O Primeiro Escorrega
Este foi o mais antigo escorrega da Vila, junto ao Arco do Muro, concluídos em 1280. O barroco já ali tinha nascido há mihões de anos, uma oferta da natureza. Foi ali que a minha geração e todas as gerações anteriores experimentaram o prazer de escorregar.
Seiscentos anos depois, tivemos o primeiro e único parque infantil constituído por um escorrega, por um baloiço e pela roda que vemos na fotografia. Difícil de imaginar o quão importante foi para as crianças que viviam ou visitavam a Vila. Lá está, uma pequena obra muito importante.
Há sítios muito interessantes para a sua instalação - Eiras, junto à Ponte, junto à Árvore das histórias, outros a sugeridos
Obras de baixo custo com alta importância.
Volto a insistir: há muitas coisas que se podem fazer sem dinheiro ou com pouco dinheiro. Neste caso, alguém na vila há-de ter e não se importará de oferecer uma carteira daquelas que equipavam a escola primária; alguém arranjará um tronco semelhante ao da fotografia; e, pronto, eu encarrego-me das histórias. As crianças (o Edgar, o Lucas, o Hugo, os Vascos, o Afonso, a Catarina, o Gonçalo, a Helena ...) todos os que não sei, todos os que vierem visitar e todos os que estão para vir vão gostar de ler/ouvir histórias de encantar.
Fotografia de Carlos Fragoso
Já foi uma sorte ter nascido. Sorte acrescida foi ter nascido numa aldeia - que teimosamente as gentes continuam a chamar de Vila - onde pude aprender ou apreender a natureza de um modo natural que é como toda a gente a devia continuar a aprender. Lembro bem o local onde, sozinho, noite cerrada, dei comigo com oito anos vividos, espantado a olhar siderado o céu estrelado. A luz artificial mais próxima era a das velas da Igreja e a das candeias dentro de casa. A luz elétrica só lá bem longe na cidade da Guarda. E, nunca mais, até hoje, me cansei de olhar as noites estreladas da Vila no Castelo, ou nas margens do rio Cesarão. Bem mais tarde, entusiasmava-me, em aulas de filosofia ao explicar a ciência nova de Galileu e a demonstrar como "foi a olhar para o céu que os homens descobriram a terra". Sim, a astronomia é o primeiro conhecimento científico construído pelo homem.
Tudo isto, porque fiquei encantado com esta magnífica fotografia do Carlos Fragoso, que agradeço, e que me levou
a partilhar a ideia de que a nossa torre de menagem do castelo poderia tornar-se num centro de observação astronómica na vertente do astroturismo que, para além do Alqueva, considerado hoje um dos sítios melhores para a observação astronómica, existem pelo país. Embora, não seja coisa para amanhã (para amanhã já temos que chegue), não se pense que isto é uma coisa do outro mundo.
Na primeira metade do século XX terá sido assim, com os três monumentos em destaque: O Castelo, a Igreja da Senhora do Castelo, a Igreja Matriz de S. Pedro com a Torre. De branco, a Igreja, as antigas escolas e três casas. O resto, as casas, na maioria rés do chão feitas de pedra e telha de capa e caleiro (telha de Nave de Haver). Pouca, vegetação, austera e apinhada de gente.
Algumas casas feitas de raiz (a destoar do conjunto), outas que foram alteadas e uma grande parte em ruína e desabitadas.
Um dia um pouco diferente na Vila. A praça vazia o dia todo por ser dia do café fechar. Às sete da manhã, um autocarro de 50 lugares vem buscar a única estudante. Às sete da tarde, o meu amigo mais velho da Vila, com 98 anos, depois de escrever uma carta, vem metê-la na caixa do correio. Desce a praça e começa a leitura sobre as Cinco Vilas Medievais. Curva-se para ler até ao fundo cada uma das cinco faces do pentágono. O sol acaba de esconder-se para os lados do Carvalhal.
Tem uma descrição razoável na Wikipédia https://pt.wikipedia.org/wiki/Anta_da_Pedra_de_Anta
Já várias vezes ouvira falar nesta anta, várias vezes havia combinado ir lá. Ontem, num passeio habitual que faço pelas Moitas, esse planalto do Carril, confinante com as freguesias de Vilar Maior, Malhada Sorda, Nave de Haver e Aldeia da Ribeira, nessa grande extensão que outrora foi celeiro das freguesias citadas, mais tarde uma zona de exploração de volfrâmio e hoje aproveitado por criadores de vacas, perdi-me. Num dia enevoado a pensar que andava para sul, cada vez estava mais a norte. Foi nesta perdição que no meio de carvalhais se me deparou este magnífico monumento. Sinto-me sempre gratificado com aparições assim. Sei, assim, que lá pelo calcolítico, gente andou por aqui, quem sabe a mesma gente do vasto povoamento do Verdugal aqui tão próximo. Por vezes, é bom perder-se.
O Chafariz ainda havia de chegar, em 1952. No primeiro plano temos o conjunto de casas propriedade de Alexandre Araújo que vendidas foram sofrendo alterações, à excepção dos herdeiros Celeste Araújo na parte posterior e a de Raul Araujo, à frente e ao centro. Por ali viveram as famílias de João Seixas Dias, Laurinda Cerdeira, Glória Bárbara e Augusto André. Do conjunto fazia também parte o forno de serviço público (o último a cozer pão) que o senhor Alexandre vendeu a Albino Freire. Havia e há na parte de trás um quintal que à medida que as casas eram vendidas era vendido um talhão do mesmo. Num desses construiu casa Mário Silva. Esta propiedade tinha (tem) um poço de água. Este conjunto de casas era, no exterior, rebocada e caiada o que à época era um sinal de poder económico e estatuto social, a constratar com o negro granito das restantes. Assim, podemos ver o reduzido número da casas brancas, contrastando com o rosto de hoje. As vistas são desafogadas sendo possível da praça ver a igreja com a torre que ainda não tinha o acrescento superior e estavam por construir ou altear um conjunto de casas que vão aparecer na segunda fotografia
Este é o rosto da década de 60. Já tinha iniciado a emigração para França. A Torre está alteada, a Igreja continua desafogada das casas em frente e o Chafariz ocupa o lugar onde antes era um quintal pertencente a João Marques. Da frente das casas que eram de Alexandre Araújo só a do filho Raul se mantém inalterada. A Quelha, como vemos na placa toponimica na fachada de casa de Glória Bárbara, já foi calcetada e passou a Rua Dr Diamantino dos Santos. A casa de José Badana estva mais chegada à frente; aparececem alteadas as casas de Júlio Palos (que era uma lindíssima casa com balcão corrido, de granito e coberto), a casa de Zè Gil, Lucrécio Monteiro, António Seixas e Professor Gonçalves
Mudou-se a vida mudaram-se as casas no seu tamanho, na sua cor, nas suas portas, nas suas janelas, nos seus telhados, nas suas varandas, na estrada preta, nos postes de eletricidade e de telefone, nos fios que conduzem luz e conversa, nas antenas que nos trazem o mundo distante e fazem esquecer os vizinhos ... assim se mudando um rosto por fora e um feitio por dentro.
Hoje, é sábado da Festa do Senhor dos Aflitos.
Não parece. Não houve Alvorada, não há enfeites na aldeia, não há arcos, não há música e, nem sequer, o burburinho constante de familiares e amigos que se reencontram nesta altura do ano.
Hoje, desde há dez anos, era, também, o nosso Almoço de Família. Mas, tal como a festa, o Coronavírus levou a que suspendessemos o nosso tão esperado convívio e reencontro.
Para o ano, se tudo correr bem seremos mais e comemoraremos a duplicar. Este ano, estaremos todos unidos em pensamento.
Em 27 de agosto recebi o seguinte mail
"A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto está a desenvolver um estudo sobre as condições de sustentabilidade de pequenos aglomerados urbanos. Nesse sentido foi Vilar Maior selecionada como uns dos casos de estudo, tendo já sido efectuado um primeiro reconhecimento no final do mês de Julho. Após pesquisa sobre transformações que têm ocorrido, contribuindo para aumentar a atractividade de Vilar Maior e para melhorar as condições de vida da população, surgiu-nos o seu nome em vários blogs, associado a publicações sobre o aglomerado.
Vimos por este meio perguntar se será possível na próxima semana ter um encontro consigo, preferencialmente em Vilar Maior, aonde pensamos deslocar-nos na próxima terça feira dia 1 de Setembro, durante a tarde - ou se nos poderia recomendar alguém com conhecimento sobre as iniciativas de melhoria do aglomerado.
Gostaríamos também de ter uma conversa com algum elemento da Junta que nos pudesse esclarecer quais as intervenções que tiveram lugar (já temos mapeadas as que observámos no reconhecimento que fizemos em Julho) e de quem foi a iniciativa e forma de cobertura orçamental.
Certos da sua adesão, aguardamos confirmação
Saudações
Rui Braz Afonso, Prof de Urbanística da FAUP
Acompanhou o professor Rui Afonso o seu assistente Dr Rui Alves com quem foi um prazer conversar longamente sobre Vilar Maior. Houve um diálogo com o Presidente da Junta sobre a dinâmica de desenvolvimento de Vilar Maior.
É muito importante para Vilar Maior que seja objeto de estudo, sobretudo, por gente sabe e que põe alma no que faz. Sucesso para o vosso trabalho.
Hoje e amanhã deveríamos estar em festa: esperar a banda filarmónica de Loriga e, ao som dos instrumentos, em marcha triunfante percorrer as ruas, experienciando um sentimento especial anualmente repetido; haveria foguetes de lágrimas a iluminar o céu, enquanto em passo cadenciado ao som do hino de Fátima, os devotos empunhando a vela crêem poder dissipar as trevas que ameaçam apagar a luz. Haveria reza do terço no largo do Senhor dos Aflitos. Depois haveria, pela noite fora, muita luz, muita música, muita dança e conversa acompanhada de cerveja.
Não estaremos em festa. Mas todos estaremos unidos, acreditando que os tempos bons virão, que a festa voltará. Em post aqui publicado em 27/2/2020 https://vilarmaior1.blogs.sapo.pt/como-tornar-vilar-maior-numa-aldeia-499222
sugeria:
"O Senhor dos Aflitos e a sua festa são, creio, indiscutivelmente, o ponto mais forte que une os vilarmaiorenses e o Hino é como se fosse o hino de Vilar Maior. Por que não fixar a sua letra no exterior da capela ( na parte frontal, lateral ou em suporte independente?) Em suporte cerâmico ou outro são questões técnicas. Se a vida de Vilar Maior passa por uma vertente de turismo esse terá de ser cultural, feito dos monumentos, das tradições e de histórias. Estas é preciso contá-las".
Temos em Vilar Maior instituições que, certamente, se empenharão em tornar Vilar Maior numa Aldeia Cultural: Junta de Freguesia, Associação Cultural, Misericórdia e a Paróquia. E, ainda que especial, a mordomia do Senhor dos Aflitos é também ela uma instituição, a ela (à presente ou às recentes que ainda disponham de verba) fica o repto para, até à próxima festa, a concretização desta obra de baixo custo mas com um elevado valor cultural.
Nota: Há particulares dispostos a suportar o custo da obra, porém, penso que esta deveria ser uma obra de todos, representada por uma comissão de mordomos.
I
Nosso Senhor dos Aflitos
De dois anjos ladeado
Atendei corações contritos
Defendei-nos do pecado.
CORO
Ao deixar-te, ó meu Jesus
Ouvi hoje rogos meus
Derramai as vossas bênçãos
Aceitai o meu adeus
II
Nas desditas desta vida
E nas horas de aflição
Teu coração por nós palpita
Sede nossa consolação
III
Rei de Amor, Rei de Beleza
Sois o Deus, sois o Senhor
Canta a Terra Portuguesa
Canta o povo de Vilar Maior.
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