Conhecida por Chininha, Alexandrina d'Assunção Franco Dias Pinheiro, nascida em 1919 era, ultimamente, a pessoa mais velha das nascidas na Vila. Filha de António Esteves Pinheiro (1890-1965) professor primário que exerceu funcões pela década de 30 e 40 em Vilar Maior e foi ilustre figura cultral e de Maria Mercês Franco Dias da ilustre família Ferreira Franco, por parte da mãe e Dias pelo lado do pai. A Chininha, como carinhosamente era conhecida, residiu durante larga parte da sua vida em Vila Nova de Gaia, onde seu marido, João Bárbara, exercia atividade profissional ligada ao Vinho do Porto. À família, de modo particular aos filhos, apresentamos sentidas condolências.
(Nota: Na foto a Chininha do lado esquerdo e as duas irmãs. Falta a irmã Fifina e o irmão Fausto)
Transcrição
Vizitada em 4 de junho de 1888.
Recomendamos ao Rdo (Reverendo) Párocho e seus parochianos que continuem a empregar seu zêl em tudo que diz respeito ao aceio e decência do culto.
Thomaz, Bispo da Guarda
Na parede lateral da Igreja matriiz, entre o altar da Senhora de Fátima e o púlpito, encontra-se uma inscrição que refere esta visita do Bispo da Diocese da Guarda a Vilar Maior. Há-de ter constituído, por certo, um momento alto para as gentes da Vila. Para comemorar a visita ter-se-à feito uma cruz em pedra que estava colocada no Largo das Portas à entrada do Chão de S. Pedro. Lembro-me bem do pedestal em pedra que tinha incrita, precisamente, a data de 1888. Era pároco nessa época o padre António Filipe Gusmão (Pároco Encomendado).
Toda a vida fui pastor
Toda a vida guardei gado
Tenho uma mágoa no peito
De m'encontar ao cajado
Difícil encontrar quem fosse pastor por gosto. Guardar a piara de gado - um rebanho de (50 a 100) ovelhas - a tempo inteiro, sujeito aos fios do Inverno e ao calor tórrido do verão e a uma vida sem carava que não fosse a do cão, do contato fortuito com outros pastores ou ocasionais transeuntes, só acontecia por necessidade. Por isso, raramente alguém era pastor por uma vida inteira. Para matar o tempo, que teimava em não passar, puxava do assobio ou cantarolava as cantigas de sempre. Alguns puxavam da navalha, com que cortavam o pão e queijo, e, de um pau de sabugueiro, faziam uma flauta ou talhavam um pião.
Quando numa pastagem maior tinham de passar grande parte do tempo, tornavam-se toscos pedreiros sem ferramenta, procurando as pedras que acomodavam umas às outras e procuravam algumas lanchinhas que, com perícia, haviam de abobadar o teto. Alguma terra sobre o teto(talvez daí o nome de terrolha), que com o tempo assentaria e até faria germinar erva, faria uma impermebilização quase completa. Uma obra tosca também pode ter a sua beleza e perfeição.
Se for de andar pelos campos encontrará alguns destes abrigos. Estão abandonados, que é o modo como as coisas que já não são úteis estão: Noras (Rodas), cegonhas (ou picotas, ou burras), moinhos, açudes, troncos (de ferrar animais), pontões, caminhos, maçadoiros, cruzes, cruzeiros, alminhas, eiras. Porém, uma sociedade (ou uma pessoa) que só se interessa pelo útil é uma sociedade muito pobre.
Ora, cá estamos no local de maior convivência social: O Cimento que assim se chamou durante todo o século XX e que funcionava ora como plateia, ora como palco. Comércio, taberna, correio, telefone, sueca, arraioila por aqui passou uma parte importante da vida das gentes da vila. Tudo mudou tanto que as conversas se tornam histórias de in illo tempore. Na primeira fila, oito personagens, oito histórias, seis delas com um capítulo de vida de emigrante.
A procura de sinais de presença humana sempre me fascinou. Por isso, nas férias, em Vilar Maior, parte do meu tempo era ir a sítios onde suspeitava desses sinais. Por vezes, era um topónimo que me movia: Casa dos Moiros, Santa Marinha, Mindagostinho (Moinho do Agostinho?), Forno da Telha, Pisões, Mortórios, Espírito Santo, Fiéis de Deus ...
Lá pelos anos oitenta, fui à Tapada Limpa, integrada num contexto natural interessasante. Saindo da Vila pelas Portas, descendo o caminho, entre a Cerca e o Chão de S. Pedro, passando a Fonte Velha, continuando no caminho que deixa à direita toda a encosta sul/poente do castelo termina a descida, junto do rio, no sítio chamado Pinguelo (ou Pindelo).Passa à margem direita por um extenso e peculiar pontão que tem muito que contar. Inicia uma extensa e acentuada subida em calçada que alguns afirmam ser romana. Do lado direito, tem uma construção que terá sido um falcoeiro. Na mesma propriedade onde se encontra o falcoeiro, um pouco mais acima, há uma eira sobre um extenso lagedo. Terminada toda a subida, tem do lado esquerdo do caminho um conjunto de sepulturas cavadas na rocha. Do lado direito situa-se a Tapada da Limpa, cujo nome deriva da sua configuração plana e de não haver afloramentos de pedras, excepto no local onde se encontra a lagareta. E foi este afloramento que na altura me levou a uma observação próxima. O que imediatamente pude constatar foi uma construção de duas casas geminadas. Depois à saída da casa do lado oeste, encontrava-se um monte de pedras sobre uma rocha maior e, começando a retirar, uma a uma, foram aparecendo os contornos da lagareta da imagem. Sobre a função do dito recipiente (lavagem, lagar, ritual religioso...), deixo a outros a resposta. Estas casas têm grande semelhança com as existentes no sítio das Casas dos Moiros.
Do que não parece haver dúvida é de que esta zona designada como Correia, no sopé do Vale da Lapa, terá havido um primitivo povoamento. E, se, não sabemos, se os homens dessa época se extasiavam pela beleza da paisagem, não eram, certamente, alheios ao conforto soalheiro da encosta virada a sul, da água do rio e das abundantes fontes. E, se porventura, já eram agricultores também não eram indiferentes à generosidade da terra.
VILAR MAIOR
Muita água!
Muita Fraga!
E muita giesta!
Vilar Maior! Badamalos! Arrifana!
Folha do Escabralhado e da Bismula!
Terras por onde o rio da minha alma corre!
O lugar do Pereiro!
E lá ao fundo cantando a Ribeira…
O cheiro a resina dos pinheiros…
A flor das giestas…
As maias!
O açude dos dos Gatas acima das poldras!
O moinho! As Veiga semeadas!
E ao passar ao bacelo do Carlos Freire,
A curva das cerejeiras…
A torre de menagem …
A flecha branca da igreja…
As alminhas…
O Pelourinho…
O paço dos Rebochos
A lenda da senhora dos cornos…
Vozes e passos indo e vindo no grande no casarão deserto…
Almas penadas do outro mundo…
E o Vento fazendo ranger as portas!
As noites frias!
A lareira acesa pela noite fora!
As bogalhadas!
Os caretos de Entrudo!
O toco! As janeiras!
As ceifas, as malhas!
Os bailaricos no terreiro!
A concertina do Zé Laranja …
Eternamente desafinada
(como se alguém se importasse!...)
a tocar no cima do povo!
A capela dos Senhor dos Aflitos!
A capelinha de S. Sebastião…
Carreirinhos abertos na erva das Hortas da Ribeira
Levando aos poiares de pesca!
Leiras de pimentos e feijões de estacada ao alto nas hortas
Ai a frescura da adega!
Ai o presunto dependurado do tecto
(guitarra portuguesa comida às fatias)
Com um copo de tinto a correr da pipa!
Ai pimentos curtidos na talha!
Ai queijinho fresco de cabra todos os dias!
E as resguardas da ponte…
Ai se aquela resguardas falassem!
Sob a nogueira ao portão do Manel
Os beijos dos namorados!
Ai nogueira que velha estás!
Ai casais de namorados, o que é feito de voz agora?
Ai Mocidade! Mocidade!
Quando o sonho comandava a vida!
A minha gaita-de-beiços
Comprada no mercado de Alfaiates!
Como me lembrais agora?
E a grande Amoreira
que havia no Curral grande do Simões
E a rusga aos ninhos?
E o rebusco às vinhas
à saída da escola?
E o Chico Bárbara passando à porta
a cavalo no seu boi preto
cumprimentando com um ´’olá menino Joãozinho’?
Ai! Ai! Ai!
Mil vezes ai!
Que a minha mocidade
há muito foi na enxurrada
da vida!
Agora…
É a Marta quem me diz
- Pai vamos apanhar as sardaniscas!
E eu…
Mocidade… Mocidade…
Pela mão dela,
Vou
à caça de sardaniscas
nos muros dos quintais…
Também
a cavalo no meu boi
preto!
Fotografia tirada junto da casa de António Seixas
O agimez, palavra que vem do árabe al-simasa, é uma janela de duas aberturas que está dividida verticalmente em duas partes iguais mediante uma pequena coluna na qual se apoiam os dois arcos.
Esta peça que agora se encontra, entre outras pedras, ao ar livre, à entrada do museu, tem para mim um valr especial porquanto a encontrei num montão de pedras no lugar de Santa Marinha. Com a ajuda do meu sogro, António Seixas, trouxemo-la para junto de sua casa. Posteriormente foi entregue ao museu.
Ora, observei, no final de Fevereiro, que existe uma extensa fenda - como mostra a segunda fotografia, na dita peça que a coloca em grave perigo. Com efeito, se a movimentarem sem o devido cuidado partirá em duas. Seria de todo aconselhavel que a mesma fosse colocada em sítio abrigado, pois, o sol e, sobretudo, a geada, para não falar de qualquer intervenção descuidada ou agressiva de mão a humana, podem colocar em causa a sua integridade.
Das mulheres a quem muito devo e admiro, lembro hoje a minha avó Isabel (1887-1982). Faz depois de amanhã, 10 de março, 35 anos que faleceu. Uma vida longa, difícil e boa de que eu tive o privilégio de partilhar uma parte, o suficiente para, sem me ensinar, eu dela ter aprendido coisas tão importantes como a forma como devemos encarar a vida. Foi, por exemplo, a minha primeira e principal professora de História, ainda que não soubesse ler nem escrever. Analfabeta mas muito culta. Artesã no ofício da latoaria de cujas mãos saía grande parte do vasilhame (baldes, regadores, caldeiros, latas, jarras, cântaros, funis), candeias, lanternas e outros instrumentos e objetos, que na ausência do plástico, eram imprescindíveis no quotidiano das gentes da vila. É por ter sido quem foi que filhos, genros, netos, bisnetos, trinetos continuamos a recordá-la.
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