
A toponímia, que etimologicamente significa o nome dos lugares, pode constituir um precioso contributo para o fortalecimento da identidade de uma comunidade na medida em que por ela se pode transmitir a sua história. A atual toponímia escrita, assente na identificação existente dos lugares em forma oral, terá respondido à necessidade prática da entrega do correio ao domicílio, primeiramente, e, depois à prestação de serviços, nomeadamente, de água e eletricidade.
Ora, sendo a Vila um povoamento antigo e recheado de História e de histórias, pena é que não sirvam para ilustrar o nosso passado. Neste sentido, atrevo-me a sugerir, dentro de um conjunto de nomes que poderiam figurar nas placas das nossas ruas e largos, o nome do Infante D, João de Castro. Como as nossas propostas devem ter fundamento, junto seguem três extratos da crónia de El Rei D. Fernando, da autoria de Fernão Lopes. O Infante D. João de Castro, nascido por volta de1352, filho de D. Pedro e de D. Inês, casou em segredo com D. Maria Teles - contra vontade de sua irmã Leonor Teles, esposa do rei D. Fernando - que acabou assassinada às mãos do Infante induzido a tal por intrigas de que D. Maria lhe era infiel. A familia de D. Maria perseguiu-o tendo acabado por se refugiar no Castelo de Vilar Maior. Daí, informado de que ali viriam encontrá-lo, partiu para S. Felix dos Galegos, em Castela onde se casou com D. Constança, filha de Henrique II. Participou no cerco castelhano a Elvas acabando por morrer em 1397 na prisão emSalamanca, para onde o tinha remetido o rei D. João de Castela por ser o pretendente com mais direito ao trono.
Porque veio ele refugiar-se no Castelo de Vilar Maior quando poderia ter ido para tantos outros? Talvez a explicação esteja nas páginas em que Fernão Lopes nos descreve um homem corajoso em luta contra animais ferozes e porque vinha com o rei caçar para terras de Ribacoa:
«El-rei D. Fernando era muito querençoso de caça e monte, onde quer que sabia que os havia bons, filhando nello grande prazer e desenfadamento; e porque o certificaram que em terra da Beira e por riba de lôa (Côa) havia bons montes d'ursos e porcos em grande abundancia, fez-se prestes com toda a sua casa e da rainha, e muitos monteiros com sabujos e alãos, e levou caminho daquela comarca».
Tempos em que os reis vinham para estas terras. Quando hoje ouvimos falar da coragem dos arraianos e da ousadia de enfrentar animais bravios, ficamos a saber que o Infante seria, hoje, o primeiro a saltar para os cornos do toiro. Têm dúvidas? Leiam o que sobre ele escreve Fernão Lopes. É português antigo? Sim, mas belo e de bom entendimento.
