A queixa sobre os tempos que correm parece ter sido uma queixa de todas as épocas passadas. Quando hoje nos queixamos do tempo que vivemos, seria bom lembrar como era há cem anos. E bastará recordar a guerra de 1914-1918, designada como 1ª Guerra Mundial que alterou profundamente o quadro das relações políticas, bastando dizer que com ela terminam quatro impérios: Alemão, austro-Húngaro, Otomano e Russo. Portugal participou no conflito, chegando a estar mobilizados duzentos mil soldados, incluindo de Vilar Maior, ouvindo eu da boca do ti Joaquim Ferreira histórias por que ele passou na frente da Flandres. As estatísticas variam mas parece terem morrido mais de 15 milhões de soldados e mais de 45 milhões de civis.
Porém, em 1918 e 1919, a Peumónica também designada como Gripe Espanhola, terá dizimado, em todo o mundo, um número superior de pessoas ao da Guerra. Estima-se que em Portugal terão morrido 135 mil.
Isto tudo para justificar a notícia habitual de quantas pessoas faleceram em Vilar Maior há cem anos.
Nos meus registos faleceu um total de 65 pessoas, sendo 26 do sexo masculino e 39 do sexo feminino, seguramente mais do dobro de anos próximos.
1928-2018
Um pouco por todo lado encontrarão sínteses biográficas deste ilustrado e ilustre bismulense, dispensando-me, por isso, de o fazer aqui. Nenhuma outra voz cantou e retratou de forma tão bela e completa as terras de Ribacôa e Sabugal como o Dr Leal Freire. Por Vilar Maior, pela sua terra e pelas suas gentes, tinha um gosto especial não faltando à Festa do Senhor dos Aflitos de que fazia temas frequentes em prosa e em verso. Não foi apenas um etnógrafo, observador atento da cultura do povo, não se limitou a escrevê-la, mas foi ator e promotor desse jeito de ser beirão em terras da Raia.
O blog "Vilar Maior, minha terra, minha gente" perde os eu maior colaborador, pois aqui foram publicados dezenas de artigos do Dr Leal Freire. Apresento as minhas sentidas condolências à famíia, em especial aos filhos Francisco e Guilhermina.
Pedra negra, telha vã,
Postigos de pau de pinho
Caibros queimados do fumo
O chão de frinchas luradas
Noite negra, noite feia,
Freme o vento, rola a neve
É baça a luz da candeia
Bate o cravelho da porta,
É verde o molha da lenha
Enfumado o palheirinho
O caldo que ferve ao lume
Só água e boa vontade
Mas o avô conta coisas
Que excomungam fumo e fome
Douram a neve e o negrume
E fazem da água caldo de anjos
Pode ler uma breve biografia de Paulo Baptista Leitão no blog Capeia arraiana
http://capeiaarraiana.pt/2017/03/14/manuel-leal-freire-um-homem-do-povo/
Foto retirada da Págiana do FB de Otília Domingos
Já um pouco atrasada a notícia do falecimento de Margarida Duro, filha de José Duro ( O ti Zé Ferreiro) e de Cecília Costa (a ti Assucília, na língua do povo). Mais uma conterrânea que parte e a que a todos nos deixa mais sós. Para a família as nossas sentidas condolências.
Enquanto este blog existir, Vilar Maior - minha terra minha gente - há-de lembrar todos os que nos vão deixando. Até agora já por aqui passaram setenta.
Há 41 anos na Senhora da Graça (Sabugal) num belo dia de sol desejaram-nos felicidade, a mim e à Terezinha. Por ela lutámos, lutamos todos os dias das nossas vidas. Os mais velhos partiram (os meus pais, a avó Isabel o tio César a tia Marquinhas, os meus padrinhos João Seixas e Ascenção, a tia Isabel Seixas, a ti Patrocínia, a tia Sara e, mais recentemente, os meus sogros); outros que não eram assim tão velhos partiram também ( Manel da ti Júlia, o Manel Cerdeira - filho do ti Lucrécio-, Carlos Freire, Antónia Valente, Rodolfo Valente). Todos os outros têm mais mais 41 anos. O mais novo será o meu sobrinho Pedro. Mais uma vez - obrigado por terem partilhado este momento connosco
E um obrigado aos amigos de Vale de Cambra, que, agradavelmente, nos surpreenderam com a presença.
Deu-me para vasculhar o passado do blog e encontrei no dia 24-03-2009, um post com o título: Nós por cá é assim. Ou seja, há nove anos já era assim.
Em 11-07-2017 em post com o título SINALIZAÇÃO, continuava assim. Alguém na altura se sentiu muito e garantiu que eu estava enganado, que as placas já haviam siso encomendadas. Mas continua assim.
Imagine-se em qualquer sítio do país, ou do mundo, com uma sinalização como esta. O que faria? Seguir para a direita? Seguir para a esquerda? Esperar por alguém?
Teve sorte o automobilista que se defrontava com este dilema, pois calhou de eu ir a passar:
- Por favor, quero ir para Vilar Formoso.
Claro que a gente da Vila e arredores não lhes faz falta que estão tão fartos de saber e até ficam admirados como pode haver alguém que não saiba como se vai para Vilar Formoso, para a Bismula ou para o Sabugal. O senhor Presidente da Câmara e os seus vereadores também por aqui passarão mas eles também não precisam. Porque esta situação não está assim há oito dias, há um mês ou há um ano. Nem as eleições que se avizinham os fará resolver problemas assim, porque tudo vai ficar na mesma, tudo vai ficar igual. Ou vão mostrar que estou enganado?
Se me meto a ver/ler o blog Vilar Maior, perco-me por lá em memórias. Como as redes sociais eram incipientes havia uma rede de comentadores que, anónimos, mostravam o seu humor, crítica e valor literário, como o Jarmeleiro ou o Burro Velho.
Mais um belo comentário assinado, desta vez, por Burro Velho.
«Eu, burro velho, até lhe mandava o retrato. Mas não consegui nenhum, já que o fotógrafo, vendo a minha triste figura - magro e escanzelado; Cabeça baixa e orelhas derreadas; Rabo entre as pernas, mataduras por todo o corpo porque a albarda, os atafais e o cabresto pedi-os de empréstimo ao meu irmão mais velho: Estropiado porque já não há ferreiros para me deitarem umas chapas novas (ah que saudades do ti Zé Silva): E o mais deprimente é que, ao ver passar uma burra seja velha ou nova, bonita ou feia , já não sou capaz de a seduzir com aquele canto de duvidosa sonoridade mas de potência incomparável - . Por tudo isto, dizia, o fotógrafo recusou-se a fazer a fotografia, talvez com fundados receios de lhe danificar a máquina. Contudo, prometo-lhe que tudo farei para mudar a minha imagem e tão logo isso aconteça, verá satisfeito o seu pedido.»
Referem as biografias de I. Kant (1724-1804), filósofo alemão, que ele se levantava às cinco da manhã, tomava o seu chá, fumava o seu cachimbo e, passando pela preparação de aulas, escrita e lecionação, impreterivelmente, às cinco horas da tarde, fazia a sua caminhada habitual, cujo horário, segundo a famosa lenda, era tão preciso e invariante que as donas de casa de Königsberg podiam acertar os seus relógios pelo minuto em que o Professor Kant passava por suas janelas. Ora, admirador que sou da obra de Kant, encontrando-me em férias em Vilar Maior, durante o mês de Agosto, todos os dias, quase com a regularidade cronométrica do filósofo, antes do nascer do sol, iniciava o percurso Vilar Maior-Aldeia da Ribeira – Vilar Maior. Como filósofo, tão longe do esplendor de Kant mas com a mesma atitude filosófica, sei quão importante é para a reflexão e para o devaneio, a mecanização do corpo andante. Ocorreu, nesses devaneios matinais, perguntar-me: Porque não fazer todos os dias um trajeto diferente? Porque não percorrer todas as terras do concelho? vindo-me à memória o título da obra de Joaquim Manuel Correia – Memórias Sobre o Concelho do Sabugal; não medi distâncias nem fiz cálculos; não consultei mapas nem fiz qualquer preparação. No dia seguinte, encontrei-me num trajeto diferente e todas as noites, antes de adormecer, decidia o trajeto do dia seguinte. Em cada percurso procurava, sobretudo, ver, ouvir, cheirar, sentir a brisa da manhã, ver o prateado do horizonte que gradualmente se doirava até aparecer a bola de fogo. Não há raiar da aurora tão belo como o da Raia, aqui onde o dia nasce pequenino, ali perto, em Espanha. E o tempo de andar a pé, dá para tudo: para sentir, pensar, sonhar, imaginar…e para desenhar o que faria com estas viagens. Poderiam ficar pelo andar, pelo ver, pelo pensar, como conversas para mim próprio. Porém, sei bem do prazer e do proveito que advém de tentarmos interpretar as nossas experiências e de as comunicarmos aos outros e, se uns o fazem pelo desenho, pela pintura, pela música, ou por qualquer outra forma, eu não o consigo fazer, e com dificuldade, senão pela escrita.
Assim, o que escrevo não tem pretensão maior do que conhecer melhor estas terras na sua configuração natural, na compreensão do esforço multissecular de gerações na humanização da paisagem e na construção de um património cultural que nos deu a identidade que nos tornou aquilo que somos. Escrevo para aprender, não escrevo para dizer como as coisas são, mas, tão só, como eu as vejo. Se torno público, estas divagações, é só por considerar que outros, vendo como eu olho, tenham a oportunidade de olhar de modo diferente. Como dizia A. Gedeão no poema Impressão Digital:
Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos
Onde outros, com outros olhos,
Não veem escolhos nenhuns.
E lá fui eu, qual D. Quixote sem escudeiro, caminho fora, passo a passo na redescoberta das terras do Côa, da margem esquerda e da margem direita, subindo e descendo montes, atravessando rios, olhando horizontes que se perdem por Espanha, pela serra da Estrela, por Malcata.
. A Vila é um Presépio o te...
. Requiescat in pace, Júlio...
. Requiescat in pace, Quinh...
. Famílias da Vila - Osório...
. Rua Direita, quem te troc...
. Requiescat in Pace, José ...
. Centenário da capela do s...
. badameco
. badameco
. o encanto da filosofia
. Blogs da raia
. Tinkaboutdoit
. Navalha
. Navalha
. Badamalos - http://badamalos.blogs.sapo.pt/
. participe, leia, divulgue, opine