Faleceu no dia 23 deste mês de Setembro, Maria Seixas, filha do segundo casamento de José Seixas com Mercês Dias. Há já algum tempo que, de saúde muito debilitada, se encontrava no lar da Nave. Aos familiares e, de modo especial ao filho António e família, apresentamos sentidas condolências.
Num post aqui publicado, há algum tempo, dei conta de um possível armário judaico no Baraçal. Numa tarde de verão, do passado mês de Agosto, reencontrei o amigo padre Fernando, da dita freguesia do Baraçal, aproveitando para conversar sobre o assunto.É nesta sequência que aqui dou conta do estudo feito pelo padre Fernando.
ARMÁRIOS-CANTAREIRAS
A cultura portuguesa foi caldeada pela passagem de muitos povos pelo território que, desde meados do século XII (1143), constitui a nação portuguesa. De todas elas saliento duas: romanos e árabes (mouros), particularmente a nível da língua. A influência judaica também foi importante, não tanto pela língua, mas pela economia e pela ciência. Ainda há dias lia num jornal diário a opinião de alguém que afirmava que, tanto a expulsão dos jesuítas pelo marquês de Pombal (1759), como a dos judeus pelo rei D. Manuel (1496), foram as duas maiores perdas para Portugal, especialmente a nível da modernidade e do avanço científico e, em parte, estou de acordo.
Muito se tem escrito sobre a presença dos judeus em Portugal e procuram-se por todo o lado vestígios dessa realidade. Apesar da questão religiosa (na Idade Média os judeus foram considerados inimigos dos cristãos porque foram “os que mataram a Cristo”) e da usura que praticavam nos empréstimos de dinheiro, os judeus não somente eram estimados e requisitados pelos reis e príncipes pela sua capacidade para os negócios e para a ciência (físicos e matemáticos) e aceites pela maioria da população (o episódio dramático da igreja de S. Domingos, Lisboa – 1506, é uma excepção).
Nas nossas “Crónicas” já temos falado dos judeus em Portugal e em particular nas terras de Ribacôa, mas hoje resolvi voltar ao tema motivado pela descoberta de um “armário/cantareira” (com dois compartimentos trabalhados em granito de grão fino) na minha aldeia natal, Baraçal. Este tipo de armários é associado por alguns autores (Jorge Martins, etc.) aos cultos judaicos, mas que terão sido empregues apenas para esconder o ritual das candeias do Shabbat (depois de 1496).
É de louvar o interesse de muitas autarquias em preservar e valorizar muitos espaços habitados por judeus e mouros, porque existe uma maior sensibilidade para o património cultural e religioso e também por interesses turísticos, embora nem sempre com devido rigor histórico.
Se a presença de judeus no território português é muito antiga (desde o século XII), em termos históricos termina em 1496 com o decreto de expulsão emitido pelo rei D. Manuel. A partir de 1506, os judeus que aceitaram o baptismo (cristãos-novos) deixaram de estar confinados nas judiarias e misturaram-se com a população cristã. Outro fenómeno que aconteceu, sobretudo com o início da Inquisição, foi a disseminação dos “cristãos-novos” pelas vilas e aldeias (quando antes se fixavam mais nos grandes centros urbanos por causa do comércio e pela proximidade do poder político) onde poderiam passar despercebidos.
Quando é que se deu a diáspora, ou seja, a dispersão dos judeus pela bacia mediterrânica, incluindo a Península Ibérica? Foi depois do ano 70 da era cristã, após a conquista e consequente destruição da cidade de Jerusalém pelos exércitos do imperador romano Tito. Segundo Maria José Ferro (As Judiarias de Portugal, página 19), entre os séculos V e VI, já aqui existiriam algumas comunidades que, com o decorrer dos séculos foram aumentando. Quando o número de judeus era superior à dezena, era criada uma “comuna” ou “aljama”, que tinha como centro religioso e social a “sinagoga”. Com o crescimento das famílias judaicas nas comunas, podia existir mais do que uma judiaria. Havia o Rabi-mor assistido pelos “ouvidores”, delegados nos principais centros judaicos do país: Porto, Torre de Moncorvo, Viseu, Covilhã, Santarém, Évora e Faro. Se em princípios do século XV existiam em Portugal cerca de 30 comunidades e alguns milhares de famílias, no final do século (aquando do decreto de expulsão de D. Manuel), haveria mais de 100 judiarias e talvez trinta mil judeus.
Atendendo à necessidade do bom relacionamento entre a comunidade cristã (maioritária) e a comunidade judaica (minoritária) foram criadas leis próprias. Assim o quarto concílio de Latrão (1215) recomendava uma distinção física no vestuário (sinal exterior identificador: estrela de seis pontas, chapéu frígio ou coifa pontiaguda…). Em Portugal, as Ordenações Afonsinas (século XIII) também legislaram sobre o assunto: os judeus não podiam ter serviçais cristãos, sob pena de perda de património; qualquer judeu convertido ao cristianismo, que retornasse à religião original, podia ser condenado à morte; os judeus não podiam ocupar cargos oficiais se com isto prejudicassem os cristãos. Como já referi a prática do culto judaico nas sinagogas das judiarias deixou de ser autorizado em Portugal a partir do decreto de 1496, de D. Manuel, que impunha uma de duas condições: conversão ao cristianismo (baptismo) ou saída do território. Assim muitos judeus convictos preferiram emigrar para outros países europeus, de preferência para a Flandres e Países Baixos (onde puderam continuar a prática do judaísmo, livremente); os que não saíram receberam o baptismo e passaram a chamar-se “cristãos novos”. Mas o baptismo destes judeus, na sua maior parte, não foi convicto, foi de conveniência e por isso continuaram a praticar a religião judaica, mas às ocultas (dentro de casa). Publicamente, frequentavam a igreja católica, como faziam os cristãos tradicionais (velhos cristãos).
É neste ambiente que surgem os “armários-cantareiras” e as cruzes gravadas nas ombreiras das portas de muitas casas de habitação. Voltando ao exemplo existente numa casa de Baraçal, concelho do Sabugal, que motivou esta minha “Crónica” e que me foi revelado, não por um baraçalense, mas pelo Dr. Júlio Marques, de Vilar Maior, ilustre amigo formado em Filosofia, mas amante e curioso das “coisas” do Património, sou de opinião que “não é um simples armário”, como tantos outros existentes em muitas povoações da Beira interior. Embora este tema não seja inteiramente pacífico, as provas existentes levam-nos a esta conclusão.
Começando pela estrutura da casa: existem todos os indícios de ter sido uma casa de gente rica (a tradição popular fala da casa do “fidalgo” e a última proprietária mantinha um certo mistério em relação à casa, como refere uma das netas) com toda a frontaria em granito aparelhado, varanda (escadaria-balcão) também de pedra aparelhada e torneada com um artístico alpendre a proteger a porta de entrada no 1.º piso; o “armário-cantareira” sendo também duma nobreza e beleza extraordinárias, superior ao de Vilar Maior, não serviria só para guardar objectos de uso doméstico, porque a segunda prateleira, para lá do rebordo artístico, tem ao meio uma cabeça humana com boca e dois olhos e um orifício que coincide com o olho direito. Esta 2.ª prateleira não serviria para a ablução ritual antes da refeição sagrada da Páscoa, “Pessah”? As várias cruzes gravadas na ombreira da porta e numa pedra do “armário” constituem uma outra prova.
Desde o século XIII existem provas da residência de judeus, não só no distrito da Guarda como no Sabugal. O Dr. Jorge Martins fez uma investigação exaustiva sobre várias dezenas de cristãos novos com processos na Inquisição, por denúncia de práticas de “judaísmo”, nos séculos XVII- XVIII, sendo um casal (marido e mulher) de cristãos novos do Baraçal. Percorrendo a zona mais antiga do Baraçal encontramos cerca de uma dezena de cruzes gravadas nas ombreiras (duas muito artísticas estão datadas de 1780 e 1784).
Portanto, posso concluir que o Baraçal, sendo um simples povoado da freguesia e concelho de Vila do Touro, até 1904, ainda hoje conserva vestígios da existência de cristãos novos em séculos passados e não só Belmonte, que desde a minha meninice ouvia falar como terra de judeus (que tinham sangue ruim).
Não, não é um arqueólogo que se encontra na fotografia. Trata-se de um amigo e conterrâneo que gosta de Vilar Maior com diversificados interesses, entre os quais, a arqueologia. E, por duas vezes, nos deslocámos ao lugar do Verdugal, a meio do caminho entre Vilar Maior e Malhada Sorda, onde terá existido um povoamento castrejo e, posteriormnte, um povoamento romano. Ficámos impressionados com a quantidade de vestígios a pedir futuras visitas de estudo.
Não, não é uma habitação castreja que se encontra na fotografia. Trata-se de uma construção circular, toda em pedra que servia de abrigo aos pastores. Teria os princípios construtivos das habitações castrejas? Esta é, das muitas que existem na região, uma das mais perfeitas.
Portal do Arqueólogo
http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=sitios.resultados&subsid=2625600
CNS: | 26598 |
Tipo: | Povoado Fortificado |
Distrito/Concelho/Freguesia: | Guarda/Almeida/Malhada Sorda |
Período: | Romano |
Descrição: | Almeida e Fernandes situam esta estação nos sítios do Verdugal e Moradios, cerca de 4km a Sul de Malhada Sorda. Os vestígios por eles detectados estendem-se por uma vasta planície entre os rios Côa e Águeda. Unânimes ao realçar a vasta área de dispersão dos materiais detectados à superfície, classificam este sítio como um importante (Almeida chega mesmo a chamar-lhe citânia) povoado pré-romano posteriormente romanizado. Para além dos imensos vestígios estruturados, materiais de época romana e sepulturas escavadas na rocha, mencionam a existência de elementos proto-históricos como os moinhos manuais de vaivém e estruturas habitacionais circulares. |
Meio: | Terrestre |
Acesso: | Almeida e Fernandes situam esta estação nos sítios do Verdugal e Moradios, cerca de 4km a Sul de Malhada Sorda. |
Espólio: | Materiais de época romana e elementos proto-históricos como os moinhos manuais de vaivém. |
(Foto da págiana de FB de Maria Bárbara)
Tenho um fascinio especial por fotografias antigas da "Minha terra, minha gente" e este é o melhor sítio para resistirem à efemeridade das redes sociais. Sem data precisa, trata-se de uma fotografia dos anos 40. Conheci o senhor Raul (nascido em 1913, filho de Alexandre Gonçalves Araújo e Mariana Fonseca), meu vizinho; conheci o senhor José Ozório (nascido em 1916, filho de Evangelina Ozório Fonseca), meu vizinho que, no início de Setembro aparecia no seu Carocha, pela festa do Senhor dos Aflitos, até ao fatídico acidente da explosão de foguetes que matou o seu filho; conheci o senhor João Bárbara que pelo Verão aparecia em Vilar Maior e que visitei em sua casa em Vila Nova de Gaia, e, encontrava ocasionalmente, em Miragaia na casa de César Seixas. Trata-se de uma fotografia de amigos que se encontram em Vilar Maior, muito provavelmente no mês de Agosto. A quarta pessoa suspeito quem seja mas não tenho a certeza. Alguém sabe?
Avistava-se a Igreja da Praça e a torre ainda tinha a traça original. Um homem desce a rua no traje habitual dos homens. Uma galinha debica pela rua (sim, porque a rua também era das galinhas). À frente do mirante encontra-se uma frondosa e velha acácia de que nunca ouvi falar. O cais da Praça parece encontrar-se em ruína.
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