmeros comércios onde se vendia o trigo (pão espanhol), as galhetas, o pimentão, o azeite, as sandálias, a pana, as enxadas e foices com que contrabandistas diurnos faziam o seu modo de ganhar a vida passando-os para Portugal sempre procurando iludir a vigilância da Guarda Fiscal e dos Carabineiros. E havia aqueles, que eram muitos, procuravam todas estas mercadorias para consumos familiares. A ti Pinta e a Rosa eram duas figuras bem conhecidas nestas mercancias. O medo era companheiro inseparável nestas viagens e ao passar aqui no posto da Guarda Fiscal o coração batia mais rápido, quando, correndo o risco de ficar sem nada, não se queria dar uma volta maior por detrás do cemitério ou ir lá baixo pelo ribeiro.
O fato de aqui a pedra não ser abundante e de ter de se recorrer ao tijolo, da cerâmica da Marofa ou do Carril, levou a arquitetura das casas, já com uma influência espanhola, se distingam das casas de Aldeia da Ribeira da qual as Batocas é anexa. Muitas das casas estão em irremediável processo de erosão como esta que tem a marca de um dos maiores artistas da primeira metade do século XX, José Seixas, de Vilar Maior.
No princípio do século XIX não passaria de uma quinta que tinha já a atual igreja. Desta Igreja foi levado, em 1820, para Vilar Maior o Missal, dado que nas invasões Francesas, o de Vilar Maior, nos saques e destruições feitos pelos soldados invasores havia desaparecido.
Faleceu, em Lisboa, após doença prolongada, Ernesto, filho de António Jacinto e Maria Faustina Fernandes. Amigo da sua terra aqui vinha, enquanto teve saúde, sobretudo, por ocasião da festa do Senhor dos Aflitos. Este nosso conterrâneo era irmão do José Joaquim, do Francisco (já falecidos), de Maria Joaquina e Beatriz. Aos seus familiares apresentamos sentidas condolências.
(Visita em 16-8-2016. Percurso Badamalos-Valongo-badamalos)
Evolução da População
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
228 | 251 | 254 | 261 | 298 | 271 | 239 | 320 | 376 | 349 | 215 | 157 | 106 | 68 | 47 |
Antes ainda do nascer do sol, inicio o percurso em Badamalos, junto do restaurante Martins, tomando o caminho rural alcatroado, estreito e cercado de muros que, antigamente os resguardava as propriedades dos gados alheios. Algumas vinhas tratadas misturam verde à paisagem que este ano, chuvoso que foi, não é tão árida como costuma ser. O caminho corre em sítio elevado donde se avista grande parte do concelho, desde o Carril, onde o sol surge agora como bola de fogo, e da serra da Malcata até à serra do Seixo, mais para lá a cidade da Guarda radiosa como se fosse uma cascata sanjoanina e, mais a sul como último horizonte, a serra da Estrela. Depois o caminho desce, desce sempre e em grande inclinação até aceder ao povo de Valongo, poisado no vale longo, marginal ao Coa. Apenas o ladrar dos cães corta o silêncio do povoado. Cedo que ainda era e pela pouca gente que por aqui mora, passeei-me pelas ruas e não vi vivalma.
Em todas estas aldeias há um peso enorme do passado que assoma por todos os lados, desde a arquitetura das casas, às fontes e bebedouros de animais, às noras e regadeiras esquecidas, às picotas, à prensa do lagar a espreitar num janelo, ao arqueado lateral das portas das adegas para dar passagem aos tonéis barrigudos, ao par de carros de vacas que ali estão expostos para nos trazerem à lembrança uma economia onde o lavrador era o ator principal dum teatro vivo, verdadeiro e único. Uma economia lenta, pesada sobre rodas de madeira revestidas a ferro. Valongo terra de batata, de pão. E de vinho, de bom vinho a par do melhor que se produzia nas encostas da Miuzela e de Vilar Maior.
A par do passado surge a vontade de um futuro que parece difícil: Casas restauradas, ruas calcetadas, caminhos tratados, vias de comunicação alcatroadas, candeeiros iluninando as ruas, locais de lazer, placas sinalizando os locais de interesses, rotas pedonais, uma associação cultural.
Quando no Verão os moinhos de Vilar Maior, por falta de água, deixavam de moer, era aqui aos moinhos de Valongo que se trazia o centeio para ser transformado em farinha. Feita a malha, e com abundância de grão, era aqui que o lavrador transportava no carro das vacas uma carrada de sacos de centeio para fazer a moenda. Ou, então, mais frequentemente, carregava-se um burro com dois sacos. Foi assim que eu fui a Valongo há mais de 50 anos , num trotar de burro que parecia não chegar ao fim, embalado pelas histórias do Júlio Bajajé a quem fui entregue para fazer esta viagem.
E o Coa deu vida e nome a Valongo como a todas as povoações ribeirinhas que o marginam separando e unindo povos desde tempos muito antigos. No regresso acompanhei o rio com suas poldras e pontões, ladeado de amieiros, até surgir gigantesca a Ponte de Sequeiros, lembrando-nos que por aqui passou muito mundo, gentes, gados e bens.
E para quem conhece bem as águas do Coa, atente na descrição que Frei Bernardo de Brito, fez delas. Que não sirvam para afugentar os veraneantes das praias fluviais.
«O Rio Cooa, chamado dos antigos Cuda, como se vê na ponte de Alcantara é um dos grandes e afamados que hé em Lusitânia. Nace perto da villa de Alfayates, mete-se no Douro junto de Villa Nova de Fozcoa: he rio de muita cópia de peixe, como são barbos, bogas e bordalos, e outros modos de pescaria. A cor de suas águas é pouco clara, tirando a verde escuro: he de malissima digestão e muito pesada, causa tristeza e dores de barriga, e de cabeça, engrossa o entendimento, e para as mulheres fermosas he de muito pouco proveito, porque lhe dana o carão notavelmente, só tem virtude para tingir lãs e caldear o ferro, que nesnte particular é excelente».
In, Monarqui Lusitana, Parte V
PS. Gostaria de chamar atenção para uma excelente monografia sobre Valongo, escrita por filhos da terra que é muito o retrato das aldeias do Sabugal
Incentivados pelo pároco padre Francisco Vaz, fundámos, por volta de 1971, a Associação Cultural e Recreativa de Vilar Maior, tendo como diretor Júlio Marques, secretário António Gata e Tesoureiro Joaquim Santos. Uma mesa de ping-pong, um gira discos, alguns livros, alguns discos constituíam o parco espólio. Talvez também um candeeiro a gaz já que não havia eletricidade. E a herança de uma televisão alimentada por uma bateria que em 1969 permitiu que na Vila se pudesse assistir à chegada do homem à Lua.
Por vezes, as coisas mais comuns e vulgares são as mais preciosas. Por vê- las e senti- las a todo o instante não damos conta de quão importantes são. O exemplo melhor é o oxigénio sem o qual em breves minutos morreríamos. Vem isto a propósito da couve galega considerada menos nobre entre todas as couves. Aliás, tudo o que se designava por galego era considerado de pouca valia. Ora isto é uma extrema injustiça para esta espécie vegetal. Gostaria eu de saber como é que as gentes das Beiras, e não só, tratariam do sustento do corpo sem ela. Falo pela Vila mas penso que isso aconteceria por muitos outros locais.
A couve galega tinha qualidades únicas: produzia folhagem, que era a parte comestível, durante todo o ano; a planta durava vários anos, pois do caule surgiam sucessivas folhas que se iam cortando; dava-se quase em todos os solos embora tivesse a sua preferência por solos férteis, era resistente a doenças. Ou se, nenhum outro vegetal a superava. As folhas de couve era o que toda a família, por mais pobre que fosse, tinha sempre à mão. Ora, o pão e o caldo era a base da alimentação destas gentes e falar de caldo, se nada se acrescentasse à conversa, era o caldo de couves com uma base de batatas. Acrescentava-se um fio de azeite,uma pitada de sal e estava pronta a refeição. Claro que o ideal era cozer nela um naco de carne gorda de porco, ou uma morcela, ou uma farinheira que se comeria a seguir em cima de uma fatia de pão. Mais fome se teria passado sem a couve galega. A única época em que não era aconselhada era no pico do estio, a dar crédito ao dito popular: Se queres ver o teu homem morto, dá-lhe couves em agosto.
A couve era ainda a alimentação de recurso em mais dois aliados na sobrevivência destas gentes: as pitas e o marrano. De preferência misturadas com farelo.
Fartos de comer couves galegas nem sabiam o bem que lhes faziam.
Entre os benefícios para a saúde, destacam-se:
• Óptima fonte de betacaroteno e vitamina C.
• Boa fonte de ácido fólico.
• Contém ferro e cálcio (mais rica em cálcio que o leite)
• Contém compostos que podem ajudar a proteger contra o cancro
E, então, vai um caço de caldo? E se for mesmo um caldo à moda de antigamente? Por mim, misturava-lhe um punhado de feijão encarnado.
Evolução da População
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
302 | 330 | 340 | 351 | 356 | 274 | 316 | 388 | 451 | 377 | 332 | 216 | 153 | 99 | 96 |
Saí de Vilar Maior, como sempre se saiu para o oeste, pelo largor das Portas. Tomei a esquerda e percorri o caminho que passa ao cimo do chão de São Pedro, voltei á direita, passei na mina voltei a virar à direita e passei na Fonte Nova. Um pouco mais abaixo à minha esquerda, a Fonte Velha. Desci aquilo que terá sido uma calçada medieval, agora coberta de paralelos desde que fizeram o caminho rural que levo em direção em direção a Badamalos. Passei a Ribeira de Alfaiates e subi Galhardas acima até apanhar a estrada que vem do Carvalhal.
Desci à ribeira do Beluiz - ribeira que, nos seu começar, se chama ribeira da Nave e, mais abaixo, serve as veigas da Bismula, - nesse tão curto espaço de estrada, três cruzes assinalam a perda de três vidas ceifadas na flor da juventude, em acidentes de mota, lá pela década de noventa do século passado. Aqui junto do rio, na margem da estrada, demorei-me a olhar para uma sepultura escavada na rocha. As noras alteadas, em círculos de pedra, ficaram, ali, inúteis e silenciadas enquanto se houve, um pouco mais para baixo, o estertor de um motor de rega.
Da ribeira se sobe ao povoado a cuja entrada temos o cemitério, do lado esquerdo. Em frente, do lado direito, uma senhora dos caminhos que não pôde valer aos acidentados e, por detrás um vasto lajedo, onde há 60 anos se perfilavam enormes medas de centeio que os manguais dos malhadores, meda a meda, eirada a eirada iam apartando a palha do grão. Dia da malha, nos dias mais longos e mais quentes do ano, movimentos, gestos ritmos, sons – uma dança! Sequências. Tudo ordenado. Ao fim da tarde, uma brisa vinda de leste e o lavrador, de pá na mão, levanta o pão para que se aparte o bem do mal. Agora o lajedo está tão quieto e parado como os mortos.
Adentro-me no povo e reparo na fonte de mergulho e um pouco mais à frente sigo pelas ruas de casas, umas velhas em mau estado de conservação, outras recentemente restauradas, deixando à mostra o elemento natural e principal a rocha de granito.
Encontro a única habitante que aquela hora vespertina se encontrava por ali.
- Bom dia, minha senhora!
- Bôs dias lhe dê Deus, responde com desconfiança fundada, não do meu aspeto, mas da memória recente de um roubo de que fora vítima e que, reposta a confiança, fez questão de me contar até ao pormenor. O magarefe acabaria por ser preso, por ter regressado ao lugar do crime.
Tudo a ressumar de história com muitas histórias: a nora parada, a fonte que não mata sedes, o tronco onde se não ferram vacas nem burros, portas que não se abrem, janelas que não espreitam para a rua, chaminés por onde se não escoa fumo, escadas que não se sobem, caminhos que não se andam, águas do Coa que não se demoram.
Por Badamalos passaram vários párocos a quem o povo perdoava fraquezas da carne. Célebre ficou o padre Bernardo Jozé Cardozo (cuja campa de sepultura pode ser vista à entrada do adro da Igreja matriz de Vilar Maior) a quem se atribui o dito “Em Badamalos é fazê-los e batizá-los”. Já o Padre Jozé Inácio de Faria (que foi pároco e simultaneamente presidente da Junta da paróquia de Vilar Maior durante muitos anos) teve menos sorte, pois, como escreve MJC, «por uma questão de águas teve de sair, falecendo pouco depois em consequência dos maus tratos, que por causa da questão os paroquianos lhe inflingiram»
Atirando-nos à descoberta da etimologia do nome e dado, em ponto elevado, haver uma atalaia a palavra BADAMALOS (bada+malus), sendo que malus significa malho e em bada poderá ter caído o r a seguir ao b, terá havido uma evolução de brada para bada. Para sinalizarem aos do castelo da vila a aproximação do inimigo, os habitantes bradavam os malhos. Isso nos inspirou a quadra publicada em Memórias de Vilar Maior:
Brada malhos, Badamalos
Que na Vila se hão-de ouvir
Senão bradares teus malhos
Ninguém te virá acudir
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