Fotografia tirada no dia 3 de Setembro de 1950, domingo.
A gravata do pai e o arranjo de todos mostra que estaríamos na festa do Senhor dos Aflitos. Por ordem de idades (e alturas): os pais - João e Graça; os filhos - Manuel, Natália, Norberta, Carlos e João. O Júlio também lá estava aconchegado no ventre da mãe e haveria de chegar na passagem de ano de 50 para 51. Chegariam ainda a Isabel e o José Albino.
Passados 69 anos, a família está assim (falta na foto o Zé Albino)
Aqui pela vila, como por todo o mundo, havia (há?) ritos de passagem que traduzem uma mudança de estatuto (status) de um indivíduo no seio da comunidade a que pertence. Alguns deles traduzem-se em celebrações religiosas como o nascimento, o casamento e a morte. Outros são rituais profanos como aquele que acontecia nas terras da Raia e aqui na Vila: O pagamento do vinho. Os indivíduos do sexo masculino chegados à idade dos 14, 15 anos tinham de pagar o vinho para poderem passar à categoria de "Os Rapazes", adquirindo, entre outros, o direito de poder circular pela aldeia depois do Toque das Trindades , ao anoitecer e de perticipar em todas atividades desse grupo. O iniciado tinha de pagar vinho à descrição para toda a malta solteira.
Aqui na vila, havia uma prova acrescida, pela qual passei uma única vez, cheinho de medo. A prova era simples: subir à torre de menagem do castelo. E, claro, descer que era um pouco mais assustador. A dificuldade encontrava-se no fato de haver lanços de escadas partidas e de logo no início ter de passar apenas pelos apoios de pedra demasiado estreitos, como pode ver na figura. Só o fiz uma vez porque tinha que ser.
Nasci a seis de Agosto, uma segunda feira. Hoje dia 20 de Agosto completo 13 anos e 14 dias, o que no reino dos blogs constitui uma idade considerável. Milhões e milhões de blogs morreram. Até hoje foram escritos aqui 1794 posts, milhares de comentários tratando de acontecimentos, lugares, gentes e problemas de Vilar Maior. Verdade que já tive melhores dias quando ainda não tinham nascido e crescido as redes sociais, nomeadamente o Facebook. Foram tempos áureos em que aqui acorriam leitores a comentar os posts que, com nomes que para si inventavam, aqui livremente exprimiam as suas opiniões onde o humor era rei. Por aqui passou muito do património e da história da vila, lugares, cantos e recantos, críticas e elogios. Muitas notícias tristes acerca de pessoas queridas que nos deixaram. De muitas destas, as poucas linhas escritas, à maneira de epitáfio, serão as únicas que perdurarão para memória dos vindouros.
Muito tempo perdi por aqui, com coisas pequenas como a minha aldeia. Espero que o deus das pequenas coisas me conceda tempo para delas cuidar.
Não me conformei com o não ter encontrado o cruzeiro, no meu passeio anterior, que deixa para os vindouros, que somos nós, uma trágica história de amor, traição e morte. Por isso, após ter colhido informações com gente da Arrifana, sobre a sua exata localização, não me foi difícil encontrá-lo. A história fica para depois.
Saio da Vila pelas Portas. O relógio da torre bate as seis horas, é ainda escuro, a lua toda inteira já nada ilumina nesta transição da noite para o dia. E foi preciso chegar aos Pisões (pisões que por aqui existiram algures) para o dia ficar completamente claro com o sol a raiar no horizonte. Nesta confluência do Cesarão com a Ribeira de Alfaiates, que juntas entrarão no Coa, passando num as poldras e no outro o pontão, procuro um cruzeiro que conta uma história triste de amor, traição e morte. Mais uma vez, não o encontro. O olfato é-me despertado por um cheiro caraterístico que os olhos confirmam de seguida com mochões de florinhas roxas. É altura de interromper a caminhada e recolher um molho de poejos, essa planta medicinal que acalma irritações estomacais e dores de barriga. Um painel ali colocado (são quatro em todo o percurso, um deles vandalizado) tem o interessante título "A arte da água e da pedra". Mais da água que da pedra. Mas não me conformo que não tenha havido um painel para sublinhar a magitude da obra que daqui do fundo do rio, até lá cima, me levará até à laboriosa terra de Arrifana: Uma calçada de granito com a extensão de 1300 metros numa subida íngreme, provavelmente medieval, construída à maneira romana, as vacas puxaram o carro carregado de produtos agrícolas (sobretudo batatas e feno) vezes sem conta até cavarem os sulcos profundos nas pedras. É um património extraordinário a que não se faz qualquer menção. E, a mim, isso incomoda-me. Dói-me que o testemunho do labor dos que aqui fizeram as suas vidas tão difíceis não seja reconhecidonesta neste espelho. Quando um mundo está perdido deveríamos fazer a sua história e contá-la aos vindouros.
Devoto do S. Tiago, tiro uma fotografia à sua morada, tomo rumo pela rua Cancela da Vila, e recordo os Lagartos - alcunha dos habitantes da Arrifana que todos os domingos faziam o caminho que agora faço de regresso.
Depois foi descer o Vale da Lapa com os olhos postos no Castelo, vencer os obstáculos dos cow boys que fecham os caminhos com arame farpado (não entendo porque quem de direito fecha os olhos, porque não colocam portões, porque não se arranja uma solução) atravessar o Cesarão seco no pontão do Pindelo e subir a encosta norte do castelo agora sem o murmúrio das águas.
O sino da torre toca para a missa que hoje é o dia da festa do Emigrante.
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