Respondendo ao desafio que me foi lançado por Vitor Andrade na página do FB Sabugal does it better
1 – O que é que o liga ao concelho do Sabugal?
Nasci em 1951, em Vilar Maior, num tempo em que não havia idade definida para a entrada na pré-primária e, como tal, as atividades eram muito variadas, das quais dou conta dum pequeno número: guardar cabras e ovelhas, levar as vacas ao lameiro, partir lenha, acarretar água, pingar feijão ou milho, apanhar batatas, fazer recados. Com a entrada na escola primária continuou a haver pré-primária e passou a haver pós- primária, isto é, fazia aquelas e outras atividades antes e depois das aulas. Depois que fui para o Seminário, continuei a ter as mesmas atividades quando regressava para gozo de férias. Então, o que é que me liga ao concelho do Sabugal? É, em primeiro lugar, essa ligação à terra, à agricultura (à cultura do campo), num trabalho árduo em que cedo aprendíamos tudo quanto era necessário para o sustento da vida. A minha geração foi a última que viveu a cultura agro-pastoril das aldeias do concelho apinhadas de gente. Depois, veio a guerra colonial e o êxodo migratório, tendo eu escapado a ambos. Fui para Universidade, primeiro Braga e depois Porto, onde tirei o curso de Filosofia, tendo-me dedicado ao seu ensino, durante quase quarenta anos. Ao longo de todos estes anos, nunca deixei de ir no Natal, na Páscoa e no Verão a Vilar Maior, onde viviam os meus pais e os meus sogros. Por isso, nunca deixei de lá ir: foi e continuará a ser sempre, para mim, o centro do mundo, mesmo não estando lá fisicamente. Restaurei a casa dos meus pais, onde nasci e, agora, dono do meu tempo, volta e meia estou lá. Hoje é fácil comparando com o que era uma deslocação Porto-Vilar Maior antes da construção do IP5.
Vilar Maior, para mim, esteve presente como uma espécie de laboratório natural inspirado no verso de Fernando Pessoa:
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.
E não há trabalho académico que não possa ter sede nesse laboratório, seja Psicologia, Sociologia, Antropologia, Linguística, Genética, Astronomia, História ou qualquer outra matéria.
Habituado desde pequeno a olhar o castelo e suas muralhas, a ponte, o pelourinho a ouvir a minha avó falar das Invasões Francesas, a ouvir romances antigos da boca da ti Olinda só podia despertar-me para o desvendar do mistério que tudo isso encerra; testemunha da fuga dos homens e mulheres para França, das casas que uma a uma se fechavam, das searas que ficavam por ceifar, das terras que ficavam ao abandono, pressenti que algo de grave se estava a passar e que podia ser a morte inexorável da aldeia. Foi assim que, em 1997, editei o livro Memórias de Vilar Maior, minha terra minha gente, para que fosse a preservação de um passado que não merece ficar esquecido. Porém, se recordo o passado, nunca me resignei a que não pudesse haver futuro.
Foi assim que, com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, criei, em 2006, o blog Vilar Maior, minha terra, minha gente http://vilarmaior1.blogs.sapo.pt/, com o objetivo de manter os laços entre todos os vilarmaiorenses espalhados pelo mundo, de os incentivar a virem cá ou para cá, de apresentar projetos (utópicos?). São 17 anos de persistência o que é uma longevidade considerável, num reino onde tudo é tão fugaz, sobrevivendo às redes sociais bem mais atrativas. São muitas horas dedicadas a Vilar Maior, num trabalho pro bono, que faço com imenso prazer. Bom e para que se não diga que fala, fala, mas não fazem nada. Conseguiu este blog organizar cinco edições de uma feira franca anual (a última em Agosto de 2016) FEIRA DE TALENTOS DE VILAR MAIOR, cujos objetivos podem ser consultados no mesmo.
Em 1970 fui cofundador e presidente da Associação Cultural e Desportiva de Vilar Maior. Tentando ser breve, sei que a resposta vai longa mas quis que ficasse claro o que me liga a Vilar Maior, ao concelho do Sabugal.
2 – O que é que o faria regressar? - Um emprego compatível com as suas competências? - A necessidade de ter mais qualidade de vida? - Uma ruralidade mais moderna e mais digital? - Uma gestão autárquica, ambiciosa e inspiradora?
Uma boa parte da minha geração entrou, recentemente, ou está a entrar na reforma, uma boa parte deles emigrantes. A primeira geração de emigrantes regressou quase toda. Esta segunda geração construiu lá a sua vida e a maior parte tem lá os filhos, os netos e encontram-se divididos entre lá e cá. Quase todos acabam por vir cá no verão por causa da festa, da romaria ou da garraiada. Por vezes, vêm os filhos e os netos e alguns dos mais novos esperam o momento. Fala-se muito de turismo e devia estar-se muito atento a esta franja populacional que, sazonalmente, enche as nossas aldeias. É preciso saber cativá-los, sobretudo, aos mais jovens.
Os reformados têm uma boa oportunidade de rentabilizarem as suas competências pessoais e profissionais e, pessoalmente, o que me faria regressar seria a liderança/ coordenação/participação num projeto de desenvolvimento da minha freguesia/concelho. O contacto com a natureza é o ponto mais forte e devia ser explorado em termos de oferta turística – os rios, os campos, a observação de aves e o firmamento, que aqui se pode ter uma experiência indescritível tendo como pano de fundo o coaxar das rãs. Penso que todas as aldeias do concelho têm, através de contratos com as juntas de freguesia, Wi-Fi. No caso de Vilar Maior, o sinal ou não existe ou é de péssima qualidade o que, juntamente com falta de rede para telemóvel, é hoje o suficiente para afastar meio mundo. E a gestão autárquica tem que fazer a diferença.
3 – Como é que vê o futuro do nosso território daqui a uma década?
Tudo, quase tudo, depende do projeto que a próxima gestão autárquica venha a propor e que terá de ser um projeto muito exigente, inovador, mobilizador que vá para além da lógica partidária, capaz de gerar confiança e mobilizar todos os interessados em dar vida ao concelho do Sabugal. Como não creio que tal vá acontecer, há que começar a criar as condições para tal. O movimento “Sabugal does it better” pode ser o princípio.
4 – Aconselharia a um amigo mudar-se para o Sabugal? Porquê?
A maior parte dos meus amigos tem a minha idade o que significa que são de uma geração com ascendência rural e que têm as suas próprias aldeias. Mas sim, já tenho levado alguns amigos e continuarei a levar e a propagar os valores da minha aldeia e do concelho. De resto, alguém que vá para o Sabugal tem de poder ganhar lá a vida, ter uma atividade. É preciso criar condições. Vilar Maior, por exemplo, que é uma aldeia histórica com excelente potencial turístico não gera para a freguesia um cêntimo de receita, sendo indiferente que seja visitada por 500 ou por 5000 turistas. Tem Castelo, tem pelourinho, tem museu, etc., mas, tudo isso, não gera um único posto de trabalho. O castelo está aberto, entra quem quer; o posto de turismo está fechado, o museu está fechado, não entra ninguém. Que tal uma PPP para mudar a situação que é um pouco a mesma por todo o concelho?
5 – Como é que vê o Sabugal no contexto de uma Europa cada vez mais multicultural e mais cosmopolita que nunca?
A continuar como está, cada vez será mais insignificante. Não há milagres. É preciso saber o que se quer, qual a direção. Depois é preciso caminhar, passo a passo com o tempo que for preciso. Não é preciso esperar por toda a gente, mas é preciso que quem vá inspire confiança.
Gosto deste concelho. No Verão passado, fui quase a todas as aldeias a pé e no Verão que se aproxima completarei o projeto: Por terras do Sabugal, passo a passo. É uma experiência única baseada na fé do deus das pequenas coisas.
Mais uma vez, desde tempos imemoriais, se andaram as Cruzes na Vila. Entre as estações marcada pelos Passos, sob a orientação da senhora Lurdes Monteiro, o cantar dolente do povo.
REFRÃO
Bendita e louvada seja
A paixão do redentor
Que para nos livrar das culpas
Padeceu por nosso amor
I
Lá vai para o Calvário,
Lá vai caminhando,
Seu pranto rogando,
Com Passos de um filho
II
Lá naquela rua,
Cheia de amargura,
Chega a virgem pura,
Sua triste mãe.
III
Olhando para a turba
Lhe diz tristemente
Que mal fez meu filho,
Oh ingrata gente
IV
O meu filho morre,
De secura, vêde
Eu não tenho água,
Para apagar a sede
V
Ouvindo esta queixa,
Um algoz cruel,
Vem trazer a Cristo,
Esponja com fel.
VI
E Jesus tão brando,
Com tanta agonia,
O suor corria
Em sangue inundado.
VII
Vinde almas devotas
Ao horto, se quereis,
Ver o Rei dos reis,
Em terra prostrado
VIII
Cristãos pensai bem,
Se estais comovidos
Há-de à vista da mãe
Morrer o filho querido
(Livro das Fortalezas de Duarte d'Armas)
Uma das funções da linguagem é a designação das coisas. Com o decurso do tempo muitas coisas deixam de existir. Porém, o nome, por vezes, sobrevive a esse desaparecimento como é o caso de muitos topónimos. No sítio dos Chães da Forca – a gramática diz que devemos dizer Chãos mas quem manda é o povo que é quem faz a língua. Acontece que essa elevação onde ficam os ditos chães se chama o Monte do Arreçaio. Já num outro post falei deste topónimo afirmando que a palavra arreçaio será uma palavra do português arcaico que significa receio. Na linguagem da gente da vila é (era) muito comum antepor-se a partícula a algumas palavras, nomeadamente, ao substantivo receio e ao verbo recear (arrecear, arreceio). E, seguindo a lei do menor esforço, deixam cair um r e pronunciam o lugar dizendo monte do Arsaio. Ligam-se assim pelo mesmo sentimento – o medo – os dois topónimos que assinalam idêntico lugar: Monte do Arsaio e Chães da Forca.
A tudo isto subjaz uma realidade histórica que se encontra documentada no caso concreto de que falamos. A forca (e o receio que provocava) já não existe, mas temos o desenho de Duarte d’Armas (Livro das Fortalezas) onde aparece representada.
Resta da forca apenas o resto daquilo que seria a sua plataforma: uma construção quadrangular de cerca de quatro metros de lado (equivalendo a uma área interior de dezasseis metros quadrados), com muros de pedra mediana com cerca de 75 centimetros de altura. Talvez a altura original tivesse um metro de altura, dada a quantidade de pedra caída ao longo dos muros, o que aliado à elevação do lugar (790 metros de altitude) lhe dava uma visibilidade extraordinária de todos os pontos da povoação. Dali se defronta uma bela e imensa paisagem.
A forca articulava-se com uma outra peça do sistema judiciário da época: o Pelourinho. Neste se acorrentavam os criminosos sujeitos a castigo e à exposição ao olhar e vexame público. Se estavam condenados à morte eram conduzidos até ao Monte do Arsaio para serem enforcados. O corpo ficaria pendente na corda, não sabemos por quanto tempo, para que todos pudessem ver a pesada mão da justiça e, assim, fossem dissuadidos de práticas criminosas.
É preciso restaurar a forca da Vila. Nada de arreceios porque a intenção não é meter medo, nem enforcar criminosos mas ajudar-nos a aprender um pouco. Por outro lado, se queremos dinamizar o turismo (turismo cultural) teremos de procurar construir narrativas que de forma material possam ilustrar a nossa história que é também a história do Homem. Um tal restauro, por força da visibilidade do lugar, ao lado de uma cruz erigida no anos sessenta, convoca o olhar de todos os que vivitem a Vila.
Fica caro? Penso que quinhentos euros serão suficientes para comprar três traves e colocá-las no local. A corda, faço questão de ser eu a oferecê-la.
Tivemos conhecimento de que faleceu, no dia 8 de Abril, mais uma nossa conterrânea que, desde há muitos anos residia em Lisboa (Odivelas). Trata-se de Miquelina Proença Lavajo, filha de Manuel Lavajo e Beatriz Cunha, irmã de António, Joaquim, José e Maria Lavajo, todos já falecidos.
Aos familiares apresentamos as nossas condolências.
Até parece mentira! Mas não é. Como sabemos o actual governo, geringonçoso que seja, está mesmo apostado em implementar uma estratégia de coesão territorial, desenvolvimento e valorização do interior do país e como sabemos criou uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior, presidida por uma docente da Universidade de Coimbra que agora vai começar a apresentar os planos para diversas localidades do país. Ora, segundo fontes bem informadas o local escolhido para esse efeito será Vilar Maior. As razões desta escolha terão a ver com o fato de ser uma comunidade que espelha de forma perfeita o que aconteceu no interior do país a partir de meados do sécul XX. Por outro lado, trata-se de uma aldeia com potencialidades para, através de alguns projetos específicos, se poder tornar também um exemplo de como é possível inverter a situação. Ao que sabemos haverá uma forte aposta no turismo em várais dimensões. O turismo ligado aos monumentos e à história, o turismo ligado à observação e fruir da natureza ligado ao rio Cesarão (está prevista a recuperação das Eiras, o cultivo das Hortas da Ribeira com as culturas tradicionais e com os sistemas tradicionais de cultivo, nomeadamente, o funcionamento de Picotas e de uma Nora. Haverá um passadiço em madeira que começa na ponte românica e, passando pelo Poço da Andorinha, Poço da Dorna, Poço Fundo, Fraga vai atá ao pontão do Pinguelo, onde será restaurado um moínho. Ao longo do percurso haverá postos para observação de aves, de rochas e de plantas autóctones. Será construído um posto de observação astronómico (o céu estrelado de Vilar Maior é fabuloso) no Castelo.
Toda a parte histórica será restaurada. O forno passará a cozer, e um moínho a moer. A Ideia central é restaurar todo o ciclo natural com as correspondentes actividades económicas e actividades culturais correspondentes. Com efeito, irão ser restaurar muitas das actividades agrícolas, pastoris e artesanais tradicionais: voltaremos a ouvir as bigornas dos ferreiros, a chiadeira dos carros de bois, ... Vilar Maior constituir-se-á num museu ... mas num museu vivo em que o visitante pode revisitar uma comunidade agrícola da primeira metade do século vinte.
Deste modo, o turismo será a grande fonte de receita, mas um turismo que assenta na reconstrução de uma economia rural tradicional. Não faltará gente que queira revisitar as suas próprias memórias, investigadores, visitas de estudo ... Na medida em que cada vez o mundo se torna mais artificial a procura da natureza será cada vez maior. Vilar Maiorcom este projeto vai conciliar o conforto moderno com a vida natural.
Sabemos de fonte fidedigna, que houve contatos do Primeiro-Ministro com o Presidente da República para que um plano tão ambicioso pudesse contar com o supremo magistrado da Nação o qual terá mostrado todo o interesse, estando em curso, por isso, o acerto da data.
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